Jayne não caprichou muito no guarda roupa para este seu encontro com Davy (Avaria Sexual, Gina nº 192)
“Eu odeio conjuntos no que toca a lingerie, apesar de ter resmas deles comprados e oferecidos nas minhas gavetas. Pior, penso mesmo que tal me provoca reacções alérgicas. Daí sentir-me uma aberração no Planeta Lingerie quando comparada com as restantes mulheres.
Ora, analisando isto friamente, conclui-se rapidamente que quem usa conjuntos, sejam eles de seda, renda ou algodão, são pessoas emocionalmente estáveis, com objectivos de vida definidos e personalidades estruturadas”
Sete anos de mau sexo, Ana Anes, página 102
Eu já desconfiava que a autora era uma pessoa completamente na moda. Ao ler este trecho, em que ela nos revela não ser favorável ao uso de conjuntos de lingerie, obtivemos a confirmação de que ela é trendy até na maneira como usa o underwear.
Não sei se repararam, mas o mundo mudou muito nos últimos anos. Dantes, era tudo muito regulamentado. A carne tinha de ser acompanhada por tinto, o peixe grelhado por um branco seco, os doces pediam um licor e o Serra um Porto. Agora é tudo à balda. A regra é não haver regra. Ninguém lhe levará a mal se prolongar o tinto para a sobremesa - ou se pedir um Evel Branco para regar umas tripas à moda do Porto.
Estes ventos revolucionários estenderam-se ao domínio da roupa. Na semana passada, em conversa com a Katty Xiomara (que desenha também uma colecção de lingerie!) ela explicou-me que desde que está na moda (há dez anos) verificou uma mudança estrutural: as pessoas perderam o medo de arriscar e são capazes de vestir em simultâneo peças Zara, Katty e Calvin Klein.
A própria Katty era a prova disso, vestida com umas calças de ganga Fornarina, sapatos Stella McCartney for Adidas, t shirt H&M,malha Zara e casaco Katty de caximira preta(a mala, branca também foi desenhada por ela).
Devo salientar que esta desregulamentação também inclui a combinação entre um soutien da Triumph e a ausência de cuecas - ou as mamas ao léu rematadas por umas cuequinhas Victoria’s Secret.
Apesar de usar um conjunto de lingerie, temos de convir que a Laetitia Casta se apresenta com um ar bastante apetitoso
“Não há semana que passe sem que receba mails ou sms’s das minhas amigas a contarem-me, em plena euforia, que se acabam de arruinar com conjuntos de lingerie lindos de morrer ou que perderam a cabeça e decidiram dévaliser o stock de fios dentais, asas deltas com as respectivas partes de cima numa loja qualquer”
Sete anos de mau sexo, Ana Anes, página 102
Longe de mim querer desvalorizar a importância do embrulho. Toda a gente sabe que também se come muito com os olhos e é por isso que a Triumph, a Victoria Secrets e a Claudia Vieira continuam a prosperar, apesar de atravessarmos “a crise que só se vive uma vez na vida”.
Que atire a primeira pedra o homem que não fica excitado na presença de uma perna vestida com uma meia preta encimada por um cinto de ligas.
Rendas, nós, laços são algumas das marotices usadas pelos criadoras/es de lingerie para porem as cabeças dos homens a andar à roda –e as mulheres a arejarem imprudentemente os seus cartões de crédito.
Colocado ao serviço do rabo adequado, um fio dental não só fica muito bem como ainda por cima é prático - basta afastar um bocado para o lado e entrar, o que é uma vantagem quando se está com pressa e/ou sofreguidão.
O sistema de meias que terminam na parte superior da coxa, e são seguras por intermédio de elásticos ou cinto de ligas, também é muito funcional porque, ao contrário do que sucede com os collants tradicionais, as meias não precisam de ser despidas e o seu uso é compatível com o desenrolar de todas as fases das hostilidades.
