Os homens dividem-se em três grandes grupos: os que usam lâmina, os que preferem a máquina de barbear e, por último, os que a aparam com tesoura. Eu sou lâmina!
Devo dizer que rompi com a tradição familiar vigente na geração anterior a mim, que se converteu incondicionalmente às delícias do desenvolvimento tecnológico - o que é digno de elogio, na justa medida em que revela mentes abertas à mudança e modernidade.
O meu pai era fã da máquina de barbear e o meu tio é da mesma obediência.
Quando uma penugem à Che Guevara começou a despontar na minha cara, experimentei a Philishave (de duas cabeças) do meu pai, mas a experiência não satisfez.
Era tudo mau. Sem ponta por onde se lhe pegasse. Desagradava-me o barulho. O contacto das rodas com a pele trazia-me logo à cabeça a palavra repelente. E, como agravante, irritava-me solenemente o facto de ter de proceder com alguma regularidade a uma metódica limpeza dos pêlos acumulados no interior das cabeças. Era tudo uma enorme chatice. Um pincel!
Por falar em pincel. Apesar de na minha adolescência (que foi mais dura que alguns bifes) me ter convertido à sóbria e tradicional eficácia da lâmina, acho que nunca cheguei a ser proprietário de um pincel. Desde cedo comecei a usar espuma de barbear.
Devem contar-se pelos dedos das mãos e pés de um sujeito não aleijadinho (20 no máximo, portanto) as vezes que, para fabricar uma mistura susceptível de amaciar a barba, misturei creme e água com o auxílio de um pincel que habitava o armário da casa de banho do 2º andar do 304 da avenida Rodrigues de Freitas desde os tempos do meu avô Jaime da Ressurreição Fiel, inspector (fardado) dos picas da Carris do Porto, e que se fez rapaz no tempo em que a bandeira nacional ainda era azul e branca (cores muito bonitas, por sinal).
A barba! Se me perguntarem qual a principal utilidade que encontro no espelho da casa de banho, eu não hesito um segundo sequer antes de responder, que ele, o amigo espelho, é um precioso auxiliar na tarefa de fazer a barba.
Eu não faço (melhor empregue neste caso seria o verbo desfazer em vez do fazer) a barba todos os dias. Oportunisticamente, aproveitei o facto do Zé Mourinho, eu próprio e o George Clooney (1) termos colocado a barba de três dias como dernier cri da moda, para só usar a lâmina uma vez por semana – duas no máximo.
Com este truque, poupo em pele, espuma e lâmina ao mesmo tempo (e olhem que, em tempos desta crise que só se vive uma vez na vida, deve aproveitar-se todas as oportunidades para poupar uns euritos!) que me coloco na pole position para agradar ao segmento das queridas que partilham da sábia opinião de Jane Birkin que, a propósito do Serge Gainsbourg, proferiu a seguinte frase histórica: “Os homens mal barbeados dão sempre vontade que a gente se ocupe deles”.
A propósito devo esclarecer-se que o conceito de barba de três dias é lato, abrangendo, em alguns casos, a barba de uma semana.
O Sol quando nasce é para todos, mas o ritmo de crescimento dos pelos na cara varia muito de pessoa para pessoa.
Ele há mânfios que fazem a barba pela manhã (em frente ao espelho, sempre em frente ao espelho!) e que ao fim da tarde parece que já não se escanhoam há três dias. E há outros que dois dias após passarem a lâmina pela cara apresentam uma pele lisinha tipo rabinho de bebé.
Este mundo está cheio de desigualdades, e a moda da barba de três dias deve saudar-se na justa medida em que acaba por ter um saudável e socialista efeito nivelador e corrector.
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(1)Não deixa de ser curioso que deste trio de lançadores de moda, eu seja o único que não dispõe de uma villa nas margens do Lago Como. O mundo está mesmo cheio de desigualdades.
A compra de pensos rápidos foi um dos maiores problemas que tive de resolver durante a minha primeira viagem ao Brasil, que decorreu entre Recife (Pernambuco) e João Pessoa (Paraíba), com uma tarde, longa e feliz, passada em Olinda.
Era Carnaval e no dia seguinte ao desfile dos trios eléctricos fedia a chichi no casco histórico do Recife, onde uma soma não negligenciável de negrinhos se banhavam nas fontes públicas.
