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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Sab | 26.04.08

179.629,02

Jorge Fiel

Cento e setenta e nove mil, seiscentos e vinte e nove euros e dois cêntimos. Arredondando, estamos a falar de 180 mil euros. É esse o dinheiro que a Sojornal, a sociedade proprietária do Expresso, vai pagar para se ver livre de mim.

 

Ou, dito pelas palavras do advogado que redigiu o documento intitulado Cessação de Contrato de Trabalho por Mútuo Acordo, os 179.692,02 euros são a «compensação pecuniária de natureza global» que «a Empregadora» me paga «em contrapartida da cessação do contrato».

 

«180 mil euros? Não é mau… Podia ser pior!» é frase que ouço de volta sempre que quando me perguntam quanto é que vou receber em troca de conceder ao Expresso o divórcio, amigável e por mútuo consentimento, de um casamento que durava há 17 anos.

 

Podia ser pior. É verdade. Pode sempre ser pior. O Expresso podia não me ter pago um cêntimo sequer - e ainda por cima dar-me um pontapé nas costas. Isso seria seguramente muito pior. Mas também podia ser melhor.

 

Claro que podia ser melhor. Lembro-me que no exacto dia em que chegamos a acordo quanto ao montante da indemnização, li no jornal que o Stanley Ho tinha dado 330 mil euros por uma trufa.

 

Foi um bocado arrepiante pensar que apenas conseguiria comprar uns 57,8% dessa trufa com a indemnização correspondente a 17 anos de vida, durante os quais escrevi milhões de caracteres, engordei 15 quilos, perdi milhares de cabelos, tive de ultrapassar centenas de chatices e sofri um enfarte do miocárdio.

 

As comparações são tramadas. Eu sei perfeitamente que não faz nenhum sentido ir por aí, mas a verdade é que também não gostei nada de saber que o Frank Lampard renovou o contrato pelo Chelsea e passou a ganhar 200 mil euros por semana.

 

Ou seja, numa semana qualquer – mesmo que esteja de férias, lesionado doente ou em baixo de forma -, o Lampard leva para casa mais dinheiro do que o Expresso pagou para aliviar a rubrica do balanço a que os bancos e analistas dedicam especial atenção e a carregar aquela que eles mais apreciam – a dos custos de reestruturação!   

 

As comparações são tramadas. Eu sei perfeitamente que não faz nenhum sentido ir por aí, mas a verdade é que há mil milhões de pessoas no Mundo a viver com menos de 73 cêntimos por dia e que o Cristiano Ronaldo ganha 25 mil euros por dia, ou seja 88 cêntimos de três em três segundos.

 

Eu estou habituado a ganhar por mês aproximadamente o que o Cristiano Ronaldo ganha em quatro horas e meia. Não é mau. Podia ser pior.

 

Por este artigo, a Autêntica prometeu pagar-me 600 euros. Não é mau. Podia ser pior. 636,50 euros foi o salário médio mensal recebido em 2006 pelos nortenhos que trabalham por conta de outrém. Eu escrevi este artigo em cinco horas.

 

Mas podia ser melhor. É quase metade dos mil euros que Pimpinha Jardim pede de cachet para abrilhantar uma festa. A filha da Cinha (que, a idade não perdoa, cobra apenas 500 euros para comparecer num evento) ganha esse dinheiro numa noite, dando dois dedos de paleio a uns imbecis, beberricando umas margueritas e posando para os fotógrafos das revistas cor-de-rosa.

 

Dinheiro (aparentemente) bem mais fácil de ganhar do que estar aqui agarrado a um portátil a escrever os 15 mil caracteres solicitados, num portátil da HP com dois anos de vida e que de vez vai abaixo sem aviso, enquanto ouço os Beatles (A Hard Day’s Night).

 

Chegados a esta altura, o/a leitor (a) está com toda a certeza a pensar duas coisas.

 

A primeira é que o Expresso fez muito bem em pagar os 179.629,02 euros para me despachar, porque um tipo que escreve isto só pode estar doido.

 

A segunda é interrogar-se sobre qual o sentido de eu estar a fazer este «strip tease», revelando verbas (a indemnização, o salário, o «cachet» ganho por este artigo) que a esmagadora maioria das pessoas sabiamente manteria em segredo.

 

Eu explico. Não tenho segredos para si.

 

Desatei a revelar estes números por duas razões.

 

A primeira é uma tentativa desesperada de atrair e prender a sua atenção. Neste mundo em que paramos num semáforo e recebemos três diários gratuitos, chegamos a casa, ligamos a televisão, e temos mais de uma centena de canais à nossa disposição (incluindo dois russos, dois chineses, um romeno e um búlgaro, que é o meu preferido), o factor escasso é a atenção humana.

 

Eu satisfaço-lhe a sua curiosidade «voyeurista», soprando-lhe ao ouvido números que o normal dos jornalistas manteria confidenciais, em troca da sua atenção.