Os soutiens sofisticados e tecnologicamente avançados conseguem, através de engenhosos sistemas de elevação, proporcionar decotes excitantes ao olhar guloso dos homens.
O problema é depois, quando, após termos conseguido, com os dedos nervosos, abrir o fecho e libertar as mamas, verificamos que o conjunto prometia mais - em elevação, firmeza e volume – do que realmente tinha para oferecer.
“Grande gaita, escrever sobre o famoso Ponto G. E gozo, também, que dá ler sobre algo de que toda gente fala, fala, fala, mas parece que ninguém sabe se existe mesmo, se está apenas nos estudos ou se é, de facto, transponível para os nossos corpos.
Pois. Ele é ler nos artigos que nem todas as mulheres o têm ou que as que o têm nem sempre têm a sorte de encontrar o garoto que faça o Ponto G gemer por se ter tido o mérito, la chance e/ou a perícia de se ter chegado a ele comme il faut, em vez de tanto se falar, escrever e ler sobre ele como nos mostram detalhadamente os tais artigos que indicam o ‘mapa da mina’ e como chegar até ao fim do arco íris com sucesso . Essa é que é essa”
Sete anos de mau sexo, Ana Anes, página 87
Começo por saudar o estilo adoptado pela autora, que conferiu um recorte literário suplementar a esta sábia dissertação sobre o ponto G ao alinhar uma data de palavras começadas por G (grande, gaita, gozo, gente, garoto, gemer) e todas elas directamente relacionadas com a matéria em equação.
Escrever bem e com cuidado é bem melhor que escrever como quem põe uma carta no correio – e quem disser o contrário mente com quantos dentes tem na boca (e olhem que os postiços também valem).
Nestes dois singelos parágrafos, a autora adverte-nos para a tentação de usarmos o ponto G como bode expiatório para uma queca de deficiente qualidade.
Diz o povo que a culpa morreu solteira e é demasiado fácil atirar a culpa por cima do outro/a. “A queca foi uma merda porque tu não tens ponto G”, atira o rapaz. “A queca não valeu nada porque tu não soubeste encontrar o meu Ponto G”, contra-ataca a rapariga.
Ora esta troca de recriminações não pode acabar em bem, pelo que as partes devem abster-se de assacar ao Ponto G a responsabilidade por umaconfraternização menos conseguida.
Filmes com Le Genou de Claire (de Eric Rohmer) - onde Laurence de Monaghan (no papel de Claire) se excitava quando lhe acariciavam o joelho -ou Garganta Funda (o Ponto G da Linda Lovelace alegadamente situar-se-ia junto às amígdalas) provam-nos que os mistérios insondáveis do corpo, assim devem permanecer -misteriorosos.
A tentativa de cartografar o corpo feminino é um erro crasso que todos nós devemos combater sem descanso.
A belíssima Cláudia Cristiani porta-se mal em público porque, na sombra, o perverso dr. Fez activou no máximo das necessidades, através do seu malvado telecomando, o centro que comanda desejo sexual
“O Ponto G deve ter sido inventado por algum cientista incapaz de satisfazer a partenaire ou então por uma mulher – lá diz a sabedoria popular que são maquiavélicas – que não conseguia ou podia de alguma forma ‘subir uma oitava’, como é suposto fazerem as mulheres ‘normais”
Sete anos de mau sexo, Ana Anes, página 88
Em Clic, a mais famosa das bd eróticas de Milo Manara, são sucessivamente contadas as embaraçosas situações vividas por Cláudia Cristiani, uma mulher da alta sociedade, casada com Aleardo, um velho milionário cuja fealdade contrasta com a esplendorosa beleza da sua jovem esposa.
No início da história, a sensual Cláudia é recatada e pudica, travando com determinação os avanços do dr Fez, um velho sátiro que tenta por todos os meios, mas sem sucesso, saltar-lhe para a cueca.