Na Boa Viagem, entrei em duas, três ou até mesmo quatro farmácias (um conceito que do outro lado do Atlântico já englobava as modernas para-farmácias portuguesas) tentando - sem sucesso, nem jeito - comprar pensos rápidos, para atender a uma ferida ligeira, cuja localização já esqueci.
Eu dizia que queria pensos rápidos e as meninas encolhiam-me os ombros com o mesmo ar simpático e sem jeito que emana da maravilhosa voz de Toquinho.
Não percebiam o que eu queria! Quando eu lhes respondia que não, não era argentino, perguntavam, com uma doçura desarmante e ignorante, que língua era então era aquela em que eu estava a tentar comunicar…
Eu fui desistindo até encontrar o produto exposto, pegar nele e anunciar, triunfante, que era disto mesmo que eu andava à procura - de pensos rápidos.
“Aaah, cê quer bandêide!?!”. Band Aid. No Brasil sobreexposto ao colonialismo cultural yankee, os pensos rápidos assumiram o nome da marca que fez a categoria do produto.
Tal como entre nós a lâmina para fazer a barba dá pelo nome de Gillette, mesmo que seja Wilkinson (também azul) ou Bic (laranja e branca), no Brasil o penso rápido chama-se Band Aid.
O que nos trás de volta ao espelho da casa de banho e a uma das principais valências práticas que ele proporciona à parte da Humanidade equipada com pirilau; a saber, ajudar a fazer a barba.
Penso que ninguém negará a importância de um espelho na casa de banho. Eu próprio tenho um, de dimensões generosas, localizado estrategicamente em cima do lavatório.
Apesar de dever ser muito divertido observar as caras que fazemos quando estamos sentados no trono, não me parece muito próprio ter um espelho em frente à sanita – principalmente se ela for utilizada por terceiros, que assim poderiam cair na fácil tentação de ver nisso um sinal confirmativo dos juízos menos simpáticos sobre nós que já teriam começado a congeminar, com base em outras pistas e comportamentos.
O espelho em cima do lavatório encerra perigos para o nosso ego, tem valências práticas quotidianas e pode ainda ser usado como um poderoso auxiliar de saudáveis exercícios de introspecção e incremento dos nossos níveis de auto-estima.
Vamos começar pelos terríveis perigos para o nosso ego que estão escondidos por detrás do espelho da casa de banho (calma, não arranque o espelho da parede, isto é só uma metáfora).
De manhã, acordamos (nem todos, enfim, pois continuo a conhecer algumas peças que desperdiçam a melhor parte do dia), e pôr-nos em frente ao espelho da casa de banho a escovar os dentes é um dos primeiros actos que levamos a cabo, após ter concluído, com uma alegria incontida, que se passou mais um dia em que não morremos durante o sono.
A imagem que o espelho nos devolve é de uma pessoa despenteada (isto no caso de haver matéria prima suficiente), com olheiras (1), provavelmente com algumas rugas supra-numerárias na cara impressas pelo tecido da almofada. Talvez até tenha remelas no canto dos olhos e esteja com o nariz entupido e expectoração na garganta.
Nesta altura, em que um arrumador de carros muito parecido connosco aparece à nossa frente no espelho, é fundamental fazer um apelo a toda a nossa auto-estima para podermos encarar com alegria o novo dia que está a começar.
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(1)A propósito de olheiras, não resisto a partilhar com os preclaros uma frase que o Erle Stanley Gardner pôs na boca do Paul Drake, o chefe da agência de detectives usada pelo famoso advogado de Los AngelesPerry Mason para deslindar espectacularmente os casos em que os seus clientes são injustamente acusados de patifarias que não cometeram pelo hediondo procurador Hamilton Burger.
Em O Caso da Boneca Maliciosa, Paul, que sofre do estômago porque passa a vida a comer hamburgers empapados, entra no escritório de Perryquando vê Della Street (a secretária confidencial do advogado e talvez até um pouco mais do que isso) com profundas olheiras (andou a dançar até às tantas com o patrão na véspera, depois de se empanturrarem em cocktails e num suculento bife à Nova Iorque), e dirige-lhe a seguinte e desarmante frase:
“Olá, beleza! – saudou o detective – Faz-lhe bem sair e dançar. Os seus olhos lembram as profundidades de um grande lago ao luar”.
