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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qua | 16.09.09

Como eu, ao ver "Sacanas sem Lei" do Tarantino, descobri que afinal não sou um homem a sério

Jorge Fiel

É muito triste chegar aos 53 anos e constatar, no escurinho de uma sala de cinema do Arrábida Shopping, que afinal não sou um homem a sério.

Esta dura constatação ocorreu enquanto via o super-mega-hiper-rifixe “Inglourious Basterds” (acho mais piada ao título original, com a média de um erro ortográfico por palavra, do que à tradução portuguesa “Sacanas sem Lei”), do Tarantino.

Como é sabido e consabido, no cinema um homem a sério nem chora nem sequer fecha os olhos para se poupar a ver as cenas mais horripilantes.

Ora devo confessar que fechei os olhos sempre que alguém do bando do fabuloso tenente Aldo Raine (Brad Pitt) retirava o escalpe a um soldado nazi -  e voltei a fazê-lo na cena final em que o referido tenente desenha, com a sua faca de mato, a cruz suástica na testa do terrível coronel nazi Hans Landa (o fabuloso Christoph Waltz, a quem o Óscar não pode escapar).

E o grave é que tenho antecedentes. Quando reflecti sobre estes cobardes fechar de olhos, lembrei-me que, em 1983, apesar de já ser um marmanjão com 27 anos, fiquei de tal maneira enternecido com o lento definhar da Emma (Debra Winger), em “Laços de Ternura” que chorei (sozinho) em plena sessão da tarde na sala do S. João, que na altura ainda era cinema e pertencia à família do Pinto da Costa (que posteriormente o transaccionou com Santana Lopes e passou para propriedade do Estado português contra o pagamento de um milhão de contos).

O filme “Laços de Ternura” entusiasmou-me tanto que fiquei com uma paixoneta platónica (que ainda mantenho, mas em lume muito brando) pela Debra Winger e desde então para cá olho sempre de lado para o Jeff Daniels (que fazia de Flap, o marido que traiu a boa da Emma).

Ter | 15.09.09

A minha política de pequeno almoço

Jorge Fiel

Eu sou adepto de tomar o pequeno almoço em casa, mas não sou daqueles fanáticos do breakfast in bed – modalidade que apenas uso, de vez em quando, ao fim de semana. Não diria que é uma opção tão rara como o banho de imersão, mas anda lá perto. Mesmo nos hotéis prefiro descer ao bufete a ficar à espera que me toquem à porta com o tabuleiro.

Agora que tenho uma varanda com vista para a cidade, gosto de me sentar lá fora, ao ar livre, numa cadeira de verga, a olhar para o Foco e os novos edifícios da avenida da Boavista (todos os três muito bons, creio que assinados pelos mais lídimos representantes da escola do Porto), enquanto tomo o pequeno almoço e deixo entregue ao roupão turco a tarefa de secar a grande superfície do meu corpo húmido -  do duche, não se ponham para aí com pensamentos porcos, tanto mais que a humidade só é directamente lúbrica no sexo das mulheres.

O meu pequeno almoço tipo é de geografia variável. A bebida oscila entre o chá frio e o sumo de laranja, sendo que quer o do Continente quer o do Pingo Doce são bastante razoáveis.

No capitulo dos sólidos (ou aparentados) a minha primeira refeição pode integrar três categorias de alimentos: iogurtes, fruta e cereais.

O iogurte grego natural (ou batido com pedaços de morango) do Continente é o favorito, mas os do Lidl, em versão XL,  também marcham bem, em particular o de Maracujá.

Na fruta, a opção é essencialmente maçãs de casca vermelha, Starking ou Gala Royal, vindas directamente do frigorifico, mas admito excepções como pêra rocha, uvas, melão, melancia ou ananás.

No que toca cereais, não sofistico, sou cliente dos corn flakes básicos, consumidos numa tijela cheia de leite até cima – que em dias de especial carência podem ser adicionados com uma colher de mel.

Em regra, destes três grupos, apenas combino um ou dois.

Seg | 14.09.09

Esta coisa da pandemia da Gripe A não será uma reedição das velhas caçadas aos gambozinos?

Jorge Fiel

Presumível aspecto do tal H1N1

 

Isto da gripe A está a ser para mim uma enorme lição de vida e um verdadeiro banho de humildade.

Anda toda a gente em pânico por causa desta pandemia (coisa que calculo seja uma epidemia tradicional elevada ao cubo, ou assim uma coisa parecida) e tenho por isso de presumir que há carradas de razões para tanta preocupação com o assunto.

Os lojistas do Freeport acusam a Gripe A de lhes estar a dar cabo do negócio, apesar da publicidade suplementar que o PSD e a TVI têm feito ao seu outlet.

