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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qua | 30.01.08

A alucinante história do resgate, em Sioux City, da mulher iceberg com seios XXXXXL

Jorge Fiel

 

Para colmatar o aflitivo défice de badalhoquice que se tem feito sentir na lavandaria, tomei a difícil decisão de publicar esta impressionante (direi mesmo mais, devastadora) fotografia que me foi enviada por mail pelo meu amigo Hélder Brites (1).

A fotografia vem acompanhada de uma legenda (tal com acontece com as que são enviadas pelo serviço da Associated Press), intitulada «Resgate dramático», que reza o seguinte:

 «Na área de Sioux City ( U.S.A.), todos se juntaram no esforço de
salvar uma garota presa numa cerca. Levaram várias horas para tirá-la de lá. O chefe dos bombeiros disse: Foi um salvamento raro e dificil.»

Eu não queria estar no papel dos bombeiros. Apesar da história ser obviamente falsa - tal como as mamas da sujeita (as aberrações que o photoshop possibilita!), pois de outra maneira a desgraçada já tinha destruído a espinha dorsal e estava atirada para uma cadeira de rodas.

Mas atentando nestas portentosas mamas XXXXXL, não posso deixar de pensar, horrorizado, que à  luz do ensinamento do meu amigo Luciano (que, recordo, defende que a qualidade da queca é inversamente proporcional ao tamanho dos seios) esta moça é um iceberg tão grande que seria capaz de transformar o deserto do Saara numa coisa ainda mais verde que a Suiça.

 Pobre rapariga. A abundância pode ser uma praga.

 

(1)    O Hélder Brites é um compincha dos antigos, sempre com uma piada certeira e desconcertante pronta a ser disparada, com quem tive o prazer e o privilégio de trabalhar no Expresso e que no entretanto se mudou para o Sol.

É também o meu principal fornecedor das coisas engraçadas e picantes que circulam por mail na Net. A santa da mulher dele, filha de Osvaldo Silva (velha glória do FC Porto, Sporting e Leixões) confecciona a melhor feijoada à brasileira que alguma vez me foi dada a comer.

 

Seg | 28.01.08

As minhas contribuições para um Mundo perfeito Parte V pele impermeável

Jorge Fiel

 

Não tenho a menor dúvida. Se Deus existisse (ou pelo menos se fosse uma pessoa atenta e com a mania da perfeição), a nossa pele secaria a uma velocidade supersónica, dispensando o uso de toalhas.

 

Penso mesmo que a nossa pele deveria ter características de impermeabilidade idênticas às dos novos tecidos inteligentes usados no fabrico das camisolas dos jogadores de futebol, que permitem deixar sair a transpiração mas impedem a entrada de água.

 

Esta minha reflexão e contribuição para um Mundo perfeito deriva do facto de detestar secar-me depois do banho, o que me leva a recorrer ao truque (eficaz, mas altamente consumidor de tempo) de me envolver num roupão turco, logo à saída do chuveiro, e andar a passear pela casa a fazer pequenos almoços, a arrumar coisas, ou a passar em revista o correio electrónico, até ficar completamente seco e poder vestir-me sem ter a maçada de me esfregar com a toalha.

 

Também é dramática para mim a experiência de lavar as mãos em casas de banho públicas, já que por norma são más, ou apenas sofríveis, todas as soluções de secagem das mãos apresentadas.

 

Anda tudo preocupado com a lavagem das mãos, quando o nó do problema está antes na sua secagem.

 

Acho pura e simplesmente abomináveis aqueles horrorosos dispositivos de aspiração, que produzem um barulho insuportável e demoram uma eternidade até desempenharem, de forma pouco satisfatória, a tarefa para que foram concebidos. Eu não os uso. Prefiro limpar as mãos às calças ou a um lenço. Se mandasse, proibia-os!

 

O sistema de toalhas de puxar parece-me muito pouco higiénico porque para conseguir o acesso a um pedaço de toalha limpa é preciso puxar pondo as mãos acabadas de lavar em cima do caldo de bactérias que é o pedaço imundo e infecto de toalha suja pelo utente anterior.

 

A dispensa de toalhas de papel é menos mau, apesar de muito facilmente vandalizável o que leva a que frequentemente não haja papel disponível.