“Sua badalhoca! Não te lavas por debaixo”. Mais ou menos ipsis verbisfoi este o mais espalhafatoso insulto entre mulheres que me foi dado a ouvir.
A rua da Reboleira (onde outrora residiu o célebre Toninho da Reboleira, especialista amador no tratamento de esquentamentos e outras doenças venéreas - não sei de que é que a Câmara para mandar por uma placa evocativa à porta!), na Ribeira, foi o cenário em que foi pronunciada este pequeno pedacinho de ouro da oralidade neo-realista.
O insulto foi o refrão mais sonante da rica banda sonora de uma bulha entre mulheres cuja dimensão física reunia os ingredientes indispensáveis para ser cinematográfica - ou seja, arranhavam-se na cara e tentavam arrancar os cabelos uma à outra. Acção a mais para o nosso Manoel, que imortalizou a Ribeira com o seu Aniki Bobó.
Foi já há uns bons 15 a 20 anos, quando eu frequentava com alguma frequência o território que os gangs da Ribeira e de Miragaia usam agora como a sua Faixa de Gaza privativa, que registei este insulto no meu disco rígido.
Nunca cheguei a apurar ao certo qual a divergência de pontos de vistas que originou a briga, mas estou a crer que não errarei muito se presumir que era assunto de calças ou de maledicência circular (1).
Não tenho dúvidas de que os mais cruéis insultos são ditos por mulheres e para mulheres. Se o da “badalhoca que não se lava por baixo” é o meu preferido, pela sua extravagância, não posso deixar de referir a imensa preversidade contida na frase “aquela ali parece que não tem espelhos em casa…” tantas vezes murmurada (talvez para não chegar aos ouvidos da visada).
O que nos trás de volta para a temática da casa de banho e do respectivo espelho.
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(1)O conceito de “maledicência circular” (ou, se preferirem, “maledicência de volta perfeita”) foi, neste preciso momento, inventado por mim para significar uma situação em que a fulaninha usa a sicraninha para pôr a circular um boato doloso e assassino sobre beltraninha, sendo que esta última acaba, mais cedo ou mais tarde, por descobrir toda a tramóia, que na origem do rumor prejudicial está a cabra da fulaninha, pelo que se dirige a ela para tirar explicações e obter o conveniente desforço. No momento desta minha invenção, acho por bem dedicá-la ao grande e falecido Eduardo Prado Coelho, como singela retribuição por ele ter cunhado o conceito de orgasmo vertical, contribuindo assim para a felicidade de muitos portugueses e brasileiras (e, estou em crer, de outros lusófonos de ambos os séculos). Já agora um pergunta ao Instituto Camões. Para quando a exportação deste conceito genial do EPC?
No quente e calmo fim de tarde do dia 19 de Agosto de 1972, levei a cabo a minha primeira e conclusiva experiência científica sobre o sexo em meio aquático.
O laboratório foi a simpática e acolhedora piscina do campo de trabalho de Fridaybrige (Peterborough, Inglaterra), e a minha parceira de experiência era uma Anne, de Southampton, de que nunca mais ouvi falar mas que suspeito se tenha tornado cabeleireira- não me perguntem porquê, se calhar estou completamente errado e ela é física nuclear e vive na Suiça onde trabalha no projecto de fusão nuclear a frio do CERN.
Após porfiados esforços, a Anne e eu não tivemos a mínima dúvida em concluir que a água não é o elemento mais adequado para ter sexo de qualidade.
A água é boa para beber e para tomar banho. Nadar é óptimo. Estar a aboborar num jacuzzi borbulhante enquanto se ouve o I am the Walrus, dos Beatles, é tão glorioso que até pode constituir um daqueles momentos perfeitos a que eu, em tempos mas muito longínquos, já aludi aqui na Lavandaria.
Há mil e uma situações em que a água nos é de uma extrema utilidade, das quais posso enumerar uma: cantar enquanto se passeia de mão dada à chuva com a pessoa amada. Mas atrevo-me a dizer que fazer sexo não faz parte deste menu – é a 1002ª situação em que a água só atrapalha.
A água é boa, pode até ser excelente, antes e depois do sexo, mas durante é absoluta e completamente dispensável.