 

É um negócio justo, não acha? Claro que há também uma razão egoísta por detrás deste esforço. É que eu quando escrevo qualquer coisa tenho a vaidade de gostar que me leiam…

 

A outra e segunda razão consiste no facto de eu detestar o excessivo pudor e reserva com que nós, portugueses, tratamos a questão do dinheiro.  Ninguém diz a ninguém quanto ganha – e é considerado má educação perguntar a alguém qual é o seu salário ou quanto levou para casa de prémio no final do ano.

 

Este secretismo mergulha as suas raízes na crença que o dinheiro é sujo. O que se é verdadeiro, do ponto de vista estrito (as notas e moedas passam por muitas mãos e ninguém está habituado a lavá-las antes de manusear o dinheiro), já deixa necessariamente de o ser do ponto de vista figurado.

 

Todo o dinheiro a que me referi é duplamente limpo.

 

Limpo porque ganho de uma forma legítima, com o suor do meu rosto (no Verão, eu suo muito J), em actividades legais, e declarado ao Fisco. A indemnização, o salário, o «cachet» são obtidos em troca de trabalho - e não da venda de drogas, armas, extorsão ou lenocínio.

 

Limpo também porque as verbas a que me refiro são líquidas, depois de deduzidos os impostos, que não são pêra doce. Não sei se sabe (se não sabia, pelo menos desconfiava), mas 38% do salário de um português médio vai para aos cofres do Estado, entre IVA, impostos especiais sobre o consumo (tabaco, gasolina, álcool), IRS e protecção social.

 

Interroguei-me sobre os motivos que estão por detrás da nossa vergonha em falar de questões de dinheiro e conclui que há duas explicações poderosas para este pudor (que eu não partilho): uma prática e outra cultural.

 

A explicação prática tem a ver com o evitar invejas, afugentar roubos e a curiosidade ávida do Fisco. É um motivo a um tempo compreensível e contraditório.

 

O ditado popular nº 524 do Rifoneiro Português, compulsado por Pedro Chaves (Editora Domingos Barreira, 1945) reza o seguinte: «Dinheiro e mulher mostrado, está em véspera de ser roubado».

 

O português deste ditado popular é bastante deficiente, mas a ideia que transmite é clara e cristalina. Ostentar riqueza pode ser meio caminho andado para atrair as forças do Mal.

 

No mundo dos pequenos e médios negócios privados, aprendi que quando se pergunta a alguém «Como vai a vida?», se obtém automaticamente uma mentira como resposta.

 

Se os negócios correm mal, respondem-nos que a coisa corre sobre rodas, a empresa vai de vento em popa. Revelar a triste e dura verdade significaria piorar a situação, pois os bancos e fornecedores torceriam com toda a certeza o nariz e fechariam a torneira do crédito.

 

Se os negócios correm às mil maravilhas, respondem-nos que a conjuntura está muito difícil, pois ninguém paga a ninguém, é a crise. Esta mentira é a aplicação prática do bom e velho principio de que «quem não chora não mama», ao mesmo tempo que as dificuldades apregoadas funcionam como um guarda chuva preventivo face a eventuais pedidos de dinheiro ou emprego.

 

Esta reserva face às questões de dinheiro é algo contraditória com a ostentação que está inscrita no código genético de 99,3% dos portugueses (1) que adoram conduzir carros caros e vistosos, vestir roupa de marca e depositar em cima da mesa da esplanada o último grito da Nokia, enquanto conversam em voz alta sobre as peripécias da passagem de ano no Brasil e detalha a planificação das próximas férias na neve.

 

Deixando por desatar este pequeno nó da explicação prática para o pudor português em falar de dinheiro, passo à pista cultural para este comportamento – e quem fala de cultura em Portugal fala inevitavelmente da religião católica.

 

A verdade é que nas sociedades protestantes e anglo-saxónicas a generalidade das pessoas não se incomoda nada em revelar o seu salário e em falar descomplexadamente de dinheiro.

 

Em Portugal, a lista dos mais ricos da Exame é uma estimativa mais ou menos grosseira (é a melhor aproximação que se consegue a uma realidade nebulosa), enquanto que a lista da Forbes é científica.

 

É perfeitamente clara a diferença na maneira como a questão do dinheiro é abordada no Antigo e no Novo Testamentos.

 

No Antigo Testamento, a riqueza é bem vista, olhada como um dom de Deus. O dinheiro, que recompensa a virtude ou o trabalho, é um bem desejável.

 

Já no Novo Testamento, em particular no Evangelho de Lucas, o dinheiro é olhado como algo sujo:  «É mais fácil fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus» (Lucas, 18.25).

 

Judas vendeu o filho de Deus por 30 dinheiros. Jesus adverte-nos para os perigos do dinheiro: «Não se pode servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro».

