Os ovos estrelados na minha vida
Ontem comi dois ovos estrelados ao jantar, o que já não aconteci há muitos meses. Sempre gostei muito de ovos estrelados, mas evito-os por causa do colesterol.
Quando era pequeno consumia muitos, talvez à média de um por dia, em várias versões (a minha mãe tinha uma variante em que os estrelava no meio de um fatia de pão), até que um dia foi-me diagnosticada uma hepatite e o médico pôs os ovos no index da dieta curativa deste mal do fígado.
Além da dieta rigorosa, o bom do doutor prescreveu-me repouso absoluto - estive mais de um mês sem sair da cama. Acho que tinha doze/treze anos na altura e andava a meio do liceu, no Alexandre Herculano.
Passei largos meses sem sequer os tocar ovos estrelados. Após a hepatite a minha mãe racionou draconianamente a sua presença nas minhas refeições.
E quando eu barafustava muito a pedir ovos, ela condescendia e servia-me uma espécie de «avant la lettre» da comida light - ovos estrelados em água.
Sim é possível, comi-os com esta boca que a terra há-de comer. Estávamos no final dos gloriosos anos 60 e eu ouvia na rádio o Página Um e o Em Órbita.
Sempre gostei de ovos. Estrelados e não só. O meu prato preferido, a que tinha impreterivelmente direito no meu dia de anos, era salsichas (cortadas às rodelas) com ovos mexidos.
E confesso que tenho saudades de uma omoleta bem virada, tostada no ponto, recheada com salsa e cebola picada.
Já quando aos ovos cozidos, só bem mais tarde lhes vim a dar valor. Em pequeno gostava de os ver, nos restaurantes, com a casca de uma cor fantástica, ganha ao serem cozidos em água com cebola, segundo vim a saber e mesmo a praticar, mais recentemente.
Uso amiúde ovos cozidos picados na sala de atum (de lata) com feijão frade, regada abundantemente com azeite e polvilhada com pedacinhos de salsa e de cebola.
O tempo de cozedura não me preocupa muito - ao contrário do que sucede com o príncipe Carlos que exige que lhe sejam postos à frente, na mesa do pequeno almoço, no Palácio de Buckhingam, sete diferentes ovos, em fila, com diferentes tempos de cozedura, para ele escolher o que acha que está melhor.
Em resumo, gosto de ovos, estrelados e não só, mas tento viver sem eles porque são maus para o fígado e péssimos para o colesterol.
Esta vida é assim mesmo, tudo o que é mau engorda, mas neste particular, friso, não me estou a referir ao «Self-portrait with fried eggs» da Sarah Lucas, que ilustra este post.