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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qua | 31.10.07

"Best of" provisório do matrimónio do pré-septuagenário com a sua segunda ex-mulher

Jorge Fiel
O entusiasmo com que as preclaras e os preclaros receberam o questionário de escolha múltipla sobre o casamento do século, impeliram-me irreversivelmente a não abandonar o tema.

Nesse sentido, em beneficio das minhas distintas amigas e não menos distintos amigos, confeccionei um "best of" do matrimónio entre o pré-septuagenário e a sua segunda ex-mulher.

Com base na leitura exaustiva de jornais e revistas, atribui, na minha imensa generosidade, nove Prémio Roupa para Lavar.

Caras e Correio da Manhã são os grandes e merecidos vencedores de mais esta prestigiante iniciativa da lavandaria, um justo e magnânimo prémio pelo admirável esforço de cobertura jornalista deste incontornável acontecimento, desenvolvido por estas duas publicações de referência.

Aproveitem enquanto dura - porque eu não duro sempre.
 
Prémio fotografia mais maldosa

A revista VIP ganha, sem qualquer, contestação o prémio para a capa mais maldosa. Mas Jorge Nuno Pinto da Costa estava a pedi-las.

O presidente portista deverá abster-se de ir passear o cão de calções azul cueca e com peúgas calçadas. Pior só mesmo com sandálias. E só terá a ganhar se usar uma T shirt para camuflar a sua curva da prosperidade.

O triste preparo em que o feliz noivo aparece na capa da VIP é o preço que ele tem de pagar por ter passado a privilegiar a Caras quando se trata de ventilar a sua tumultuosa vida sentimental, amorosa e sexual.

  
Prémio ocorrência mais insólita

A noiva perdeu os sapatos - um modelo exclusivo desenhado por Luís Onofre - durante a boda.

Presume-se que ninguém os terá raptado, pois eles foram descobertos são e salvos no dia a seguir, por um funcionário da empresa contratada para organizar a festa.

A revelação foi dada em exclusivo mundial pelo Correio da Manhã, o diário lisboeta que se orgulha de contar com Carolina Salgado no seu quadro de colunistas.

A ocorrência da perda dos sapatos permitiu ao diário da Cofina (não é por acaso que Domingos Matos, accionista desta holding foi saneado do Conselho Fiscal portista...)  brilhar a grande altura com um título imaginativo: "Filomena Morais ao estilo Cinderela".

O jornal não esclarece se a noiva partiu descalça para a noite de núpcias, passada no Sheraton Porto, ou se foi de sapatilhas - calçado que o noivo detesta que ela use.

Eu se fosse ao Luís Onofre, autor de uma frase memorável - "Se as mulheres soubessem o efeito que os sapatos de salto alto têm nos homens não usavam calçado de outro tipo" -, ficava com uma enorme cachola.

Se Filomena perdeu os sapatos foi porque os descalçou.

E se os descalçou para outro motivo que não o de empernar com o noivo (do outro lado estava o padrinho António Henriques) por debaixo da mesa, é porque os achou desconfortáveis.


Prémio especulação

Uma fotografia dos sapatos desaparecidos e reaparecidos de Filomena, personalizados com o nome dos noivos, e com um dragão gravado, foi posta à venda ao preço de mil euros.

Prémio esforço desumano

O Correio da Manhã ganha este prémio por ter aberto os cordões à bolsa alugando um helicóptero para fazer fotografias aéreas  do casório. É assim mesmo, rapazes. Nunca se deve baixar os braços!


Prémio a frase mais pirosa sobre o casamento

A Caras ganha este prémio com um conjunto de frases redigidas por um (a) jornalista que na sua imensa modéstia persistiu em guardar o anonimato. Sinto-me na obrigação de salientar duas:

a) "Após uma separação de seis anos, o presidente do FC Porto e a sua ex-mulher voltaram a casar. No passado dia 27, numa bonita cerimónia pelo civil que teve como cenário a Quinta das Alfaias em Vila do Conde.

Esta frase foi seleccionada por um conjunto de razões.

Destaco, em primeiro lugar, o rigor clássico das respostas ao quê, quem, quando, onde - só falta mesmo o porquê, mas isso....

Depois temos o imaginativo adjectivo usado para qualificar a cerimónia - "Bonita" -, que se distingue pela sua elegante e  desarmante simplicidade.

Por último, chamo a atenção para o cinematográfico recurso à  expressão "teve como cenário".

Balsemão deve promover o/a autora. Já! Aguardo por ver na notícia na Intranet. É  da mais elementar justiça.

b) "Num casamento, a noiva é a rainha da festa, e Filomena não foi excepção"

Sem comentários. A eloquência da frase fala por si.

Prémio melhor reportagem fotográfica

A Caras volta a esmagar, ao ter conseguido o exclusivo mundial do casamento do século.

A minha foto preferida é esta, porque JNPC parece estar a abençoar os convidados e apenas se pressente o arroz, que não deve ter sido atirado por cima dos noivos por razões orçamentais - não sei se sabem mas vai o preço do arroz vai aumentar 50%.

O tempo do arroz de quinze já lá vai.


Prémio firmeza

A noiva ganha o cobiçado Prémio Firmeza (há quem diga que o noivo para a conseguir tem de recorrer a comprimidos) ao ter declarado que esta é a última oportunidade que concede a Jorge Nuno.

O bem informado Correio da Manhã cita uma amiga:

"Conforme confidenciou a uma amiga, a noiva não permitirá qualquer deslize ao marido. 'Ela já disse que esta é a última oportunidade que lhe dá. Foi a Filomena quem tomou a decisão de voltar a casar, um pouco a pensar no seu futuro e no bem estar da filha, mas desta vez não vai permitir qualquer deslize'",

O que nos vale é que o velho dragão está habituado a viver sob pressão!


Prémio Infografia Antes e Depois

O Correio da Manhã pulverizou a concorrência com um magnifica infografia onde compara as transformações ocorridas em vários aspectos (cabelo, cara, seios, barriga e pernas) do visual da noiva, no lapso de tempo em que esteve separada do noivo.

Prémio questão em aberto

A lua de mel dos pombinhos ficou adiada .

"A lua-de-mel vai ter de ficar para o final do ano, devido às nossas agendas preenchidas", dixit a noiva na entrevista exclusiva à Caras.

Tudo leva a crer que o destino escolhido será o Brasil. Será que JNPC vai passar a lua de mel a Fortaleza, onde vive Lisa, a sua noiva anterior?

Jorge Fiel
Seg | 29.10.07

Tudo o que não precisava de saber sobre o recasamento entre Filomena e Jorge Nuno

Jorge Fiel
Num esforço desumano para inverter a queda livre das audiências deste blogue, a lavandaria antecipa-se às revistas cor-de-rosa (atenção à próxima edição de Caras, peça já para a guardar, pois ela substituiu a Nova Gente no papel de porta voz oficial do casal Filomena/Jorge Nuno)e publica um extenso e bem documentado questionário sobre o casamento do ano.

Se conseguir ler até ao fim este texto então está de parabéns. É uma pessoa realmente persistente, e verá satisfeita a sua curiosidade por isso ficará a saber a resposta certa -  é sempre a b), como é tradição na lavandaria - a 48 questões pertinentes, mas que muito provavelmente não lhe interessam para nada.

De qualquer maneira leia, faça também um esforço, pois, como se dizia dantes, o saber não ocupa lugar.

Ou, como se diz agora, a prosperidade e progresso baseiam-se no paradigma do conhecimento.



1. Quantos anos vai fazer o noivo no próximo dia 28 de Dezembro?

a) 69 anos;

b) 70 anos;

c) 100 anos;

2. Qual é a diferença de idade entre os noivos?

a) Não há, são da mesma idade;

b) 24 anos;

c) Ninguém sabe, tanto mais que as mulheres a partir de determinada altura começam a mentir na idade. ...

3. Onde é que Jorge Nuno e Filomena Morais se encontraram pela primeira vez:

a) No Calor da Noite, em Costa Cabral;

b) No falecido Estádio das Antas;

c) No santuário de Fátima.

4. De que cor era o cabelo de Filomena quando conheceu Jorge Nuno:

a) Alourado com madeixas;

b) Castanho escuro;

c) Ruivo avermelhado;

5. Qual é a cor actual do cabelo de Filomena?

a) Castanho escuro;

b) Alourado com madeixas;

c) Azul e branco, à Wanda Stuart.

6. Qual era a relação profissional entre Filomena e o seu futuro bimarido?

a) Empregada da limpeza;

b) Secretária;

c) Enfermeira.

7. Que idade tinha Filomena quando conheceu o seu binoivo?

a) 13 anos;

b) 21 anos;

c) 46 anos.

8. Quem escolheu Filomena para secretária pessoal do presidente do FC Porto?

a) O próprio;

b) Um colega da direcção que, apesar disso, não foi convidado para nenhum dos casamentos;

c) A Heidrick & Struggles;

9. Qual foi o conselho que Jorge Nuno Pinto da Costa deu ao colega que se encarregou do recrutamento de Filomena para sua secretária?

a) Escolhe a mais bonita:

b) Escolhe a mais feia;

c) Escolhe a mais eficiente.

10. Porque é que Pinto da Costa queria uma secretária feia?

a) Tem um fetiche muito raro que o faz ficar extremamente excitado do ponto de vista sexual na presença de mulheres feias;

b) Para evitar que os colegas de direcção andassem sempre a rondar-lhe o gabinete só para namorarem com a secretária;

c)  Porque está convencido de que quem o feio ama bonito lhe parece e tinha acabado de ouvir uma canção de Serge Gainsboug em que ele realça que "a grande vantagem da fealdade em relação à beleza é que a fealdade permanece"..

11. Durante quanto tempo Filomena secretariou Pinto da Costa?

a) Nove meses, depois engravidou;

b) Quatro anos;

c)Uma semana.

12. O que é que foi fazer Filomena após se ter despedido do FC Porto?

a) Passou a gerir o quiosque de jornais do Café Velásquez;

b) Abriu uma loja de decorações na Torre das Antas;

c) Foi para o Fundo do Desemprego.

13. Quando Filomena usava calças de ganga ou sapatilhas,  Pinto da Costa ficava:

a) Radiante;

b) Detestava;

c) Não fazia sexo com ela durante uma semana, só para a castigar, mas ela agradecia.

