A coluna de Sigismundo, o infame rapto da estátua de Copérnico e o gelado de pistaccio do A. Blikle
Ora aqui temos a Plac Zamkowy, com o Castelo Real à direita e a famosa coluna de Sigismundo (mais ou menos em frente...), vista da Krakowskie Prezdmiesci
A efervescente ulica Freta (1), cheia até transbordar de cafés, restaurantes e lojas de antiguidades, é a rua principal da Cidade Nova (Nowe Miasto).
Caminhando-se através dela atinge-se a muralha e penetra-se na Cidade Velha (Stare Miasto) acto que poderá originar mais um “momento perfeito”, ou pelo menos algo muito perto disso.
Chegado à Plac Zamkowy, recomendo vivamente uma espreitadela mais ou menos demorada à coluna de Sigismundo por duas razões que passo a detalhar:
a) Não é comum no mais católico dos países europeus que uma coluna tão alta (22 metros) seja encimada por um laico (no caso o rei Sigismundo) e não por um religioso;
b) A este rei deve Cracóvia o facto de ter logrado chegar tão maravilhosamente bonita e intacta ao século XXI (lá falaremos sobre Cracóvia, mas a este ritmo isso não deverá ocorrer antes do Natal), pois foi Segismundo que, na sua inocência, mudou a capital para Varsóvia, expondo-a assim a sucessivas vagas de destruição.
Siga pela Krakowskie Prezdmiesci e faça o favor de demorar-se por lá. Não são os Campos Elísios, mas sabe bem flanar desde a coluna de Sigismundo até à Nowy Swiat, passando pelo Palácio Presidencial, o Ministério da Cultura (2), a Universidade e a estátua de Copérnico cuja história (a da estátua, não a do Nicolau) pode não constituir um “momento perfeito” (nos dias de hoje) mas vale bem três parágrafos.
Desde 1830 a estátua do fundador da moderna astronomia moderna estava ali, posta em sossego, até que os nazis chegaram e estragaram tudo ao acrescentar uma placa de bronze reivindicando que o Copérnico era alemão.
Alek Dawidoski, um jovem escuteiro e patriota polaco, não se conteve e surripiou a placa. De maus, os nazis retaliaram. Raptaram a estátua e esconderam-na na Silésia.
No final da Segunda Guerra, a legalidade foi reposta. O Copérnico de pedra voltou ao seu lugar na extremidade sul da Krakowskie, a mentirosa placa de bronze recolheu ao Museu de História de Varsóvia e o jovem escuteiro foi aclamado como um herói. Tudo está bem quando acaba bem. Estou em crer que, à época, terá sido um “momento perfeito”.
Deixando para trás o bom do Copérnico, que teve a sensatez de nos reduzir à nossa insignificância (perspicaz, compreendeu que a nossa galáxia é uma entre biliões, num vasto universo), entra-se na Nowy Swiat (Novo Mundo).
A pedonal Nowy Swiat desenvolve-se em curva e é provavelmente a rua mais cara do Monopólio polaco. Estão lá as lojas de todas as marcas que interessam (e também das que não interessam), a livraria que vende livros em línguas estrangeiras, uma agência do Millennium polaco e, acima de tudo, o café A. Blikle.
Desde 1869, que o A. Blikle recebe – sempre na mesma rua, mas nem sempre no mesmo número (agora está no 33) – sucessivas gerações de intelectuais, artistas, famílias indígenas e turistas que fazem o que os guias recomendam nas suas sábias páginas.
O Blikle é famoso pelos donuts (escreve-se “pqczki” mas, por favor, não me perguntam como se pronuncia!), que o general De Gaulle encomendava para entrega ao domicílio, em Paris. Mas o seu gelado de pistaccio, que se consumido na esplanada importa em 17 zlotys, uns cinco euros), também é um óptimo pretexto para uma viagem a Varsóvia – e saboreá-lo é algo muito próximo de ser um “momento perfeito”.
(continua)
…………………………..
(1) Marie Curie nasceu no número 15, onde está instalado um museu dedicado à sua vida e obra.
(2) Instalado no edifício onde, num baile em sua honra, o maroto do Napoleão Bonaparte foi apresentado à Maria Walewska.