Onde se chora com lágrimas amargas a dramática impossibilidade de realizar os funerais à revelia
Detesto funerais, porque os nossos funerais são actos de auto-flagelação - não são tão divertidos e alegres como o do Alex (nos «Amigos de Alex») ou os cinco de «Quatro casamentos e um funeral».
Além disso ficava sempre à rasca quando chegava o momento de apresentar as condolências aos familiares mais directos do morto, até que descobri que basta pronunciar em voz baixa uma algaraviada qualquer sem sentido, enquanto se dá um aperto de mão firme, ou um abraço rápido mas apertado, porque o/a destinatário/a ouve a frase correcta e adequada que lhe murmuraram ao ouvido os outros participantes mais habituados a estas cerimónias, e que estavam à nossa frente na fila para os cumprimentos.
Também não gosto de funerais pelas razões de carácter social, de conveniência e hipocrisia que estão presentes no processo de decisão sobre a nossa presença no acto.
Como já ninguém acredita na ressurreição, ninguém vai ao funeral por causa do morto (ele nunca saberá se nós fomos ou não) mas por causa dos que cá ficam.
Por este conjunto de razões, que espero compreendam, detesto funerais e decidi que na minha vida só irei a mais um, o meu – pela poderosa razão de que se eu faltar ele não se pode realizar. Não há funerais à revelia.