14. Em que ano Filomena e Jorge Nuno casaram pela primeira vez:

a) 1933, o ano que ficou completo o edifício jurídico do Estado Novo, com a aprovação da Constituição e do Estatuto do Trabalho Nacional;

b) 1998, o ano da Expo de Lisboa

c) 1988, o ano em que nasceu Joana, a filha do casal;

15. Que clube convidou Filomena para relações públicas depois dela se ter divorciado de Pinto da Costa:

a) Bayern de Munique;

b) Benfica;

c) Salgueiros.

16. O que é que Filomena achava do desempenho familiar de Jorge Nuno:

a) "É óptimo, amigo do seu amigo, sempre pronto a levar-me o pequeno almoço à cama"

b) "É uma desgraça. É  incapaz de encarar as situações"

c) "A alma dele foi substituída por uma prótese"

17. Segundo Filomena, qual é o pior vicio de Pinto da Costa:

a) A bebida;

b) As mulheres;

c) O jogo.

18. Como é que Filomena caracterizou Jorge Nuno numa entrevista que deu ao Expresso a 12 de Julho de 2003:

a) Um santo que depois de morrer ainda vai ser beatificado pelo papa;;

b) Um mentiroso, viciado em mulheres e com comportamentos indignos;

c) Um tarado sexual encharcado em Viagra.

19. Como é que Jorge Nuno reagiu à publicação dessa entrevista?

a) Mandou-lhe um magnífico ramo de flores;

b) Invadiu-lhe a casa, acompanhado do seu motorista e guarda costas e, segundo ela, agrediu-a;

c) Ofereceu-lhe um bolo rei da Petúlia e convidou-a para um jantar romântico no Degrauchá.

20. Onde estava o trio constituído por Carolina Salgado, Joana e Jorge Nuno quando a primeira aplicou um sonoro tabefe na cara da segunda?

a) No Jardim Zoológico de Lisboa, junto à Aldeia dos Macacos;

b) No Restaurante Degrauchá, na zona do Foco;

c) Numa suite do Hostal dos Reyes Católicos, em Santiago de Compostela, a experimentarem todos pijamas azuis decorados com pequenos elefantes a branco que tinham comprado no El Corte Inglês de Vigo.

21. Qual é o/a proprietário/a do restaurante Degrauchá onde Carolina esbofeteou em público a ex-futura enteada?

a) O pai de Carolina Salgado;

b) o major Valentim Loureiro;

c) Filomena Morais;

22. Que curso tirou, com distinção, Joana, filha de Filomena e Jorge Nuno, nas suas horas livres:

a) Sushi, bonsai e jardins japoneses;

b) Arbitragem;

c) Kung fu.

23. Do ponto de vista do conhecimento público, com quantas mulheres viveu Jorge Pinto da Costa:

a) 52.002 (um número fetiche pois essa é a lotação do Estádio do Dragão):

b) Seis (Manuela Carmona, Filomena, Maria Elisa, Carolina, Florbela Ferraz e Lisa);

c) Já ninguém sabe ao certo.

24. Quantas namoradas Jorge Nuno levou a visitar a casa que está a construir em Miramar para elas darem a sua última palavra sobre as divisão do espaço na moradia:

a) Cinco (Maria Elisa, Carolina Salgado, Florbela Ferraz, Lisa e Filomena);

b) Quatro (Maria Elisa, Carolina e Lisa e Filomena);

c) Já ninguém sabe ao certo.

25. Para onde vão viver os noivos?

a) Para a casa de Miramar que finalmente já está pronta;

b) Para uma moradia na zona da Foz;

c) Para um andar em Rio Tinto que compraram a bom preço a Juca Magalhães, que se vai mudar para Miramar.

26. Onde é que teve lugar a boda de recasamento de Filomena Morais e Jorge Nuno Pinto da Costa?

a) Estádio do Dragão;

b) Quinta das Alfaias, em Vila do Conde;

c) Capela do Estádio da Luz;

27. Qual foi a primeira escolha de Filomena para local da boda:

a) Mosteiro dos Jerónimos;

b) Quinta de Serralves;

c) Capela do Estádio da Luz.

28. Por que é que Jorge Nuno vetou a hipótese Serralves:

a) Detesta arte contemporânea;

b) Ficava muito caro;

c) Temia que o Rui Rio aparecesse por lá.

29. Qual foi o preço do "catering" por convidado?

a) 25 euros e 50 cêntimos;

b) 150 euros;

c) Não interessa porque quem vai pagar é o FC Porto.

30. Qual foi o estilista responsável pelos sapatos da noiva?

a) Imelda Marcos;

b) Luís Onofre:

c) Comprou-os ao calha na Bata do Norteshopping.

31. Onde é que foi comprado o vestido da noiva?

a) El Corte Inglês de Vigo;

b) Numa boutique em Barcelona;

c) El Corte Inglès de Gaia.

32. Qual foi a cor do vestido da noiva:

a) Rosa salmão;

b) Branco;

c) Azul e branco.

33. Qual foi a cor dominante na decoração da quinta no dia da boda?

a) Ouro;

b) Prata;

c) Azul e branco.

34. Quem foram os padrinhos do noivo?

a) Maria Barroso e Antero Henriques;

b) Manuela e Ramalho Eanes;

c) Leonor Pinhão e João Botelho.

35. Quem foi a madrinha da noiva?

a) Carolina Salgado;

b) Joana Pinto da Costa;

c) Maria Elisa Domingues.

36. Que ex-primeiro ministro de Portugal foi um dos 200 convidados para o casamento?

a) Francisco Sá Carneiro;

b) Pedro Santana Lopes:

c) Francisco Pinto Balsemão.

37. Que ex-ministro das Finanças não tem GPS no carro e perdeu-se pelo caminho para a Quinta das Alfaias, em Vila do Conde, apesar de em anexo ao convite para o casamento constar um mapa com o acesso ao local?

a) Eduardo Catroga;

b) Miguel Cadilhe;

c) António de Oliveira Salazar;

38. Qual destes três ex-treinadores do FC Porto esteve no casório?

a) Co Adriaanse;

b) Artur Jorge;

c) Octávio Machado.

39. Que ex-presidente do Benfica compareceu no casamento?

a) Jorge de Brito;

b) Fernando Martins;

c) Vale e Azevedo.

40. Qual foi a única pessoa que se zangou com Filomena no âmbito do divórcio tumultuoso com Pinto da Costa mas mesmo assim esteve presente no casamento?

a) Fernando Póvoas;

b) O próprio noivo, Jorge Nuno Pinto da Costa:

c) Reinaldo Teles.

41. Onde é que Jorge Nuno Pinto da Costa escondeu Carolina Salgado durante um mês e meio, depois de Filomena Morais a ter ameaçado com escândalos públicos após ter descoberto os dois pombinhos (o marido e a ex-alternadeira) a passearem os cães junto à casa onde viviam, na Madalena (Vila Nova de Gaia)?

a) Em casa de Fernando Madureira, aka Macaco, o líder dos Super Dragões;

b) Em casa de Reinaldo Teles;

c) Num apartamento do Ocean Club, na praia da Luz, em Lagos.

42. O que é que Filomena acha de Reinaldo Teles:

a) "O Reinaldo é a única pessoa em que o meu marido pode confiar, além do Bobby, o cocker dourado";

b) "O Reinaldo não é amigo de ninguém, usa as pessoas como lhe convém";

c) "O Reinaldo tem a virtude de conseguir voar sempre abaixo da linha de radar".

43. De que malfeitoria é acusado por Filomena o médico Fernando Povoas, ao ponto de ter vetado a sua presença no recasório?

a) Ter-se recusado a passar-lhe uma receita de Xanax;

b) Ter promovido e estimulado os romances que o seu ex- e actual marido manteve com Carolina Salgado e a empresária Florbela Ferraz;

c)  Esqueceu-se de lhe passar o atestado médico indispensável para ela se poder inscrever no Holmes.

44. Como é que Póvoas encarou o facto de ter sido barrada a sua entrada na lista de convidados?

a) Mal, ao ponto de ter decidido voar para Xangai, no dia do casamento, na companhia de Manuel Serrão;

b) Bem, ao ponto de ter sido o braço direito do noivo nos preparativos para a boda;

c) Mal, ao ponto de ter ido afogar as mágoas para o Calor da Noite.

45. Porque é que o célebre padre Jorge, de Mafamude, que abençoou as alianças no primeiro casamento de Filomena com Jorge Nuno, não foi convidado para desempenhar novamente a mesma tarefa?

a) Porque Filomena mudou no entretanto de religião, convertendo-se ao budismo;

b) Porque Filomena não perdoa a padre Jorge o facto deste ter ajudado Jorge Nuno a levar Carolina ao Papa;

c)  Porque Filomena gosta de variar e já que o noivo é o mesmo optou por mudar de padre na bênção das alianças.

46. O que é a cerimónia de bênção das alianças?

a) Uma graçola inventada por Pinto da Costa e inspirada na benção das pastas, durante a Queima das Fitas;

b) Um subterfúgio para conferir alguma religiosidade a um casamento que não podia ser celebrado pela Igreja, uma vez que Pinto da Costa queimou essa hipótese no primeiro casamento com Manuela Carmona;

c) Um ritual vodooo que, como se vê não dá grande resultado já que não impediu uma primeira e feia separação entre os noivos.

47. Quem é que abençoou as alianças no casamento de sábado passado:

a) O bispo do Porto;

b) O padre José Pinto, primo da noiva;

c) O padre Borga.

48. O que é que o padre Borga comentou ao "Crime" a propósito da cerimónia de bênção das alianças?

a) "Espero que usem água do rio Douro";

b) "Há padres para tudo. Se encontrarem um padre que se preste a esse número..."

c) 'Temos de pensar que o Mal é o impulso mais poderoso que há desde o princípio do Mundo e que é urgente encontrar um remédio, um travão, para o Mal'

Jorge Fiel
Sex | 26.10.07

This is the end, beautiful friend, this is the end, my only friend, the end

Jorge Fiel


Até mesmo um tipo tão distraído como eu já percebeu que o povo da lavandaria está a ficar farto deste fastidioso inventário das 100 coisas que amo no Porto, que conhece hoje o seu epílogo.

A primeira prestação desta lista recebeu cerca de quatro mil visitas, enquanto a última desespera para chegar aos 650. Ou seja, isto está em queda livre.

Desconheço se o facto do último "post" ter ido para o ar com um título em francês contribuiu para a miserável audiência que teve.

Pode ter sido, mas como eu sou muito casmurro persisto nos títulos em língua estrangeira, mas desta vez em inglês.

Para assinalar o ponto final nesta seca, copiei um verso de uma das mais fantásticas canções ("The End") dos Doors, servida por um poema assassino, em que o Jim Morrison declara querer matar a mãe e o pai.