 

O melhor dos sistemas de secagem de mãos ainda é o dos quadradinhos individuais de toalha branca, que lamentavelmente só está disponível em hotéis e em restaurantes em que a conta por cabeça anda acima dos 50 euros.   

 

Todos estes transtornos e maçadas não existiriam se viéssemos equipados de origem com uma pele impermeável – ou dotada de uma capacidade de evaporação instantânea.

 

Já agora, parece-me completamente despropositado suar molhado. É uma sensação horrível estar a trabalhar e sentir a camisa colada ao corpo. E é perfeitamente dispensável o cheiro a humanidade, que afecta os transportes públicos nas primeiras carreiras da manhã e que tem como principal componente o suor ressequido há vários dias.

 

Deus deveria ter-nos apetrechado com um mecanismo inodoro de expulsão a seco das toxinas que actualmente abandonam o nosso corpo sob a forma de suor nojento.

 

Imaginem, por um minuto só a beleza, que seria podermos rebolar na areia logo a seguir a um mergulho no mar sem ficarmos tipo croquete!?! Acreditem que piores sensações que um ser humano pode experimentar é a de ter areia nas virilhas.

 

Andar à chuva seria uma experiência bem mais agradável se a nossa pele fosse impermeável.

 

Só encontro duas explicações para o lamentável facto de não estarmos equipados com essa capacidade de evaporação supersónica.

 

1.     Deus não existe;

 

2.     Deus existe mas tem acções de uma grande fábrica de têxteis lar!

 

 

Sab | 26.01.08

O paradoxo do desempregado que trabalha

Jorge Fiel

Um HP Pavillion DV 1000 igualzinho ao meu  

 

As preclaras e os preclaros podem e devem muito legitimamente interrogar-se: Porque é que agora que estás no desemprego postas menos do que quando tinhas um emprego?

 

E eu respondo. Tudo na vida tem uma explicação. Neste caso, há até duas explicações.

 

A primeira explicação é a mais simples. Tenho em curso um processo de upgrade tecnológico, que consiste em oferecer ao Pedro (o meu filho mais velho) o meu portátil HP e, em simultâneo, comprar um portátil LG novo, com menos um quilo de peso, mais uma hora de autonomia e menos uma polegada de ecrã (estou em trânsito das 14 para as 13, depois de ter decidido não arriscar as 12) .

 

Argumentarão os distintos (mas infelizmente raros) frequentadores da lavandaria que a troca de computador é uma operação banal, rotineira, que apenas consome um par de horas.

 

Lamentavelmente estão errados pelas razões que passo a detalhar:

 

1. Após dois anos de serviços prestados, o meu HP Pavillion dv 1000 resolveu tornar-se temperamental. Volta e meia apaga-se, sem pré-aviso. O que é uma maçada. E depois de se apagar, é preciso deixá-lo em paz a descansar uma boa meia horinha antes de sequer ousar reiniciá-lo.

 

2. Como bom pai e consumidor atento (…estou em cima do fim do prazo dos dois anos de garantia) resolvi levar o HP ao médico (no caso o paciente e competente Diamantino Mota, da Introduxi) antes de o oferecer ao Pedro.

 

3. O meu portátil esteve durante 48 horas sob observação enquanto era submetido a uma infindável bateria de testes. O primeiro diagnóstico não era animador – como não se tratava de uma infecção viral, o Diamantino temia que o problema fosse na «motherboard» o que obrigaria a enviá-lo para os Cuidados Intensivos da HP.

 

4. No segundo dia de internamento, o Diamantino constatou que afinal o problema é muito provavelmente de sobreaquecimento e tomou as medidas apropriadas ao caso - medidas que me explicou pormenorizadamente mas eu fui absolutamente incapaz de reter.

 

5. A Introduxi não tinha em stock em Valongo o modelo da LG (vem com o Vista, estou curioso, toda a gente diz que é pior que o XP que é o sistema operativo que corre no meu HP) que eu vou comprar, por isso teve de o encomendar do seu armazém em Lisboa (maldito centralismo!). E 6ª feira ao fim do dia ainda não tinha chegado ao Porto, apesar de ter sido encomendado na véspera ao meio dia.

 

Resumindo e baralhando. Uma das explicações para esta semana apenas ter postado na 4ª feira reside no facto de ter estado sem computador desde as nove da manhã de quinta até às 19 horas de sexta.

