Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qua | 30.09.09

Uma questão de mercado suscitada durante uma inspecção a Brick Lane, a capital europeia do caril

Jorge Fiel

  1.07.06, sábado 

  O mapa para explorar o East End

Manhã no East End. Vale bem um dia esta mistura picante de Bangla Desh com a avant garde que se manifesta em cafés e lojas ultra trendy.

Brick Lane é considerada a capital europeia do caril e com razão.

Numa loja da Commercial Street, as camisolas oficiais das selecções já eliminadas do Mundial estavam a metade do preço. A dos sobreviventes (Portugal e Inglaterra incluídos) estavam marcadas a 45 libras. Ao fim da tarde, as camisolas brancas da selecção inglesa já estarão em saldo?

O bus 15 (passa pela Fleet Street, St Paul’s e Tower Hill) ou o tube (estações Aldgate ou Aldgate East) são os meios de transporte adequados para aceder ao East End.

O passeio pelo East End (misturando indicações do guia Time Out com um roteiro que me deram numa livraria) acabou em Liverpool Street.

Almoço num pub – a pint of lager (of course) e uma sanduíche de carne fumada com mostarda  - no estágio para o Portugal-Inglaterra, um jogo a ver em sossego no meu quarto no hotel Tavistock, acompanhado de um lata de Budweiser 0,5 l.

Para aborrecer os ingleses, nada seria melhor do que passear com uma T-Shirt com a cara do Big Phil estampada à frente e a do Ricardo atrás.

Após um passeio pelo Strand para descontrair e de comprar o jantar no supermercado de um Marks & Spencer (um taco, uma sanduíche de pastrami, uma garrafa de Syrah argentino e o saca rolhas para a abrir) regresso ao Tavistock para ver o Brasil a perder com a França. Pobre Escrete que se apaga nos momentos decisivos.

 

Ter | 29.09.09

O aluguer de cadeiras em St James Park

Jorge Fiel

30.06.06, 6ª feira

 

18h00. Soneca no St James Park.  Os ingleses são mesmo diferentes dos franceses. As cadeiras verdes dos Jardins du Luxembourg são gratuitas. As deck chairs verdes e brancas de St James Park são alugadas. Uma libra e meia se for só por duas horas. E é possível alugar à temporada – 30 libras.

Acho que dá estilo ter uma cadeira em St James Park, onde o pessoal reinventa o conceito do piquenique. Com cervejas, mas também vinho e champanhe, copos e mantas, montam lá escritório ao fim da tarde dos dias quentes de Verão. Fazem bem!

21h00. Postal para o João escrito num pub junto a Trafalgar Square. Por 8,50 libras comprei para o Pedro uma t shirt vermelha de aparente qualidade, com as letras London escritas num desenho bonito.

Para a Mariana já tinha comprado, por 6,55 libras (uma pechincha), na Virgin de Tottenham Court Road, um DVD sobre Woodstock. Adicionei um mealheiro cabina telefónica, comprado por 3,55 libras numa loja de souvenirs em Picadilly. Vou meter lá dentro os cem euros que ela em cravou.

À noite custou-me menos a adormecer do que na véspera, em que estive acordado até às três da manhã e só adormeci a ver os resumos da NBA na televisão. Deu tempo para escrever a doença da próxima semana, que é sobre as insónias, os pés frios e o método do choque térmico.

Terá sido a dose dupla de House (último episódio da série) e da Meredith Grey que me tirou o sono? Do café não é porque não tenho tomado, excepção feita daquela coisa aguada que é servida ao pequeno almoço no Tavistock.

Seg | 28.09.09

Aprenda comigo a pronunciar Pimlico

Jorge Fiel

30.06.06, 6ª feira

  

8h00 A rainha Isabel descobriu a fonte da eterna juventude – as notas de libra onde ela aparece menina e moça.

 O plano do passeio em Chelsea

16h45 Acabo de me cruzar com o Woody Allen (está velhinho!), presumivelmente à porta de casa dele, na Old Church Street, em Chelsea.

Agora estou estacionado num pub de esquina, chamado The Pig’s Ear a beber uma pint de Kronenbourg. No televisor está a dar o Alemanha-Argentina, quartos de final do Mundial, 0-0 ao intervalo.

