É preferível ver o Bom Dia Portugal, do princípio ao fim (intervalos incluidos), do que encher caixotes
Em tudo na vida há um antes, um durante e um depois. As mudanças de casa não escapam a esta regra.
Antes da mudança de casa ,a palavra de ordem é empacotar, uma actividade que, ao início, até pode parecer divertida, mas que a partir da primeira hora começa a revelar-se perigosamente insane, alienante e cara.
Na sua imensa sabedoria, o povo diz que o que é demais é moléstia - e este aforismo está tão carregadinho de razão que desconfio seriamente que quem o formulou morreu vitimado por uma hérnia.
Por muito que uma pessoa ame francesinhas especiais com molho picante, acompanhadas de canecas de cerveja Super Bock bem tiradas, lá chegará a altura - algures entre a terceira e a 28º francesinha e caneca de cerveja consecutivas – em que nós já não podemos ver mais francesinhas à frente.
Por muito que uma pessoa adore ver jogos de futebol na televisão, lá chegará a altura –algures entre o sexto e o 30º desafio consecutivo – em que o que nós queremos é desligar a televisão e reler A Revolução Traída, do camarada Trotsky, com o lápis em punho para sublinhar as partes mais importantes e comentar as passagens mais polémicas.
Por muito que uma pessoa seja doida por dar cambalhotas, lá chegará a altura – algures entre a nona e a 32ª cambalhota consecutivas – em que nós não queremos mais sexo, mas apenas que nos deixem em paz a dormir.
Para mim, o prazer de montar caixotes de papelão, enchê-los com livros, CDs e DVDs, revesti-los com aquela fita cola larga e castanha, e identificar com um marcador o conteúdo da embalagem e o presumível local de destino, esgotou-se ao fim de sete caixas – faltavam ainda 274, como mais tarde vim a constatar.
Se eu fosse ao George W. Bush, antes de sair da Casa Branca tinha submetido os presos de Guantanamo à terrível tortura de empacotar as coisas dele, afim de serem transferidas no Air Force One para o seu rancho no Texas.
Empacotar é uma temível tortura que recomendo a todos desejem ao vosso pior inimigo. Acho preferível ver o Bom Dia Portugal, do princípio ao fim (intervalos incluídos) do que passar esse tempo a fazer encher caixas de cartão canelado.