Para se vingar de Cláudia, que o classifica como repugnante, o perverso dr Fez leva a cabo as três malfeitorias que estão na base do desenvolvimento da história:
1.Apodera-se de um invento do dr. Kranz, que consiste num processo de instalação o centro cerebral do prazer um chip que pode ser comandado externamente;
2.Rapta Cláudia;
3.Sem ela dar conta implanta-lhe no cérebro o chip inventado pelo dr. Kranz.
As histórias (sim, Milo Manara não resistiu à tentação de capitalizar o estrondoso sucesso do Clic para fazer uma data de sequelas, Clic 2, Clic 3, Clic 4, pois eu ainda não tenho a certeza de que ele tenha já parado de explorar esta mina) desenvolvem-se com base nas patifarias do malvado dr Fez.
Transportando sempre no bolso das calças o comando, de apenas oito centímetros (ou seja metade do tamanho mínimo regulamentar exigido a um instrumento humano susceptível de provocar os mesmos efeitos), o perverso Fez diverte-se a libertar, à distância, pelo simples acto de rodar um botão, os desejos sexuais mais ocultos da bela Cláudia.
O moral desta história é que a Humanidade não descansa enquanto não consegue controlar os humores da Natureza e que essa obsessão criou um sociedade On e Off em que não conseguimos viver sem telecomandos.
Quando chegamos a casa, não precisamos de sair do carro para abrir a porta da garagem. Quando estamos a ver televisão não precisamos de nos levantar para mudar de canal. Quando estamos na sala a conversar não precisamos de nos levantar para baixar o volume da música que está a tocar na aparelhagem.
A invenção dos Viagras (ou, se quiserem, o invento do dr Kranz, a parábola achada por Milo para abordar esta questão) permite estender à cama a gramática da civilização do telecomando, já que passa a ser possível agendar, com garantia prévia de sucesso, uma queca para um intervalo entre dois compromissos inadiáveis.
A tentativa de mapear o Ponto G mais não é de que um passo para a elaboração de manual de instruções sobre como libertar os instintos libertinos de uma mulher – de onde se partiria inevitavelmente para a democratização, industrialização e consequente banalização do acesso.
E se se descobrisse que nem todas as mulheres vêm equipadas de origem com o Ponto G, não tardaria muito até que se inventasse uma prótese (um chip do tipo do dr Kranz!), cuja implantação geraria novas e monstruosas filas de espera no Serviço Nacional de Saúde e contribuiria para degradar ainda mais a sua situação financeira.
Do meu ponto de vista, é melhor deixar ficar tudo como está, não deixando que o método da produção em série, que os fenícios nos ensinaram, contamine tudo. Deixemos espaço para o artesanato!
Jayne (Avaria Sexual,Gina nº192) está mais com o ar de quem foi apanhada de surpresa do que de quem está a caminho de ser tocada no ponto G
“Uma mulher normal é uma mulher que não tem macaquinhos na cabeça e que usufrui da sua sexualidade no máximo, com ou sem orgasmos, mas de preferência com eles.
(Nota: descansem que se não ‘virem Deus’ uma vez ou outra é perfeitamente normal. Um orgasmo é como azeitona dentro de um Dry Martini; às vezes o barman esquece-se de a colocar lá dentro, mas não é por isso que vão deixar de o beber)
Além disso, para que raio precisamos nós, malta moderna, em pleno século XXI, de saber da existência ou de saber que efectivamente estamos rodeados de estranhas galáxias circundantes que nos podem eventualmente aniquilar! É este o efeito de terem descoberto um G Spot. Causa-nos ansiedade. E isso é perfeitamente dispensável. Saber demais causa-nos ansiedade”.
“Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, página 89
Mais uma enorme lição de vida que remata com um pedacinho de ouro – “saber demais causa-nos ansiedade” -de tão elevada qualidade que merece perfeitamente ser considerado uma pepita.
