Pela desenvoltura evidenciada, parece-me que a senhora da fotografia não usa aparelho nos dentes
“Ainda não refeita do choque e humilhação que é ranger os dentes à noite, dei comigo a pensar que mais humilhante será ainda, quando, numa noite escaldante, em que tiver o baixo ventre em ebulição (como diria a Arlinda Mestre, essa grande jet setter que ninguém conhece em França and anywhere else), tiver de usar o aparelho.
Como será? No meio de um french kiss a língua dele prende-se no meu aparelho e teremos de chamar os Anjos da Noite para nos descolarem?
Ou a meio de uma ‘chamada para Tóquio’ fica o meu aparelho preso ao ‘microfone’ dele?
E depois? Só me lembro de uma hipótese mais humilhante do que as anteriores: é a alternativa de dizer: ‘Sorry, honey, tenho de tirar esta coisa transparente para podermos fazer sexo seguro!”
“Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, página 42
Confesso desde já não possuir qualquer saber de experiência relativamente aos efeitos colaterais, na qualidade do sexo oral, derivados do uso de um aparelho de dentes - com intuitos correctores ou tão dissuasores do ranger nocturno de dentes.
Algures entre 74 e 75, namorei com uma rapariga que só alguns anos mais tarde vim a saber que tinha dois dentes postiços – e logo os dois da frente e do maxilar superior. Isso impressionou-me muito à época mas não tem a ver com a grandeza e importância da questão levantada pela preclara AA na crónica redigida para o extinto Independente, de que aqui que repesca o mais saboroso extracto.
A propósito do papel da dentição no fellatio, recordo que quando era moço, o imaginário do Porto era povoado por duas figuras populares que nunca cheguei a avistar: o Carlinhos da Sé (reconhecido larilas, que não vem ao caso)e a Madalena dos Broches.
Constava que a Madalena era desdentada e retirava a dentadura antes de prestar o serviço, do que resultaria grande benefício para a clientela.
Acredito que sim, apesar de achar que os dentes não atrapalham – a não ser que sejam usados com os intuitos amputadores da senhora Bobbitt relativamente ao “microfone”.
Impressionou-me um mail recentemente recebido que continha um clip pornográfico, com aspecto de ser de produção caseira, em que uma senhora está ajoelhada na casa de banho e a meio da “chamada para Tóquio” deixa cair a dentadura ao chão. Deve ter sido um maçada – um corte.
Dizem-me ainda que o piercing no meio da língua proporciona um interessante prazer suplementar, mas volto a ter de confessar minha completa ausência de saber camoniano nesta magna e candente questão.
Seis proeminentes cientistas norte-americanos foram suspensos pela Fundação Nacional da Ciência, por esta agência federal ter descoberto que passavam 20% do seu horário de trabalho a visitar sites pornográficos.
Penso que a divulgação desta informação chega como resposta para a pergunta: “Porquê?, Jorge Fiel, porquê o sexo, outra vez, mais uma vez?».
Mais. Os especialistas são unânimes em considerar que o sexo é um dos três grandes motores da História – os outros dois são o impulso de comerciar e os conflitos entre classes sociais.
Dito isto, lembro que a Enciclopédia Sexual Ilustrada da Lavandaria vai arrancar amanhã.
Para não haver grandes sobressaltos entre o fim do ciclo da casa de banho – que, como devem estar lembrados, se concluiu com posts dedicados à higiene oral - achei oportuno manter-me no domínio da oralidade nas primeiras abordagens do novo ciclo.
Apesar de estarmos em plena “crise que só se vive uma vez na vida”, não me pouparei a esforços para que as preclaras e os preclaros fiquem bem servidos.
Para que isso aconteça, não me poupei a despesas, tendo sacrificado 17 euros e 97 cêntimos dos meus parcos rendimentos em material para este seriado, que espero eleve de forma significativa as audiências desta Lavandaria e a vivacidade na caixa de comentários.
Deste total, 11,97 euros foram investidos na compra, na Fnac do Chiado, de um exemplar de “Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, Colecção Pecado Original, Editora Guerra e Paz, 156 páginas (1).
Além de não me poupar a esforços e despesas, também não me poupei a vergonhas e gastei seis euros (2) a comprar numa banca do Restauradores, em frente aos Correios, dois exemplares recentes da Gina, uma revista pornográfica de publicação periódica que planeio usar na ilustração da enciclopédia.
