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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Ter | 13.11.07

Eu, portuense

Jorge Fiel
Eu, portuense, olho-me ao espelho com a ajuda de Garrett, Sophia, Saramago, Agustina, Eça e Herculano, entre outros



prometido é devido. Cumprido um breve intervalo - dois especiais sobre o casamento do ano e a minha posição oficial sobre o peditório da Liga Portuguesa contra o Cancro - aqui estou eu a publicar a sobremesa da minha declaração de amor ao Porto.

Como já tinha anunciado, a sobremesa é uma pequena antologia de frases sobre a minha cidade, da autoria de dez dos nossos melhores escritores.

A leitura destas frases ajuda-nos a nós, portuenses, a conhecermo-nos melhor. Eu leio-as, releio-as e sinto-me como se estivesse a olhar-me ao espelho.

Espero que esta leitura ajude os forasteiros a melhor decifraram esta cidade secreta que Eugénio de Andrade, um seu filho adoptivo, não hesitou em considerar "a mais fechada das nossas cidades".

O b pelo v

"Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão."

Almeida Garrett

Maravilhas e angústias

"O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias."

Sophia de Mello Breyner

Como se vinga

"O portuense não gosta de Lisboa. Não gosta da polícia. Não gosta da autoridade. Da autoridade vinga-se, desprezando-a. Da Polícia vinga-se, resistindo-lhe. De Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com a mais amável hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria."

Ramalho Ortigão

Rir desbragadamente

"E quanto ao riso, o Porto gosta de rir e de rir com uma certa insolência: ri mais desbragadamente, mais primariamente, mais saudavelmente e com mais gosto do que Lisboa."

Vasco Graça Moura

Regaço aberto para o rio

"Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira."

José Saramago

Uma alma de muralha

"Toda a cidade, com as agulhas dos templos, as torres cinzentas, os pátios e os muros em que se cavam escadas, varandas com os seus restos de tapetes de quarto dependurados e o estripado dos seus interiores ao sol fresco, tem toda ela uma forma, uma alma de muralha."

Agustina Bessa Luís

Invejas

"Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se!"

Eça de Queiroz

Lição de portuguesismo

"Uma ida ao Porto é sempre um lição de portuguesismo, tanto mais rica quanto mais raramente lá se vai. É indispensável - claro! - um mínimo de contacto reiterado com esse lar da nação para nele vermos algumas das significações latentes que enriquecem a nossa consciência de práticas."

Vitorino Nemésio

Uma família

"O Porto não é em rigor uma cidade: é uma família. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação."

João Chagas

Aspecto severo e altivo

"O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada."

Alexandre Herculano

Jorge Fiel, jornalista

PS - É com a vergonha a ocupar-me toda a cara que me sinto na obrigação de anunciar a todas as preclaras e preclaros que a minha pobre e doente vesícula resistiu ao segundo assalto.

Como combinado, compareci ontem no hospital, pelas oito da matina, em jejum e com a mochila na mão. Foi debalde. Um transplante de fígado que não estava programado ocupou o meu "slot" no bloco operatório.

Espero que à terceira seja de vez. Por causa do cheiro das tintas, não vos vou avisar previamente, porque isso parece que está a dar galo.

Por isso, se algures no início de Dezembro eu desaparecer é por que morri - ou fui despedido.

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