Na verdade, a insatisfação cresce de forma directamente proporcional ao nosso arsenal de conhecimento, experiência e sabedoria acumulados. Quem já foi à Lua nunca mais achará excitante uma viagem intercontinental de avião.
A autora socorre-se de uma imagem feliz (a da ausência de azeitona no dry martini) para, com rara elegância,desdramatizar a questão do Ponto G e dizer-nos, por outras palavras, o que a sabedoria popular condensou numa frase simples: o óptimo é inimigo do bom.
Se queremos ser felizes, devemos a todo o custo evitar meter o complicador.
A obsessão pela descoberta do ponto G pode revelar-se uma empresa utópica, tal como a demanda do Cálice Sagrado (aliás ainda ninguém me conseguiu tirar a ideia de que o G de Ponto G não é derivado do G de Graal) a procura da Arca da Aliança e ou a busca da fonte da eterna juventude.
Como podemos aprender com os camaradas israelitas, a Terra Prometida pode não ser exactamente uma terra onde escorre o leite e o mel.
Fotografada no início da aventura Mamas de Sonho (Gina nº 187), Ghitte está com cara de quem acredita mais na existência do Pai Natal do que na do Ponto G
“O Ponto G é mais um mito urbano criado para fazer companhia a outros mitos actuais como as depressões e os tradicionais mitos infantis.
Cá para mim, se querem mesmo saber, o Ponto G é a Fada dos Dentes da malta crescida. A única diferença é que, enquanto a Fada do Dente tem uma surpresa agradável para quem acorda, pois, durante a noite, alguém amigo vos põe uma moedinha debaixo da almofada, já no Ponto G o mesmo não acontece, pois é geralmente durante a noite que o Gêzinho ensombra a cabeça e a cama de quem faz por não dormir.
O tal de G não passa de um mito sexual, usado para complicar as nossas existência e nos sentirmos gorados nos nossos objectivos sexuais”
Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, página 87
Há gente que se desembrulha muito bem quando age sob pressão, mas, para a maior parte das pessoas, o excesso de pressão prejudica muito a sua performance.
Por isso mesmo, este artigo, em boa hora publicado na Maxmen, pode ter o benéfico e terapêutico efeito de funcionar como uma válvula de escape para tensões desnecessariamente acumuladas pelos dois géneros envolvidos numa saudável confraternização.
A rapariga que concluiu o truca truca sem ter visto a Noite Estrelada do Van Gogh e contabilizado pelo menos meia dúzia de orgasmos múltiplos fica muito mais descomplexada depois de ter lido a autora afirmar que o Ponto G é um mito urbano.
O rapaz que concluiu o truca truca sem ter visto a sua parceira revirar os olhos, como se estivesse possuída por Satanás, e agitar o corpo, como se estivesse a ter um ataque epiléptico, fica muito mais descomplexado depois de ter lido a autora afirmar que o Ponto G não passa de um mito sexual.
Leonard Cohen escreveu que ser infeliz não é uma realidade, mas sim o pensamento.
Eu sinto-me tentado a elaborar teoria, traçando uma bissectriz entre as reflexões da Ana e do Leonard, concluindo que o Ponto G não é uma realidade, mas sim um pensamento.
O beijo dado entre Barbara e a sua amiga Chloe (Gina nº 192), em que ambas as línguas se esgrimem fora das respectivas cavidades bocais, não parece enquadrar-se em nenhuma das categorias conceptualizadas pela autora
“Esta crónica é dedicada a alguém que me disse: ‘há dois tipos de mulheres: as que eu adorei beijar e as outras’
Pois bem, nós, mulheres, também dividimos os homens por escalões de beijoquice: os french kiss com vários tipos, desde a variação da enguia, passando pelos german sheppard.