Passei a manhã num passeio a pé por Oxford Circus, Regent Street, Picadilly, Pall Mall, St James Square, Palácio de St James, onde os embaixadores entregam aos credenciais.

Vi a loja do Berry Bros & Ruud, comerciantes de vinhos, em St james Street. Depois Pimlico. Vá lá que finalmente aprendi a pronunciar Pimlico. É como se lê em português, a única diferença está no co final, que se lê cou. Pimlicou!

Foi a minha primeira vez à Tate. Tem duas salas com obras emprestadas pela Fundação Gulbenkian, de artistas britânicos mas também um enorme políptico da Paula Rego que eu já tinha visto numa das suas exposições em Portugal (creio que na do CCB).

Fui apresentado a um Souza, de origem goesa, que tem direito a uma sala inteira só para ele. Bué de obras do Turner, mas nem todas impressionantes. Muito Bacon e Freud.

Não usei o Tate Boat. Apeteceu-me mas tive e pensamento poupado e judaico cristão de usar o Oyster (25 libras, dá para sete dias, incluindo ida e volta a Heathrow).

Apanhei o autocarro até Trafalgar Square onde está montado um circo – é o Dia do Canadá. Pode ser que passe por aqui ao fim da tarde para ver um espectáculo no palco que montaram. A estátua do almirante Nelson está em obras. O que não deve impedir os ingleses de virem par aqui fazer a festa se nos ganharem amanhã no jogo dos quartos de final do Mundial.

Metro em Charing Cross para Sloane Square, porta de entrada para um passeio a pé em Chelsea. Na Kings Road investi 36 libras em compras para o Rapaz – óculos de sol espelhados à aviador, bermudas verdes, parka para a chuva e havaianas cor de laranja para usar no Zavial. Acho que vai gostar.

Deus castigou-me pela opção de almoçar no McDonald’s – fiquei junto a uma mãe que se entreteve a mudar a fralda, com recheio e cheiro, do filho enquanto eu comia.

Sex | 25.09.09

South London by bus e a verdadeira explicação para os barcos como o Cutty Sark serem mulheres

Jorge Fiel

29.06.06, 5ª feira

16h00. Apanhei o 118 para Greenwich. Primeiro fui no 68 de Euston Station para Waterloo, onde mudei para o 118, que podia muito bem ter apanhado em Russel Square, onde começa a linha.

South London by bus. A viagem durou quase uma hora. Chegado a Greenwich visitei o Cutty Sark, que tem uma costela portuguesa, pois foi este veleiro foi vendido, por 2 100 libras, à firma portuguesa Ferreira (a dos vinhos, que agora pertence à Sogrape e foi fundada pelo Dona Antónia), algures no final do século XIX, quando os navios a vapor se preparavam para tornar obsoletos os barcos à vela.

É fantástica a colecção de figuras de proa que estão em exposição na parte inferior do navio. Comprei a primeira prenda, a caneca da ordem para o Pedro, por 4,5 libras - e ajuda a financiar as obras de recuperação do Cutty Sark.

Curioso o tempo que o vapor demorou a derrotar a vela. A principio, a carga de carvão era tão pesada que os navios ficavam mais lentos que os veleiros – o Cutty Sark foi mais rápido que o Britannia, demorando apenas 77 dias numa viagem de regresso das Austrália.

Na loja do barco estava à venda um pano a explicar porque é que e inglês os navios são she e não he - têm sempre uma data de homens à volta deles, precisam de um homem para os dirigir e assim por diante.

A febre das bandeiras nacionais nas janelas e carros, pegada por Scolari no Euro 2004, já atravessou a Mancha e chegou a Londres …

Qui | 24.09.09

A estranha mania dos jardins público-privados

Jorge Fiel

29.6.06,  5ª feira

Aspecto do Bedford Garden quando não está alugado para festarolas

A fúria privatizadora da senhora Thatcher chegou aos jardins. Ao passar pelo de Bedford Square dei por ele fechado ao público e a receber uma festa de fato e gravata, com música clássica de acompanhamento. E o de Jardim de Fitzroy Square, onde estou agora, tem um letreiro na única entrada advertindo tratar-se de um jardim privado, para uso exclusivo dos residentes. O que vale é que o pessoal é rebelde e não liga nada ao que dizem as tabuletas. Ontem ao fim da tarde, o jardim de Soho Square estava apinhado de gente a beber cervejas por latas de meio litro apesar do aviso na porta da entrada proibir o consumo de bebidas alcoólicas.