Como se sabe, o Jim acabou por patinar primeiro que os pais. A propósito, confesso-vos que já fui ao Père-Lachaise, em Paris visitar a campa dele, que, em si, é uma desilusão. A única vantagem do túmulo do Morrison é funcionar como chamariz para um cemitério que tem belos jazigos, como o do Géricault (o pintor da "Jangada da Medusa").

CAFÉS

81. Bogani Café

Abortado como projecto empresarial (foi pensado pela Unicer como o primeiro de uma cadeia de cafés cheios de "panache", projecto entretanto abortado), o Bogani, no Cais de Gaia, oferece a partir da sua esplanada duas das melhores vistas do Porto - a mais clássica, a montante, e a mais inesperada, a curva do rio, a jusante. O moderno mobiliário Philippe Starck é bastante confortável.



82. Piolho

É o santuário de sucessivas gerações de estudantes. Tive escritório montado durante a quase toda a década de 70 no mítico Piolho, que no ocaso do Estado Novo (não confundir com a discoteca homónima) albergou todo o Contra, desde spontex até aos PC's (então chamados de "revisas" pela extrema-esquerda), passando por todas as variantes (e eram muitas...) de maoistas, trotskistas, situacionistas e freaks. Alguns exemplos avulso: Arturinho a la Gauche, Augusto Santos Silva, José Pacheco Pereira, João Botelho, António Pinho Vargas, Manuel Resende, Pedro Baptista e o falecido filósofo Francisco Sardo. Piolho é alcunha. Na verdade, chama-se Âncora de Ouro, mas ninguém o conhece por esse nome. Este café encerra em si o valioso segredo de nunca passar de moda.

83. Botânica

É o café que mais frequento. Por razões de conveniência geográfica, uma vez que fica meio caminho entre a minha casa (Pasteleira) e o escritório do Expresso no Porto (Júlio Dinis, perto da Rotunda da Boavista). Mas também devido à sua esplanada que fica em frente ao Jardim Botânico. É uma esplanada para todas as estações, porque está parcialmente protegida da chuva pelas oportunas arcadas do prédio. Tem a enorme vantagem de abrir muito cedo (não quero jurar, mas penso que às sete já está de porta aberta) e o pequeno inconveniente de fechar aos domingos.


84. Chalé Suisso

Este pequeno café com esplanada, no Jardim do Passeio Alegre, é o meu pouso preferido para as manhãs de sábado A elegante singeleza da sala (minúscula) e da esplanada, outrora frequentadas por Camilo Castelo Branco e Alberto Pimentel, compensa amplamente a ausência de casas de banho privativas. O que para os homens até uma vantagem já que os obriga a frequentar, no meio do jardim, junto ao mini-golfe, o mais bonito e asseado urinol público do país.

85. Majestic

É um clássico. O escritor lisboeta David Mourão Ferreira resumiu o essencial numa frase: "Nunca venho ao Porto sem ao menos dar um salto a este belo café Majestic, que não hesito em considerar como um dos que em toda a Europa melhor conserva a atmosfera do início do século XX". A fama e luxuosa beleza aristocrática deste café, que transporta até aos nossos dias um elegante ambiente Belle Époque, leva a que o contingente de clientes que folheiam guias turísticos suplante em número a freguesia indígena. A festa de inauguração do café, a 17 de Dezembro de 1921, foi rija e contou com a presença de gente importante à época, como Gago Coutinho (que voltaria ao café acompanhado pela estonteante e emergente actriz Beatriz Costa) ou que viria a sê-lo, como o cineasta Manoel de Oliveira. Com os espelhos e dourados, o Majestic fez furor e acolheu nos seus sofás de veludo vermelho muitas tertúlias literárias e artísticas, animadas por gente diversa como Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes, José Régio ou António Ferro.

86. Ourigo

Não tenho a menor das dúvidas em declarar a esplanada marítima do Ourigo como a mais espectacular do Porto. É a número um. A cozinha nunca foi o forte deste café-restaurante, que agora está a atravessar uma fase japonesa. Mas a localização privilegiada da esplanada (situada numa plataforma sobre a primeira praia a norte da foz do Douro) desculpa tudo. Os fins de tarde são demolidores. O barulho das ondas a embater nas rochas (que salpicam de água salgada os mais audazes na escolha de mesa) é música para os ouvidos.



87. Lais de Guia

Este café de madeira com esplanada, implantado no areal, é um dos oásis que serve o largo e despojado Passeio Atlântico, a marginal desenhada por Souto Moura que faz de separador entre a praia os prédios de apartamentos da moderna zona de Matosinhos Sul, erguidas nos quarteirões outrora ocupados por fábricas e armazéns, predominantemente ligados à indústria conserveira.

88. Leitaria da Quinta do Paço

Os "eclair" recheados com chantilly, disponíveis em dois formatos, são pura e simplesmente míticos. A leitaria já tem ramificações em centros comerciais mas não nestas coisas não há nada que chegue à sede.

CASAS DE CHÁ

89. Casa de Chá de Serralves

Fronteira ao antigo campo de ténis da Casa de Serralves, que nos quentes fins de tarde de Verão acolhe os concertos do programa Jazz no Parque. A Casa de Chá é um pedaço do Paraíso emprestado à Terra, um formidável refúgio de tranquilidade onde se pode comer scones e beber chá num fascinante ambiente de sonho.

90. Casa de Chá da Boa Nova

Sob a designação geral Casa de Chá (a primeira e uma das mais justamente cantadas obras de Siza Vieira, datada de 57), respondem uma casa de chá propriamente dita e também um restaurante. O mar, a beleza agreste do local, o barulho e movimento das ondas, as linhas depuradas de uma arquitectura de primeira água, deixam pouco espaço para o peixe grelhado ou para as cataplanas. A segunda obra de Siza foi a Piscina das Marés, também na Marginal de Leça, que exige uma visita.


RESTAURANTES

91. Adega Vila Meã

Em Lisboa, é hábito dizer-se que no Porto se come bem e são servidas doses abundantes. A descrição assenta como uma luva a este restaurante, o sítio certo para ir se queremos que nos sirvam à mesa doses pantagruélicas do que melhor se confecciona no país em termos de comida genuinamente portuguesa. Na lista acotovelam-se o Bacalhau Escachado, a Posta e as Febras de Salpicão, que sofrem a concorrência dos pratos do dia: as Pataniscas de Bacalhau com Arroz de Feijão, o Polvo assado, os Filetes de Polvo, o Sarrabulho à Moda de Ponte do Lima, enfim... Quinta é o dia do monumental Cozido à Portuguesa (atenção que um quarto de dose derrota o garfo mais exigente) e por isso é mais avisado reservar mesa.

Rua dos Caldeireiros, 62

92. Antunes

Dirigido pela irmã de Reinaldo Teles, este restaurante vive um ambiente buliçoso durante os almoços de semana, alimentando trabalhadores de diferentes ofícios, com especial atenção para o habitualmente bem fornecido contingente da Câmara Municipal do Porto. A refeição recomendada integra Pernil de Porco Assado, regado a vinho da casa e sobremesado com as afamadas rabanadas, que são uma das especialidades da casa. Mas durante a semana, os pratos do dia revisitam a tradição da gastronomia tradicional portuguesa, o cozido, as tripas, os rojões - e também o arroz de pato.

Rua do Bonjardim 525/529.

93. Marisqueira de Matosinhos

Tem tudo o que de bom pode esperar de uma marisqueira de Matosinhos. O restaurante onde o sportinguista Miguel trabalha desde os 14 anos e se tornou sua propriedade na sequência dum MBO acordado com Henrique Torres, o antigo patrão (que frequentemente é lá visto a almoçar), é uma Meca para quem demanda mariscos frescos e saborosos - camarão de Espinho, gordas gambas, ostras, percebes, búzios, camarões tigres e por aí adiante. Mesmo que seja doido por marisco, dê, por favor, uma oportunidade ao rosbife.

Rua Roberto Ivens, 547

94. Portucale

No sítio mais alto da cidade está aquele que é considerado o restaurante mais requintado do Porto. Se o dinheiro não é um problema, abra as hostilidades com crepes de lagosta, míscaros grelhados ou um sofisticado Mil folhas de foie gras com trufas, servido com gelatina de Vinho do Porto. Depois siga com um Linguado Walewska, uma perdiz estufada com castanhas, ou o incontornável bife flamejado confeccionado à nossa frente, para grandes espanto dos outros comensais desconhecedores desta hipótese. A lista de vinhos é irrepreensivelmente completa. Se é de sobremesas, experimente a encharcada de ovos.

Rua da Alegria 598


95. Bull & Bear

Uma bem sucedida fusão entre a "nouvelle cuisine" e a cozinha tradicional portuguesa foi operada por Miguel Castro Silva, como se pode comprovar por uma simples visita a este restaurante. Os nomes dos pratos históricos são a prova dos nove da bondade e ousadia deste matrimónio: Ameijoas com feijão manteiga, Bacalhau com Porto Vintage, no Franguinho Recheado com Sabores Portugueses, Pescada com Camarão e Alho. Esta cozinha é imperdível. "Esteja onde o Miguel estiver é sempre de ser ir gastronomicamente atrás dele", Quitério dixit. Sigamos o Miguel!

Avenida da Boavista 3431





96. Cafeína

Apesar de estar de porta aberta há uns anos, continua a ser um dos mais "trendys" restaurantes do Porto, provavelmente devido aquele "je ne sais pas quoi" que Vasco Mourão empresta aos seus projectos. O facto das mesas estarem muito juntas é inibidor de pedidos de casamento ou conversas confidenciais. O Magret de Pato é uma boa opção numa lista variada, onde não faltam as massas frescas e uma razoável oferta de carpaccios.

Rua do Padrão 100, 226108059

LIVRARIAS

97. Lello

A Lello é a mais bonita livraria do Mundo. Enrique Villa-Lobos escreveu-o assim mesmo, sem a cautela do "provavelmente", no El Pais e nós não temos a mínima razão para desconfiar dele. A boca dos forasteiros abre-se mal olham para a monumental fachada neogótica, riscada pelo engenheiro Xavier Neves, e vão mantendo a boca escancarada até que saem - desde que deparam com a esplendorosa escadaria que liga os três andares e à medida que mergulham no interior desta livraria onde estão expostos 60 mil livros. Vasco Morais Soares, o arquitecto que dirigiu a renovação interior desdobra em palavras esta sensação de belo: "Transformámos a livraria sem lhe retirar o espírito vetusto, a monumentalidade neogótica e principalmente a luz coada que ali nos envolve como numa catedral ou na imaginação de um livro de Dickens, que, sem impor, sempre obriga a falar em voz baixa". Nesta remodelação, operada em 1995, o piso de cima, antigo balcão da caixa, foi convertido em bar, um espaço acolhedor onde se pode beberricar um Porto enquanto se folheia um livro ou se espreita na parede a carta do pai de Eça em que este recomenda aos editores o trabalho do filho, argumentando que "o rapaz" tinha queda para as letras.

