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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Dom | 25.01.09

O meu protocolo na hora de desfazer a barba

Jorge Fiel

 

Se na escolha da lâmina não transijo (uso sempre a Gillette Blue II), já no que concerne à marca da espuma da barba devo confessar que nunca fui muito exigente.

Apesar desta atitude idêntica à dos polícias – ou seja de topar a tudo quando se trata da espuma  da barba- , sinto-me da obrigação de revelar a todos os frequentadores desta Lavandaria que a mousse Fujiyama (da Rituals), com aroma a tangerina e menta, me tem deixado tão satisfeito que até encaro seriamente a hipótese de me fidelizar a ela.

Como sou um ferrenho e exclusivo partidário da lâmina, o meu ritual da barba desenrola-se integralmente no interior da casa de banho e em frente ao espelho.

Os adeptos da máquina de barbear podem andar a vagabundear pela casa, levando atrás de si aquele zumbido irritante, enquanto cortam os pêlos da cara.

Para eles, a barba é uma espécie de part time que vão fazendo com alguma displicência, enquanto tomam o pequeno almoço, infernizam a vida aos filhos que teimam em não estar prontos para sair, passam os olhos na página desportiva do jornal ou espreitam a televisão para ver como está o trânsito.

Para nós, os da lâmina, fazer a barba é uma actividade que nos ocupa a tempo inteiro, exige concentração e a presença do espelho, para acompanhar a par e passo a evolução das operações - e de um lavatório para recolher os bocados de espuma com pêlos.

Tenho os passos desta operação completamente mecanizados. E como não tenho segredos para as preclaras e preclaros passo a descrever, com detalhe, o protocolo que sigo para fazer a barba.

Colocado em posição, em tronco nu, esfrego vigorosamente com água fria (estou pronto a conceder que a quente é mais eficaz, mas acho que recorrer a ela é meio abichanado) a superfície que vai ser intervencionada, com o intuito de amolecer os pêlos.

Posta a tampa no fundo da bacia do lavatório e criado o pequeno reservatório de água para limpar a lâmina, há que espalhar a espuma, com parcimónia – não se deve nunca (mas mesmo nunca!) extrair um volume de espuma superior ao tamanho de uma noz.

Concluídos estes preparos, chegou a hora da lâmina. Eu começo sempre pelo lado direito. Primeiro acerto a patilha, depois sigo para a face e o pescoço. Depois repito este procedimento na outra face, antes de atacar a zona nevrálgica do queixo, onde os pêlos são mais densos – e por isso dispuseram de mais tempo para amolecer.

Para o fim, deixo ficar o bigode, opção que não sei se tem a ver com o facto de durante um quarto de século o ter mantido virgem – ou se se deve antes ao facto da zona que bordeja os lábios ser a que exige mais perícia, pois um corte significa sangue que nunca mais acaba.

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