 

Confesso que foi uma experiência tenebrosa, porque me revelou quão agarrado eu estou. Ao fim de 24 horas sem teclar, comecei a ressacar. Foi terrível.

 

A segunda explicação para a minha fraca produtividade é bem mais sofisticada.

 

Sim, eu sou um desempregado, mas um desempregado do tipo novo. Sou um desempregado que trabalha e que, como agravante, anda à procura de emprego.

 

O facto de estar desempregado significa que estou desprovido de emprego – não de trabalho. Na verdade, nunca deixei de trabalhar.

 

Além do que escrevo «pro bono» aqui na Lavandaria e no Bússola, ainda tenho uma coluna semanal no Oje, as entrevistas de empresários para o Porto Canal e uma colaboração no programa Radar de Negócios - para além de colaborações eventuais e avulsas.

 

Sei que o mais estranho no meu caso é estar desempregado e a trabalhar.

 

Mas não deixa também de ser um pouco fora do comum o facto de estar desempregado e andar à procura de mais trabalho - ou de um emprego.

 

É verdade. Ainda não conseguiu perceber muito bem porquê, mas a verdade é que ando activamente no mercado, o que me rouba imenso tempo (e algum dinheiro).

 

Tentar arranjar emprego e/ou trabalho é uma actividade muito exigente em termos de tempo e de disponibilidade. Uma canseira. Uma espécie de «full time job», que tem o inconveniente de não ser remunerado.

 

Postas estas duas explicações, espero que desculpem as minhas ausências e compreendam em toda a sua dimensão e grandeza o paradoxo do desempregado que se mata a trabalhar, anda à procura de emprego - e por isso tem menos tempo livre do que quando tinha um emprego.

 

 

 

Qua | 23.01.08

As minhas contribuições para um Mundo perfeito Parte IV interruptor de memória

Jorge Fiel

 

 Memória da passageira do vento, de Bourgeon

 

As recordações são uma arma de dois gumes -  ou de dois legumes, na avançada e desempoeirada (apesar de hilariante…), versão pachequiana. Refiro-me ao Pacheco treinador do Boavista e não ao homónimo e recém falecido «sacristão do surrealismo» (João Gaspar Simões dixit), ou «neo-abjeccionista» (na avalizada opinião do próprio).

 

Tenho para mim que num Mundo perfeito seríamos nós a comandar a memória e não a memória a mandar em nós que, como já devem ter reparado, é o que acontece.

 

À medida que vamos para velhos (a propósito, fui às lágrimas ao ler no Expresso a notícia de criação de um movimento cívico de «jovens com menos de 45 anos») damos por nós a recordar com precisão cinematográfica acontecimentos ocorridos há 20 ou 30 anos mas a não nos lembrarmos do nome de um objecto ou de uma pessoa conhecida.

 

Numa almoço familiar de domingo, a minha mãe (que regula a idade pela do Saramago e do Soares) é capaz de repetir duas vezes, usando sempre as mesmas palavras e sequência narrativa, o mesmo episódio da minha infância que me deixa embaraçado junto do meu filho de sete anos.

 

E no domingo seguinte pode voltar a repeti-lo timtim por tintim. Neste particular, a memória é como uma pilha enorme de pratos num equilíbrio instável. Se cometermos a imprudência de tirar um prato do meio, dá-se cabo de tudo.

 

Esta memória prodigiosa da minha mãe relativamente aos tempos gloriosos da Guerra Fria e da televisão a preto e branco, não se estende, lamentavelmente, até ao tempo presente.

 

Ela lembra-se perfeitamente da última vez que eu fiz xixi na cama ou do dia em que eu fui à capela do liceu rezar e pedir a Deus para não ter negativa no ponto de Matemática (depois de o ter feito e me ter espalhado ao comprido), mas não se recorda onde pôs os óculos, se trouxe ou não a bengala – e faz confusão com as datas, como não tem a certeza se hoje é sábado ou domingo, fica baralhada e não sabe se é amanhã ou depois de amanhã que tem a consulta marcada no dentista.

 

Quer-me parecer que a memória é uma espécie de cisterna, com uma capacidade limitada de armazenamento, e como a minha mãe já a esgotou, há já algum tempo, com tralha que já não interessa a ninguém, não tem agora espaço para guardar novas informações de que precisa.