98. Académica

Se perguntar a Mário Soares qual é o sítio certo para ir quando se está à procura de um livro antigo ou de uma raridade bibliográfica ele responderá, com toda a naturalidade que é a Livraria Académica, no Porto. Nuno Canavez, o proprietário, é provavelmente o melhor alfarrabista do país, gosta de manter na sua livraria uma animada tertúlia (que conta coma valiosa participação do meu amigo Germano Silva o maior especialista vivo em questões portuenses) e está sempre disponível para dar um conselho.

E AINDA

99. Marginais

As marginais marítimas e fluviais do Porto, Gaia e Matosinhos (neste caso só marítima) são fantásticas. Do lado de Gaia, há que creditar a Menezes a recuperação de muitos quilómetros de marginal, que passaram a ser servidos por belos e funcionais passeios. Aquilo está um brinquinho. E não é só fachada. Não é por acaso que Gaia é o concelho do país com mais bandeiras azuis. Do lado do Porto, a marginal marítima pede um passeio a pé entre os castelos da Foz e do Queijo, tropeçando aqui e ali nas magníficas e abundantes esplanadas da Foz, que como nota Richard Zimler (escritor nova-iorquino radicado no Porto), correm o risco de passar despercebidas aos forasteiros apressados: "Cafés, restaurantes e passeios situam-se na zona mais baixa da beira-mar e facilmente passam despercebidos ao olhar dos passantes mais acima, na Avenida do Brasil. Acontece-me pensar que muitos visitantes da cidade, ao passarem velozmente de carro a caminho de algum restaurante de Matosinhos ou de algum clube na Foz, talvez nunca venham a aperceber-se que existe mais abaixo um mundo onde flores silvestres brotam ao longa de veredas emaranhadas, onde jovens fazem os possíveis para serem vistos nos sítios mais 'in' e os grafitos gritam das paredes a rudeza das suas mensagens". E, chegado ao castelo do Queijo, se não lhe faltar o fôlego, faça a si próprio o favor de continuar em direcção a Matosinhos, passando pelo Edifício Transparente e Anémona até aceder ao calçadão desenhado por Souto Moura. Se estiver cansado, retempere forças com uma escala no Lais de Guia.

100. Universidade do Porto

Eu sou um ex-aluno da UP e tenho muito orgulho nisso. Licenciei-me em História, na FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), em 1980, no final de um curso acidentado, que começou no Seminário do Vilar e acabou na rua do Campo Alegre, se iniciou com a duração prevista de cinco anos e depois bruscamente, num "avant la lettre" de Bolonha, encurtou para quatro no Verão em que eu passei para o 5º ano. A Universidade do Porto é a maior do país e alberga cursos (Arquitectura, Engenharia, Medicina, só para citar três exemplos) cuja qualidade desperta muito justamente a cobiça alheia. Cosmopolita, com o seu milhar de estudantes estrangeiros, a UP é um dos mais vigorosos órgãos de soberania do Porto - e o mais fundamental numa altura em que o conhecimento é, mais do que nunca, a base do progresso e prosperidade.

Jorge Fiel
Ter | 23.10.07

La culture est très importante pour le dèvelopment ecónomique et social de l'humanité

Jorge Fiel


Et voilá! As artes e a cultura predominam nesta quarta e penúltima prestação da minha declaração de amor em 100 pontos ao Porto, que é imortalizada com um título na língua de Voltaire, Descartes e Laetitia Casta, com o subido objectivo de conferir à lista um suplemento de elevação e "panache".

Para além da arte pública, da arte privada e dos museus, é a hora para falar da clorofila e das vistas. Os cafés, casas de chá, restaurantes e restantes pernículos serão abordados no último acto deste inventário que já vai longo.

ARTE PÚBLICA

61. Anémona

Instalada no espaço aéreo da praça Conde S. Salvador, a porta de entrada em Matosinhos pela beira mar é talvez a mais vistosa obra de arte pública no Porto - e a minha preferida. A autora, a norte-americana Janet Echelman, baptizou-a "She Moves" mas o pessoal rebaptizou-a "anémona" - e fez bem. A enorme rede, de um vermelho acobreado, simboliza a rede de pesca e é, portanto, uma homenagem aos pescadores . As três torres em que a rede assenta evocam as chaminés das fábricas conserveiras de Matosinhos, que nos tempos áureos da indústria foram 50, das quais apenas duas (Pinhais e Ramirez) sobreviveram.

62. Menina Nua

Poucos portuenses sabem o verdadeiro nome desta estátua: "Juventude". É uma fonte decorativa em mármore e pedra lioz. A água brota de quatro bocas em forma de carrancas, uma em cada face do pedestal. Sentada neste, uma figura académica de mulher representando uma alegoria de juventude (o que explica a designação popular). O escultor é Henrique Moreira, nascido em Avintes em 1890 e falecido em 1979; este discípulo de Teixeira Lopes que aprendeu com um santeiro, cursou Belas Artes e ficou conhecido como "o escultor do Porto".

63. Treze a rir uns dos outros

Surpreendente conjunto escultórico do espanhol Juan Muñoz (foram a sua última obra pois morreu, prematuramente, logo a seguir), instalado no Jardim da Cordoaria. Compreende quatro bancadas por onde se distribuem 13 figuras de feições chinesas que compõem grupos de conversadores sorridentes, em posições inesperadas - um deles cai para trás, não se sabe se empurrado ou se desequilibrado pelo riso.


64. Colher de Jardineiro de Oldenburg

Toda a cidade que se preze tem uma escultura gigante da autoria da dupla constituída pelo sueco Claes Oldenburg e o holandês Coosje van Bruggen. Filadélfia tem a Mola de Roupa. Chicago tem a Coluna Bastão. Barcelona tem a Carteira de Fósforos. Tóquio tem a Serra. Colónia tem o Cone de Gelado Caído. Eindhoven tem os Pinos Voadores. O Porto tem a Colher de Jardineiro, uma escultura de dimensões generosas (7,3m x 1,3m x 1,4m), feita de aço inoxidável, alumínio, plástico reforçado com fibra, pintada com esmalte acrílico, que está enterrada no Jardim de Serralves e é visível a quem passa pela avenida Marechal Gomes da Costa.






65. Painel Ribeira Negra

Na base da encosta de Guindais, junto ao início do tabuleiro inferior da ponte D. Luiz, o mestre Júlio Resende desenhou uma intensa dramatização da vida na zona da Ribeira. Produzido em 1985 o painel (40 metros de comprimento por 4,8 m de altura) evoca a densa atmosfera do local.

66. Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular

A primeira pedra deste monumento - instalado no meio do jardim central da Rotunda da Boavista - foi lançada pelo rei D. Manuel II, em 1909. A sua construção não foi rápida. Apenas foi concluído e inaugurado 42 anos depois (em 1951), pelo Presidente da Republica Craveiro Lopes. O leão (inglês) a despedaçar a águia (francesa) permite segundas leituras - futebolísticas. Em 1987, era eu chefe de Redacção de "O Comércio do Porto", usei a fotografia dessa escultura para ilustrar a peça referente aos célebres sete a um que o Sporting enfiou ao Benfica.













ARTE PRIVADA

67. Auto-retrato de Aurélia de Souza

Nunca me hei-de cansar de ver da intensidade do olhar, da perturbadora frieza das feições, do ar grave e sério com que a pintora se retrata, fazendo o seu próprio caminho e afastando-se da estética naturalista do "mainstream" da pintura portuguesa da segunda metade do século XIX, onde pontificavam Columbano, Silva Porto e Malhoa. Este auto-retrato está exposto no Museu Nacional Soares dos Reis.









68. O Desterrado

A obra maior do escultor portuense, feita na sua juventude (tinha 24 anos), tem uma história quase tão dramática quanto a do seu autor, que se suicidou com dois tiros na cabeça, aos 42 anos, na sequência de uma profunda depressão. O Desterrado começou a ser esculpido em mármore de Carrara, em Roma (onde Soares dos Reis viveu como bolseiro após ter fugido de Paris por causa da Guerra Franco-Prussiana), e acabou de ser concluída no Porto. O sucesso internacional da obra levou os invejosos a questionarem à boca pequena a sua autoria, calúnia que acabaria por ser completamente desmontada. O Desterrado e, logo a seguir, a Flor Agreste, são as minhas duas obras preferidas de Soares dos Reis. Ambas estão expostas no museu que transporta o seu nome.

69. Fons Vitae

O melhor quadro em exposição no Porto é muito provavelmente o Fons Vitae, uma pintura a óleo sobre madeira de carvalho de dimensão generosa (2m67m x 2m10), que pode ser visto na sede da Misericórdia do Porto. Pintado por volta de 1520, por um anónimo flamengo, retrata um tema raro: uma fonte coroada por um calvário e alimentada pelo sangue de Cristo - "fonte de misericórdia, fonte de vida, fonte da piedade", reza a legenda. No plano superior, Cristo crucificado é ladeado pela mãe e por S. João Evangelista. No nível inferior, terreno, dispõem-se à volta da fonte 32 figuras - no primeiro plano estão o rei D. Manuel, a rainha e os seus oito filhos. O vermelho do sangue de Cristo, impressionante no encher da fonte, prolonga-se nas vestes de S. João Evangelista, do Rei, da Rainha e dos seis infantes.

MUSEUS

70. Museu Nacional Soares dos Reis

O antigo Palácio Carrancas é desde 1940 um museu que tem em exposição permanente a sua colecção, com três núcleos particularmente ricos: escultura de Soares dos Reis, pintura portuguesa dos séculos XIX e primeira metade do século XX (com especial destaque para Henrique Pousão e Vieira Portuense), e faiança proveniente das famosas fábricas do Porto e Gaia. Merece ainda referência as colecções de ourivesaria (peças religiosas e civis), de mobiliário, têxteis e vidro.

