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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Sex | 27.03.09

A filha que foi atropelada na passadeira, o sogro com Alzheimer e a mulher com cancro na mama

Jorge Fiel

A gravidade de chegar atrasado a um encontro – ou até mesmo não comparecer – é tal que os perpretadores são, no mínimo, obrigados a apresentar desculpas suficientemente brutais e imaginativas para levarem as vítimas a ponderar aceitá-las.

Desculpas do estilo “estava muito trânsito”, “tive um furo”,  “fiquei sem gasolina”, “apanhei um acidente na auto-estrada”, “venho de uma reunião que nunca mais acabava”  não valem um tostão furado e estão mais gastas que as meias Ecco bordeaux que adquiri em 1995.

Em nome da criatividade e de um resto de respeito pelas vítimas do atraso alheio, passo a inventariar quatro desculpas aceitáveis.

“A minha filha foi atropelada na passadeira e tive de a levar ao hospital”

Ora aqui temos uma boa desculpa, capaz de absolver um atraso superior a meia hora (se não houver lugar a amputações) ou até mesmo uma falta (mas pode ver-se na contingência de apresentar uma filha estropiada)  contanto que seja verdadeira. Não se esqueça que pode deitar tudo a perder se responder “Que filha? Que eu saiba não tenho filha nenhuma…”   quando a vitima lhe telefonar no dia seguinte a inteirar-se do estado de saúde da sua filha.

“Atrasei-me a sair de casa porque o meu sogro, que está com Alzheimer, queria bater na minha sogra, que está entrevada na cama”

Mais uma excelente desculpa, mas que deverá abster-se de usar com as pessoas que conheçam os seus sogros e saibam que eles são saudáveis e vivem em Olhão, em casa do seu irmão mais velho que é médico.

“Desculpa lá não ter aparecido, mas comecei a sentir um dor no peito, suores frios, vim ao hospital e eles não me querem deixar sair, porque desconfiam que estou a fazer um enfarte”

Uma desculpa de primeiríssima água, mas deve certificar-se previamente de que as pessoas que estão sentadas ao seu lado, na mesa da esplanada, não vão tecer comentários em voz alta acerca da sua enorme lata -  pelo menos durante o telefonema.

“Peço muito desculpa mas atrasei-me porque a minha mulher começa amanhã uma série de tratamentos no IPO e pediu-me para a levar ao cabeleireiro – sabe, pode ser a última vez...”

Magnífica desculpa que tem o único inconveniente da vítima se convencer de que você é um adultero sem coração quando no fim de semana a seguir o encontrar de mão dada no cinema com um mulher com farta cabeleira (que por acaso é mesmo a sua).

 

PS. Não sei se já perceberam, mas eu também começo a ficar contaminado pelo fuso horário de Varsóvia J

 

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