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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qui | 28.12.06

No mundo maravilhoso dos anões pela mão da grande Felícia

Jorge Fiel

 

Não escondo que hesitei. Por razões que seria um insulto à vossa inteligência pormenorizar, pensei uma, duas, três vezes antes de decidir conceder à Tabu o valioso Prémio Roupa para Lavar destinado à melhor Revista 2006.

 

Como sabem, a Tabu é o magazine do novo semanário dirigido pelo meu preclaro amigo e ex-colega José António Saraiva, que acaba de entrar na sua fase Simone de Oliveira (Sol de Inverno) e luta para ocupar o lugar do Expresso com a mesma obstinação e ferocidade (..e presumivelmente com o mesmo resultado) do grão-vizir Iznogoud (na foto que encima este post), que quer ser califa no lugar do califa  Haraoun el Poussah, numa das mais divertidas séries criadas por Goscinny (esse mesmo do Astérix e do Lucky Luke).

 

Não é preciso ser um Einstein para perceber que atribuir à Tabu o já prestigiado Prémio Roupa para Lavar  não é nada bom para o meu futuro aqui no Expresso.

 

Mas, apesar de todos estes apesares,  decidi arriscar. As minhas últimas resistências foram vencidas pela leitura atenta da deslumbrante reportagem  sobre a  vida de sete anões, fotografados no Palácio de Seteais, que faz a capa da última edição da Tabu, assinada por Felícia Cabrita, uma pena de ouro!

 

«O Natal dos Anões/Histórias de Sete Anões que lutam num mundo de gente grande. O Sol juntou-os em vésperas de Natal» é uma notável peça, com entrada directa nos anais do grande jornalismo em Portugal, escrita com o fino recorte literário a que Felícia nos tem vindo a habituar. O Prémio Gazeta 2006, do Clube de Jornalistas, já tem dona. E se falhar o Pulitzer isso deve-se apenas a duas pequenas debilidades que a peça «Natal dos Anões» encerra (tivesse sido eu a editar a nada disso teria acontecido). A saber:

 

1. Não explicita onde está a Branca de Neve;

 

2. Omite a posição dos sete anões portugueses sobre a modalidade desportiva muito em voga na Europa Central e do Norte que consiste no arremesso de anões.

 

Custa-me ter de puxar pelos galões, mas para que não fiquem dúvidas sobre a minha capacidade de discernir neste particular, invoco o facto de ter sido o Editor da Revista do Expresso até José António Saraiva ter acabado com ela, substituindo-a pela Tabu, que usou o nome Única durante o tempo em que foi encartada no Expresso.

 

«Bate forte, fortemente, a chuva na Malveira. Não se vê vivalma nas ruas. Um Mercedes preto atravessa o espesso brocado de água. À medida que se aproxima, mais parece uma carro fantasma levado pelo temporal. Nem sombra de condutor. A máquina estaciona, a porta abre-se e nada. Parece movida por um impulso sobrenatural. à natureza não se devem pedir explicações. Afinal é gente, 98 centímetros de altura, 28 quilos de gente».

 

É com esta entrada majestosa que entramos no mundo maravilhoso dos anões (que sofrem por não chegarem ao multibanco e apenas poderem usar os elevadores nos trajectos descendentes) pela mão de Felícia. Seria coisa para Nobel se ela nos conseguisse explicar como é possivel que o anão não seja visto a conduzir o carro mas possa ver a estrada, de modo a evitar despistar-se ou atropelar os transeuntes que não sejam de crescimento reduzido.

 

Os sete anões de Felícia são todos iguais (minorcas) mas também todos diferentes.

 

José Manuel Merchante, 38 anos, 98 cm, é empresário, «movimenta-se com passinhos rápidos e gestos solenes, como se fosse um príncipe coberto de sedas e ouro num conto de bruxas e fadas», fixa a interlocutora «com os olhos semicerrados de sedutor profissional» (terá a autora resistido?), e tem a mania das grandezas: «Apesar de ser pequenino , vibo enter os grandes, gosto de carros grandes, mulheres grandes, tudo em grande».

 

 Mulheres grandes foram um fartote para David Almeida, 34 anos, 1m37, comediante, nos tempos aúreos do Frágil. «Foram tempos loucos, as mulheres queriam conhecer coisas novas na cama e eu era anão. Ia ficando tísico», confessa.

 

«Agora a chuva bate leve, levemente. mas quanto à natureza é-lhe indiferente o que possamos pensar dela». É com este final, a um tempo arrebatador, nostálgico e poético, que Felícia encerra a sua peça notável sobre o Natal dos sete anões (lamentavelmente órfãos da sua Branca de Neve). Foi esta comovente história que teve o condão de acabar com a minha indecisão, mas não foi só por causa dela que atribuí à Tabu o reputado Prémio Roupa para Lavar destinado a distinguir a Melhor Revista 2006.

