Denúncia da tenebrosa conspiração russa das carteiras e porta moedas alérgicos a dinheiro
Há carteiras e porta moedas que, muito infelizmente, são confeccionados com um material alérgico a dinheiro.
Esta situação encerra em si uma consequência gravosa – uma insuportável pressão inflacionista -, requerendo, assim, análise urgente e aturada por parte dos Ministérios das Finanças, Economia, Defesa e Negócios Estrangeiros.
Os infelizes proprietários de carteiras e porta moedas alérgicas a dinheiro são impelidos, por uma inexplicável força interior, a torrá-lo rapidamente, precipitando-se numa voragem consumista que anima o consumo interno mas é perniciosa para a evolução da taxa de inflação.
Para além de andarem sempre tesos, os infelizes proprietários de carteiras e porta moedas alérgicos a dinheiro são socialmente tão descriminados como os moradores do bairro do Aleixo, os fumadores, os ciganos e as mulheres que teimam em não pintar de vermelho as unhas dos pés.
Estes infelizes são olhados de lado pela imensa comunidade de compradores de certificados de aforro, PPR e fundos de investimento - e acusados à boca pequena de serem “estroinas”, “esbanjadores” e “gastadores incontinentes”.
Por todas estas razões e mais uma (os mais elementares princípios da solidariedade nacional obrigam-nos a um esforço de integração destes infelizes) urge adoptar um plano de combate às carteiras e porta moedas alérgicos a notas e moedas.
Os ministérios das Finanças e da Economia devem dar as mãos para descobrir a origem criminosa destas carteiras, sendo que será criminoso negligenciar a pista russa.
Acidentalmente, cruzei-me hoje, na praia do Zavial, com um ex-colega de Faculdade que em voz baixinha, como se estivesse a falar numa catedral, murmurou ter um amigo que é da Maçonaria e lhe confidenciou estar em curso uma manobra subversiva destinada a sabotar as economias dos países da Nato.
O Putin terá dado luz verde a uma vasta operação secreta que consiste em encharcar todos os países subscritores do Tratado do Atlântico Norte com atraentes e baratas carteiras e porta moedas alérgicos a dinheiro, etiquetadas Made in China apesar de serem fabricados clandestinamente numa fábrica de marroquinaria localizada na Ossétia do Norte.
Enquanto, Pinho e Teixeira dos Santos, não convencem Sócrates e o ministro Amado a colocarem a questão em Bruxelas, na próxima cimeira da Nato, há duas medidas de protecção que devem ser imediatamente adoptadas:
1. Vítor Bento tem de pôr em marcha um gigantesco plano para que o mais rapidamente possível as máquinas de multibanco geridas pela SIBS passem a dispensar notas de cinco euros. Numa altura crítica como estas, é melhor andar com pouco dinheiro no bolso;
2. À mínima suspeita de serem infelizes possuidores de carteiras e porta moedas alérgicas a dinheiro, os portugueses devem guardá-los numa caixa de sapatos, passando a usar um clip dos grandes para acondicionar as notas e guardando as moedas no bolsinho apropriados dos jeans.
Este alerta e sugestões constituem mais um modesto contributo meu para vivermos num mundo mais perfeito.