71. Museu de Arte Contemporânea (Serralves)

A mais valiosa peça da colecção deste museu está em permanente exposição. Trata-se do edifício riscado por Álvaro Siza, com as suas linhas simples e depurados ("less is more") e as fabulosas janelas rasgadas. O Porto tem o mais bonito e mais admirado museu do país, que Mário Cláudio olha como "um iate colossal que demanda o Norte da sua navegação". É também o mais visitado.





72. Museu Romântico da Quinta da Macieirinha

Dê largas ao seu "voyeurismo" espreitando como viviam os ricos e poderosos do século XIX com uma visita a este museu, que usa a casa da Quinta da Macieirinha onde Carlos Alberto, rei do Piemonte e da Sardenha, viveu o exílio portuense que consumiu os últimos tempos da sua vida no exílio portuense.

PARQUES E JARDINS

73. Parque da Cidade

Nova Iorque tem o Central Park. Londres tem o Hyde Park. O Porto tem o Parque da Cidade. Nova Iorque e Londres só podem invejar-nos o facto de termos um parque com saída para o mar. O remate da frente marítima, concebido pelo arquitecto catalão Manuel Solà-Morales, foi genial. Se não era possível levar o parque até ao mar, levava-se o mar até ao parque. E assim se fez, sob o patrocínio da Porto 2001. Máquinas desaterraram e deixaram o mar ir até ao parque. Engenhoso, não foi?





74. Jardim Botânico

Ocupa a propriedade da Casa Andersen, onde cresceu Ruben A. e morou Sophia. Quando frequentei a Faculdade de Letras que ficava ali a dois passos, fui muito feliz junto ao precioso e terno laguinho dos nenúfares do Jardim Botânico. O estado de conservação do jardim não é fabuloso, mas vale um passeio.

75. Jardim da Cordoaria

Por obra da Porto 2001, cresceu, transformando-se numa imensa placa verde, reservada a peões e eléctricos, delimitada pelo antigo mercado do Anjo (actualmente ocupado pelo degradado e abandonado ClérigoShopping), Palácio da Justiça, Cadeia da Relação e Faculdade de Ciências. Mas além de crescer mudou de carácter, tornando-se mais poroso (o que não agrada a todos os portuenses) e passou a estar como que riscado por uns inovadores degraus de granito panorâmicos, com 45 cm de altura e 90 cm de profundidade. O coreto mudou de lugar, e o lago sobreviveu à mudança - a árvore da forca não..

76. Parque de Serralves

"Os sonhos de Serralves, e outras virtudes inúmeras lhe assistem, extremam-se naquele bosque de furna com uma lagoa ao fundo, no qual a todo o momento se espera assistir ao comércio do longínquo pintor Gauguin com uma caterva de floridas raparigas, febris de langor polinésio". Este pedaço de prosa de Mário Cláudio é inspirado por um bocado dos 18 hectares de jardins do parque de Serralves, que se desenvolvem em socalcos e cuja organização foi encomendada pelo conde de Vizela ao arquitecto paisagista francês Jacques Gréber. Os jardins desenvolvem-se em socalcos diversificados desde o jardim Art Deco da esplanada da modernista casa cor-de-rosa (projectada por Marques da Silva) até uma quinta onde se cultivam milho, hortaliça e alfazema, passando pelo lago romântico, habitado por patos e cisnes, belos roseirais, relva, sebes, arbustos, camélias, recantos para ler e namorar, milhares de árvores, de espécies vulgares (pinheiros) - ou nem por isso (castanheiros da Índia e cedros do Líbano).

VISTAS

77. Descida da rua de General Torres

Apesar da unanimidade nem sempre ser consensual, todos os portuense convergem num ponto: as mais deslumbrantes vistas do Porto obtêm-se a partir da margem esquerda. Tenho para mim que uma das mais deslumbrantes vistas é a que se obtém quando se desce de automóvel a rua de General Torres em direcção ao tabuleiro de baixo da ponte D. Luís. Aí chegados, andamos um pouco para a esquerda e chegamos ao cais de Gaia onde se obtém uma vista mais alargada do casario que trepa a encosta até à Sé e ao Paço Episcopal, o único edifício que rompa uma escala de presépio.

78. Esplanada do Arrábida Shopping.

Uma panorâmica única da cidade. Um sítio magnífico para passar a manhã. A esplanada do café do último piso do Arrábida Shopping é um sítio magnífico para passar a manhã e o posto de observação privilegiado para uma vista pouco comum -encosta de Massarelos (onde está a Faculdade de Arquitectura), Boavista, Jardins do Palácio. Uma panorâmica única.

79. Jardim do Morro da Serra do Pilar do Porto

É do pequeno muro do jardim do morro da Serra do Pilar que se obtém a vista do postal ilustrado por excelência: a clássica panorâmica do casario da Ribeira, a erguer-se desde o rio até à Sé, no morro da Penaventosa (onde a cidade nasceu).

80. Outras alternativas

Se fizer a marginal de Gaia caminhando no sentido da foz do rio, passando pela vila piscatória da Afurada (onde nasceu Vítor Baía) e indo até ao Cabedelo vai sendo bafejado por fascinantes panorâmicas da zona mais ocidental do Porto - vale a pena leva máquina fotográfica.. Se não tem vertigens, arrisque atravessar a pé a Ponte da Arrábida, abra bem esses olhos e deixe-se deslumbrar. Do lado do Porto experimente edifícios altos, como os últimos andares do Hotel D. Henrique e da Cooperativa dos Pedreiros (onde está o restaurante Portucale) e do parque de estacionamento do Via Catarina. E se procura um ambiente mais intimista, faça o favor de ir até ao miradouro de Santa Catarina (à direita de quem sobe as Condominhas vindo do Largo do Calém).

Jorge Fiel
Sab | 20.10.07

I love Oporto: três pontes e 17 experiências

Jorge Fiel
Ora aqui está fresquinha, pronta a ser consumida durante o fim-de-semana, a terceira prestação da minha declaração de amor em 100 pontos à cidade que amo.

O Zé Martins (nome que, terei de concordar, é bastante comum), foi meu colega de liceu no Alexandre Herculano. Era fanático pelos Blood, Sweat & Tears. Parece-me que ainda o estou a ouvir a trautear o "Lucretia  MacEvil" nas aulas de Latim, sentado na carteira atrás de mim.

Eu e o Martins tínhamos um amigo comum, o Leitão, fanático pelos Chicago Transit Authority. A questão dominante do meu 6º ano de liceu foi a discussão entre o Martins e o Leitão acerca de qual seria a melhor banda do Mundo, se a liderada por David Clayton Thomas ou a de Peter Cetera, que, como está bom de ver, acabou num frio corte de relações entre os dois.

Eu gosto (sempre gostei) das duas bandas, mas se tiver de decidir qual prefiro, digo os Blood.

Perdi ambos de vista (os meus colegas, não as bandas com fortes secções de sopro). Soube que o Leitão tinha (ou tem?) um bar na Ribeira. E que o Martins se tornou psicólogo e poeta - e vem a exumação desta recordação a propósito desta última actividade.

O Zé Martins escreveu vários poemas que foram cantados pelos Já Fumega,. Um deles fala do nó cego que uma rapariga lhe deu (creio ser rigorosamente autobiográfico e até estou convencido de que sei quem foi a moça) e da cerveja que está choca quando o café está quase a fechar. Um outro, lembra-nos uma verdade de sangue: a ponte é uma passagem para outra margem.

O Porto é uma cidade de pontes. Foi isso mesmo que, em sentido figurado, esteve na origem do lema do Porto Capital Europeia da Cultura em 2001.

Falando das pontes do Porto no sentido literal, devo declarar que há quatro magníficas e duas sofríveis (a do Infante e do Freixo) e que a minha preferida é a da Arrábida.

Três obras de arte e 17 experiências preenchem o menu do dia.

Mais uma corrida! Mais uma viagem! Animem-se que já só faltam duas suaves prestações para eu acabar de sepultar este aparentemente infindável inventário de 100 coisas que amo no Porto.

PONTES

41. Ponte da Arrábida

Edgar Cardoso deixou-nos duas pontes com histórias e marcantes na paisagem do Porto. A ponte de Arrábida, que acrescentou à cidade a nova centralidade da Boavista, e possuía, à data da sua inauguração por Salazar (dealbar dos anos 60), o maior arco de betão armado do Mundo - havia mesmo que suspeitasse que ira cair, o que, como se sabe, não aconteceu. Mais tarde, a ponte S. João (que reformou a Maria Pia) proporcionou ao engenheiro a possibilidade de bater o recorde mundial para o maior vão em ponte ferroviária construída pelo método dos avanços sucessivos.

A elegância erótica do arco desenhado por Edgar Cardoso e o azul bebé com que foi pintada fazem da Arrábida a minha ponte favorita do Porto.
Roupa para lavar - I love Oporto: três pontes e 17 experiências

42. Ponte D. Maria Pia

É uma pena estar desactivada esta ponte ferroviária com 354 metros de comprimento e 61 de altura, uma das jóias da obra de Gustave Eiffel, que muitos consideram a mais bonita. É nesta ponte que se desenrola  a mais emocionante cena do imperdível romance "O Estranho Caso da Boazona que Me Entrou pelo Escritório Dentro" de José Pinto Carneiro.

43. Ponte D. Luiz I

Os dois tabuleiros (dos quais o de cima ficou reservado para o metro e peões ) conferem uma personalidade única a esta ponte de ferro projectada por Teofilo Seyrig, colaborador de Eiffel.

EXPERIÊNCIAS
Roupa para lavar - I love Oporto: três pontes e 17 experiências

44. Cruzeiros no Douro

A oferta de cruzeiros fluviais no Douro varia entre os passeios de longo curso, rio acima, com duração superior a um dia, e as curtas viagens pelas seis pontes que cruzam o rio entre Porto e Gaia. Todos valem a pena.

45. Funicular de Guindais

A viagem descendente entre a estação de montanha (na rua Augusto Rosa, à Batalha) e a fluvial, junto ao tabuleiro inferior da ponte D. Luiz (junto ao painel Ribeira Negra de mestre Júlio Resende) oferece uma vista de cortar a respiração quando se abandona o percurso subterrâneo e se entra em céu aberto. Ligar a marginal do rio à zona da Batalha é uma ideia antiga. O elevador de Guindais é o sucessor de um funicular que funcionou na mesma encosta durante dois anos, nos finais do século XIX, até ser desactivado na sequência de um acidente, motivado por excesso de velocidade, que fez abortar o programa de construção de mais dois elevadores, nas zonas de D. Pedro V e Arrábida.