Qua | 23.09.09

Cuidados que um homem tem de ter quando cruza a perna, se está de saias e sem nada por debaixo

Jorge Fiel

Em Junho de 2006 fui à Escócia, a convite da Glenrothes, como ficou documentado para a posteridade por esta fotografia em que estou paramentado a rigor (incluindo o punhal disfarçado na bainha da meia da perna direita) para um jantar num castelo, onde me foram dados a beber os melhores maltes, em quantidades bastante generosas.

Como é sabido, o álcool desinibe, por isso o meu inglês nunca fui tão fluente e rico como nessa noite, em que a seguir ao jantar estivemos no paleio num relvado.

Durante essa agradável conversa, também ela bem regada, esqueci-me por completo que estava de saias e sem nada por baixo, o que mereceu um aviso feminino para que tivesse um pouco mais de cautela sempre que cruzava e descruzava as pernas.

No regresso da Escócia fiz, à conta do meu erário pessoal, um stop over em Londres. Esta semana, ao folhear o meu guia Dorling Kindersley de Londres, que retirei da estante porque estou a planear um novo raide à capital britânica, descobri que escrevi nas badanas e páginas em branco uma espécie de diário dessa visita.

Ao relê-lo, decidi passá-lo ao computador e publicá-lo em fascículos aqui na Lavandaria, ilustrado, entre outras coisas, por material iconográfico referente à viagem, que guardo sempre em pastas arquivadoras.

Sei que se trata de uma decisão egocêntrica e narcisista. Sei que é uma irritante manifestação de vaidade exagerada passar-me sequer pela cabeça que estas notas podem interessar a alguém, para além de mim próprio. Mas, que querem?, não resisti. Por isso, ficam já avisados. Durante a próxima semana só vai dar Londres e isto vai parecer qulquer coisa entre a Rádio Nostalgia e a RTP Memória. Fujam enquanto podem.   

Ter | 22.09.09

As técnicas de pedir lume e perguntar as horas ainda podem e devem ser usadas na abordagem

Jorge Fiel

Se eu encontrasse a Melanie Laurent no café, era muito capaz de me sentir tentado a ir perguntar-lhe as horas – ou pedir-lhe lume

O “Podia, for favor, dizer-me que horas são?” é um clássico da abordagem a uma pessoa que nos é desconhecida, mas que nós estamos a esforçar-nos seriamente para que deixe de o ser – e cuja fachada nos deu uma enorme vontade de a conhecer, em vários domínios, incluindo o bíblico.

Penso que apenas o truque de pedir lume seja ainda mais popular do que o de perguntar as horas.

Agora que ninguém fuma e toda a gente anda com as horas guardadas no bolso, no mostrador do telemóvel, as velhas formas de abordagem tornaram-se arcaicas, a não ser que as passemos a usar de forma menos discreta e mais imaginativa.

Creio que as minhas preclaras amigas concordarão que, no passado, quando um desconhecido se aproximava a perguntar as horas (ou pedir lume) elas ficavam na dúvida sobre se o passarão queria mesmo só saber a quantas andava (ou espetar mais um prego no caixão, acendendo um cigarro) – ou se o queria realmente era figos.

Em tempos idos, que não voltam (como, em boa hora, nos avisou o António Mourão no inesquecível “Ó tempo volta para trás”), o meu amigo Luciano tinha um truque infalível no seu arsenal de abordagens.

Quando se dirigia a um alvo, praticando a abordagem do “Por favor, dá-me lume?”, o sábio do Luciano levava o cigarro na boca já aceso, para que não restasse a mínima das dúvidas ao que ia. Era como faziam os piratas quando arvoram no mastro principal o pavilhão negro, decorado com a caveira cruzada por duas tíbias, antes de atacarem a presa.

E quando a desconhecida lhe fazia ver que ele não precisava de lume, porque o cigarro já estava acesa, o tratante do Luciano compunha um ar de espanto, um misto de atrapalhação e despiste (as mulheres adoram esta ar!), olhava para o cigarro e respondia:

“Estás ver o efeito que fazes em mim? Desde que te vi, só faço disparates…”

Era fulminante. Tiro e queda.