 

Está mal. Nós devíamos vir equipados de origem com uma espécie de interruptor da memória, que nos permitisse apagar os ficheiros que não interessam para dar lugar a outros novos.

 

A nossa memória devia poder ser administrada da mesma maneira que gerimos o espaço nos armários e prateleiras, despachando roupa, livros e objectos que já não nos servem ou interessam, para criar espaço para o fato novo, os «paperback» de Martin Cruz Smith, ou o barro da Savimba.

 

Seríamos muito mais felizes se tivéssemos o interruptor da memória.

 

Por exemplo, se eu pudesse já tinha apagado o ficheiro da recordação daquele jantar da nossa patota, num restaurante de Matosinhos especializado em pratos de bacalhau, em que todos nós bebemos ainda mais do que o costume e armamos um banzé tal que a casa teve de fechar as portas.

 

Ficaria feliz por poder apagar da minha memória esse e outros ficheiros, que, para os exorcizar, mais tarde ou mais cedo partilharei convosco aqui na lavandaria.

 

Mais. Para o Mundo ser perfeito, nós devíamos nascer com uma entrada USB incorporada, que nos habilitaria a ter uma espécie de Purgatório de ficheiros de recordações.

 

Vejamos um exemplo. Queremos viver a próxima queca com a nossa mulher com a excitação da primeira vez?  Simples. Armazenamos numa «pen» os ficheiros relativos à recordação de todas as quecas passadas.

 

Já lhe passou pela cabeça a enorme pedrada que seria arquivar provisoriamente algumas pastas de ficheiros nesse extraordinário limbo que seria a «pen» da nossa memória e voltar a saborear e viver, pela primeira vez, experiências como o golo de cerveja gelada a acompanhar uma francesinha, o desfrutar da skyline de Nova Iorque (vista do ferry para Staten Island), devorar as aventuras de Astérix (escritas por Goscinny), ouvir a voz de Sandy Denny, ver o «Lost in Translation» e festejar um título de campeão nacional do FC Porto?

 

 

Sab | 19.01.08

Roubaram-me o rádio do Mini. Ao que isto chegou!

Jorge Fiel

 

Isto está pior do que é pintado com cores sombrias no Boletim de Inverno do Banco de Portugal. Estamos a bater no fundo. Ao que isto chegou! Não encontro outra explicação para o facto de um ladrão incauto e incompetente me ter palmado o rádio do Mini.

 

Não guardo muito rancor ao infeliz larápio, que a esta hora já deve estar mais do que arrependido do irreflectido cometido sob a influência de substâncias ilícitas (talvez cavalo) ou lícitas (talvez vinho «bag in box»).

 

Imagino a vergonha porque passou o desgraçado delinquente quando tentou vender o rádio que me gamou. Deve ter sido insultado. Gozado de fininho. Ridicularizado sem piedade. Até enxovalhado! Se calhar até lhe cuspiram e/ou bateram. Estou em crer que os receptadores de artigos roubados podem ser muito cruéis com os seus fornecedores.

 

O meu falecido rádio não valia um chavo. Era uma espécie de eutanásia de auto-rádio. Um naufrágio. E com toda a certeza, foi fabricado muito antes do meu Mini Clubman, que saiu da linha de montagem britânica no já longínquo mas feliz ano de 1974 (25 de Abril, Sempre!).

 

Posso fornecer três preciosas informações que habilitam todos os distintos frequentadores da lavandaria a ajuizarem do elevado grau de estupidez do gajo que me roubou o rádio.

 

1. Não comprei o rádio. Foi-me oferecido pelo meu mecânico, a título de brinde por ir lá regularmente mudar o óleo e afinar os travões. Um dia, fez-me uma surpresa: «Olhe, senhor Jorge, como não tinha rádio eu instalei-lhe um. E lhe não levo nada pelo trabalho…».

 

2. A única estação de FM que eu conseguia sintonizar no meu falecido rádio era a M80, que eu ouvia de vez em quando apesar da emissão chegar cheia de ruídos de fundo, provavelmente causados por electricidade (o diagnóstico é meu, deve ser errado, pois eu não percebo nada destas coisas).