Os do tipo enguia – entram-nos pela boca dentro sem que as nossas favolas possam impedir a invasão terrível da língua-enguia;
Depois há aqueles em que a nossa maquilhagem vai toda à vida, pois parecemos ter acabado de ser lambidas por um pastor alemão com bafo a queijo podre;
Também há os ‘beijos salpicos’ – aqueles que são a despachar – e os ‘beijos que não são beijos’ , em que, simplesmente os lábios se beijam sem me tocarem e fica tudo em estado de sitio.
E acreditem que hoje em dia é cada vez mais raro encontrar alguém que saiba beijar”
“Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, página 64
De acordo com um velho ditado árabe, um beijo bem dado é melhor que um coito apressado.
Apesar de nada me mover contra os coitos apressados (as rapidinhas nunca deverão deixar de ter um lugar) , estou inclinado a comungar da sabedoria árabe partilhada pela autora.
O papel do beijo tem vindo a ser progressivamente negligenciado, num quadro geral em que os preliminares são encurtados e se privilegia na cama um tipo de futebol directo, como o praticado pelo FCPorto, em que bastam dois a três passes para se estar a rematar à baliza, em detrimento do futebol apoiado, de pé para pé e com muita posse de bola.
Muito embora não seja um adepto da lampreia ou de qualquer outro tipo de enguias, a verdade é que não posso esconder a minha simpatia pessoal pelo beijo em que ambas as línguas invadem a boca alheia em movimentos rápidos e serpenteantes.
Reconheço, no entanto, que este tipo de beijo – em hora feliz baptizado como enguia pela autora – é essencialmente um exercício de virtuosismo técnico (equivalente, por exemplo, a dar cem toques na bola sem a deixar cair) que se pode administrar independentemente da carga de paixão e romantismo colocada ao serviço do acto.
Neste sentido, os beijos que não são beijos são o beluga do chocho, na justa medida em que são tal e qual como o relâmpago que subitamente descarrega a energia da tensão acumulada nos céus.
Sobre os beijos salpicos (que eu classificaria, de uma forma pouco imaginativa e cinzenta, como sociais),mantenho-me na linha dura, de dois em cada face, apesar de isso ser interpretado como óbvio sintoma de provincianismo nos aerópagos da capital, onde o protocolo reside num único beijo dado na mais completa observância do estilo toque e foge – ou seja sem que seja sequer pressentido a utilização dos lábios no ósculo.
Haveria, ainda, nesta matéria lugar a um debate sobre o papel dos dentes no beijo arrebatado, que deixo ficar para outras núpcias.
Apesar de não ser casado com a Gertrude, o Jean prepara-se claramente para lhe saltar para a espinha ("Um amigo de conas", Gina nº 187), sendo que não tem o aspecto de quem teve de lhe cantar a canção do bandido - e, ainda por cima, não se trata de monogamia em série já que se adivinha pelo posicionamento estratégico do sapato vermelho de tacão alto da Ethel que ela também vai aderir á confraternização
“Já toda a gente sabe que os homens não têm o sexto sentido das mulheres. O que também todos sabemos é que os homens são muito pouco originais no que toca à ‘cantiga do bandido’.
O exemplo dos homens casados é a falta de criatividade total em todo o seu esplendor. A conversa é sempre a mesma ‘chapa quatro’: ‘as coisas não estão nada bem comigo e com a minha mulher’ ou ‘o meu casamento já deu o berro há muitos anos’ ou então ‘vou divorciar-me’ (enquanto lá em casa a harmonia é total), já o ‘adoro-te, mas não posso deixar os meus filhos? E o ‘não fazemos amor há uma década’ são clássicos.
Depois, claro, admiram-se. Admiram-se quando as Glenn Close a quem contaram estas histórias apareçam às mulheres deles a dizer que querem os maridos delas, liguem para casa a altas horas da noite e desliguem, com batonnos vidros do carro debita insultos, façam esperas no emprego, ameaçam suicidar-se, enfim tudo aquilo que uma mulher enfurecida, por se sentir enganada, faz e muito mais”.
“Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, página 54
Todos os homens, independentemente do seu credo religioso, obediência política ou estado civil, deviam ser obrigados a beber estas sábias palavras.
