É um pouco por todo, nem muito curto, nem tão comprido que não se repare que vim ao barbeiro
Se ganhasse o Euromilhões, o Zé Nuno Amaro contratava um chef de sushi lá para casa.
Se eu ganhasse o Euromilhões, passava a ir fazer a barba ao barbeiro.
Não faria o mínimo sentido contratar um barbeiro lá para casa, pois só ocuparia no máximo meia hora por dia – e nem todos os dias, porque mesmo que me tornasse um milionário excêntrico manteria a excentricidade de jornalista teso (1) que só se desfaz dos pêlos da cara umas duas vezes por semana.
Do ponto de vista da racionalidade económica, seria estúpido ter um barbeiro indoor. A solução acertada seria estabelecer um contrato de outsourcing com um salão de barbearia que me permitisse ir lá fazer a barba, sempre que quisesse, com o pagamento de uma avença mensal de, digamos, 60 euros.
Alguns dos momentos de feliz descontracção que eu vivi nos anos em que trabalhei no Comércio do Porto foram passados comigo confortavelmente sentado numa cadeira rotativa (produzida na antiga Fábrica António Pessoa) do Salão Veneza, que ficava do outro lado da rua Elísio de Melo, um pouco acima do Guarany (que ainda não tinha sido beneficiado com os murais da Graça Morais).
Nos anos 80, já era muito caro fazer a barba no barbeiro, mas eu permitia-me esse luxo quando ia ao Veneza cortar o cabelo (à época abundante).
Sentava-me, apetrechado com a edição do dia do JN (2), surripiada à menina da manicura, dizia “É barba e cabelo!”, era perguntado como queria o cabelo e respondia “como de costume, um pouco por todo, nem muito curto, nem tão comprido que as pessoas nem reparem que eu vim ao barbeiro”. Os dados estavam lançados.
(continua)
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(1) Emprego o vocábulo teso no sentido de não ter dinheiro, não o de jornalista em permanente estado de priapismo)
(2) A do Comércio já a tinha lido toda, de ponta a ponta, na madrugada anterior, no Paju.