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(1)Não posso deixar de transcrever o oportuno comentário que o José de Pina teceu sobre esta obra seminal, que em boa hora o editor transcreveu na contracapa: “Este é sem dúvida, um livro útil, não apenas para as mulheres mas também para os homens. Se tivesse saído há mais tempo, com certeza Pinto da Costa não teria cometido tantos disparates e o Calor da Noite não teria assim perdido uma das suas alternadeiras”.
(2)Ainda tentei oferecer apenas cinco euros, mas a senhora não aceitou, apontando para o preço que vem marcado na contra-capa da revista, que é comercializada dentro de uma espécie de preservativo de plástico.
O cavalheiro da foto não está a meter a pixota no mealheiro, mas sim na boca da senhora de óculos. Estejam, por favor, preparados para o pior…
Uma das minhas fantasias, nunca concretizada, foi a de viver à custa de mulheres.
Calma! Não quero com isto significar que ambicionei ser chulo, ou seja ter gajas aatacar por minha conta e assim poder viver despreocupadamente das comissões, livres de impostos, dos pagamentos feitos pelos seus clientes. Não, nada disso.
O que eu gostaria é de me ter casado com uma herdeira muito rica, que me possibilitasse levar a vida sem trabalhar, a viajar e divertir-me, sempre com os bolsos e a conta bancária provida, enquanto esperava pelo divórcio.
Quando a querida se apaixonasse por uma estrela rock ou um jogador de futebol americano, eu não iria regatear. Na hora do divórcio, contentar-me-ia em ficar com uns 15 milhões de euros, o apartamento no Dakota com vista para o Central Parque, o pequeno pied à terre no Marais e o pub em Mayfair. Mais nada.
Lamentavelmente, atravessei a vida sem conseguir meter a pixota no mealheiro.
Nunca me saiu essa sorte grande, mas penso que, neste delicado momento, em que estou a mudar de um longo ciclo de posts dedicado à casa de banho para um outro consagrado a um tema mais bem popular (o sexo), penso que posso ter uma pequena terminação.
Dito por outras palavras, preparo-me para, nas próximas semanas, chular o trabalho da Ana Anes, que compulsou no imperdível livro “Sete anos de mau sexo”, algumas das suas melhores crónicas sobre sexo – não só o puro e duro, mas também os assuntos de coração, românticos e suaves (às vezes….) – que deixou espalhadas por publicações tão diversas como o falecido O Independente, Maxmen ou Destak.
Armado em azeiteiro, usarei extractos da obra citada- publicada pela Guerra e Paz e prefaciada pelo João Pereira Coutinho (1) -como base para um seriado sobre sexo, que assumirá a forma de uma enciclopédia em fascículos.
Como me limitarei a seleccionar os excertos, escolher a ilustração (que medo!!!!!!) e proceder a uns comentários, pode dizer-se que, finalmente!,vou viver à custa de uma mulher.
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(1)Refiro-me ao cronista, não ao empresário homónimo que dava boleias no seu Falcon ao Durão Barroso e família para passarem umas férias pagas na sua ilha brasileira privativa.
A pasta medicinal Couto deve parte substancial da sua celebridade ao mítico comercial televisivo que passou na RTP no início dos anos 70, protagonizado por um compatriota nosso que rodopiava pelo palco com uma cadeira presa aos dentes.
Esta portentosa exibição era acompanhada por uma voz off, sóbria, grave, solene e cheia, que sublinhava, pausamente, três características evidentes patenteadas pelo protagonista -“dentes fortes, gengivas sãs, boca saudável” – antes de pronunciar a frase famosa que ficou gravada no disco rígido de todas as pessoas da minha geração:“Palavras para quê? É um artista português e só usa pasta medicinal Couto”.
Chegados a este momento, confesso-vos, com um orgulho indisfarçado, que testemunhei uma demonstração ao vivo deste artista português, no palco do recinto de espectáculos ao ar livre que existia no Palácio de Cristal, um pouco atrás da Concha Acústica da avenida das Tílias.
Nunca tentei repetir lá em casa a proeza do artista português (1), muito provavelmente porque nunca usei só pasta medicinal Couto.
Olhando para trás, reparo que sempre adoptei uma política errante neste particular da aquisição de pasta dentífrica, nunca me tendo fidelizado durante longos períodos a qualquer marca.
Pelo meu copo de dentes passaram indiscriminadamente a pasta medicinal Couto mas também bisnagas de Colgate, Pepsodent, Sensodyne, Mentadent ou Binaca.
Devo até dizer que, se tivesse de destacar uma preferência, ela recairia sobre a Binaca, uma marca que desapareceu das prateleiras dos nossos supermercados depois da multinacional Reckitt Benckiser a ter vendido a um fabricante indiano.
