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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Ter | 14.04.09

O Américo, o Joe, eu e o Álvaro

Jorge Fiel

Américo Amorim é o homem mais rico de Portugal e apesar disso não se incomoda nada em declarar, urbi et orbi, que não sabe abrir portas nem fazer chamadas telefónicas – tarefas que delega no Bacelo, um simpático cavalheiro que além disso ainda lhe faz as vezes de motorista, espécie de guarda costas e secretário em part time (quando vai buscá-lo de manhãzinha cedo à casa da rua rainha D.Estefânia, atrás do Capa Negra e um pouco abaixo da CCRN,  já leva assinalado nos jornais os artigos que ele deve ler na viagem até Mozelos).

Joe Berardo, que já foi mais rico do que é agora e ideologicamente se está a aproximar a grande velocidade do Bloco de Esquerda (não encontro outra explicação para ele ter afirmado que “os executivos dos bancos e operadores de derivados deviam estar todos presos”), é proprietário de uma das mais cobiçadas colecções de arte contemporânea do Mundo e apesar disso não se coibe de divulgar, urbi et orbi, que a primeira obra de arte que  comprou foi um poster da Gioconda, convencido de que se tratava de um original (só soube disso quando chegou a casa e a mulher o desenganou explicando-lhe que o original de Leonardo estava exposto em Paris, no Louvre).

Se Américo e Joe se podem dar a estas franquezas, não vejo motivo para eu próprio vos confessar que há uma data de coisas que sou absolutamente incapaz de fazer, como andar de bicicleta, falar mandarim, adivinhar quando será a retoma ou deitar fora coisas velhas.

É por essas e por outras que estou apavorado com a perspectiva de ter de empacotar a mobília, papéis, livros, discos e ofícios correlativos que acumulei ao longo do último quarto de século.

Para a semana vou mudar de casa e estou aterrorizado com a perspectiva, principalmente depois de me ter visto ao espelho na resposta que Álvaro Siza deu, na penúltima edição da Pública, quando a Anabela Mota Ribeiro lhe perguntou: “O que sentiu quando saiu da casa da rua da Alegria?”

“Um enorme incómodo: mudar de casa é uma das coisas mais terríficas da existência. Vamos acumulando coisas, a maior parte das quais não serve para nada. É muito difícil na hora de mudança, que é a oportunidade de dispensar todas as coisas inúteis, a gente desprender-se. Há coisas que tenho no armazém (do escritório) que não me interessa nada ter. Mas não consigo dar ou deitar fora. Há um agarramento grande. Há uma longa história que é difícil abandonar. É muito doloroso”, respondeu Siza.

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