46. Praça da Ribeira

O local onde palpita o coração da Ribeira é rico em atracções. Tem duas boas esculturas - o S. João, de João Cutileiro, e o cubo, de José Rodrigues -  as esplanadas onde os estrangeiros que o futebol trás à cidade se encharcam em Superbock, e um hotel único, o Porto Carlton, feito a partir da recuperação de várias casas e que nos seus dois primeiros anos de vida se viu na contingência de se travestir em submarino, por via das cheias, logrando sobreviver com a compreensão dos hóspedes,  que acharam graça à situação e não se importaram de utilizarem usarem a entrada para o restaurante do hotel (o Vintage), no Muro dos Bacalhoeiros, em alternativa à entrada principal, que estava submersa e, presumivelmente, a ser usada pelas taínhas.

47. Passeio de eléctrico

Imperdível fazer o circuito do 22 na Baixa, entre o Carmo e a Batalha. Na Batalha, descer até ao rio no Funicular de Guindais. Atravessar a Ribeira a pé e apanhar o 1 no Infante (paragem junto à entrada para a fabulosa igreja de S. Francisco) e seguir nele até ao fim da linha, na Cantareira. Voltar para trás, desembarcar em Massarelos, dar uma espreitadela ao Museu do Carro Eléctrico e regressar ao Carmo subindo a Restauração, novamente de eléctrico.

48. Salão Árabe do Palácio da Bolsa

Só visto e vivido. Contado ninguém acredita. Os empresários do Porto do século XIX no seu melhor.

49. Pérola do Bolhão

Bela, pérola e formosa. É de carregar pela boca compor uma frase com estas palavras: A Pérola do Bolhão é a mais bela loja da rua Formosa (que de formosa apenas tem o nome e a magnífica fachada desta mercearia). Lá dentro está o inevitável gato preto  - não para dar galo, mas antes presença dissuasora da perniciosa actividade dos roedores - e produtos de mercearia, charcutaria (chouriças, alheiras, orelheiras), de garrafeira (Portos, vinhos de mesa, aguardentes) bacalhaus e queijos da Serra. Cá fora estão uns notáveis painéis em azulejo, com a assinatura da famosa e extinta fábrica do Carvalhinho.

50. Bolo rei da Petúlia

O bolo rei mais procurado na cidade é o da Petúlia a confeitaria da família de Ilídio Pinto, que deve a outra parte da sua fama ao facto de ter acolhido as célebres tertúlias futebolísticas animadas pelo saudoso José Maria Pedroto e Jorge Nuno Pinto da Costa. Hernâni Gonçalves, o popular Bitaites, é um dos fregueses sobreviventes desses heróicos tempos.

51. Marechal Gomes da Costa

A avenida mais elegante e sofisticada do Porto é esta. Um boulevard! Ponto final. Artur Santos Silva, o do BPI, Armanda Passos, a pintora, e António Oliveira, o da bola, são alguns dos sortudos que lá vivem. A casa de Valentim Loureiro fica pelas imediações. Se eu fosse rico, de certeza era lá que morava.

52. Praça de Liège

Albergar um cemitério não é suficiente para a desqualificar da minha "short list" das mais bonitas praças da cidade.

53. Rua de Santa Catarina

É o verdadeiro centro comercial ao ar livre do Porto. Belmiro de Azevedo, que transformou  em shopping (Via Catarina) a antiga sede do Primeiro de Janeiro, chegou a sonhar cobrir a rua, reconvertendo-a em galeria. Em Santa Catarina, alinham-se as lojas das mais importantes marcas nacionais e internacionais. Foi nesta rua, com um amplo troço pedonal,  que a Zara abriu a sua primeira loja fora de Espanha, ganhando à Maconde,  com o auxílio do galego Banco Pastor, a corrida ao espaço que ainda ocupa.

54. Miguel Bombarda

O SoHo do Porto começou a desenhar-se quando, em 1997, Fernando Santos mudou a sua galeria para a rua Miguel Bombarda e desafiou os colegas a fazerem o mesmo, em ordem à criação a criar nesta zona de um "cluster" do oficio de negociar em arte, copiando o que se fazia na Idade Médio, onde os ofícios se concentravam em ruas, o que ficou tatuado na toponímia da cidade (como, por exemplo a rua dos Caldeireiros).  Resultou. Na Miguel Bombarda e ruas adjacentes (Aníbal Cunha, D. Manuel II, Rosário. etc) há dezenas de galerias regularmente inauguram as exposições no mesmo dia.

55. Caminhos do Romântico

Cinco percursos  pedonais, apoiados em painéis informativos, constituem o menu  dos Caminhos do Romântico, desenhados no vale de Massarelos, que logrou escapar à voracidade da especulação imobiliária e transportar até ao século XXI o perfume oitocentista presente no carácter rural das suas hortas, quintas, fontes e lavadouros. Traçados pela arquitecta Graça Nieto, são um convite atractivo a um mergulho no passado, a passear pelo Porto das vielas estreitas e escuras, das camélias e do cheiro a rosas (mas também a aromas menos agradáveis ...) para desfrutar de vistas fabulosas sobre o Douro. O ponto de partida é na rua de Entrequintas, perto do portão de acesso ao Museu Romântico.

56. Solar do Vinho do Porto

Acessível a partir dos jardins do Palácio e situado no coração do Porto Romântico, é o cenário ideal para um pedido de namoro ou casamento. Ocupa as antigas cozinhas da Quinta da Macieirinha, onde viveu o rei italiano Carlos Alberto durante o seu curto exílio portuense. O Museu Romântico ficou com o resto da casa. Os visitantes do Solar beneficiam de uma vista deslumbrante a partir de um belo jardim debruçado sobre o rio Douro e Gaia. Nos dias quentes de Verão, a opção correcta é encomendar  um refrescante um Porto Tónico (Porto branco seco a que se adiciona agua tónica).

57. Biblioteca Almeida Garrett

Revestida a mármore grego, carvalho americano e tola, equipada com moveis Alvaar Alto, esta biblioteca é uma das três peças (as outras são uma galeria de arte e um auditório) do edifício cultural desenhado por José Manuel Soares, implantado nos jardins do Palácio de Cristal, entre a avenida das Tílias e a rua de Entrequintas.







58. Caves de Vinho do Porto

O Vinho do Porto foi inventado por acaso, algures no século XVIII. Para evitarem que o vinho azedasse na longa viagem marítima para Inglaterra, os exportadores começaram a adicionar-lhe uns 20 litros de aguardente por pipa, antes do embarque. A receita agradou ao paladar dos ingleses. Tinha acabado de nascer o Porto, um vinho único no Mundo. Na verdade, para além da designação, o vinho apenas lateralmente tem a ver com a cidade de que ostenta o nome, já que é produzido na região do Douro - mandada demarcar em 1756 para proteger a pureza de um vinho com os créditos firmados na loira Albion. Até meados do século passado, os mostos vinificados eram transportados rio abaixo em barcos rabelos até às frias caves do entreposto de Gaia onde ficavam a envelhecer. Hoje em dia, os rabelos alinhados na margem esquerda têm um efeito meramente decorativo, já que apenas uma vez por ano são usados numa renhida regata que se realiza no primeiro fim de semana a seguir ao S. João. A maioria das caves está aberta a receber visitas, que por norma são gratuitas (nos casos em que é cobrada uma entrada esse montante pode ser descontado na compra de Porto) e compreendem uma prova de um branco, um ruby (Porto novo que deve o seu nome à cor e é comercializado após três anos de estágio em grandes recipientes, protegido do ar, o que lhe permite manter a cor, pujança e frescura)  ou um tawny (vinho que envelhece em casco e beneficia de arejamento, pelo que a sua cor evoluiu para tons acastanhados.

59. Uso e abuso do vernáculo

Ouvir um impetuoso "Vai para a grande puta que te pariu!!!", cheio de pontos de exclamação no fim, e não se sentir ofendido é um privilégio nortenho. No Porto temos o saudável hábito de usar no dia a dia palavras que constam do dicionário mas que nas paragens mais meridionais do país foram metidas na gaveta.

60. As 20 salas de cinema das UCI

Quando abriram eram da AMC. Posteriormente foram rebaptizadas UCI. O nome não interessa. Aquelas 20 salas são as melhores do país. Um dos meus programas favoritas é aproveitar a hora do almoço para ir ver uma sessão ao Arrábida.  O ano passado, quando perguntei à Luciana Abreu (a Floribella) de que é que tinha saudades do Porto ela respondeu logo: "De ir ao cinema no Arrábida". Boa rapariga!

Jorge Fiel
Qua | 17.10.07

A segunda prestação de uma declaração de amor

Jorge Fiel
Esta segunda prestação do inventário de 100 coisas que amo no Porto é totalmente preenchida por calhaus, ou, dito de outra maneira, por uma lista de 20 maravilhosos exemplares de património edificado da nossa cidade.

Mas quero sossegar o povo da lavandaria. Nos três fascículos que faltam, serão listadas coisas bem mais leves, como cafés, restaurantes, jardins, experiências e ofícios correlativos.

Vou tentar publicar a terceira prestação na próxima 6ª feira. Mas não juro, pois prometi que esta segunda prestação veria a luz do dia na 2ª feira e não consegui cumprir, falhando o prazo em 48 horas... Uma merda!

21. Palácio da Bolsa

Não é por acaso que é o monumento mais visitado do Porto. O majestoso Pátio das Nações, coberto por estruturas metálicas envidraçadas, deslumbra-nos logo à entrada. O Palácio da Bolsa foi construído em meados do século XIX por iniciativa (e a expensas) da Associação Comercial do Porto. A fachada neo-clássica, correcta mas severa, esconde no interior jóias como o faustoso Salão Árabe, a antiga sala de audiências do Tribunal do Comércio e uma magnífica escadaria de mármore e granito.

22. Mercado Ferreira Borges

Belo exemplar da arquitectura do ferro, em boa hora recuperado por Paulo Valada. Recebe exposições e acontecimentos culturais.


Roupa para lavar - A segunda prestação de uma declaração de amor

23. Muralha Fernandina

O acesso não é fácil (faz-se através do interior do Instituto Dr. Ricardo Jorge, pelo que as visitas estão limitadas ao horário deste organismo público) mas o resultado recompensa o esforço. Nas ameias deste pano de muralha quatrocentista, sinto-me como o Di Caprio na proa do Titanic: "I'm the king of the world"

24. Torre dos Clérigos

Pisa tem um torre inclinada. Londres uma torre prisão. Paris tem uma elegante torre em ferro. O Porto tem uma honesta torre barroca - que, Alexandre O'Neill "dixit", é uma espécie de ponto de espantação. Concluída em 1763, foi riscada pelo arquitecto italiano Nicolau Nasoni, que está sepultado ali ao lado, na igreja dos Clérigos, e deixou espalhada pela cidade abundante e boa obra, como Palácio do Freixo. Da torre, que é o ex-libris da cidade, disse Teixeira de Pascoaes: "É o Porto espremido para cima". O cimo da torre, a 75 metros de altura, é acessível a quem pagar bilhete de entrada e se dispuser a subir 240 íngremes degraus de uma escadaria em caracol.

