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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Sex | 05.02.10

Onde se cita o camarada Vara (o dos robalos) e se fala do togolês Adebayor a partir do The Green Man

Jorge Fiel

Aspecto exterior do The Green Man cerca das 19h00 de 5.12.2009

 

A experiência até pode estar a dar as últimas. Quando abriu falência a empresa que detinha os direitos de transmissão televisiva dos jogos da selecção inglesa de futebol, esse activo foi adquirido por um operador de Internet.

Consequência? O Inglaterra-Ucrânia, último jogo do apuramento para o Mundial da África do Sul, não esteve disponível nos ecrãs dos televisores que qualquer pub que se preze tem estrategicamente distribuídos pelas suas salas.

Ver um jogo de futebol num pub apinhado de gente com uma caneca de cerveja na mão, com os comentadores televisivos excitados e aos berros, pode por isso ser uma experiência em vias de extinção.

A coisa não foi premeditada. Quando entramos no pub The Green Man ao fim daquela tarde de sábado, estávamos longe de imaginar que ia começar a dar na televisão o Manchester City-Chelsea - e tivemos a sorte de arranjar uma pequena mesa com uma razoável visão oblíqua sobre um ecrã.

Foi fantástico ver como o pessoal vibrava. Quando o Chelsea se adiantou no marcador logo aos 8 minutos, aproveitando um momento de infelicidade  - penso que esta é a maneira correcta do comentadores desportivos profissionais se referirem a um auto-golo, da mesma maneira que a generalidade dos jornalistas escrevem que a pessoa xis morreu vítima de doença prolongada quando foi um cancro que a levou desta para melhor – do togolês Adebayor, a explosão de alegria foi tão grande que me convenci que não havia adeptos do Man City no The Green Man (o que até é natural, pois estávamos em Londres, a cidade natal do Chelsea, e não 290 km a norte, em Manchester).

Mas tive de rever essa avaliação quando cerca de meio pub se levantou como uma mola (confesso que mais uma expressão copiada dos formatos usados pelos comentadores desportivos tradicionais) quando o togolês (não sei se já repararam, mas amo esta palavra!) Adebayor se redimiu do anterior momento de infelicidade e empatou o jogo, aos 36 minutos.

Quando, já na 2º parte, o argentino Tevez  apontou aos 55 minutos o tento da vitória dos blues de Manchester, ao concretizar de forma soberba um livre directo, foi um tal pandemónio de alegria no The Green Man que eu logo me convenci que a explicação era outra. Não podia haver tantos citizens (são assim que são conhecidos os adeptos do Man City) naquele fim de tarde de sábado num pub de Londres.

Eram os adeptos de todos os outros clubes (penso que incluindo os do Notts County, Peterborough e Queens Park Rangers) que manifestavam a sua felicidade por verem os milionários blues do Chelsea levarem no pelo.

Cito o camarada Vara (que tal como eu adora robalo!) para extrair o moral desta história:  Pimenta no cuzinho dos outros é refresco para nós.

West End, tarde de sábado, 5 de Dezembro 2009 

 

Qui | 04.02.10

Dois milhões de fregueses gastaram 200 milhões contribuindo para o emprego de 300 mil pessoas

Jorge Fiel

Como já tive oportunidade de partilhar com as preclaras e os preclaros, estava gente a dar com um pau no West End, mas mesmo assim fiquei surpreendido com as estatísticas sobre o negócio feito naquela tarde de sábado, revelados na 2ª feira pelo Evening Standard: dois milhões de pessoas às compras que gastaram 200 milhões de libras, num único dia. Uma enormidade!

Cada freguês gastou em média 100 libras, mas vocês sabem como são as médias… Como nós éramos quatro e não gastamos um único pennie, isso quer dizer que outros quatro tiveram de arejar 200 libras por cabeça. Ao menos espero tenham ficado satisfeitos.