O prudente Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores, partilhou connosco o seu temor das seguradoras suas associadas irem todas ao tapete (isto é, ao charco, ou, se preferirem, à falência) se os seguros de saúde tiveram de cobrir as despesas provocadas pela gripe A.

Os advogados admitem publicamente que a gripe A lhes está a provocar uma quebra no volume de negócios.

Apesar de tudo isto, apesar de eu ter a mania que conheço muita gente porque sou jornalista há 30 anos, apesar de todos estes apesares, eu nunca vi essa tal Gripe A.

Até me custa a confessar que ninguém das minhas relações foi (ainda, acrescento com uma réstea de esperança) vítima dessa promissora gripe alfabética (interrogo-me será que a seguir vem a B e assim por diante?).

Mesmo das pessoas que só conheço de jornais, revistas e televisão, não conheço ninguém que tenha apanhado com a tal Gripe A – nem a Moura Guedes, nem a Nereida, nem a Cláudia Jacques, nem o advogado do Relvas, nem a Ferreira Leite, nem o Ronaldo, nem a ex-mulher do Carlos Queiroz, nem o Juca Magalhães, nem o Teixeira dos Santos, nem o Zé Carlos Malato, nem o Jorge Coelho, nem o Ricardo Salgado, nem a Elsa Raposo, nem o Manuel Pinho, nem a Isabel Figueira, nem Diana Chaves, nem o César Peixoto, nem tão pouco o petiz Rodrigo (filho da Figueira e do Peixoto).

O único que até agora se acusou foi aquele pândego que usa boina e apresentou na televisão uma coisa chamada A Revolta dos Pasteis de Nata (o titulo prometia, ao ponto de me ter levado a experimentar ver um, mas o resto, ou seja o conteúdo propriamente dito, era completamente franciscano – mas a sério, não como o Melicias, que anda num Mercedes de último modelo), que declarou ter ido aos Açores, onde se meteu nos copos e acordou com uma ressaca e a tal gripe A (será que a ANF vai aproveitar a ideia e passar a vender em pacote, mais barato, Tamiflu e Gurosan?).

Que Deus magnânimo e na sua infinita grandeza me perdoe, mas às vezes dou por mim a desconfiar se não estarei a ser vitima de uma gigantesca partida, e se essa coisa da pandemia da Gripe A não será uma espécie de nova caçada aos gambozinos.

Desculpem lá a franqueza, mas interrogo-mesobre se esta gripe A não será uma espécie de Pai Natal ou Branca de Neve dos tempos modernos, inventada por uma agência de comunicação contratada pelo Obama para afastar o espantalho da crise da cabeçalhos dos jornais e das aberturas dos telejornais?

Sex | 11.09.09

Por que me sinto um tanso quando peço um café

Jorge Fiel

Simpatizo muito com aquela frase “todos diferentes, todos iguais”, que foi cunhada como mantra da tolerância - um valor que me é caro.

Aliás, acho que dizer simpatizar é pouco. Eu amo essa frase. Mal a ouvi pela primeira vez, foi um coup de foudre. E todos os dias recebo confirmações da sua pertinência.

Um tipo pode ter um ar de cão abandonado, uma vida social esquálida e uma vida sentimental deprimente, mas quando está no café e chega a hora de encomendar transforma-se logo num senhor e afirma a sua diversidade contra o pagamento, em média, de uns 60 ou 70 cêntimos (fica barato, portanto).

As pessoas encomendam italianas, cafés cheios, em chávena escaldada (ou fria), pingados, de saco, cimbalinos, expressos curto, meia de leite directas, galões, café com leite ou galões, macchiatos e por aí adiante, num nunca acabar de cambiantes  que a Starbucks e suas concorrentes imaginativamente não páram de enriquecer (em seu próprio beneficio, mas vá lá, estão no papel deles).  Até tenho uma amiga que antes de pedir, se dá ao trabalho de inteirar da marca do café – e só bebe se for Delta.

Eu sinto-me um grande tanso quando me sento numa esplanada, peço um café e o empregado fica a olhar para mim, à espera de mais, mas eu não tenho mais nada para dizer, e ele interroga-me: “Um café quê? Normal?!?”, e eu sou obrigado a explicar-lhe que o pedido normal de um café, seco, sem floreados, tem de ser respeitado na estrita obediência ao princípio de “todos diferentes, todos iguais”.

Qui | 10.09.09

Da importância de inspeccionar a sanita antes de se sentar e não se descalçar se cheira mal dos pés

Jorge Fiel

O mundo está perigoso, como dizia o Vasco Pulido Valente.