25. Estação de S. Bento

O sólido edifício neoclássico estação ferroviária de S. Bento alberga no seu hall belíssimos conjuntos de azulejos de Jorge Colaço, alusivos aos transportes e a episódios marcantes da nossa história. Particularmente interessantes os que retratam a entrada de D. João I na cidade, quando do casamento com Dona Filipa de Lencastre, e a submissão de Egas Moniz e família ao rei de Leão.

26. Casa da Música

Parece um volumoso meteorito que aterrou ali junto à Rotunda da Boavista. Não demorará muito até que esta bela e estranha obra de Rem Koolhas substitua a barroca Torre dos Clérigos como primeiro ícone da cidade.


Roupa para lavar - A segunda prestação de uma declaração de amor

27. Faculdade de Arquitectura

Riscada por Álvaro Siza, acomoda-se harmoniosamente nos socalcos da encosta que desce até ao rio. Como é habitual na obra de Siza, a sobriedade e austeridade exteriores são complementados por surpreendentes espaços interiores, amplos e luminosos. A maquete desta faculdade é a única obra portuguesa que está em exposição na sala dedicada à arquitectura do Centro Pompidou.

28. Alfândega

Se tivesse que escolher o edifício que melhor simboliza o Porto, elegeria a robusta Alfândega, magistralmente recuperada por Eduardo Souto de Moura a tempo de receber a Cimeira Ibero-Americana que trouxe Fidel Castro ao Porto.

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29. Cadeia da Relação

A prisão onde Camilo Castelo Branco escreveu de jacto (em 15 dias!) "O Amor de Perdição" foi reconvertida no Centro Português da Fotografia, uma metamorfose que escandalizou o Fernando Rosas (um verdadeiro palhaço!) que protestou por escrito contra a maçada que era ter de se deslocar ao Porto sempre que precisasse de consultar os seus arquivos fotográficos... Há dois séculos, a construção desta cadeia (onde também malharam os ossos o famoso ladrão Zé do Telhado e o político João Chagas), importou em 200 contos. A sua renovação, realizada no âmbito da Porto 2001, custou 600 mil contos.

30. Igreja Românica de Cedofeita

Se eu fosse do estilo de casar pela igreja seria aqui. Sem dúvida.

31. Palácio de Cristal

Os jardins são magníficos. Sempre que por lá passeio lembro-me do Chico do Palácio (para quem não sabe era um macaco) e do Sofala, o leão das unhas encravadas. A avenida das Tílias disponibiliza, de borla (grátis!) quentes recordações dos tempos em que estava guarnecida de ambos os lados com stands onde se faziam furos e se ganhavam chocolates. Os mais velhos ainda choram a destruição do primitivo Palácio de Cristal, demolido em 1951 para dar lugar a uma moderna nave de cimento armado: o Palácio dos Desportos (no entretanto, rebaptizado Pavilhão Rosa Mota), feito de raiz para receber um Mundial de hóquei em patins e que agora serve de palco para acontecimentos desportivos, concertos e comércios, sendo ainda usado como casa pela Feira do Livro. Mas a modernidade intrínseca da calota do pavilhão Rosa Mota (que, vista ao longe, dá a ideia de uma mama) mandam-nos olhar em frente e a dar-nos por satisfeitos pelo que temos.

32. A Casa do Roseiral

Situada num dos extremos dos jardins do Palácio, a Casa do Roseiral é propriedade da autarquia e seria a única razão que me poderia levar a candidatar-me à presidência da Câmara do Porto. Se ganhasse, mudava-me logo para lá.


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33. Teatro Nacional S. João

Ora aí aqui está uma bela fachada amarelo ocre, como há poucas na nossa cidade. O que mais me apaixona neste edifício riscado por Marques da Silva são as figuras alegóricas da Dor, Bondade, Ódio e Amor que o ornamentam, bem o seu portentoso interior, que ouso qualificar como tão acolhedor como uma vagina.

34. Coliseu

Da autoria de Cassiano Branco, o Coliseu do Porto é provavelmente a talvez a mais bela sala de espectáculos do país. Inaugurado em 1941, com um concerto da Sinfónica Nacional dirigida pelo maestro Pedro de Freitas Branco, sobreviveu a um incêndio e à tentativa de compra pela IURD, ocorrida em Agosto de 1995.

35. Palácio do Freixo

Esta esplendorosa moradia barroca, de frente virada para o rio, foi encomendada ao arquitecto italiano Nicolau Nasoni pelo rico cónego Jerónimo Távora. Já serviu de armazém a uma fábrica de moagens. Os trabalhos da sua recuperação foram dirigidos por Fernando Távora, o pai da famosa escola de arquitectura do Porto e descendente do primeiro dono do palácio. O grupo Pestana prepara-se para o transformar num hotel de charme integrado na rede Pousadas de Portugal.

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36. Paços do Concelho de Matosinhos

As salas das sessões públicas da Câmara e o Salão Nobre, ambas sem portas, abertas para o interior e transparentes ao exterior, expressam a filosofia do novo poder democrático exercido à vista do povo e são dois dos locais mais marcantes de um edifício (assinado por Alcino Soutinho) em que todas as suas áreas recebem luz directa do sol - e que foi enriquecido com esculturas e pinturas de João Cutileiro e Júlio Resende.

37. Igreja de S. Francisco

É chamada "a igreja de ouro" devido à sumptuosa talha barroca que a reveste e submergiu por completo a estrutura gótica do templo. Por muitas vezes que a visite, não deixará de ficar impressionado com os 200 quilos de ouro que estão distribuídos pelo altar, colunas e pilares. As sepulturas românticas que complementam a vista à igreja eram o local favorito para o adolescente Pedro Abrunhosa se declarar às raparigas.

38. Infante Sagres

O primeiro cinco estrelas o Porto foi mandado fazer pelo industrial Delfim Ferreira. Mário Soares sempre preferiu o conforto e luxo clássicos deste hotel da Baixa à moderna funcionalidade dos cinco estrelas da avenida da Boavista. Esta preferência diz tudo sobre a alma do Infante Sagres.

39. Mercado do Bolhão

O local preferido pelos políticos de todos os quadrantes para receberem banhos televisivos de multidão. Está a concurso a sua transformação numa espécie de Covent Garden.

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40. Estádio do Dragão

Um palco de emoções. Manuel Salgado impregnou o novo estádio do FC Porto do ambiente moderno e sofisticado que foi a marca de água da arquitectura da Expo 98. Sem lugares reservados para cegos ou anões, o Dragão é a âncora da renovação em curso na degradada zona oriental da cidade. Allez, Porto, alllez. Nós somos a tua voz. Nós somos a tua voz. Queremos esta vitória. Conquista-a por nós!

Jorge Fiel
Qua | 10.10.07

Inventário de 100 coisas que amo no Porto

Jorge Fiel
O inventário que se segue está longe de ser exaustivo e não é um top 100. Acredito que haja coisas de que eu goste mais do que as 100 elencadas mas que por esquecimento no momento tenham ficado no tinteiro.

Vai daí, esta lista é tão só uma declaração de amor à cidade onde nasci, cresci e vivo, um inventário confeccionado para comemorar o meu 100º "post" aqui na lavandaria.

Dada a elevada tonelagem em caracteres da lista, optei por a publicar em fascículos, organizados por secções, sendo que este, o de estreia, agrupa dois capítulos: Intangíveis e Órgãos de Soberania e Comes e Bebes.

Ai vai a primeira de cinco suaves prestações, que serão aqui editadas à razão de duas por semana (a próxima é na 2ª feira).

INTANGIVEIS E ÓRGÃOS DE SOBERANIA

1. O coração de D. Pedro

Está guardado na Igreja da Lapa, que pela sua situação privilegiada, a quota alta, foi um dos locais escolhidos pelo exército liberal para instalar a artilharia durante o Cerco do Porto.

O rei anti-colonialista que soltou o grito do Ipiranga e abdicou de imperador do Brasil para regressar a Portugal e defender a liberdade com uma arma na mão, escreveu a mais bonita e heróica página da histórica da cidade, a quem prestou tributo legando-nos, em herança, o seu coração, e conferindo-nos o título de Invicta, Mui Nobre e Sempre Leal.

Abaixo os miguelistas (e quem os apoiar)!

2. O granito molhado

Adoro a melancolia do entardecer do Porto, no Outono, depois das primeiras chuvas, com a pedra molhada.

3. Rio Douro

Álvaro Siza não o viu como de ouro mas antes como de prata e assim o retratou num swatch. Eu vejo-o azul como o mar e o céu. Esta diferença cromática de opinião não acarreta mal nenhum ao Mundo. O 25 de Abril fez-se para isso mesmo. Para as pessoas terem opiniões diferentes e continuarem amigas - e a amarem o mesmo rio, de uma forma plural.

4. A pronúncia do Norte

Sobe-me a mostarda ao nariz sempre que um conhecido ou colega de Lisboa me cumprimentam recorrendo a uma canhota tentativa de imitar o nosso sotaque. "Atão, cumu bai o Puaaaartu?".

Imbuído de um espírito cristão, contenho-me e perdoo-o logo a idiotice desses infelizes que na sua santa e doce ignorância estão convencidos que não têm sotaque e que a amaricada maneira de falar deles é o cânone.

Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus.

5. FC Porto
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As cada vez mais frequentes vitórias representam para a cidade exactamente o mesmo que as do Barca, que engraxam o orgulho de ser catalão.

A equipa entra no Dragão a ouvir os versos do hino que lhe pede "dá-nos neste dia mais uma alegria, mais uma vitória" e corresponde. Assim é que é.

6. Jornal de Notícias

Nas suas páginas sente-se o palpitar da região. Só lhe falta mesmo merecer que as elites nortenhas o assumam como o primeiro jornal que lêem pela manhã, nos seus gabinetes, e com que andam debaixo do braço e folheiam na esplanada, ao fim-de-semana. Nessa altura, o JN será o megafone de que o Norte precisa para fazer ouvir a sua voz, aos berros, nos ouvidos de quem manda no Terreiro do Paço.