 

O Novo Testamento deixou as suas impressões digitais espalhadas por todo o lado na nossa cultura face ao dinheiro, em que os bens espirituais são sobrevalorizados e contrapostos aos terrenos.

 

Esta cultura neotestamentária, que incensa os valores espirituais como a verdadeira riqueza e exalta a pobreza, está sintetizada de uma forma soberba num verso da mais conhecida canção da telenovela Floribella: «Sou rica em sonhos, mas pobre, pobre em ouro».

 

Só vestida na pele da personagem de cinema de rapariga má (a «call girl») é admissível à portuguesa Soraia Chaves (2) declarar que prefere ser infeliz ao volante do seu Audi a ser feliz a viajar num banco de autocarro.

 

O actor Jack Dempsey (o eterno namorada da intrigantemente bela e Meredith em «Anatomia de Grey») afirmou recentemente que «a vida é, sem dúvida, muito melhor com dinheiro».

 

É muito pouco provável que a Soraia Chaves educada numa cultura que cunhou o provérbio «o dinheiro não trás felicidade» (o que é verdade, mas ajuda muito…) algum dia venha a fazer em público uma declaração de teor idêntico à do seu colega norte-americano.

 

Ao não me ralar nada em divulgar quanto ganho, revelo um comportamento minoritário e transgressor da cultura tradicional portuguesa face ao dinheiro.

 

Ao sentir um imenso terror a dever dinheiro, revelo ter ficado com um mandamento da cultura tradicional portuguesa tatuado na minha personalidade.

 

Só que volto a ter um comportamento minoritário, pois foi neste particular do endividamento que há a registar a mais espectacular e recente mudança na nossa cultura e mentalidade. 

 

Por norma, os portugueses eram seres poupados e tinham aversão a pedir ou emprestar dinheiro. Salazar apanhou bem esta nossa faceta idiossincrática, que estruturou em código de conduta.

 

Pobrezinhos mas honrados, devemos habituar-nos a viver com o que temos, dar graças a Deus e ser felizes com o que nos coube em sorte nesta vida.

 

A sabedoria popular está pejada de ditados que reflectem este aspecto da nossa cultura tradicional: «Dinheiro emprestado, dinheiro arriscado», «Dinheiro emprestado, inimigo ganhaste», «dinheiro emprestado parte rindo e volta chorando».

 

Não é por acaso que não conhece estes ditados. É que a contenção e os valores que eles apregoam foram sacrificados, após o 25 de Abril, no altar do consumo e do endividamento.

 

As famílias portuguesas, habituadas durante séculos a poupar («Dinheiro guardado, dura muito tempo») começaram por torrar as suas poupanças antes de se mergulharam em alarmantes níveis de endividamento, atraídos pelas sedutoras ofertas de dinheiro fácil e barato sugeridas pelos bancos.

 

Do dia para a noite, o poupado povo português transformou-se num povo gastador e endividado.

 

O endividamento das famílias portuguesas atingiu, no final de 2006, 124% do rendimento disponível e já equivale a 88% do PIB.

 

Não é com o meu contributo que atingimos estes lamentáveis valores. O meu pavor a pedir dinheiro emprestado é tal que compro tudo a pronto pagamento.

 

Houve apenas duas únicas excepções a esta regra. Na compra de dois andares – um em Matosinhos, para os meus filhos, e outro em S. João do Estoril, adquirido para capitalizar em meu benefício o subsidio de deslocação que o Expresso me pagava por eu estar a trabalhar em Lisboa durante os três anos em que editei a Economia – recorri ao crédito à habitação.

 

Mas o dinheiro da indemnização pela cessação do meu contrato de trabalho com o Expresso vai ser, no seu essencial, aplicado em liquidar estes dois créditos a habitação.

 

Garanto-lhe que o dia, que se aproxima, em que liquidarei os meus dois créditos à habitação vai ser um dos mais felizes da minha vida. A sensação de não dever nada a ninguém é para mim tão voluptuosa que até chega a ser erótica.

 

Sei fazer contas e, por isso, compreendo perfeitamente os que acusam este meu comportamento de ser irracional.

 

A subida na taxa de juros do crédito a habitação ainda não foi suficiente para encorajar o resgate. Penso que com alguma facilidade conseguiria obter para os 179.629,02 euros da indemnização uma remuneração superior à taxa que pago pelos créditos a habitação.

 

Mas eu sou assim. E decidi que a partir dos 50 anos o que era defeito passa a ser feitio. Da minha educação nos valores judaico-cristãos, guardei uma profunda aversão a dever dinheiro.

 

Tenho dois carros. Uma carrinha Fiat Marea, de 2001, que me custou 3500 contos, e um Mini Clubman de 1974, que me custou 500 contos. Paguei-os ambos a pronto.

