Longa vida aos não-lugares!
Como já devem ter reparado, gosto de conceitos.
O último conceito porque me apaixonei foi o dos não-lugares, inventado pelo antropólogo francês Marc Angé e que designa os espaços de passagem desprovidos de qualquer tipo de identidade.
Se eu percebi direitinho a teoria do Marc, os não-lugares são aeroportos, estações de metros e de caminho de ferro, estações de metro e praças de alimentação de centros comerciais.
Assim sendo, declaro-me um fanático dos não-lugares. Sou absolutamente doido por aeroportos que considero dos lugares (corrijo, não-lugares) mais fascinantes do Mundo.
È quase afrodisíaca a fabulosa sensação de estar em trânsito, num grande aeroporto internacional, como Heathrow, o JFK, Frankfurt ou o LAX, placas giratórias de gente que vem ou vai para as mais desvairadas partes do globo.
Hergé, o genial inventor do Tintin, pensava o mesmo que eu. Quando morreu estava a preparar uma aventura que tinha um aeroporto como pano de fundo.
A excitação da partida ou o conforto da chegada são sensações tão boas que compensam amplamente a maçada de termos de passar nos detectores de metais e sermos apalpados em público porque há sempre alguma coisa que apita.
Acho o máximo andar às compras nas «free-shops», mesmo que no final acabemos por não adquirir nada, porque os preços já não são assim tão atractivos e globalização deu cabo das novidades - agora as lojas são mais ou menos iguais em quase todo o Mundo.
Bem, se calhar estou a exagerar e se procurar bem descobre-se numa prateleira uma garrafa de litro de Stoli com sabor a frutos silvestres, a 12 euros, - o que não se encontra por cá.
As estações de caminho de ferro também podem ser são fixes, se bem que as nossas deixem muito a desejar. Na minha recente estadia em Roma, jantei por duas vezes (a mozarella de bufala era óptima!) no Ciao, o «self-service» do segundo andar da Stazioni Termini, um belíssímo exemplar da imponentemente moderna arquitectura mussoliniana.
As nossas estações de caminho de ferro estão muito longe do «glamour» da londrina Victoria Station, da Gare du Nord parisiense ou mesmo da tristemente célebre Atocha.
A Gare do Oriente, de Calatrava, é linda de morrer mas é apenas boa para ver - e é má de usar. Os utentes suam em bica e arriscam-se a apanhar uma insolação quando está calor, constipam-se quando está vento e molham-se quando chove. E a proximidade do Vasco da Gama (já agora alguém é capaz de me explicar porque é que as passagens aéreas continuam fechadas?) não chega para desculpar a pobreza das zonas sociais de espera.
Santa Apolónia melhorou um pouco agora que está servida por metro. A ala próxima do rio está melhor, se bem que o novo café seja pequeno demais para uma estação daquela dimensão .- na manhã de domingo estive lá estacionado entre as 7h30 e as 9h30 (aprendi à minha custa que o Alfa das 8h00 para o Porto não se realiza aos domingos) e verifiquei que é muito usada pelo pessoal que passou a noite no Lux.
As lojas de jornais e os cafés da outra ala têm um aspecto sujo e muito pouco atractivo. Evito frequentá-los.
Seguindo 300 quilómetros a Norte, devo dizer que deposito bastantes esperanças nos resultados das obras que acabam de se iniciar nas Devesas e que fiquei desiludido com o resultado final das obras em Campanhã – a ligação entre a estação de metro e a de caminho de ferro é labiríntica e falta-lhe uma oferta variada de restaurantes de comida rápida e cafés.
As áreas de serviço no nosso país são não-lugares bastante modernos e muito atraentes, que não raro substituem as lojas de conveniência (quando teremos em Portugal lojas VIPS como os espanhóis?) para quem quer comprar tabaco ou beber um café fora de horas .
Nesta categoria, tenho devo elogiar o «cluster» de restaurantes na área de serviço Discovery de Alcochete, a oferta diversificada da área de serviço Galp na A5 (até tem um Ibis, que, conta quem sabe, tem uma taxa de ocupação superior os 100%) e a bela ideia que foi o lançamento da cadeia de lojas M24.
Não há nada que chegue ao anonimato de comer sozinho um menu de sandes Alsaciana e cola «light» na Pans & Company da área de serviço de Oeiras a folhear o jornal enquanto se olha para o trânsito na A5.
Longa vida aos não-lugares!