 

A última edição (nº 15, 23 Dezembro 06) desta revista é toda ela uma preciosidade, uma prenda para ser guardada pelos coleccionadores. O meu exemplar, desde já vos garanto que não o empresto a minguém e já integra o meu rol de bens mais estimaveis, a par das minhas dez mil acções da Sonae SGPS, da colecção completa do Jacaré (encadernada a couro verde com ferros a ouro) e da fotografia autografada da Sharon Stone em biquini. 

 

Já não falando da imperdível nota de abertura assinada pelo meu prezado amigo e noctívago Vítor Rainho (Olá Vítor, para quando a reunião em livro das tuas crónicas?), lemos a última Tabu e damos um espreitadela ao  T2 da decoradora Cristina Jorge de Carvalho, que negligencia a vista porque «não tem tempo para estar à janela», ficamos na posse da valiosa informação de que «um dos personagens mais carismáticos da rua do Arsenal, João Ramalho, proprietário do Rei do Bacalhau, foi assassinado no ano 2000 (para reequilibrar a população mundial o meu filho João nasceu nesse ano) e somso apresentados à família numerosa Pinto Torres.

 

Américo e Cristina Pinto Torres queriam ter sete filhos, «já vão em dez, e o último nasceu na cozinha da casa da família. Uma experiência que querem repetir». Cristina e Américo, ouçam um bom conselho. Da próxima não basta tê-lo na cozinha. Produzam-nos também na cozinha. De preferência em cima da máquina de lavar (a funcionar). E expliquem-se só quando ela estiver no final da centrifugação. Vão ver que gostam!

 

Como é óbvio, sai da pena de José António Saraiva a cereja que coroa o bolo desta fabulosa edição para coleccionadores da Tabu. O arquitecto vangloria-se de lhe terem recusado o cartão de crédito do Citibank, uma proeza idêntica ao do estudante turco que tentou com sucesso ter zero no exame de Matemática. É que a Leonor, a minha empregada doméstica, que é analfabeta (mas não anã) e vive em S. Pedro da Cova, distraiu-se noutro dia a tomar café num corner do Shopping do Bom Sucesso, foi abordada por um promotor do Citibank e não conseguiu escapar a ficar com um cartão de crédito do maior banco do Mundo.

 

EXTRAS

 

1. Passatempo Decoradora

 

O que é esta sala?

 

a) A sala de entrada da York House

 

b) A sala de estar do T2 da Cristina Jorge Carvalho

 

c) O Lounge VIP da Lufthansa no novo aeroporto do Porto

 

 

2. Passatempo Familias Numerosas

 

O que é que pensou Cristina Pinto Torres após 14 meses de casamento sem engravidar?

 

a) O meu Américo não está a fazer as coisas como devem ser

 

b) Se calhar somos estéreis

 

c) Afinal sempre é verdade que os meninos vêm de Paris trazidos por uma cegonha e nós ainda não os encomendamos

 

 

ESPECIAL SARAIVA

 

1. Onde é que estava José António Saraiva (JAS) quando recebeu o primeiro telefonema da promotora do Citibank que lhe queria vender um cartão de crédito?

 

a) na casa de banho do seu novo andar em Algés

 

b) não se sabe

 

c) numa reunião com Teixeira Pinto, no edifício do Millennium bcp da rua do Ouro

 

 

2. Para onde marcou JAS o encontro com a promotora do Citibank?

 

a) Café In

 

b) casa dele

 

c) à porta do Jardim Colonial

 

 

3. Quantas vezes deixou JAS a promotora dependurada à porta de casa dele, sem ninguém lá dentro?

 

a) uma

 

b) duas

 

c) três

 

 

4. O promotor do Citibank que substituiu a infeliz colega que não conseguiu encontrar-se com JAS usava que tipo de calçado quando foi a casa do director do Sol?

 

a) ténis Nike

 

b) sapatos quadrados à frente

 

c) sandálias

 

 

5. Qual foi a primeira pergunta que JAS fez ao promotor?

 

a) Qual é o custo anual do cartão?

 

b) Sabe quem eu sou?

 

c) Qual vai ser o meu limite de crédito?

 

 

6. O que alegou o Citibank para não dar o cartão de crédito a JAS?

 

a) A sua assinatura na papelada não estava conforme à do Bilhete de Identidade

 

b) O facto de ele estar desempregado

 

c) A CIA achou suspeita a quantidade de vistos para o Paquistão existentes no passaporte de JAS pelo que o pôs numa lista negra que ircula entre todas as grandes companhias norte-americanas

 

 

7. O que fez JAS face a esta recusa?

 

a) Pediu a Paulo Teixeira Pinto um American Express de platina

 

b) Escreveu uma carta ao Citibank a dar-lhe conta do seu estado de espiírito

 

c) Aproveitou a hora do almoço para ir à Loja do Cidadão dos Restauradores pedir a emissão de um novo passaporte

 

Como já é habitual nos passatempos da Roupa para Lavar, a resposta certa é a b). No meio é que está a virtude (mas também o vício...)