 

Noutro dia, passei na Fnac por um Sony Vaio, levezinho, bonito, com oito horas de autonomia, que mal deu pela minha presença se pôs logo a sorrir-se para mim. Não se anunciava com o preço final - mas sim através do custo mensal de cada uma das 12 prestações. Não era nada que me causasse grande mossa ás finanças pessoais. Bastava-me alocar à prestação o que ganho com uma das crónicas semanais para o Oje e saia com ele debaixo do braço.

 

Chegados a esta altura já me conhece suficiente bem para saber o desfecho desta história. Só comprarei o maneirinho e sedutor Sony Vaio quando o puder fazer a pronto pagamento, sem perturbar o deve e haver mensal da minha conta bancária.

 

O meu pavor ao endividamento estende-se ao cartão de crédito. O meu é um Visa Universo. Atraiu-me o baixo custo do cartão, que rapidamente amortizo com o desconto de um por cento sobre o total do movimento efectuado, devolvido sob a forma de cheques válidos nos hipermercados Continente.

 

Não sou um bom cliente para o BPI, porque opto sempre pela liquidação a 100% do extracto. Nunca recorri ao crédito fácil ao consumo disponibilizado nos cartões a taxas de juro altíssimas que engordam as pornográficas contas de resultados dos bancos portugueses.

 

Dito isto, agradeço a atenção que me dispensou ao ler este artigo até ao fim e tento retribuir-lhe a gentileza citando uma das minhas frases favoritas do meu humorista preferido (Groucho Marx): «Basta de falar de mim. Falemos um pouco de si. O que é que pensa de mim?».

 

Espero que não tenha ficado com uma ideia errada sobre a minha relação com o dinheiro.

 

Eu adoraria ser rico. Tenho muita pena de não ser um dos 11 mil compatriotas que têm mais um milhão depositados no banco - apesar de isso vedar automaticamente a minha eventual entrada no Reino dos Céus. Todos sabemos que é absolutamente impossível um camelo passar pelo buraco de uma agulha…   

 

Dou razão ao povo quando ele, na sua imensa sabedoria, diz que o que nos faz falta é, por esta ordem, Saúde, Dinheiro e Amor.

 

O amor surgir em terceiro lugar, a seguir ao dinheiro, não é arbitrário. Ao fim e cabo, quando hesitantes entre dois lares, as mulheres escolhem sempre a melhor mobília.

 

Neste mundo, o dinheiro é a medida de todas as coisas.

 

 

 

…………………………………………

 

(1)   Esta estimativa é da minha única e exclusiva responsabilidade e foi apurada a olhómetro, pelo que deve ser encarada com toda a reserva. O INE, responsável por quase todos os outros dados estatísticos constantes deste artigo, está inocente neste caso!

 

(2)   Soraia Chaves cobra 3500 euros por aparição num evento, sete vezes o «cachet» de Cinha e umas seis vezes mais do que eu vou receber por este artigo

 

Este texto foi publicado na revista Autêntica

 

 

Qua | 23.04.08

O finlandês maluco e os “recuerdos” das minhas viagens pelas terras dos outros

Jorge Fiel

O caso do finlandês de 26 anos que foi detido no Chile, após ter arrancado um pedaço de uma orelha das estátua da Ilha da Páscoa, teve o lado bom de me convencer que a fama de exagerado de que desfruto pode ser um tudo nada excessiva.

Não nego a queda para trazer “recuerdos” das minhas viagens pelas terras dos outros. Lembro-me perfeitamente que do primeiro inter-rail, levado a cabo em 1972, trouxe dois cinzeiros:  

a)     Um metálico de parede, absolutamente inútil fora da sua armação, extraído de uma carruagem da Renfe durante a longa e fastidiosa travessia de Espanha no regresso a casa;

 

b)    Um publicitário comemorativo do lançamento da Red Watneys Beer (cerveja que não deve ter tido um sucesso por aí além porque nunca mais ouvi falar dela),  subtraído do pub do campo de trabalho de Fridaybridge, onde eu estive alojado durante a campanha da apanha do morango.

Ainda recentemente, ao vasculhar umas caixas poeirentas, dei com a enorme lista que trouxe a título de “recuerdo” do primeiro restaurante onde jantei, em 1987, nos Estados Unidos.

Tratava-se de uma marisqueira no porto de Boston, o prato de lagosta rondava os 10 a 15 dólares e puseram-nos uma babete à volta do pescoço para não proteger a roupa dos estilhaços dos bichos.

Tive uma fase da minha vida em que fazia questão de trazer dos hotéis os frasquinhos de shampoo, amaciador ou sabonete líquido e outro tipo de cortesias, como calçadeiras ou pentes – à época ainda os usava.

Este acto subreptício não me pesava na consciência porque a Meia Dose (“petit nom” de uma amiga minha que trabalhava no Meridien Porto) garantira-me que a limpeza dos frasquinhos não configurava uma operação ilegal já que o seu custo está reflectido no preço do quarto.