Seg | 21.09.09

Ainda estou refém do reflexo pavloviano de olhar para o pulso quando quero saber a quantas ando

Jorge Fiel

O uso que dou ao meu bom e velho Nokia torna obsoleto relógio, despertador e agenda telefónica, mas ainda (?) não dispensa iPod, máquina fotográfica e computador portátil.

Ainda uso regularmente relógio de pulso, mas apenas por inércia – e pela preguiça de ter de meter a mão no bolso quando quero saber as horas.

E, muito provavelmente, também porque ao longo dos anos fui construindo o reflexo pavloviano de olhar para o pulso sempre que quero saber a quantas ando.

Como toda a gente tem telemóvel, já ninguém pergunta as horas a ninguém – talvez mesmo só na praia. A não ser que a pergunta camufle uma outra intenção, mas isso já são contas de outro rosário.

Sex | 18.09.09

De como a invenção da Nespresso tem o efeito pernicioso de nos manter enjaulados em casa

Jorge Fiel

O desembarque nas nossas casas das bonitas máquinas de café Nespresso representou mais um passo de gigante no irreversível caminho de privatização das nossas vidas.

Em vez de irmos ao cinema, ficamos no sofá a ver os filmes no DVD. Em vez de irmos jantar fora, convidamos os amigos para jantarem lá em casa. E o Nespresso acabou com o último dos pequenos luxos em que a rua era competitiva: o café.

Sempre existiram aparelhos domésticos de fabricar café, mas o produto final, o vulgo café de saco, não era competitivo, do ponto de vista estético, com aquela chávena de cimbalino (ou a bica, escolham por favor a designação mais adequada ao lugar onde estiverem a ler este pequena diversão) coberta por bonita camada de espuma tão espessa que o açúcar até se demora a afundar-se.

O café Nespresso tem um aspecto absolutamente irrepreensível, capaz de ombrear com os saídos das máquinas profissionais de café, se bem que a sua qualidade, segundo os especialistas, está aquém do produzido pelas boas e velhas máquinas de balão - ou até de alumínio.

Os verdadeiros apreciadores de café (e eu tenho um par deles no meu circulo de relações), dizem que o paladar do Nespresso está para o bom café feito por uma máquina profissional (La Cimbali e respectiva descendência) como o som do CD para o de um gira discos.

Na média, o som do CD e o paladar do Nespresso são aceitáveis e merecedores de uma nota no intervalo entre o dez e o 13, numa escala de zero a 20.

A bica (ou, se preferirem, o cimbalino) servida no café e o vinil lido por uma agulha são susceptíveis de serem muito melhores ou muito piores - de mergulharem nas profundezas das negativas ou de arranharem o céu do 20.

Eu, que sou um leigo em todas as matérias, fico moderadamente satisfeito com o café Nespresso. Uma pessoa também bebe com os olhos e o aspecto final é bastante satisfatório.

Há coisa de três anos, adquiri, por 179,99 euros, uma máquina Nespresso Krups XN2100 (ver foto em baixo), que nunca me deixou ficar mal e é um belíssimo objecto de design, que está acantonada na cozinha mas podia estar perfeitamente exposta na sala. 

Tenho queixas. Não me parece que a bebida atinja nunca a temperatura ideal e, apesar do caleidoscópio de cores das cápsulas ser bastante atraente à vista, o meu palato não é suficientemente culto para apreciar os cambiantes de sabores da gorda oferta.

Tenho a certeza que, numa prova cega, não conseguiria identificar um único dos 16 grand crus (usando a sofisticada terminologia da marca), se bem que tenha um formato predefinido – quando questionado, escolho o Ristretto porque me dizem que é o mais forte e simpatizei, logo à primeira vista, com a descrição detalhada que a marca faz das características deste lote (1).

O preço de 32 cêntimos da cápsula Nespresso (37 no caso dos novos cafés, com denominação de origem Índia, Brasil e Colômbia) é aceitável, o que, acrescentando a amortização da máquina e do serviço de café, bem como os gastos em água e electricidade, coloca o produto final aquém dos 40 cêntimos, ou seja bastante concorrencial com o dos cafés, que raramente levam abaixo de 60 cêntimos a chávena.