 

3. Como até eu consigo abrir a porta do meu Mini com um corta unhas, tenho por hábito não o fechar à chave, para facilitar o acesso a eventuais ladrões, evitando assim, com este gesto previdente, que eles danifiquem a fechadura ou partam um vidro, num momento desatino.

 

Por essas e por outras, a coberto da noite, o meu Mini tem sido frequentemente inspeccionado por alguns dos melhores e mais reputados gatunos profissionais da nossa praça (sabe-se lá se já não estará estado lá dentro um membro do gang da Ribeira ou do gang rival de Miragaia?) que  passaram criteriosamente em revista o seu interior, buscando debalde algum artigo susceptível de ser comercializado.

 

Um dia, um amador, mais desesperado ou com um critério mais largo, subtraiu-me do interior do Mini um saco azul do Ikea e o mapa Optimus das Estradas 2006, que fora distribuído gratuitamente com o Expresso.

 

Mas nunca, jamais, em tempo algum, os visitantes nocturnos do meu Mini se interessaram pela porcaria do auto-rádio. Até agora. Até se ter atravessado no meu caminho o mais idiota e falhado dos ladrões da Pasteleira. Uma merda. Uma vergonha.

 

Eu estou-me a marimbar para o rádio. O que me chateia mesmo é que o palerma (ou, se preferirem, imbecil) que protagonizou esta triste história assassinou uma das mais bonitas frases que tinha guardada para a minha autobiografia:

 

«Ao longo de toda a minha vida nunca tive problemas com ladrões  - só com policias».

 

O energúmeno (ou, se preferirem, cretino)que se achandrou com o rádio do meu Mini transformou esta verdade numa mentira. O grande estupor - e patife sem nome.

 

 

Qui | 17.01.08

Quanto maiores forem as mamas pior é a queca?

Jorge Fiel

Há soutiens, como o desta cidadã, que podem induzir um homem em erro acerca da abundância e firmeza das mamas da portadora

 

O meu amigo Luciano tem a teoria de que quanto maiores forem as mamas pior é a queca.

 

Na verdade, ele não se chama Luciano, mas eu não vou escrever o seu  nome verdadeiro, para evitar que ele deserte da minha cada vez mais curta lista de amigos.

 

E para ser 100% fiel (e eu sou Fiel!), ele não diz queca. Usa uma palavra de quatro letras que começa por f e acaba em a, tendo no meio um o e um d, que apesar de nosso país ser maldito pronunciá-la na Alemanha tem respeitabilidade suficiente para ser o nome porque é conhecido um craque de futebol que joga na Bundesliga.

 

O Luciano fundamenta a sua teoria no facto das mulheres bem fornecidas de peito se terem habituado a repousar à sombra da bananeira, ou seja na enorme capacidade de atracção dos seus activos frontais, e por isso, relaxam, não se esforçando o suficiente na cama – ou na mesa da cozinha, ou no sofá da sala, ou nas escadas de serviço, ou seja em qualquer dos locais que sirva de cenário às hostilidades – para proporcionarem uma boa performance ao parceiro.

 

Eu percebo o que ele quer dizer, apesar de não estar completamente de acordo com a sua teoria, tanto mais que tive a felicidade de conhecer (no sentido bíblico) portentosas excepções à regra do Luciano.

 

Concordo que uma mulher de mamas grandes tem muito melhor imprensa do que uma que saia ao pai. Isso parece-me óbvio e ululante.

 

E o sábio ensinamento que o Luciano nos quer transmitir é que na cama, como em tudo na vida, o segredo é do sucesso é 2% de inspiração e 98% de transpiração.

 

A minha experiência, acumulada nos tempos remotos em que estava activo no mercado, permitiu-me atestar a verdade de sangue do ditado popular que nos adverte para o facto das aparências iludirem.

 

Há tipas que uma pessoa começa logo a sentir a cabeça a andar à roda só de olhar para elas. Pensamos logo que, se por um daqueles acasos em que a vida é fértil, nos apanharmos em cima dela, nem com uma grua nos conseguem de lá tirar.

 

São umas enganadoras essas mulheres que parece respiram e transpiram sexo, nos obrigam a exercitar o pescoço quando nos cruzamos com elas nas ruas, mas fraquejam por completo, como o Fernando Mamede, quando chega o momento da verdade e se revelam insípidas, inodoras e desenxabidas - uns monos paralíticos.