Descontinuei a operação dos frasquinhos de shampoo (e ofícios relativos) há já alguns anos, por duas razões:

a)     Não raro os frasquinhos, transportados no porão dos aviões, vertiam e contaminavam o resto das objectos (corta-unhas, baton de cieiro, escova dos dentes canivete suíço pó de talco) acondicionados no meu  saco das higienes;

 

b)     O acumular dos frasquinhos entupia o armário da minha casa de banho, pelo que um dia me fartei e parei de comprar sabonetes e shampoos até esgotar o stock oriundo dos hotéis.

Para que não fique qualquer espécie de dúvida nas iluminadas cabecinhas das preclaras e dos preclaros, declaro que nunca fui tentado a meter na mala o roupão turco. Nunca. Never. Jamais.

Tenho a consciência que cometi alguns pecadilhos, como trazer um cinzeiro de vidro cinzelado do Marmara de Istambul, mas as minhas malfeitorias no capítulo dos “recuerdos” foram sempre inofensivas em comparação com a ideia peregrina do turista finlandês que vandalizou o aparelho auditivo de uma das estátuas gigantones da Ilha da Páscoa.

Sempre nutri um enorme respeito pelo património alheio. Apesar disso, confesso que durante a minha recente visita o Coliseu de Roma senti-me atraído pelas potencialidades das secções de colunas que estão por lá espalhadas.

Qualquer uma delas daria uma magnífica base de mesa, a que se adicionaria um tampo de vidro grosso. Mas a ideia ficou onde nasceu. Na minha cabeça.

Seria o cabo dos trabalhos sair do Coliseu com um bocado de coluna dórica. E nem quero pensar na astronómica quantia o que teria de pagar no avião por excesso de peso da bagagem.

Acresce que se fosse apanhado, a minha triste desventura circularia pelos jornais gratuitos do mundo inteiro, em notícias de duas colunas, no final de uma página par, a fazer concorrência à do finlandês.

Até estou a ver o arranque da notícia:

“ROMA. Um português de 51 anos foi detido ao tentar sair do Coliseu com um bocado de coluna dórica. Pouco tempo depois, o turista teve de ser hospitalizado, pois estava paralisado - não se conseguia mexer. Amanhã será submetido a uma intervenção cirúrgica. O prognóstico médico é reservado. Algumas vértebras foram desfeitas pelo esforço de transportar o pedaço de coluna, pelo que o mais provável é que tenha de andar de cadeira de rodas até à conclusão dos seus dias”.

 

Qui | 17.04.08

Recuso-me a acreditar que os meus netos se vão casar com as descendentes da Loli

Jorge Fiel

 

A célebre definição de Woody Allen sobre masturbação (“é fazer amor com alguém de quem gostamos muito”) ganha uma nova e inesperada dimensão com a previsão feita por David Levy, especialista inglês em inteligência artificial, de que, por volta de 2050, as nossas parceiras sexuais favoritos serão robots.

 

Tudo leva a crer que nessa altura já não estarei disponível para experimentar essa modernice, mas mesmo assim o tema despertou a minha curiosidade.

 

Levy aparenta não ter qualquer dúvida, ao ponto de dizer que “amanhã os robots serão de tal maneira realistas que os humanos se apaixonarão por eles, farão amor e acabarão por se casar”.

 

Não escondo o meu cepticismo relativamente a esta previsão, apesar do seu autor ser um reputado especialista internacional em inteligência artificial e de eu não passar de um tipo “que escreve sobre broches” (cito a frase amável de uma amiga minha).

 

Este profundo cepticismo fundamenta-se quase integralmente na imagem de Loli que ilustra o artigo do jornal suíço supra reproduzido, onde bebi os conhecimentos que problematizo neste “post”.

 

Loli, a uma boneca “high tech” de silicone fabricada na Alemanha que pesa dez quilos e custa dez mil francos suíços (cerca de 7500 euros), é apresentada como o protótipo que prefigura o robot do futuro.

 

Ora chegado a este momento delicado, sinto-me na obrigação de declarar o seguinte: Se a Loli dá uma ideia, ainda que pálida, do robot do futuro, recuso-me a acreditar que os meus filhos, netos e eventuais bisnetos se vão envolver, apaixonar, fazer amor e casar com os descendentes dela.

 

Não me custa aceitar que a robótica e o mercado do sexo estejam em rota de colisão.

 

Acho muito provável que a evolução tecnológica das bonecas insufláveis (que nunca experimentei) faça delas uma alternativa credível à masturbação, ou, se preferirem, passem a constituir uma espécie nova de masturbação com mais valor acrescentado.