Mas atendendo à importância de privilegiarmos a compra de produtos portugueses, prometo desenvolver um esforço sério de fidelização à pasta medicinal Couto - fabricado por uma empresa que é merecedora do nosso respeito e admiração, tanto mais que o célebre restaurador Olex fez parte da sua galeria de produtos.
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(1)Pelo tom de pele, tudo leva a crer que este artista de sólida dentadura nasceu algures em África, talvez em Angola, quem sabe se em Moçambique ?
Não há volta a dar. O Porto aparece sempre à esquina em todos os momentos fundamentais da História de Portugal, qualquer que seja o assunto, desde o nascimento e baptismo da nação até à inovação na higiene oral, passando pelo financiamento dos Descobrimentos.
No Portugal, a preto e branco, de 1932, em Lisboa, António de Oliveira Salazar ultima a Constituição de 1933 e o Estatuto do Trabalho Nacional (promulgado em 1934) que completam a arquitectura jurídica do Estado Novo.
Na Marinha Grande, as células clandestinas comunistas e os grupos anarquistas agitam o importante centro industrial que protagonizaria em 1934 o canto do cisne da revolta operária contra a ditadura.
No Porto, Alberto Ferreira Couto dava alguma cor a este cenário plúmbeo ao inventar a mítica pasta dentífrica que usa como marca o seu apelido.
A pasta medicinal Couto é um dos mais queridos ícones do século XX português, que ainda podemos encontrar nas prateleiras de lojas especializadas e de bom gosto.
O essencial do design da famosa embalagem inicial manteve-se, sendo que a única coisa que mudou foi a assinatura do produto. Em Outubro de 2001, a União Europeia decretou a proibição do uso da palavra medicinal por esta pasta dos dentes que continua a ser fabricada nos arredores do Porto (mas concretamente em Gaia, junto à A1).
Legalmente, a boa e velha e pasta medicinal Couto passou a ser a nova (e presumo) não menos boa pasta dentífrica Couto, mas penso que ninguém levará a mal se aqui na Lavandaria eu continuar a qualificá-la informalmente como medicinal, certo que entre as preclaras e os preclaros não se conta qualquer zeloso fiscal de Bruxelas pronto a dedodurar-me (1).
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(1)Não hesito um segundo em declarar que este neologismo verbal - que tem a sua origem no dedo indicador direito acusador espetado em sinal de acusação - constitui uma das mais importantes contribuições que os nossos irmãos do outro lado do Atlântico deram ao desenvolvimento da língua que nos une.
Há três sabonetes marcantes na minha vida, que foram, por ordem cronológica, o Lux, o Lifebuoy e o Magno.
O Lux, o sabonete que nove em cada dez estrelas usavam (e uma delas era a sex symbol Elisabeth Taylor, estrela dofilme Cleópatra que, por causa da cena erótica em que ela saía da banheira/piscina, foi classificado como um espectáculo para Maiores de 16 anos), era o luxo com que eu sonhava quando o que encontrava no lavatório era um cubo agreste de sabão azul, comprado na drogaria da esquina e cortado com perícia pelo senhor Arnaldinho.
O Lifebuoy - com aquele seu intenso aroma a desinfectante que faziam dele uma autêntica bóia de salvação para quem carecia de sabão - foi o sabonete adequado ao meu período trotskista, quando, na companhia do Hugo e do Manuel Resende, fazia regularmente viagens nocturnas e clandestinas a Lisboa, a bordo do VW Carocha branco do Sardo.
Confesso-vos que tenho muitas saudades do cheiro proletário do Lifebuoy, e que só deixei de o usar quando ele desapareceu das prateleiras dos supermercados.
Nas suas apelativas formas arredondadas, o Magno, volumoso e preto, corresponde a uma fase em que passei a valorizar essencialmente a estética do conteúdo – acho que, do ponto de vista da embalagem, este sabonete galego perde em toda a linha para as linhas clássicas e vintage do Lifebuoy.
Agora, que estamos enterrados naquela “crise que só se vive uma vez na vida”, optei pela racionalização o queme atirou de novo para o regaço do Lux, num curioso movimento que parece confirmar a teoria do eterno retorno (apesar de, no entretanto, a Liz Taylor ter naufragado nas ondas de uma boa dúzia da casamentos).
Passei a encarar o sabonete como uma mercadoria, e o Lux é o mais barato: 5,36 euros o quilo. Ninguém precisa de andar com as mãos sujas (o Sartre nunca advogou isso, como o sabem todos os que se aventuram além da capa do livro) quando o pack com quatro sabonetes de 125 grmas se pode adquirir pela módica quantia de 2,68 euros.