 

Para compensar estas frígidas desilusões, há aquelas gajas pãozinho sem sal, que um tipo não dá nada por elas, mas que depois se revelam umas endiabradas deusas do sexo, dominando uma vastíssima de gama de conhecimentos e recursos, onde não raro está incluída a técnica da vagina sugadora.

 

Creio que aqui o Camões (o Luís Vaz, não o meu amigo Afonso) tinha toda razão quando nos ensinou que a necessidade aguça o engenho.

 

As mulheres prendadas por Deus e pelo Holmes Place com embalagens de luxo, têm tanta procura que já não sentem a necessidade de se superar quando entram em campo.

 

Já às outras só lhes resta seguir a receita palmelã do meu amigo Octávio: Trabalho, muito trabalho. Elas têm de deixar tudo em campo. De se aplicar dentro das quatro linhas por forma a construir uma sólida reputação de competência que lhes garante um ritmo de procura masculina que impeça a formação de teias de aranha no acesso à vagina.  

 

 

 

Ter | 15.01.08

As minhas contribuições para um Mundo perfeito Parte III subidas e descidas

Jorge Fiel

 

A existência de subidas – estou a referir-me, por exemplo, à subida para o Alto da Graça, em Lisboa, ou à da rua 31 de Janeiro, no Porto (para já não falar da Rampa da Escola Normal!)  - é uma das coisas que mais me faz desconfiar seriamente de que Deus não existe.

 

Se Deus existisse - parece-me - o Mundo seria mais perfeito e por isso não teria subidas. Apenas descidas.

 

Não quero com isto defender um Mundo plano, como pretende o título do «best seller» do nosso preclaro amigo e guru Tomas Friedman, que tenho a certeza absoluta seria um frequentador assíduo da lavandaria caso dominasse a língua de Camões o que, lamentavelmente não acontece, apesar de estar disponível no mercado um curso audiovisual da Berlitz para a aprendizagem do português em nove semanas e meia (presumo que na companhia da Soraia Chaves).

 

Lisboa perderia todo o encanto sensual sem as suas sete colinas, se fosse tão rasa, tão rasa que saísse ao pai, como Amesterdão.

 

O que eu preconizo é um Mundo com descidas mas sem subidas, um objectivo que acredito estar fora do alcance da mão e cérebro humanos.

 

O Homem foi capaz de inventar a roda, o telemóvel, a penicilina e o formidável conceito de férias pagas. Muito provavelmente descobrirá a cura contra o cancro e como evitar a queda do cabelo e parar o envelhecimento.

 

Mas acho que está muito para além da capacidade das nossas célulazinhas cinzentas solucionar a equação da inevitabilidade de que o que se desce agora se subirá depois - e vice versa.

 

Penso que esta inevitabilidade é o prolongamento topográfico do dostoeivskiano principio do castigo que pune o crime e, ainda, uma outra possibilidade de declinação prática do sábio provérbio anglo-saxónico «no pain no gain», que poderá ser liberalmente vertido para a nossa língua com o seguinte enunciado: a única coisa que cai do céu é a chuva, se queres dinheiro ou engatar uma gaja tens de te atirar para o chão (sinónimo de «te esforçares seriamente») para o conseguir.

 

Só uma mão divina poderia substituir todos os elevadores da Bica ou da Glória, ou funiculares de Guindais desta vida, na urgente e premente tarefa de exterminar as íngremes subidas que tornam mais difícil e penosa a nossa passagem por este Mundo.

Seg | 14.01.08

As minhas contribuições para um Mundo perfeito Parte II salários e tempo

Jorge Fiel

 

As políticas salariais e o paradigma vigente de progressão nas carreiras, unanimemente aceites, são, no meu entender (que não é modesto!), uma das mais gritantes evidências de que este Mundo está de pernas para o ar e o pessoal está de tal modo alienado que não repara nisso.

 

Antes de tudo, quero sublinhar que a unanimidade nem sempre é consensual - e que neste particular das políticas salariais eu caio claramente fora da rançosa unanimidade.