7. O Jogo

A Folha da Verdade. O Jogo é grande e o Manuel Tavares é o seu profeta.

8. Porto Canal

Acaba de fazer um ano, deixou de gatinhar e começa a andar sem ajuda. Bom! Mas para ser o centro de poder de que o Porto precisa, ainda tem de comer muita boroa.

É obrigatório que Bruno Carvalho, o director geral, apague os resíduos de benfiquismo que lhe continuam agarrados à pele. E que os amigos catalães da Mediapro consigam reduzir a sua posição excessiva no capital do canal, transferindo parte dela para as forças vivas do Norte.

Não percebo de que é que os Américos Amorins, os Belmiros de Azevedo, os Macedo Silvas, os Ludgeros Marques, os Àlvaros da Costa Leite, os Violas, etc, etc, estão à espera para tomarem em mãos o papel de locomotiva deste projecto em que o mais difícil (ir para o ar) já foi feito!

Ter um canal do Porto com um director geral benfiquista e uma maioria espanhola no capital faz tanto sentido como um canal de Barcelona ter um director geral fanático pelo Real Madrid e uma maioria francesa no capital social.

9. AEP

Foi-se o BPA. Foi-se o BPI. A CCRN foi politicamente domesticada em vez de levantar voo e evoluir para base do Governo regional do Norte. A Associação Empresarial de Portugal, de Ludgero Marques, resiste como centro de contra-poder, a aldeia de irredutíveis nortenhos que resiste a Lisboa.

Espero que nunca lhe falta a poção mágica. E, já agora, que arranje uma estátua decente para imortalizar a figura ímpar do seu fundador Vitorino Damásio, empresário e um dos heróis do Cerco do Porto, substituindo a pindérica estátua que foi colocada no sítio (a Mata da Pasteleira) onde ele se cobriu de glória no comendo de tropas liberais.

10. Associação Comercial do Porto

Por contraste com a acção guerrilheira e abrasiva da AEP, a Associação Comercial encontrou o seu espaço assumindo-se como uma espécie de senado nortenho, centro de estudo e reflexão de grandes temas, produzindo estudos sobre os grandes temas que dilaceram o pais (a Ota foi um deles) e projectando novas figuras, como Rui Moreira, o seu actual presidente. Também está bem!

11. Sonae

Concentra o melhor (e às vezes o pior, mas a vida é assim) do código genético empresarial nortenho. Apesar de saber que perde pela boca, Belmiro teima em não se calar, não pára de refilar e mantém uma rigorosa independência face ao poder político lisboeta.

É bom saber que Belmiro de Azevedo continua a viver num andar, a levantar a mesa no final das refeições e a evitar ao máximo pernoitar em Lisboa.

12. Metro
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O Metro do Porto é ainda muito mais do que um sistema de transportes e uma empresa estruturante do espaço urbano. É também uma obra de arte, um enorme motivo para termos orgulho em sermos portuenses, e, ainda, uma prova viva e documental do centralismo que asfixia o nosso país.

Concebido por Eduardo Souto Moura, o metro é uma obra de arte premiada internacionalmente, onde estão espalhadas as impressões digitais os nomes mais luminosos da Escola de Arquitectura do Porto, como Siza Vieira, Alcino Soutinho e Adalberto Dias, entre outros.

13. Toponímia

Agrada-me muito a toponímia do Porto. Todos os dias atravesso a rua do Campo Alegre. Raro é o fim de semana em que não brinco com o meu filho João no jardim do Passeio Alegre. Lamentavelmente já não vou à muito tempo às ruas do Campo Lindo e do Paraíso. A última morada do meu pai é o cemitério do Prado do Repouso. Há um autocarro, da linha 700, que tem como destino o Campo dos Sonhos.

O Porto tem uma toponímia alegre e desde há alguns anos as suas ruas e praças estão bem identificados por placas verdes, bonitas e informativas, que talvez sejam o melhor legado que Rui Rio vai deixar à cidade.

COMES E BEBES

14. Tripas à moda do Porto

Estou em crer que as melhores são as do Poleiro, junto à Circunvalação. Mas também gosto muito das do Ribeiro (Praça dos Poveiros) e do Capa Negra (Campo Alegre).

15. Francesinha
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Ora cá está a pergunta que vale um milhão de euros. Qual é melhor francesinha do Porto? A indicar um sítio, não hesito em responder Capa Negra (onde estão disponíveis os melhores rissóis do Mundo). Mas recordo com saudades as do já falecido Mucaba (logo no início da Avenida da República em Gaia) e as da Regaleira, na Baixa.

16. Pastéis de Chaves da Casa das Tortas

Reconheço que já conheceu melhores dias a qualidade dos pastéis de Chaves da Casa das Tortas, em Passos Manuel, mas são um clássico que vale a pena revisitar. É fazer o favor de os comer quentinhos e regá-los com uma taça de vinho verde Campelo, porque não sei se ainda há o Três Marias.

17. Vinho do Porto

Eu prefiro os Porto jovens, pujantes e rebeldes, em detrimento dos tawnies velhos e licorosos. O meu gosto contraria a máxima de que o Porto melhora com a idade.

Estou feliz pela moda inaugurada pelos americanos de beber os Vintage cada vez mais cedo. Não havendo Vintage, marcha um LBV ou um ruby. Novos! Não me importa que me chamem pedófilo J

18. Padaria Ribeiro

Abasteço-me de inúmeras variedades de pão (azeite, chapatas, vikorn, centeio, corações, amêndoas, passas, etc, etc) na Ribeiro da Pasteleira, junto ao Público.

Apesar de eu ser mais presunto do que doces, recomendo vivamente a tarte de maracujá.

19. Vinho & Coisas

A melhor garrafeira do país está em Matosinhos. Paris vale uma missa e a Vinho & Coisas vale uma visita de estudo.

20. Cafeína Foods

Apesar de pequena, é um das melhores mercearias finas de uma cidade com tradições neste domínio (Minhotinha e Augusto), reforçadas nos últimos anos com o desembarque da Loja da Praça (na praça D. Afonso V, junto à igreja do Cristo Rei) e o Gourmet do El Corte Ingles de Gaia.

Se for ao Cafeína Foods não deixe de comprar, por nove euros apenas, uma garrafa de Porto branco da Quinta da Casa Amarela. Se o fizer, vai-me ficar eternamente grato pelo conselho.

Jorge Fiel
Ter | 02.10.07

A problemática da vocalização durante a cópula

Jorge Fiel
As deficientes condições de isolamento acústico dos apartamentos modernos geram situações a um tempo incómodas para os vizinhos e inibidoras da livre expressão da nossa sexualidade.

O ponto de partida para esta reflexão é uma história que me foi contada pelo Kiki Eça de Queiroz, meu distinto amigo e preclaro ex-colega (mudei-me para a secretária que ele ocupava, que dispõe de uma bela situação geo-estratégica na Redacção do Expresso no Porto, após ele, há coisa de dois meses, ter acertado a rescisão do seu contrato de trabalho).

Conta o Kiki que uns vizinhos do lado, no prédio que habita na Alameda Eça de Queiroz (a rua apropriada para o bisneto do autor dos Maias estabelecer residência), não só tinham uma vida sexual muito activa como, ainda por cima, bastante ruidosa.

Queixa-se o Kiki que invariavelmente, a determinado passo da refrega, a vizinha berrava "Chupa-me, boi!", o que o incomodava.

Alega o Kiki, homem que gosta de exercitar os rigores da nossa língua (que, salvo seja!, é muito traiçoeira), que o desafio estava mal formulado.

Argumenta que atendendo à morfologia específica do focinho do boi, lhe seria impossível a prática do acto de chupar, pelo que vizinha deveria antes berrar "Lambe-me, boi!".

Claro que tudo isto não passa de um preciosismo. O vizinho só poderia ser boi em sentido muito figurado. É um ser humano e sabia perfeitamente a performance que a parceira desejava, independentemente dela usar o verbo "chupar" ou "lamber".

Há duas vertentes nesta história contada pelo Kiki. Uma é a da interacção oral no decorrer da relação sexual. A outra é a do respeito pelo sossego dos vizinhos.

Indo por partes, há primeiro que estabelecer um chão comum de conceitos na abordagem desta problemática. Fazer confusão entre a oralidade durante o sexo e o sexo oral é tão grave como confundir a obra-prima do mestre com a prima do mestre de obras, ou o Manuel Germano com o género humano.

O sexo oral é incompatível com a oralidade durante o sexo por razões de ordem prática (a língua está ocupada) e de educação (não se deve falar com a boca cheia).

Posto isto, nenhuma teoria sobre a oralidade durante o sexo pode ignorar a tese de doutoramento feita pela antropóloga Catarina Casanova onde se demonstra, urbi et orbi, que os chimpanzés vocalizem sempre durante a cópula.

Eu sou claramente a favor da vocalização durante o sexo. Todos os sentidos podem e devem ser usados em ordem a optimizar o prazer dado e recebido durante a relação sexual.

Claro que há conversas mais apropriadas do que outras. Nessas alturas não estou muito disponível, por exemplo, para debater se o melhor mozzarella é o do Lidl ou o do Pingo Doce. Em pleno transe, há valores mais altos que se levantam (eu não vos avisei que a nossa língua é muito traiçoeira?!?).

Sou favorável a toda a liberdade. Podem e devem usar-se não só todas as palavras armazenadas no Houaiss mas também outras que ainda não acederam ao douto dicionário, bem como todo o tipo de urros, uivos ou gemidos, mesmo que sejam tão lamentáveis como os fazem a banda sonora dos filmes porno dobrados em espanhol que passavam no canal Vivir/Viver ("folla-me, cariño, folla-me").

Posto isto, há a segunda questão, a do respeito pelo sossego dos vizinhos.

Este é o aspecto mais delicado. Camuflar berros, gemidos e frases rudes é uma tarefa fácil. Basta, por exemplo, usar como banda sonora da relação sexual peças de Modest Mussorgky como a Noite no Monte Calvo, com rastilho para 12m50s de sexo selvagem (na orquestração do compositor, já que na lamentável versão de unhas paradas de Rimsky-Korsakov dura apenas dez minutos) ou Quadros de Uma Exibição, 32 minutos de prazer intenso em que vale a pena fazer um esforço para tentar fazer coincidir com um orgasmo simultâneo com o final do andamento A Grande Porta de Kiev.

Para soluções para além da camuflagem, acho que os interessados devem recorrer a especialistas em insonorização de salas, podendo começar a aprovisionar, para o efeito, embalagens de ovos.

Jorge Fiel