Da necessidade de educar o flato
Há um verdadeiro catálogo de nomes para designar o fenómeno de libertação de gases pelo ânus. Alguns cultos e educados - flatulência, meteorismo, aerofagia… - e outros mais rudes que penso ser desnecessário elencar, dado serem do conhecimento geral.
Estudos médicos recentes garantem que cada um de nós liberta, em média, litro e meio de gases por dia. Confirma-se por isso tratar-se de um assunto que toca a todos, uma insofismável verdade que Né Ladeiras imortalizou na faixa «Não há cu que não dê traque» num disco da Banda do Casaco.
Nunca na minha vida, nem na adolescência, nem na tropa, participei naquelas brincadeiras de rapazolas, nos concursos em que o vencedor era o que mais vezes conseguia expelir ruidosamente gases pela retaguarda.
Sempre soube lidar de forma educada e contida com a minha própria flatulência, abstendo-me de emitir os flatos
O ar que evacuamos por cima (arrotos) ou por baixo tem essencialmente duas origens. Ou é engolido (neste particular, o hábito de mascar pastilha elástica é fatal) ou é produzido internamente pelo nosso organismo, através da fermentação de bactérias que habitam o intestino grosso.
Se tem dificuldades em educar a sua flatulência, abstenha-se em absoluto de ingerir toda e qualquer variedade de feijão, seja ele frade, manteiga, preto ou vermelho. E não tenha vergonha de em privado libertar-se dos gases. A flatulência não é uma doença, mas a acumulação dos gases provoca dores perfeitamente evitáveis.
PS. Com este pequeno texto, que mão amiga impediu maçasse (ou, quem sabe?, chocasse…) os leitores do Expresso, encerro o já longo ciclo dedicado às minhas doenças, que num raro momento de lucidez decidi não enriquecer com inéditos – pelo menos para já. Passo a um ciclo polaco. Pode ser que volte um dia com novas doenças.