Esmagador é outro dado revelado pelo Evening Standard. Nas lojas de Oxford Street, Regent Street e Bond Street garantem emprego a 300 mil pessoas, ou seja a mais gente do que a habita dentro dos limites (Circunvalação e rio Douro) do concelho do Porto. Uma barbaridade!

Após uma romagem de saudade à Carnaby Street, onde bateu o coração da moda pop nos remotos anos 60, em boa hora decidimos passar o fim de tarde/início de noite  no pub The Green Man, que fica numa perpendicular a Oxford Street, já quase a chegar a Tottenham Court Road.

West End, tarde de sábado, 5 de Dezembro 2009 

Qua | 03.02.10

Prendas à borla no West End

Jorge Fiel

 

Era tanta a gente nas ruas do West End, em particular nas célebres Oxford e Regent Street, que até dava uma ideia do 1º de Maio de 1974. Compreende-se. Era sábado à tarde, faltavam 19 dias para o Natal, chovia pouco e apenas de uma forma intermitente – e não cães e gatos que é uma das piores maneiras das nuvens manifestarem o seu desagradado com a humanidade que se arrasta anda cá por baixo, à superfície da Terra.

Como agravante davam prendas. Nós andamos a tarde às compras mas efectivamente não compramos nada, apenas recebemos, o que é bom e muito adequado à crise. A American Express foi quem mais brilhou. Instalou a meio de Oxford Street um contentor com muito bom aspecto onde embrulhavam gratuitamente (e com alguma classe) as prendas. Bastava fazer fila. E ainda por cima contrataram dezenas de pessoas para distribuir pelas ruas uns sacos pretos, com o logo American Express estampado à azul, que eram muito jeitosos. Abarbatei-me logo a uma meia dúzia deles.

E para promover o lançamento, na segunda feira seguinte (dia 7), do Harry Potter end the Half-Blood Prince a Warner Brothers oferecvia uma carteirinhas de plástico, ilustradas com as inmagns do jovem feiticeiro, do professor Dumbledore e da Hermione, que dão muito jeito e eu uso para acondicionar os bilhetes pré-comprados para o Metro de Lisboa e o comboio da Linha de Cascais.

Também havia música à borla. Uma das lojas pôs na montra uma americana, que tudo leva a crer ser bastante conhecida (foi recebida com muitos aplausos da rua quando foi anunciada), que cantava um repertório na linha Sheryl Crowe/Mariah Carey.

West End, tarde de sábado, 5 de Dezembro 2009 

Ter | 02.02.10

Odeio quartos de hotel sobreaquecidos em que temos de passar noites ao estilo duche escocês

Jorge Fiel

 

 

O Hotel Cumberland, em Marble Arch, é muito conhecido dos portugueses porque, durante anos a fio, a Agência Abreu encaminhou gente para lá nos pacotes de visitas a Londres que vendia como pãezinhos frescos.

A localização geo-estratégica, na articulação entre Bayswater/Hyde Park com a Oxford Street é uma das grandes vantagens comparativas do Cumberland, que dista  escassas centenas de metros do Selfridges e dos outros míticos armazéns que fizeram do West End uma Meca das mulheres que adoram andar às compras (ou seja, 99,89% delas).

Acresce que se trata de um hotel que veste bem, com a sua enorme fachada clássica, e impressiona com a faustosa e ampla sobriedade do hall de entrada, características que infelizmente não se repetem nos quartos  - ou pelo menos não se repetia, pois já há bastantes anos que não fico lá e o Cumberland pode ter sido, no entretanto, beneficiado com obras de modernização.

O Cumberland tem uma ampla oferta de quartos, só que estes não só não são amplos (o que não me incomoda muito) como ainda por cima padecem de um mal muito comum a grandes hotéis antigos: estão sempre sobreaquecidos.

Estou disposto a conceder que nós, em Portugal, rapamos muito frio no Inverno porque temos a mania que o nosso clima é muito bom (o que até nem é mentira) e por isso as nossas casas não estão preparadas para aqueles dias que em que o termómetro de aproxima do zero. Por isso, talvez sejamos um pouco mais calorentos do que os bifes e outros povos do Norte, habituados a protegerem-se convenientemente dos rigores invernais.