 

Nada me move contra os robots. Amo o R2 da saga “Star Wars”. Recordo com saudade a canção pop “Olhó o Robôt” (“é pró menino e prá menina”) dos saudosos Salada de Fruta, liderados pela Lena de Água (aquele conjunto testa/sobrancelhas/olhos não foi muito bem resolvido pelo Criador - emprestava-lhe um ar ligeiramente bovino mas que exalava um “je ne sais pas quoi” de sexualidade, a um tempo lânguida e selvagem).

 

Dar uma cambalhota com um robot apresenta uma data de vantagens sobre a relação sexual tradicional, a saber:

 

a)     Não se apanham doenças;

 

b)    Uma pessoa explica-se quando quiser e não tem de pedir desculpa se por acaso não conseguiu controlar-se e frustou o orgasmo da parceira porque acabou segundo e meio antes do tempo;

 

c)     Findas as hostilidades, podemos virar-nos para o lado e começar a ressonar sem correr o risco de ganhar a fama de insensível ou ser acusado de javardo.

 

Apesar de todos estes apesares, custa-me a crer que num futuro próximo o pessoal vai desatar a apaixonar-se, quecar e casar com robots.

 

Neste sentido, não me ensaio nada em contrariar as previsões do David Levy e em considerar altamente improvável a massificação futuro do consumo das descendentes de Loli, que terão sucesso apenas como produto de nicho.

 

Ter | 15.04.08

Uma justa e merecida homenagem ao ponto e vírgula

Jorge Fiel

Não sou um fanático do ponto e vírgula. Muito antes pelo contrário. Praticamente não o uso. Nem na linguagem escrita, nem na oral.

(teria sido mais correcto escrever: “Praticamente não o uso; nem na linguagem escrita,nem na oral”?)

Pensado bem, acho que apenas me socorro do ponto e virgula quando faço uma exposição por alíneas.

Mas desde já esclareço que nada me move contra, ou me opõe, a esse elegante (apesar de híbrido) sinal de pontuação, que constitui um matrimónio aparentemente feliz entre dois sinais (o ponto final e a virgula) de que sou freguês quando tomados de per si.

Não usar laço não significa que tenha algo contra o meu amigo Nicolau  Santos. Não usar suspensórios não quer dizer que algo me mova contra o meu amigo António Marinho, que nesta sua incursão pela liderança da corporação dos advogados adoptou a marca Marinho Pinto.

Devo mesmo confessar que até nutro alguma simpatia pelo ponto e virgula, pelas seguintes razões (vou expô-las por alíneas para empregar o ponto e virgula):

a)     No geral, apoio as causas perdidas e as espécies em vias de extinção, como o lince da Malcata;

 

b)    Tenho um coração mole, tipo Robin Hood, o que me leva a puxar pelos desfavorecidos e a torcer pela equipa que está a perder, com apenas duas excepções: o Porto  (quero que ganhe sempre)  e o Benfica (quero que perca sempre);

 

c)     O meu amigo Manuel António Pina ( poeta, sportinguista, amigo de gatos e frequentador do Orfeuzinho) revelou-se um feroz defensor do ponto e virgula numa crónica publicada no Notícias Magazine.

 

Na minha recente viagem a Suíça, fiquei a saber que o Pina não está sozinho e que a sua militância a favor do ponto e vírgula também reúne adeptos por essa Europa fora.

Ameaçado de morte pela frase curta, o ponto e virgula resiste na linguagem SMS como componente do símbolo da piscadela de olho  ;-) .

Eu prefiro abusar do travessão, mas estou pronto a reconhecer o importante contributo dado pelo ponto e vírgula para a literatura e a comunicação escrita entre as pessoas.

Nesse sentido, apelo a todas as preclaras e preclaros para que se juntem a mim e rendam uma justa e merecida homenagem ao ponto e virgula

Longa vida ao ponto e vírgula!

 

Qui | 10.04.08

Uma solução para o problema da habitação

Jorge Fiel

 

Ora aqui está uma solução criativa para a resolução do problema da habitação. Mulheres que benignamente se auto-intitulam «jovens libertinas» aproveitam as páginas de classificados dos jornais para proporem a «prestação de serviços» em troca de alojamento.

 

Não é pormenorizado o tipo de favores que as jovens à procura de tecto se declaram dispostas a fornecer. Mas atendendo à publicidade que fazem ao facto de serem sexualmente muito desinibidas sou levado a crer que não estão exactamente a disponibilizar-se para proceder à limpeza da casa de banho, lavar a louça ou passarem a roupa a ferro.

 

Este moda do pagamento em géneros da renda de casa chega-nos dos Estados Unidos da América mas já desaguou na Europa.  E tem um sabor de regresso ao passado já quer a liquidação da transacção dispensa o vil metal.

 

Parece-me, no entanto, que não será fácil prescindir do recurso a advogados especializados para a elaboração dos contratos de arrendamento, onde penso que terá de ser detalhado o tipo e a frequência de favores a prestar pela inquilina.