 

Não me parece bem que uma pessoa ganhe pouco no seu primeiro emprego e que depois, os seus rendimentos vão lenta e seguramente aumentando à medida que ganha peso, perde cabelo e progride na carreira, atingindo o zénite (ou seja o maior número de zeros no recibo do vencimento) quando está prestes a reformar-se e as decisões mais importantes que lhe resta tomar na vida é se devemser cremados ou ter um enterro verde – e quando vai perder a vergonha e desatar a engolir comprimidos de Viagra uns atrás dos outros.

 

Para mim, é claramente injusta uma sociedade que obriga os seus cidadãos a trabalharem como cães (esta imagem é um bocado estúpida, pois eu nunca vi cães a trabalharem, mas enfim, percebem o que eu quero dizer, se escrevesse «trabalhassem como ucranianos» podia soar xenófobo) quando estão no auge das suas capacidades físicas e mentais -  e adorariam ter tempo livre para viajar, namorar, divertir-se e quecar como se não houvesse amanhã.

 

É claramente injusta um sociedade que paga mal aos seus cidadãos quando eles mais precisam de dinheiro para comprar casa, carro, a máquina de café Nespresso, o LCD, serigrafias do José Guimarães, sofás do Ikea, roupas da Gant ou da Fashion Clinic e Macs coloridos.

 

Está mal. Quando somos novos e mais precisamos do dinheiro e do tempo, obrigam-nos a trabalhar e pagam-nos mal.

 

Quando começamos a cair da tripeça e a levar a sério a pergunta retórica «Olá pá, estás bom?!» (e respondemos: «Obrigado, a tensão arterial anda menos mal, da última vez que a medi estava 14.5/8.3. Mas o colesterol é que não há meio de baixar, tenho mesmo de cortar no queijo e no presunto. Olha, já sabes que o Adriano foi operado à próstata?!») é que estamos financeiramente desafogados e com uma «overdose» de tempo provocada pela moda estúpida de mandar para reforma antecipadamente todas as pessoas que ainda se lembram de na sua juventude terem visto televisão a preto e branco.

 

Num mundo perfeito, em vez de crescer, a quantidade de dinheiro e tempo disponíveis deveria minguar ao longo da vida.

 

 

 

 

Sab | 12.01.08

As minhas contribuições para um Mundo perfeito Parte I emprego e desemprego

Jorge Fiel

 

A minha vida ociosa tem sido mãe para alguns pensamentos, como muito oportunamente me avisou o preclaro Pedro Barbosa Pinto, distinto frequentador desta lavandaria.

 

Como não tenho segredos para as minhas amigos e amigos, início hoje a partilha e socialização de todos os pensamentos de carácter filosófico que vão germinando na minha pobre e desocupada cabeça durante este período em que apesar de continuar a ser depositado no banco, ao fim do mês, o meu gordo salário, estou dispensado do «dever de assiduidade» ao Expresso.

 

De certo, os ilustres membros desta lavandaria não se espantarão se a primeira reflexão, digamos o primeiro momento filosófico visando contribuir para um Mundo perfeito, estiver relacionado com a magna e candente questão do emprego e desemprego.

 

O Mundo está dividido em duas partes: os empregados e os desempregados.

 

O Mundo está ainda dividido em duas outras partes: as pessoas que gostam de trabalhar e os calaceiros com ódio ao trabalho.

 

Muito infelizmente estas partes não são coincidentes.

 

Há gente empregada que odeia trabalhar.

 

Há gente no desemprego que ama trabalhar.

 

O mundo perfeito será aquele em que estas partes sejam coincidentes.

 

Em que os que não gostam de trabalhar e estão a ocupar indevidamente um posto de trabalho sejam enviados para o desemprego, dando a vaga aos que estão desempregados e são viciados em trabalho.

 

A função do Estado é dar o seu melhor no ajustamento entre estas partes, em ordem a proporcionar a felicidade aos seus cidadãos.

 

Sex | 11.01.08

Três coisas que mudam na nossa vida quando estamos desempregados

Jorge Fiel

Ora aqui está um telemóvel igual aquele em que passei a atender números privados e que não constam da minha lista telefónica

 

 

Bom, tecnicamente, eu não estou desempregado. Os meus 95 quilos ainda não pesam naquelas horríveis estatísticas que envergonham o Governo. Pela primeira vez, temos uma taxa de desemprego (8,2%) superior à média comunitária. E desde que Sócrates é primeiro ministro, evaporou-se o emprego para 167 mil profissionais qualificados, dirigentes, quadros superiores e trabalhadores intelectuais e científicos.

