Woody Allen, o Euromilhões e eu na contingência de desempenhar o triste papel do asno de Buridan
O Zé Nuno Amaro, que foi guarda redes do Braga, tem agora uma empresa de eventos, chamada Ideiabiba, que funciona a partir de Aveiro e cuja iniciativa mais vistosa é tentar pôr os estudantes da Universidade do Minho e do Porto a andarem de bicicleta – empresta-lhes a bicla e espera ganhar dinheiro com a exploração do espaço publicitário nas máquinas e no campus universitário, em termos simples é este o modelo do negócio.
O mês passado, o Zé Nuno surpreendeu-me quando, no meio da conversa (fiz um perfil dele para o DN), o inquiri sobre hóbis (como é que se divertia?) e comer fez parte da resposta - e não, não estava a usar comer como sinónimo figurado de outro verbo acabado em er.
Perguntei-lhe, a medo, “comer o quê?”, “quais são as comidas que mais lhe agradam?”, e ele sossegou-me, pois não nomeou nenhuma das três giraças que protagonizam o Vicky Cristina Barcelona - Rebecca Hall, Scarlett Johansson e Penélope Cruz, todas muito diferentes, mas cada qual melhor que a anterior (seja qual for a ordem porque se digam os seus nomes), o que me fez logo aumentar a admiração pelo Javier Bardem que, na vida real, teve cojones para escolher uma delas (a Penélope), pois eu, na situação dele, com quase toda a certeza replicava o triste papel do célebre asno de Buridan (1).
Cozido à portuguesa e sushi, respondeu ele, o que, bem vistas as coisas é o equivalente gastronómico a dizer Scarlett (o cozido) e Rebecca (o sushi) – se quisesse significar a Penélope teria, com toda a certeza, falado de pimientos de Padron picantes ou frango ao piripiri.
“Se me saísse o Euromilhões contratava um chef de sushi para lá para casa”, acrescentou o Zé Nuno.
Fiquei muito surpreendido por esta resposta, e pus-me a pensar no que faria eu se me saísse o Euromilhões (uma impossibilidade igual à de despedir um desempregado, pela simples mas poderosa razão de que eu não jogo no Euromilhões).
(continua)
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(1) Buridan foi um filósofo medieval francês que estabeleceu a teoria que um burro colocado num lugar equidistante de dois fardos de palha morreria à fome por não conseguir decidir a qual deles se dirigir primeiro.