 

Estou a imaginar, por exemplo, um contrato de arrendamento de um T-2, com duas casas de banho e 93 metros quadrados de área coberta, em que a jovem libertina se compromete a mensalmente dar com o senhorio dez cambalhotas, com um duração nunca inferior a sete minutos nem superior a 13 (o lapso de tempo considerado óptimo pela comunidade cientifica internacional), e idêntico número de broches – acautelando que neste particular está rigorosamente excluída a hipótese do beneficiário se explicar na boca ou em qualquer outra parte do corpo da arrendatária.

 

Mas assim à primeira não estou a ver que instância judicial poderá dirimir um eventual despejo da locatária, fundamentado na alegada diminuição drástica da qualidade dos serviços prestados, em virtude da subjectividade do argumento e da impossibilidade prática de fazer a prova.

 

Seg | 07.04.08

É só um pouco mais de azul

Jorge Fiel

Não façam confusão. Eu sou doido pelo azul. Ao ponto de invejar a bandeira azul e branca da Monarquia Portuguesa , apesar de ser um regicida em potência.

Quando estão bem dispostos, o mar e o céu são azuis, só mudando de cor para verde (caso do mar) ou cinzento (caso do céu) quando estão com os azeites.

Os «jeans» – a mais importante peça de vestuário inventada desde a toga romana – eram originalmente azuis.

Azul e branco é a cor do equipamento do clube do meu coração (‘bora aí que estou convencido que é desta que estamos embalados para colocar definitivamente a palavra hexa no vocabulário futebolístico nacional – já só faltam três)

E uma das minhas canções preferidas, com lugar quase sempre garantido no meu «top ten» pessoal, é a dos Rádio Macau em que a Xana, com aquela maravilhosa voz urbano-depressiva , nos conta que sonhou mandar pintar o céu de azul até que se percebeu que já alguém antes dela (presumivelmente Deus)  tinha tido uma ideia igual.

Para verem quanto eu gosto do azul, informo que tomei as notas para este «post» com uma esferográfica Muji azul ultramarina e que, neste preciso momento em que escrevo, estou vestido com uma Levi’s 501 azuis, uma camisa da Mystic Shirt às riscas  (largas de um centímetro!)  azuis e brancas, e um blazer azul da Labrador  (está bem, eu satisfaço o vosso voyeurismo: oos sapatos e as meias, ambos da Ecco, são pretas, e os boxeurs, da Fruit of Loom, cinzentos).

Agora, que penso ter estabelecido sem margem para dúvidas o meu gosto pelo azul, devo dizer-vos que até há bem pouco tempo não achava que a minha cor favorita desse para tudo e reagi desfavoravelmente quando a Vanda Stuart  pintou o cabelo de azul e o Nilton apareceu com óculos com armação azul.

Passei a dar um desconto à Vanda por duas razões.

Primeiro porque o nome dela me lembra um filme absolutamente impagável («Um Peixe Chamado Vanda», protagonizado por Jamie Lee Curtis, uma mulher que já me povoou muitos sonhos felizes).

Segundo porque gostei de a ver (com o cabelo pintado de loiro) a interpretar a preceptora dos filhos Van Trapp  na encenação La Féria do musical «Música no Coração».

Não me envergonho nada  em  anunciar que chegou a hora de reabilitar o Nilton. Até à minha partida para a Suíça, este candidato a humorista só tinha marcado um ponto a seu favor –  não se rir das piadas desconchavadas que conta.

Depois de ter lido no diário suíço20 Minutes que os óculos com moldura azul são o último grito da moda para esta Primavera/Verão  sinto-me na obrigação de dar o braço a torcer e reabilitar o Nilton como um verdadeiro olharapo, ou seja aquelas valiosíssimas criaturas que sabem antecipar uma tendência.

O 20 Minutes não brinca em serviço e demonstra a sua tese publicando fotografias de Paris Hilton, Sienna Miller e Lily Allen com óculos de armação azul. E, relativamente ao formato, recomenda os Wayfarer da Ray Ban.

Eu confesso que neste particular sou um bocado bota de elástico. Há coisa de um ano convenci-me que o Rui Ochoa tinha pirado de vez quando o vi a aparecer numa reunião do Expresso com uns óculos de moldura vermelho. E ainda estranho um bocado quando vejo a Inês, uma das minhas novas colegas do DN,  com uns óculos com uma vistosa armação branca e vermelha.

Mas se o que está a dar são mesmo os óculos com armação colorida, acho bem que a cor da moda seja a minha preferida – a azul.

 

 

 

Sex | 04.04.08

Um recado urgente ao pessoal do Vale do Ave a propósito da ruptura de stock de bandeiras tibetanas

Jorge Fiel

 

A onda internacional de contestação a Pequim, motivada pela repressão chinesa à revolta dos monges tibetanos, abriu uma oportunidade de ouro para a indústria portuguesa de têxtil e vestuário.