Se, na sua imensa e infinita sabedoria, Deus Nosso Senhor quisesse que nós praticássemos sexo em ambiente aquático tinha-nos feito anfíbios – focas ou até morsas….
A Charlize queixa-se que os homens não querem ver o que ela tem por dentro mas sim ver-se dentro dela. Compreendem-se os dois pontos de visa. O dela, mas também o dos homens
Desaconselhar o sexo na banheira não significa descartar liminarmente a hipótese de partilhar uma bela chuveirada com a pessoa com que estamos emocional e/ou sexualmente envolvidos.
O banho de imersão conjunto é um programa que soa muito atraente e relaxante, só que colide com a escassa cubicagem da maioria das banheiras – que raramente têm espaço suficiente para acomodar confortavelmente dois corpos de média dimensão.
Ensaboar com pormenor e competência todos os recantos do saudável corpo da Charlize Theron, debaixo de um chuveiro tépido e vigoroso, é uma fantasia erótica masculina (e/ou lésbica; todos diferentes, todos iguais e cada qual leva no que é seu, são os tolerantes princípios básicos da Lavandaria) muito aceitável, interessante e até motivadora - só que de viabilidade extremamente reduzida.
Tem a sua graça imaginar que está a tomar duche com a Laetitia Casta (1), deixou cair o sabonete (Ach Brito), pede-lhe com cuidadinho o favor de o apanhar, e aproveita o facto ela estar na posição em que a Alemanha perdeu a guerra para ensaiar uma abordagem à ré, mas é mais provável que vá fazer um jackpot de quatro milhões numa slot machine do Casino Lisboa (e lhe paguem) do que este sonho se tornar realidade.
Resumindo e baralhando. O chuveiro e a banheira são locais aprazíveis e até indicados para escrever o prólogo ou o posfácio, mas claramente desadequados como cenário para o trepidante desenvolvimento da intriga.
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(1)A mim coube-me uma espécie de terminação desta taluda, já que entrevistei a Laetitia num quarto de hotel no Algarve, onde chovia (bem, eram umas pingas, não era como na rua...), na companhia do pai dela e do guarda costas.
Os números não mentem. A casa de banho é o cenário de 2/3 dos acidentes domésticos, sendo que a esmagadora maioria são protagonizados pela banheira.
Dito por outras palavras, o acto diário e corriqueiro de subir e descer da banheira é estatisticamente tão perigoso como atravessar o Bairro do Aleixo ao volante de um SUV Audi do último modelo (matricula 2008) ou andar pelo Cais do Sodré a dar água sem caneco às quatro da matina.
Sob a aparência de simpática e inofensiva peça de mobiliário, a banheira é uma armadilha que se pode revelar mortal.
Os perigos começam logo no vulgar acesso, já que nem todos somos como o professor Cavaco, já velho mas ainda ágil, porque na sua juventude correu os 110 metros barreiras.
Depois há o durante. No chuveiro, o acto de ensaboar os pés pode revelar-se tão perigoso como pisar uma mina anti-pessoal abandonada num picada africana, uma vez que a superfície interior das banheiras não tem propriedades anti-derrapantes.
Fazer um quatro para ensaboar o pé direito, e, a seguir, repetir o quatro para repetir a operação no pé esquerdo (usando como pé de apoio o pé direito previamente ensaboado), é uma manobra pura e simplesmente suicida.
As derrapagens na banheira são ainda mais frequentes e letais que as ocorridas nas grandes obras públicas, como a Casa da Música ou a extensão a Santa Apolónia da rede do Metro de Lisboa.
Neste contexto, acho completamente desaconselhável a prática de sexo na banheira, uma actividade que não hesito em considerar mais radical do que o parapente, o rafting ou descer, em rappel australiano (ou seja, de cabeça para baixo) o Empire State Building.
A Scarlett é mais excitante com uma mala Louis Vuitton do que a escovar os dentes com pasta medicinal Couto
Já aqui concluímos que, sempre que a sanita está a uso, impõe-se a regra um é bom, dois é demais, o que nos remete para a fase seguinte deste problema, que consiste em esclarecer em que circunstâncias pode ser recomendado o uso partilhado da casa de banho.
