Algumas palavras sobre a valência psicológica e comportamental do espelho da casa de banho
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”
José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira
Para o homem moderno, o espelho da casa de banho concentra duas diferentes valências: uma eminentemente utilitária e outra do foro psicológico e comportamental.
Quando estamos a fazer a barba com lâmina, precisamos do espelho para evitar que a nossa cara fique com um aspecto idêntico à do boxeur que perdeu por KO, a meio do oitavo assalto, um combate de nove assaltos.
Se temos uma farta e abundante cabeleira (o que não é manifestamente o meu caso, pois além de estar parcialmente careca, acabo de me submeter a um rigoroso pente dois), o espelho da casa de banho pode ser muito útil no acto de pentear.
No caso das mulheres, o espelho tem todas as condições paar ser um magnífico aliado na tarefa de evitarem sair para a rua com uma maquilhagem que lhes possibilite serem confundidas com a Paula Rego.
Já no que concerne a últimos acertos dovestuário, como a verificação do estado do nó da gravata, acho que o espelho no quarto, ou até mesmo o do elevador, são mais apropriados.
Mas o espelho da casa de banho pode ser um precioso auxiliar da nossa higiene mental, de acordo com alguns cientistas de renome mundial, como o terapista comportamental Stuart Small.
Small recomenda que aproveitemos todos os momentos em frente ao espelho para repetirmos mentalmente o seguinte mantra:: ”Eu sou muito bom, eu sou muito inteligente e as pessoas gostam muito de mim”.
Para evitar golpes, desaconselho aos preclaros a entrega a este exercício de auto-estima quando têm em curso a delicada operação de fazer a barba.
Acho mais recomendável que o façam quando estão em frente ao espelho da casa de banho a escovar os dentes – ou até mesmo a pentearem-se.