Se ainda não foram ver o Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, apressem-se a ir ver e aprendam como o Juan Antonio (Javier Bardem) levou à certa a dupla fantástica Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), estando sempre a elogiar a sua ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz).
Só uma política de verdade absoluta poderá evitar a pandemia (pior que epidemia) de Glenn Closes que se está a propagar por todo o planeta, tendo já atingido a dimensão de um flagelo (pior que praga) de consequências ainda mais perniciosas para a humanidade do que o incêndio na Austrália.
Ainda Scarlett usava fraldas e eu já tinha aprendido com o meu amigo Luciano a importante lição dos péssimos resultados da tradicional “canção do bandido” como modus operandi em casos de facadinha no matrimónio – sem precisar de rever o vídeo de Atracção Fatal.
Disputavam o Luciano e o Benedito os favores sexuais da Patricia, uma moça loura (se bem que as raízes dos cabelos dispensassem a consulta de outras zonas de intensa pilosidade para apurar a cor original dos seuscabelos) e bem constituída, que usava saias mais curtas que a largura de cachecol.
Um dia, estávamos os quatro a almoçar e a Patrícia perguntou aos seus pretendentes que classificação lhe atribuiriam, numa escala de zero a 20.
Entusiasmado, Benedito disparou imediatamente um mais que generoso 19. Luciano ficou a pensar, obrigando a Patrícia a pressioná-lo a declinar a pontuação.
Então, com cara de pau, o mula do Luciano deu-lhe um 14. E face aos protestos de Patrícia, explicou que se tratava de uma excelente nota, já que mais de 14 valores só atribuía a uma mulher: a sua.
Agora adivinhem por favor quem é que saltou para a espinha da pernalta (que disfarçava com collants o facto das suas coxas terem uma textura que, ao olhar, era igualà das salsichas frescas).
Se responderam Luciano acertaram, já que o pinga amores exaltado do Benedito o mais longe que conseguiu ir foi a receber uns linguados quando a ia levar até à camioneta que ela apanhava para ir passar o fim de semana a casa dos pais.
Quer evitar cenas como o cão enforcado no quintal, o gato morto à machadada ou o coelho na panela?Siga os sábios conselhos de Luciano, Ana Anes e Woody Allen.
As patifarias que Fritz se prepara para fazer com a sua mulher Bárbara (à direita) e Chloe (à esquerda) estão profusamente documentadas na história Trio Caliente, publicada na edição 192 da Gina,e não se enquadram no conceito de monogamia em série preconizado pela autora
“Nós, as mulheres, não somos polígamas, nem monógamas. O que nós somos e sempre fomos (mesmo que vos tenhamos deixado pensar o contrário) é muito mais espertas do que vocês homens. (…)
Tudo isto, contas feitas, me ensinou que mais vale dar uma escapadela à cozinha e comer em dois sítios ao mesmo tempo – um deles à socapa e outro em sociedade, segundo as regras.
A solução ideal que arranjamos, qual híbrido de ressonância de sobrevivência da espécie humana? Pois lá está: nem tanto ao mar, nem tanto à terra; nem tão cínicos nem tão frontais; nem tão a dieta nem tão motivados pela gula.
O segredo que encontramos? A monogamia em série.”
“Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, páginas 45/46
Nenhum jornalista no seu perfeito juízo pode deixar de se sentir com inveja de director da Maxmen, por ter tido a oportunidade de publicar em primeira mão uma proposta tão audaciosa e inovadora como esta da monogamia em série!
A autora começa de mansinho, sublinhando uma evidência que pode parecer tautológica. Dizer que as mulheres são mais espertas que os homens equivale a repetir que o céu é azul (excepção feita aos dias de chuva), o Sócrates vai ganhar as legislativas e que o Natal este ano volta a ser em Dezembro.