As máquinas Nespresos têm a enorme vantagem de serem muito simples de operar e de limpar, o que compensará, o impacto ambiental das cápsulas usadas, pelo menos ao olhar das mentes menos engagé do ponto de vista ambiental (mas a Nestlé está com má consciência e na Suíça já começou a montar uma operação de recolha das cápsulas para posterior reciclagem)

Resumindo e baralhando.  A invenção da Nespresso garante um café para uso doméstico correcto, embora morno e de unhas aparadas,  mas pode ter consequências perniciosas do ponto de vista ambiental e social, ao conspirar no sentido de nos manter enjaulados em casa, em vez de sairmos à rua depois do jantar, para ir tomar café.

(1)            A bula do Ristretto garante que ele combina os melhores Arábicas sul-americanos (Brasil e Colômbia) com Arábicas do Leste de África, ligeiramente ácidos, acrescentando que “a torrefacção lenta e separada dos grãos permite obter uma mistura contrastada, associando ao mesmo tempo, subtis notas intensamente torradas e a cacau". Eu não consigo detectar nada disso, mas admito que seja verdade e faço a justiça de considerar que o assunto escrito com algum romantismo.

Qui | 17.09.09

O papel de outsider desempenhado pelo caracol no clássico dilema entre o queque e o bolo de arroz

Jorge Fiel

Sou acérrimo defensor (e praticante) da teoria de que devemos ter predefinidos formatos para responder às previsíveis  alterações à nossa rotina diária.

Nos casos em que, por um motivo (falta de géneros em casa) ou outro (sair a correr de casa), me vejo na contingência de estar na rua em jejum, tenho pronto a accionar um dispositivo de encomenda de pequeno almoço no café.

A bebida será seguramente água com gás fresca, deixando ao sabor do momento (o improviso é um dos sais da vida) a opção entre a Água do Castello e a Água das Pedras.

Se estou numa de me tentar poupar à decisão, inclino-me para pedir Castello, por ser muito provável que o café não a tenha disponível. Nesses casos, quando me comunicam que não há, encolho os ombros, e digo: “Então traga Pedras”. A distribuição da Unicer (Pedras) é melhor do que a da Nestlé (Castello).

Se por acaso o café onde escolhi tomar o pequeno almoço é do tipo Magnólia, ou seja completamente alinhado com a Central de Cervejas, tenho de me resignar a beber Luso Fresh – apesar de muito contrariado.

A chaveta dos sólidos compreende três itens: queque, bolo de arroz e caracol. Já não me lembro da última vez em que encomendei uma torrada – vá-se lá saber porquê…

O clássico dilema queque/bolo de arroz é de muito difícil ultrapassagem. A massa é em tudo idêntica (penso eu de que…), e o melhor é a parte de cima, que está mais dura e, às vezes, até é deliciosamente crocante.

A parte do fundo, que fica agarrado ao papel, é de muitissimo pior qualidade, e na maior parte das vezes só a como para não desperdiçar comida, o que, todos sabemos, é pecado, pois há muitas criancinhas, adultos e velhos (a fome não escolhe idade, apenas classe social) a morrerem à fome um pouco por todo o Mundo.

O caracol traz-me recordações dos idos de 1975, quando estudei no ISPA e o meu pequeno almoço tipo, tomado num café da Flamenga (Santo António de Cavaleiros), era constituído por um copo de água da torneira, um caracol (enorme!) e um café. Comprava o Diário de Notícias ou o Século, dava uma moedinha de cinco coroas e ainda recebi de troco uma moeda de cinco tostões. A festa ficava muito em conta. Those were the days.

Eu gosto muito do caracol, mas, para ser realmente bom,  ele tem de ter a massa estaladiça e ser generosamente povoado por frutos secos. E, diz-me a experiência (a única coisa boa que vem com a idade), nos tempos que correm é muito difícil encontrar um caracol de qualidade, pelo que normalmente deixo-me ficar pelo dilema queque/bolo de arroz.

Obviamente, a refeição é sepultada por um café – normal e tomado sem açúcar.

Pág. 1/3