Já o Patti, da Ach Brito, com uma embalagem muito querida onde são salientadas a suas propriedades hidratantes, anda pelos 8,90 euros o quilo, mais caro que a queijo raclette da marca Auchan.
Por sua vez, o Dove apresenta-se ao preço exorbitante de 12.50 euros o quilo, três euros a mais que o magnífico camarão português 60/80 vendidos no El Corte Ingles.
Não encontro justificação para o Dove custar bastante mais que o dobro do que o sabonete que era o preferido por nove em cada dez estrelas de Hollywood.
Para o homem moderno, o espelho da casa de banho concentra duas diferentes valências: uma eminentemente utilitária e outra do foro psicológico e comportamental.
Quando estamos a fazer a barba com lâmina, precisamos do espelho para evitar que a nossa cara fique com um aspecto idêntico à do boxeur que perdeu por KO, a meio do oitavo assalto, um combate de nove assaltos.
Se temos uma farta e abundante cabeleira (o que não é manifestamente o meu caso, pois além de estar parcialmente careca, acabo de me submeter a um rigoroso pente dois), o espelho da casa de banho pode ser muito útil no acto de pentear.
No caso das mulheres, o espelho tem todas as condições paar ser um magnífico aliado na tarefa de evitarem sair para a rua com uma maquilhagem que lhes possibilite serem confundidas com a Paula Rego.
Já no que concerne a últimos acertos dovestuário, como a verificação do estado do nó da gravata, acho que o espelho no quarto, ou até mesmo o do elevador, são mais apropriados.
Mas o espelho da casa de banho pode ser um precioso auxiliar da nossa higiene mental, de acordo com alguns cientistas de renome mundial, como o terapista comportamental Stuart Small.
Small recomenda que aproveitemos todos os momentos em frente ao espelho para repetirmos mentalmente o seguinte mantra:: ”Eu sou muito bom, eu sou muito inteligente e as pessoas gostam muito de mim”.
Para evitar golpes, desaconselho aos preclaros a entrega a este exercício de auto-estima quando têm em curso a delicada operação de fazer a barba.
Acho mais recomendável que o façam quando estão em frente ao espelho da casa de banho a escovar os dentes – ou até mesmo a pentearem-se.
Quando mãos competentes e experimentadas nos administram uma massagem com doses generosas de álcool a 90º na nossa pele facial, acabada de barbear e escanhoar (1), sentimo-nos tão másculos como o Texas Jack no momento de sacar a arma num duelo no velho Faroeste, que vai saldar as contas abertas por uma lamentável desinteligência, ocorrida no balcão do Saloon, com um incorrigível e bêbado assaltante de bancos.
O problema - de que só me apercebi quando estava a concluir, com um relativo sucesso, os meus estudos de História Moderna -é que o álcool seca uma pele já martirizada por duas passagens de lâmina.
O contacto com o álcool provoca uma ardência quase erótica e liberta um odor bastante mais agradável do que a gasolina de 98 octanas (2), mas tem o efeito pernicioso de secar uma pele tão carente de hidratação como os solos gretados do Tarrafal, em Cabo Verde, após uma terrível seca que dura há 13 anos.
Mal realizei esta verdade nua e crua, fui experimentando (a medo, confesso) várias loções after shave até ter encontrado a solução que pensei ser o mais adequada à minha personalidade e temperamento.
Fidelizei-me ao Eternity, da Calvin Klein, na dupla versão água de colónia e after shave, e assim vivi, o mais harmoniosamente possível, durante longos e atribulados anos da minha existência.
No entretanto, o aproximar da Terceira Idade – e não totalmente confiante no trabalho desenvolvido pela dupla Vieira da Silva/Fernando Medina na consolidação e viabilização do nosso sistema de Segurança Social – achei por bem começar a cortar nas despesas supérfluas e a usar loções e bálsamo after shave de marcas diversas que herdei do meu primo Fernando depois dele tomado a decisãoecologicamente correcta de usar sempre uma barba do tipo três dias.
Quando acabar o frasco de Tuscany Per Uomo que tenho a uso, sigo parauma bisnaga de 75 ml Boss, da Hugo Boss.
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(1)O verbo escanhoar designa uma segunda e perfeccionista passagem da lâmina numa pele já barbeada.
(2)Aceito e acredito que, após ter vivido a experiência de cantar a banda sonora de Cat People, o David Bowie discorde desta minha opinião