No entanto, como nós, os homens, somos burros, teimamos em cair na imprudência de esquecer a inquestionável verdade de que as mulheres são muito mais espertas do que nós - e por isso estamos permanentemente a meter a pata na poça (1).
É por essas e por outras que recomendo a todos os preclaros que adoptem como mantra esta frase sábia (“as mulheres são muito mais espertas do que os homens”) e o repitam vezes sem conta sempre que se sentirem tentados a seguir a sugestão feita pela autora e se aventurarem em escapadelas, à socapa e à cozinha (assim, no feminino, e com o em não u).
Mas o valor acrescentado deste pedacinho de ouro que nos é facultado pela autora reside essencialmente na solução achada: a genial proposta da monogamia em série, que seria um excelente fecho de abóboda a coroar a exaustiva produção teórica da longa carreira de um cientista comportamental escandinavo!
Não definindo o prazo mínimo de validade para cada acto monogâmico, a autoraabsolvea esmagadora maioria das infidelidades e deixa a porta aberta para todas as marotices- excluindo o menage à trois e outras formas de suruba.
……………
(1)A evocação deste acto (o meter a pata na poça) fez-me lembrar uma artéria do Porto, a Travessa do Poço das Patas, em Santo Ildefonso, que tinha como âncora uma confeitaria chamada Bico Doce,de que o meu pai era frequentador assíduo.
Do Harry vê-se o bigode e mais alguma coisa, mas não as mãos. Apesar da Ethel não aparentar usar extensões, a verdade é que o cavalheiro está com as mãos quietas - a deixá-la trabalhar em paz e sossego (imagem a partir de foto pirateada da Gina nº 187)
“E o sexo? Afinal o que tem a ver com as extensões? É simples, O que no cabeleireiro se ‘esquecem’ de dizer é que as extensões não são aconselháveis para quem pratica sexo. Foi por isso que tirei as últimas. Estava no acto, e zás, ele puxa-me pelos cabelos apaixonadamente e eu zás, estalo na cara, porque a dor do puxão das extensões fez-me ver estrelas (…)
Ponto mais importante – sexo oral: eu não sei como fazem as VIPs, mas eu cá tenho de fazer os impossíveis para ter uma prestação mais do que excepcional, para que eles se esqueçam dos cabelos quando estamos no lolipop! E acreditem, não é nada fácil concentrarmo-nos numa coisa, enquanto pensamos noutra – neste caso evitar o típico mexer nos cabelos durante o Chupa-Chupa”
“Sete anos de mau sexo”, Ana Anes, páginas 129/130
Ora aqui está uma problemática, a que os felizes leitores do Destak tiveram acesso em primeira mão, e que era completamente desconhecida para mim.
Tinha, é claro, a vaga ideia de que os cabelos excessivamente compridos (ou seja, os que vão até ao final das costas - ou mesmo ao início do rabo) podiam atrapalhar algumas acrobacias na cama, ao trilharem-se no corpo.
Mas nunca me tinha apercebido desta incompatibilidade manifesta entre o uso de extensões - que uma leitura distraída da Caras ou da Lux nos garante não poderem estar mais na moda – e a saudável prática do sexo oral.
Baseada na sua experiência, a autora refere que nós, os homens, tendemos a mexer excessivamente na cabeça das mulheres quando elas próprias estão entretidas a mexer numa das nossas cabeças (a que, por norma, pensa pior).
Admito. Mas uma consulta atenta das duas edições da Gina (que adquiri como matéria prima para uso frequente nos sucessivos fascículos desta Enciclopédia Sexual Ilustrada da Lavandaria) demonstra que esse nosso comportamento é pouco profisisonal.
Em todas as nove situações de fellatio inventariadas nas referidas revistas a cabeça da mulher trabalhadora está livre das ingerências perniciosas por parte das manápulas masculinas.
Penso que por isso, o mais aconselhável será meter as mãos nos bolsos quando está a ser beneficiário de sexo oral.