Será melhor ter a reputação de gostar de ser sodomizada ou de ser uma gastadora compulsiva?
O ( Hisóoria de O, de Guido Crepax) prepara-se para ganhar a reputação de adorar ser sodomizada
“Se eles gostam de sexo anal? Sim, sem dúvida. Se elas gostam? Algumas sim, mas a maioria preferia seguir os procedimentos normais e fazem-no porque se não o fizerem lá vão eles, em jantares entre amigos bem regados, dizer ‘esta não gosta de apanhar no dito’. Ora isso é muito mais vexante, para nós, mulheres, do que ser desleixada, não fazer a cama ou ser gastadora compulsiva”
Sete anos de mau sexo, Ana Anes, página 120
A propósito de Sócrates e do caso Freeport, Miguel Sousa Tavares escreveu: “Um homem é aquilo que é, mais aquilo que faz e acontece”.
A propósito do sexo anal, a autora glosa o mesmo mote e escreve, por outras palavras, que “uma mulher é aquilo que é, mais aquilo que faz e acontece” - sendo que entre as suas acções e ocorrências tem um lugar de destaque a reputação de gostar ou não de levar no dito.
Quando andava nos últimos anos do liceu, nas conversas de rapazes, bem regadas a café, todos nos queixávamos da recusa das nossas namoradas em nos darem acesso ao orifício traseiro.
Mas havia a esperança de que esta atitude intransigente não afectasse todo o mulherio – esperança arquitectada no boato persistente de que a namorada do Luciano apreciava bastante esta abordagem menos ortodoxa.
Nunca consegui apurar ao certo se este boato era ou não verdadeiro, se se fundamentava numa inconfidência do Luciano (ou até da própria namorada…), ou tinha origem numa campanha negra ou cor-de-rosa .
Na verdade, nunca tive a coragem para pôr a questão em pratos limpos perguntando ao Luciano, com toda a frontalidade, se era verdade que a namorada gostava de levar no cu.
Por maioria de razão, também não pus essa questão à namorada dele, uma miúda muito magra e frágil (ou seja, com pouco arcaboiço para aguentar hostilidades muito violentas), com ar de ser ainda mais miúda do que efectivamente era.
Recordo este caso da namorada do Luciano que alegadamente gostava de levar no cu, porque a autora transportou esta questão do sexo anal para o domínio da reputação.
Estou tentado em dar-lhe razão. Face ao desejo generalizado dos homens em praticar sexo anal, uma mulher ter a reputação de acolher amigavelmente (até com gosto) esta pretensão só contribuirá para elevar drasticamente a procura de que é alvo.