 

Não. Até à véspera do 33ª aniversário do 11 de Março (o golpe falhado de Spínola que teve o efeito secundário de acelerar a marcha da Revolução e a nacionalização da banca) o meu contrato de trabalho com o Expresso continua em vigor.

 

Mas como estou dispensado (por carta) do «dever da assiduidade», apesar de, de jure, estar empregado, de facto já cai na triste e ociosa condição de desempregado, com todas as consequências que ela acarreta.

 

Devo esclarecer que não me estou a queixar desta situação de receber o ordenado ao fim do mês e estar «dispensado do dever de assiduidade» (não sei se já repararam, mas adoro esta expressão!). Pelo contrário. Pela minha parte estaria disposto a eternizá-la até à conclusão dos meus dias. Mas estou convencido que o Balsemão, que justamente desfruta da fama de ser mitra, não estaria por esses ajustes.

 

Estes três mesinhos em que estou «dispensado do dever de assiduidade» são uma espécie de treino para o desemprego. Quando estiver a contar para as estatísticas do INE e do IEFP terei a mesma disponibilidade de tempo – mas muito menos dinheiro no bolso.

 

A ideia é boa. Primeiro, habituo-me a viver com excesso de tempo. Numa segunda fase terei de me habituar a viver com falta de dinheiro.

 

Ter muito tempo e pouca nota é uma equação tramada. O meu colega Vítor Norinha (Oje, Vida Económica e só ele saberá para quantos mais sítios escreverá) voluntaria-se sempre para trabalhar ao fim-de-semana usando como argumento o facto de que não gasta dinheiro enquanto está ocupado a trabalhar.

 

Neste momento, sinto-me como os astronautas que se treinam em ambientes de gravidade zero antes de serem enviados para o espaço sideral. Estou a preparar-me para o desemprego técnico, uma situação que deve ter bastantes pontos de contacto com a de ausência total de gravidade.

 

«Dispensado do dever da assiduidade», estou na antecâmara do desemprego e sinto já algumas coisas a mudar na minha vida. Destaco para já três: uma maçadora, uma simpática e uma embaraçante.

 

1. Passei a atender todos os telefonemas que desaguam no meu Nokia 6680. Até agora recusava-me a atender números privados ou que não constavam da minha lista telefónica. Agora topo a tudo, como os polícias. Atendo as chamadas todas, sem excepção. Não posso correr o risco de não atender uma proposta de emprego. Esta disponibilidade tem a funesta consequência de todos os dias ver o meu jantar interrompido por uma menina da TV Cabo que me quer vender o pacote de canais de cinema.

 

2. Todas as pessoas com quem vou almoçar ou jantar fazem questão de pagar a conta. Esta semana, tive de ir a Lisboa. Almocei com a minha amiga Paula Barreiros, numa esplanada da Marina de Oeiras, uma tosta de atum, e pratinhos de polvo com molho verde e tiras de chocos. Ela não me deixou pagar. Jantei com o meu amigo Afonso Camões, na sala com letreiro azul do Solar dos Presuntos, um arroz de lavagante. Ele não me deixou pagar. E ontem, no final do almoço de francesinha, no Bufete Fase, quase que me tive de chatear com o meu amigo Vítor Pinto Basto para ele aceitar que eu pagasse a conta (20 euros certos).

 

3. As noticias espalham-se com alguma celeridade pelo que todos os dias encontro, ou sou encontrado, por uma meia dúzia de amigos ou conhecidos que me fazem a pergunta sacramental. «Então, por que é que saíste do Expresso?». Como devem compreender, já estou um bocado farto desta FAQ. Foi por estas e por outras que publiquei aqui neste blogue (e também no Bússola) o «post» «Notícia de um divórcio» onde (acho eu) está tudo muito bem explicadinho, tim tim por tim tim. Mas a maior parte das pessoas não se fica quando as recambio para uma visita à lavandaria (que está bem precisada de visitas!). Não. Exigem explicações personalizadas e na hora. Vou ter de fazer alguns «prints» do «post» do divórcio -  e andar com eles no bolso para distribuir aos curiosos. Para poupar saliva – porque tempo, esse não me falta desde que estou «dispensado do dever de assiduidade».

 

 

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