Noutro dia, um australiano andava a passear num centro comercial, deu-lhe a volta à barriga, procurou a casa de banho, sentou-se no trono, aliviou as tripas e quando se ia a levantar, para proceder à limpeza metódica (presumo) do rabo, constatou que não podia, porque tinha o traseiro colado à sanita.

Pôs aos berros, chamando a atenção para a sua desgraça, e acabou por ser conduzido, com o rabo sujo e a sanita colada (estilo anexo) ao traseiro, pelos bombeiros ao hospital onde os médicos usaram poderosos solventes industriais para o libertar.

É terrível que qualquer pessoa anónima que ande por aí à solta com diarreia possa ser vítima de um atentado terrorista como este, cometido por um engraçadinho equipado com um tubo de supercola, que se adquire em qualquer hipermercado a um preço bastante em conta.

Eu até sou adepto de partidas, mas o mais longe que fui no capítulo das patifarias, foi esconder na gaveta dos legumes do frigorífico um dos sapatos que o Mané tinha a mania de descalçar durante os jogos de king que fazíamos em casa do Jaime – apesar de estar farto de saber que cheirava mal dos pés.

No final do jogo, sem que ninguém reparasse, escondi-lhe o sapato e vim-me logo embora, deixando o Mané retido em casa do Jaime, onde se demorou várias horas na busca do sapato desaparecido. Uma pequena patifaria, mas de bom gosto (digo eu).

E já agora dois conselhos, em jeito de moral da história, para evitar  imprevistos:

1.     Inspeccione bem todas as sanitas desconhecidas antes de se sentar:

 

2.    Se cheirar mal dos pés, abstenha-se de se descalçar em casa alheia, durante jogos de cartas.

Qua | 09.09.09

Ver curling é melhor para os nervos do que beber chá de camomila e faz baixar a tensão arterial

Jorge Fiel

Eu tenho os meus pequenos vícios secretos, como toda a gente. A única diferença é que, de vez em quando, não consigo manter a boca fechada, ponho-os ao sol aqui na Lavandaria, e eles deixam de ser secretos.

A revelação de hoje é imensa paixão que tenho pelo curling. Não imaginam a felicidade que se apodera de mim quando, no diário e rotineiro exercício de zapping televisivo, tropeço numa transmissão de curling no Eurosport.

Uma das coisas que mais me relaxa e descontrai é estar a ver, horas a fio, jogos deste emocionante desporto disputado entre duas equipas, de quatro elementos, num tapete de gelo.

O objectivo é parecido com o do jogo da malha e consiste em esforçar-nos para pôr as nossas patelas (uma coisa redonda, de granito, levemnete aparentada com um ferro de engomar e com um diâmetro de cerca de dez centímetros) o mais próximo possível do alvo, denominado Casa e delimitado exteriormente por um circulo azul que alberga no seu interior um círculo vermelho. Vista de cima, a Casa dá uma ideia das insígnias usadas nas asas pelos Spitfires da RAF durante a II Guerra Mundial.

A parte mais excitante deste desporto olímpico, inventado pelo escoceses na Idade Média e que atinge o zénite da sua popularidade no Canadá, é quando, depois de lançada a patela, os colegas da equipa se afadigam com uma espécie de esfregona a polir freneticamente a superfície de gelo que está na sua trajectória, esforçando-se assim para a levar para dentro da Casa e/ou afastando pelo caminho patelas adversários bem colocadas.

Ver curling é melhor para os nervos do que beber chá de camomila, faz baixar a tensão arterial, dá mais prazer do que estar no jacuzzi ou na sauna - e é tão bom como um banho turco com muito vapor.

Espero não morrer sem jogar pelo menos uma vez curling, e estou disposto a juntar os meus esforços a quem queira introduzir em Portugal esta modalidade desportiva – a mais zen de todas, na minha opinião, que, como já todos repararam, não é modesta.

Ter | 08.09.09

Por que é que eu só ressono a dormir?

Jorge Fiel

Não estou orgulhoso disso, mas a verdade é que eu ressono.

Conta quem sabe, às vezes ressono mesmo como um porco.

Ressono ao ponto dessa involuntária actividade sonora ser um factor inibitório de me deixar adormecer no comboio ou no avião, mesmo que esteja muito fatigado. Temo que ao acordar tenha repousados em mim os olhares acusadores de todos os meus companheiros de viagem que não estão com os ouvidos tapados pelos auscultadores do iPod.

Trago este tema à colação a propósito do facto de apesar de já ter contado 53 Invernos frios e húmidos, ainda há mistérios da vida que eu ainda não consegui desvendar.

Um desses mistérios da equação vida que persiste em apresentar-se como uma incógnita é que eu apenas ressono quando estou a dormir – e nunca quando estou desperto.

