A breve história do meu amigo C. Santos que tem a vida dele toda regulada pelo fuso horário polaco
Tenho um amigo, o C. Santos, que é alérgico às horas e geneticamente incapaz de comparecer a um encontro com um atraso inferior a duas horas – ou seja está regulado pelo fuso horário de Varsóvia.
Conta-se que ele já cometeu a proeza de chegar mais de um dia atrasado a compromisso com um cliente - sublinho que ele estava na ingrata posição de vendedor, ou seja o interesse era dele, o que por si só atesta, no meu entender, estarmos na presença de um atraso perpretado de boa fé na cara do pagante e e não uma falta de respeito pelo desgraçado que tinha de aguentar e calar, com um sorriso nos lábios, para ver se conseguia impingir-lhe o servicinho.
Até eu tomar conhecimento da ocorrência deste atraso superior a 24 horas (confirmado por várias fontes), eu estava intimamente convencido que problema do Santos consistia no facto do seu relógio interior ter sido regulado na origem para ele funcionar noutro fuso, mais a Leste (o já referido fuso polaco) e que tudo se resolveria se ele, por exemplo, fosse exportado para a Rússia.
Em Moscovo, atrevia-me eu a pensar, o Santos até seria capaz de chegar um bocadinho antes da hora marcada para um determinado compromisso.
Mas toda esta minha teoria benevolente foi arrasada como um castelo de cartas pelo atraso superior a um dia. Fiquei convencido que o assunto não se resolveria mesmo que o Santos fosse transplantado para Brisbane.
Neste momento, tendo a olhar para estes pantagruélicos atrasos como uma manifestação de uma terrível doença incurável.
Da mesma maneira que há pessoas que não conseguem evitar roubar (ou seja são cleptómanas), também há gente, como o Santos, que não conseguem cumprir horários (ou seja são cleptómanas do tempo dos outros).