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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Sab | 19.01.08

Roubaram-me o rádio do Mini. Ao que isto chegou!

Jorge Fiel

 

Isto está pior do que é pintado com cores sombrias no Boletim de Inverno do Banco de Portugal. Estamos a bater no fundo. Ao que isto chegou! Não encontro outra explicação para o facto de um ladrão incauto e incompetente me ter palmado o rádio do Mini.

 

Não guardo muito rancor ao infeliz larápio, que a esta hora já deve estar mais do que arrependido do irreflectido cometido sob a influência de substâncias ilícitas (talvez cavalo) ou lícitas (talvez vinho «bag in box»).

 

Imagino a vergonha porque passou o desgraçado delinquente quando tentou vender o rádio que me gamou. Deve ter sido insultado. Gozado de fininho. Ridicularizado sem piedade. Até enxovalhado! Se calhar até lhe cuspiram e/ou bateram. Estou em crer que os receptadores de artigos roubados podem ser muito cruéis com os seus fornecedores.

 

O meu falecido rádio não valia um chavo. Era uma espécie de eutanásia de auto-rádio. Um naufrágio. E com toda a certeza, foi fabricado muito antes do meu Mini Clubman, que saiu da linha de montagem britânica no já longínquo mas feliz ano de 1974 (25 de Abril, Sempre!).

 

Posso fornecer três preciosas informações que habilitam todos os distintos frequentadores da lavandaria a ajuizarem do elevado grau de estupidez do gajo que me roubou o rádio.

 

1. Não comprei o rádio. Foi-me oferecido pelo meu mecânico, a título de brinde por ir lá regularmente mudar o óleo e afinar os travões. Um dia, fez-me uma surpresa: «Olhe, senhor Jorge, como não tinha rádio eu instalei-lhe um. E lhe não levo nada pelo trabalho…».

 

2. A única estação de FM que eu conseguia sintonizar no meu falecido rádio era a M80, que eu ouvia de vez em quando apesar da emissão chegar cheia de ruídos de fundo, provavelmente causados por electricidade (o diagnóstico é meu, deve ser errado, pois eu não percebo nada destas coisas).

 

3. Como até eu consigo abrir a porta do meu Mini com um corta unhas, tenho por hábito não o fechar à chave, para facilitar o acesso a eventuais ladrões, evitando assim, com este gesto previdente, que eles danifiquem a fechadura ou partam um vidro, num momento desatino.

 

Por essas e por outras, a coberto da noite, o meu Mini tem sido frequentemente inspeccionado por alguns dos melhores e mais reputados gatunos profissionais da nossa praça (sabe-se lá se já não estará estado lá dentro um membro do gang da Ribeira ou do gang rival de Miragaia?) que  passaram criteriosamente em revista o seu interior, buscando debalde algum artigo susceptível de ser comercializado.

 

Um dia, um amador, mais desesperado ou com um critério mais largo, subtraiu-me do interior do Mini um saco azul do Ikea e o mapa Optimus das Estradas 2006, que fora distribuído gratuitamente com o Expresso.

 

Mas nunca, jamais, em tempo algum, os visitantes nocturnos do meu Mini se interessaram pela porcaria do auto-rádio. Até agora. Até se ter atravessado no meu caminho o mais idiota e falhado dos ladrões da Pasteleira. Uma merda. Uma vergonha.

 

Eu estou-me a marimbar para o rádio. O que me chateia mesmo é que o palerma (ou, se preferirem, imbecil) que protagonizou esta triste história assassinou uma das mais bonitas frases que tinha guardada para a minha autobiografia:

 

«Ao longo de toda a minha vida nunca tive problemas com ladrões  - só com policias».

 

O energúmeno (ou, se preferirem, cretino)que se achandrou com o rádio do meu Mini transformou esta verdade numa mentira. O grande estupor - e patife sem nome.

 

 

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