Mas apesar disso acho que, por norma, no Inverno os quartos de hotel por essa Europa fora estão desagradavelmente sobreaquecidos. Tudo se resolve se o quarto estiver ocupado com um termóstato e for possível baixar a temperatura dos insuportáveis 25º para uns aceitáveis 19º.

O problema é quando isso não é possível e a temperatura é controlada centralmente e imposta ditatorialmente a todos os quartos. Passei, por isso, muito más noites no Cumberland. Com o quarto sobreaquecido não só me custava a adormecer como acordava a suar, um par de horas depois. Para remediar a situação, abria a janela e lá conseguia voltar aos domínios de Morfeu. Só que, um ou duas horas volvidas, estava de volta ao mundo dos vivos, desta vez cheio de frio. Fechava a janela e o carrossel recomeçava. Uma merda de noite estilo duche escocês – de que, devo dizer, o Cumberland não tinha exclusivo, pois é um defeito que afecta muitos hotéis antigos.

West End, da tarde de 5 Dezembro 2009

Seg | 01.02.10

Memória de noites mal passadas

Jorge Fiel

 

Uma cerveja num pub em Moscow Road foi o pretexto para uma pausa num dia em que já tínhamos dado bastante uso às solas dos sapatos, percorrendo Portobello de alto a baixo, pela manhã, e começando a tarde a passear em Queensway.

Como era sábado e estávamos a três semanas do Natal, tomamos a decisão acertada de investir o resto da tarde no West End, impregnando-nos do ambiente que presumíamos seria buliçoso das compras de prendas - e aproveitando para inspeccionar a qualidade das iluminações, cuja instalação tinha sido contratada à firma Castro, de Espinho.

Pegamos num autocarro em Bayswater que terminou o seu percurso em Marble Arch, porque os cerca de três quilómetros das Regent e Oxford Street estavam, do meio dia até às sete da tarde, reservados aos VIP (Very Important Pedestrian).

Foi portanto como VIP que desembarquei em Dezembro de 2009 em Marble Arch, em frente ao célebre Hotel Cumberland, local que me trás à memória recordações de noites mal passadas (mas pelos maus motivos) em anteriores visitas a à capital inglesa.

Em Agosto de 1972, quando Londres me conheceu, pernoitei em três locais diferentes:

1.     Um generoso canto de relva que transborda para fora dos muros de Hyde Park, muito frequentado por jovens turistas estrangeiros como eu. O grande inconveniente é que todas as noites, invariavelmente às três da manhã (os ingleses sabem ser pontuais), o pessoal todo era acordado por uma ronda da polícia, que gentilmente nos informava que não podíamos ficar ali a dormir. Nós espreguiçava-nos, começávamos a embrulhar os sacos camas, dando palha aos animais ao fingir estarmos a acatar a ordem. Quando nos viam com as mochilas quase prontas, os bófias continuavam a ronda. Mal viravam costas, nós enfiávamo-nos de novo nos sacos cama e dormíamos até que o nascer do dia e o barulho dos automóveis nos anunciassem a precoce chegada de um novo dia;

 

2.     Um banco de Marble Arch. À quarta noite, farto de ver o meu sono interrompido a meio por polícias gentis, em má hora resolvi experimentar um banco de jardim em Marble Arch. Passei uma péssima noite porque o assento do banco inclinava muito para dentro. Uma experiência que não repeti e me deixou mal humorado e com o corpo dorido;

 

3.     Um albergue de juventude onde era possível dormir de forma indolor e de um sono só, mas cujo custo, apesar de diminuto, obrigava a desviar para a rubrica os pennies orçamentados para as rubricas alimentação e transporte, pelo que tivemos de passar a satisfazer estas necessidades básicas à margem da lei.

A caminho do West End, tarde de sábado 5 de Dezembro 2009

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