Descobri isso numa pequena notícia ao fundo de uma página par do Matin Bleu, onde se dá conta do desespero de Jacques Arnal, porta-voz da Associação A Porta do Tibete.

«Normalmente vendíamos uma ou duas bandeiras por dia. Agora está toda a gente em ruptura de stock. Mesmo na internet é muito difícil encontrar uma bandeira tibetana», informa Jacques.

Não é só na Suíça que os stocks de bandeiras tibetanas estão em ruptura. Na vizinha França, a Associação Leões das Neves Mont-Blanc queixa-se exactamente da mesma penúria.

Nestas ocasiões é que se vêm os homens - e as mulheres. Há que ser rápido como o jaguar, leve como a gazela, manhoso como a raposa, astuto como o coiote e ágil como o tigre.

Neste momento, se a mensagem da flexibilidade debitada pelos gurus da industria tivesse sido devidamente entendida, o Vale do Ave já estava todo a produzir bandeiras do Tibete para satisfazer a sequiosa procura internacional que se vai manter em crescendo pelo menos até ao Jogos Olímpicos.

Dos gabinetes de design já deveriam estar a sair, em direcção às fábricas, protótipos de uma alargada e diversificada gama de produtos tendo como tema base a bandeira do Tibete: canecas, porta-chaves, esferográficas, magnetos de frigorífico, tapetes de casa de banho, esferográficas, cartas de jogar, etc.

A Renova já deveria estar a produzir uma variante do seu papel higiénico vermelho com as estrelas e a foice a martelo amarelas da bandeira chinesa.

Estilistas renomados como a Katty Xiomara, a Anabela Baldaque e a Maria Gambina (omito propositadamente a Fátima Lopes uma vez que lhe seria muito difícil conseguir conjugar toda a paleta de cores do pavilhão tibetano na escassíssima quantidade de tecido que usa nas suas criações) já deveriam estar a preparar colecções unissexo inspiradas na bandeira do país que é o tecto do Mundo - e no elegante corte das fatiotas do Dalai Lama e dos monges tibetanos.

Seria uma oportunidade única por várias razões e mais uma.

Sendo que a mais uma é que na confecção desta linha de produtos não haveria que temer a concorrência chinesa.

 

Qui | 03.04.08

O inicio da tentativa de aliviar uma consciência tornada pesada por 15 dias de ausência

Jorge Fiel

Regressado ontem ao trabalho, após um imerecido período de férias na Suíça (cidades, pois não sou um homem das neves e montanhas), os meus novos colegas observaram que ando cabisbaixo, com a cabeça um pouco de lado.

A princípio interroguei-me sobre se teria dado, sem querer, um jeito no pescoço, mas logo descobri que não se tratava de nada disso  -  não sei qual é a vossa opinião mas eu acho que não sou destituído de todo…

Ando cabisbaixo porque pesa-me na consciência ter passado duas semanas a fio sem postar e estar atrasado na resposta aos comentários que tão gentilmente as preclaras e preclaros fizeram aos meus últimos «posts».

Para aliviar o alarmante estado de «stress» em que a minha consciência judaico-cristão me deixou, vou começar a partilhar com o pessoal da lavandaria as mais relevantes notícias de que tomei conhecimento durante os sete dias em que andei a laurear a pevide passear por cinco cantões suíços (Genève, Vaud, Luzern, Berna e Zurich).

Desde já explico que estou numa fase mitra da minha vida e por isso, ao longo da semana suíça, dois diários gratuitos (20 minutes e Le Matin Bleu) foram a base da minha dieta informativa.

Apesar de ter percorrido uns bons dois mil quilómetros na Confederação Helvética, de comboio e de barco, apenas comprei um Paris Match que tinha o Belmondo na capa, a edição de fim-de-semana do Le Temps (mais para a ver do que para a ler porque o desenho deste jornal é excelente).

Resisti a comprar livros. Apesar de ter namorar demoradamente o Lonely Planet sobre a Suiça, na livraria Payot da rue de la Confederation, em Genève, mantive-me fiel e em regime de exclusividade ao American Express.

Os meus gastos supérfluos na semana suíça limitaram-se a duas novidades em BD («Le Sanctuaire du Gondwana», o mais recente episódio da saga Blake  e Mortimore, de Juillard e Sente, e o último livro da triologia de Max Fridman na guerra civil de Espanha, da autoria de Giardino) e três CDs (Alain Souchon, Vicent Delerm e Les Rita Mitsouko) em segunda mão comprados numa loja do Rond Point de Plainpalais – a zona de Genève onde estabelecer o meu quartel general.

Vou esforçar-me por manter um ritmo diário na partilha das novidades que aprendi na Suíça.