Já reparei que não sou o único e que a esmagadora maioria das pessoas é como eu -  ou seja só ressona quando dorme a sono solto.

Penso (mas não tenho a certeza absoluta) que a única excepção a esta regra por mim presenciada foi a do nosso presidente da República, que me parece (não juro) ter ressonado uma vez que foi de emergência à televisão dizer qualquer coisa que não percebi bem a propósito do Estatuto dos Açores (presumo que não se relacionava com vacas, mas não ponho as mãos no fogo por isso, porque na altura estava um bocado distraído a conferir a lista de compras mensais que faço no Continente).

Há aí alguém capaz de em explicar porque é que só ressono quando estou a dormir?

Seg | 07.09.09

Os tipos da Groundforce são uns palhações!

Jorge Fiel

Ah, já me ia esquecendo que os diários desta excursão a Paris não ficariam completos sem uma referência elogiosa à Air France. O autocarro da linha 69 da RATP não tem, por isso, o monopólio das referências positivas no domínio dos transportes.

Marquei a viagem com pouca antecedência e para um mês em que há muita procura, em particular das famílias dos nossos compatriotas que vivem e trabalham em França, pelo que só posso queixar-me de mim próprio por não ter conseguido arranjar uma tarifa mais favorável que a de 218 euros por cada ida e volta Lisboa-Paris.

Durante a minha busca na Net, a Air France oferecia não só a tarifa mais baixa, como também os horários mais convenientes - que são partida madrugadora, para aproveitar a tarde no destino, e regresso o mais tardio possível, para usufruir da manhã e parte da tarde em Paris.

A Air France portou-se à altura dos acontecimentos, com uma pontualidade nas chegadas que impressionou. O voo AF 2124 Paris-Lisboa partiu ligeiramente atrasado do Charles De Gaulle mas recuperou o atraso durante a viagem e aterrou na Portela às 21h50 (hora local) previstas.

O elogio à Air France não é extensivo à Groundforce que demorou 51 minutos a por a bagagem de porão no tapete rolante. Acho perfeitamente inadmissível que fossem já 22h41 quando finalmente ficamos despachados. Os tipos da Groundforce são uns grandes palhações!

FIN

Sex | 04.09.09

Despedi o Gonçalo e contratei a Renée

Jorge Fiel

Deseja calcular percurso alternativo?

Já estava pelos cabelos (que, como agravante, já não são muitos a povoarem o alto da minha cabeça) com o tom irritado e acusador usado pelo Gonçalo para me perguntar, naquela sua voz metálica e desagradável, se eu desejava que ele calculasse um percurso alternativo, sempre que eu desobedecia ao GPS.

Procurei debalde uma alternativa feminina ao Gonçalo. Nicles. No meu GPS, em português, a oferta começa e acaba no insuportável Gonçalo.

Com Paris ainda fresco na memória, tomei a sábia decisão de substituir o Gonçalo pela Renée, aproveitando o facto do GPS disponibilizar vozes dos dois sexos na versão francesa.

A voz da Renée é infinitamente mais agradável do que a do Gonçalo, prefiro aproximar-me de um rond point do que de uma rotunda, acho muito melhor fazer uma curva serré à droite do que apertada à direita, e é muito mais chic fazer 289 km na auto-route do que na auto-estrada.

Programei a minha cabeça para imaginar que a voz da Renée é da boa Mélanie Laurent que está preocupada comigo e por isso me ajuda a orientar na selva do trânsito. De então para cá acato muito mais vezes os conselhos do GPS do que no tempo do Gonçalo.

Qui | 03.09.09

Longa vida ao 69!

Jorge Fiel

 

Não ficaria de bem comigo se concluísse estes diários parisienses sem deixar aqui lavrado um sentido agradecimento aos valiosos serviços prestados pelo autocarro da linha 69 durante os cinco dias que durou esta nossa estadia em Paris.

Não houve um dia sequer que fosse em que não embarcássemos a bordo deste fiel companheiro, que atravessa Paris, desde Gambetta (junto ao Père Lachaise), até ao Champs Mars (ali ao lado da Torre Eiffel), passando pela Bastille, Louvre, Hotel de Ville, Saint Germains, Invalides e por aí adiante.

Tenho também apreço pelas linhas 29 (que escala o Pompidou, a Bolsa e Ópera até se deter na Gare St. Lazare) e pelo 96 (que vai até à Gare Montparnasse), alternativas honestas de divertimento, mas não hesito um segundo antes de afirmar que o melhor de todos é o 69. É por essas e por outras que ergo a minha voz e desejo uma longa vida ao 69!  Merci beaucoup 69!