Pelo que já me foi dado a ver em algumas séries televisivas, não raro, nos Estados Unidos da América, as casas de banho estão equipadas com um sistema estereofónico de lavatórios e espelhos, que permitem a homem e mulher(ou a dois homens ou duas mulheres se se tratar de casais gay, pois aqui na Lavandaria não há discriminações e apreciamos toda a paleta de cores do arco íris!) estarem lado a lado a cuidarem da sua higiene pessoal.
Desde já devo declarar que este sistema não me cativa. Não descortino a mínima vantagem em estar a fazer a barba no meu lavatório, enquanto no lavatório ao lado a Scarlett Johansson escova os dentes.
Sinto-me capaz de imaginar 999.999 situações que gostaria de partilhar com a Kate Winslet, antes nos ver juntinhos numa casa de banho, com ela a aplicar base e eu a aparar os pelos do nariz -e, já agora, o Sam Mendes a rodar um filme o mais longe possível, preferencialmente na Austrália.
Não vejo inconveniente em que, numa hora de ponta, e por razões de força maior (como a eventualidade de perder o autocarro), dois adultos partilhem a casa de banho, contanto que nenhum deles esteja a usar a sanita.
Chegados aqui, entendo ser necessário abrir um breve e esclarecedor parêntesis. Entende-se por hora de ponta aqueles 30 a 45 minutos anteriores à saída de casa logo pela manhã – e não a hora em que se está tão cheio de tusa que até os buracos das fechaduras nos inspiram pensamentos libidinosos.
Não me parece destituído de graça um casal duchar-se em conjunto, mas sinto que devo advertir todas as preclaras e preclaros para os perigos do sexo na banheira – tema nuclear que será abordado no próximo post.
A Carla Bruni é muito mais sexy quando não está sentada na sanita a espremer-se toda – ou a fazer chichi
A arte de bem partilhar o uso de uma casa de banho baseia-se em duas regras de simples compreensão.
A primeira - e mais importante - é que quando a sanita está a ser utilizada, uma só pessoa chega para esgotar a capacidade máxima recomendada para uma casa de banho.
Por muito boas que sejam as suas ideias e intenções relativamente à Carla Bruni, presumo que nenhum preclaro no seu perfeito juízo está interessado em vê-la sentada na sanita a espremer-se toda - ou a produzir um ruído torrencial parecido com o do chuveiro.
Por muito boas que sejam as suas ideias e intenções relativamente ao George Clooney, presumo que nenhuma preclara no seu perfeito juízo está interessada em vê-lo sentado na sanita a largar-se com estrépito e a propagar um fedor idêntico ao emitido pela fábrica de Cacia da Portucel..
Chegados a este ponto, é legítima a seguinte interrogação: E se o George Clooney estiver a fazer chichi?
Bem, fazer chichi não é exactamente a mesma coisa que estar a beber um café Roma da Nespresso, mas é, sem dúvida, uma situação menos linear do que as expostas nos terceiros e quarto parágrafos desta breve dissertação.
Apesar de ter conhecimento da existência de uma prática pouco higiénica designada por golden shower, e não me querendo estabelecer limites à mente porca das mulheres (cada qual leva no que é seu, é um dos princípios sagrados que regem a minha vida), não me parece que ver um homem a mijar seja uma das cem coisas mais excitantes do Mundo.
Acresce que do ponto de vista masculino, a entrada de uma mulher na casa de banho (em especial se ela for bem apessoada) perturba o elevado grau de concentração requerido pelo acto de a elevada concentração requerida pelo acto de transferir sem perdas para o interior da sanita o conteúdo da bexiga.
Um homem fazer chichi parece ser uma coisa fácil, um acto que se pode desempenhar enquanto se mastiga uma pastilha elástica Adams (sabor a peppermint), se puxa pela cabeça a tentar descobrir em que livro do Machado de Assis está a frase “Estão mortos, podemos elogiá-los à vontade”, e se olha pelo espelho para o rabo de uma mulher a entrar para o banho.
Mas não é bem assim, Atendendo aos diferentes de níveis de pressão com que a bexiga bomba a urina, recai sobre os nossos frágeis ombros a pesada responsabilidade de operar o pirilau com perícia e competência para evitar danos colaterais no tampo da sanita – ou mesmo no chão da casa de banho.