Uma campanha negra para me assassinar o carácter baseada numa marca de comida para cães
Sempre gostei de cães e cheguei a ter alguns – um deles baptizei-o Júlio o que levou alguns colegas meus favorecidos pelo humor a produzir a graçola de que eu tinha um nome de cão (Fiel) mas tinha um cão com nome de gente.
Enfim, o meu apelido, um tudo menos banal que o de Silva (o do PR), Sousa (o do PM) ou Santos (o do dono do grupo Jerónimo Martins), obrigou-me, ao longo da vida, a experimentar a qualidade do sentido de humor das pessoas com que me fui cruzando.
Quando andava no liceu Alexandre Herculano, tive de enfrentar as consequências de um empreendedor ter achado o meu apelido adequado para marca de comida para cães.
Esta ideia original levou os meus colegas mais danados para a brincadeira a gostarem de me comunicar que eu tinha nome de cão.
Consegui matar no ovo esta tentativa desajeitada de gozar com o próximo (que no caso era eu), usando uma técnica imbatível, que se mantém actual, e consiste em não ligar.
Sou eu quem escolha as pessoas que reconheço reunirem qualidade, competência e direito para me criticarem ou elogiarem – e, por maioria de razão, a brincarem comigo.
Na sua imensa sabedoria, o povo sintetizou numa frase a base teórica desta técnica: “Vozes de burro não chegam ao céu”.
Quando algum incauto me vinha com essa história das latas Fiel de comida para cães, eu logo confirmava, com ar circunspecto, a existência do produto e confidenciava-lhe que a fábrica era da família.
Quem a geria era um tio meu que vivia em Setúbal, mas o meu pai também era sócio. Informava ainda que o negócio corria muito bem, mas pedia segredo desta condição de herdeiro de uma família da aristocracia industrial: “Não contes, por favor, isto a ninguém, senão desata tudo a cravar-me dinheiro!”
Deu um resultadão esta táctica de asfixiar no ovo esta campanha negra, cortando-lhe o oxigénio e impedindo-a assim de atingir o malévolo objectivo de assassinar o meu carácter.