A acertada decisão de desentorpecer as pernas
Quando o dia começa às 5h30 em S. João do Estoril e já compreendeu uma viagem que compreende carro particular, transbordo para táxi, avião (Air France 2125), RER e metro, depois de fazer o check in no hotel a decisão acertada é ir desentorpecer as pernas. Foi o que fizemos.
Paris é talvez a cidade ideal para flanar, pois foi aqui que Charles Baudelaire cunhou o vocábulo flaneur no seu famoso Sobre a Modernidade.
Aliás esta matéria de flanar parece-me muito mais importante do que algumas pessoas julgam, pelo que estou convencido que não encerrarei estes diários parisienses sem a dissecar com mais detenção.
Fomos flanar. Começamos pelo Marais, que fica ali mesmo ao lado da casa do Maigret. Atravessamos a passo indolente a Place des Vosges, que garantidamente é uma das cinco mais bonitas praças do Mundo, um top que a Praça do Comércio podia integrar, se fosse devidamente tratada.
No Muji, da rue des Francs Bourgeois, fiz a primeira escala para um vultuoso investimento de 51,25 euros em 43 canetas de cores diversas. O meu stock estava realmente nas lonas.
Além de meia dúzia de canetas Muji pretas, bastante roxas, azuis de várias tonalidades, verdes, vermelhas, laranjas e por aí adiante um arco íris, mas não fiquem com ideias que não alterei a minha orientação sexual.
Continuamos por ali adiante, ile de St Louis (não me importaria nada de viver ali num casa do Quai de Anjou), Notre Dame, Shakespeare & Co, e almoço volante de pita recheada com batatas fritas e bocados de carne gordurosa, empurrada por uma Coke Light (a festa ficou a 7,50 euros por cabeça) consumidos junto à fonte do Boulevard Saint Michel, uma refeição cobiçada de perto por uma pomba esquálida e esfomeada (cheguei a temer que ela se atrevesse a tentar partilhar a sanduíche comigo) e tendo como banda sonora o irritante batuque de uma manifestação de uma centena de afro-europeus (deve ser assim que se diz, não é) que nunca me pararam de berrar Solidarité avec les sans papiers.