Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Sex | 10.08.07

As sete pragas que podem arruinar umas férias de Verão no Algarve

Jorge Fiel

 

São sete os pecados mortais. São também sete as pragas do Egipto e as pragas que podem infernizar as suas férias de Verão.

 

 

A praga das moscas

 

Temi o pior. Segunda feira, no meu primeiro dia completo de férias algarvias, o Alfargar (aldeamento em Santa Eulália onde estou instalado) foi tomado de assalto pelas moscas.

 

Resmas de moscas. Paletes de moscas. Por todo o lado. Senti na pele o pânico dos americanos durante o ataque japonês de Pearl Harbour.

 

Nas tiras dos Peanuts, um dos geniais personagens inventados por Schulz anda sempre com uma nuvem de lixo e moscas à volta dele. Esqueçam essa ideia. Não é disso que estou a falar. Não se tratou de ataques cirúrgicos.

 

Segunda feira, centenas de esquadrilhas de moscas atacavam em formações desordenadas, visando indiscriminadamente portugueses, compatriotas da Maddie ou holandeses, sem dó nem piedade, independentemente do sexo, idade, nacionalidade ou estado (secos e molhados eram indiferentemente seviciados).

 

Tentei sem sucesso estacionar no pátio do apartamento e nas espreguiçadeiras à volta da piscina. Não valia a pena. Enxotar as moscas era envolver-me num combate desigual. Refugiei-me na praia.

 

Ainda estou para perceber o que é que se passou na 2ª feira, dia 2 de Agosto de 2007, em Santa Eulália, porque no dia seguir o efectivo de moscas voltou a normalidade – uma aqui outra ali.

 

Só não dei graças a Deus porque sou agnóstico. Mas se fosse crente com toda a certeza teria dado. Acho que não aguentaria conviver uma semana inteira com dezenas de moscas a usarem-me como porta-aviões.

 

 

A praga dos dentes

 

Só se dá pelos dentes quando eles doem. No Verão passado, a minha quinzena de Agosto no Zavial foi estragada por uma dor de dentes.

 

A dor chegou de pantufas e depois foi subindo até ganhar expressão física -  o queixo inchou ao ponto de fazer inveja ao próprio Frankenstein – ao ponto de exigir uma ida ao dentista mais próximo, em Lagos.

 

Radiografada a mandíbula, o diagnóstico veio rápido. Tinha um quisto, de grande dimensão, alojado sob os dentes 31 e 32, o que levou o dentista algarvio a decretar-lhes uma certidão de óbito antecipada.

 

Felizmente, a notícia da morte dos meus dentes 31 e 32 revelou-se exagerada. Após vários e dispendiosos tratamentos o quisto foi extirpado e os dentes salvos.

 

Foi um final feliz. Mas não há seguro que me devolva os dias de férias sacrificados no altar da dor de dentes.

 

 

A praga do peixe-aranha

 

A bela praia da Costa Vicentina que religiosamente frequento tem como único senão o facto de, frequentemente, na maré baixa, o seu areal ser habitado por nefastos peixes-aranha.

 

Nunca fui picado, mas no Verão passado reparei que o medo estava a vencer-me. Não raro abstinha-me de ir dar um mergulho, ou abreviava ao mínimo as caminhadas dentro de água, com medo da dolorosa picada que quase todos os dias vitima um banhista.

 

Achei que estava a ser imprudente, a desafiar a lei das probabilidades, e que mais cedo ou mais tarde chegaria o dia de eu próprio ser picado.

 

Para contrariar o destino, resolvi rodear-me de todo o tipo de precauções – a preventiva e a curativa.

 

Quem vai ao mar, avia-se em terra. Foi o que eu fiz. Adquiri por oito euros, numa loja da rua principal de Sagres, uns elegantes e confortáveis sapatos de plástico preto, que passei a usar sempre desde que saio de casa para a praia até ao regresso e que, ao contrário do que eu temia, não perturbam os relaxados banhos de mar.

 

E na farmácia, equipei-me com um spray, o Parapic (5.5 euros), que quando aplicado no local da picadela acalma as dores.

 

A minha vitória sobre o terror do peixe-aranha foi total.

 

 

A praga das otites

 

Não sou achacado a otites mas a combinação entre vento, areia e dezenas de mergulhos pode revelar-se letal.

 

As minhas últimas (espero que não derradeiras) férias em Porto Santo foram marcadas por uma noite em branco, a sofrer violentas dores em ambos os ouvidos, seguida de uma visita ao centro de Saúde e um diagnóstico (otite) terrível não só no nome mas também nas consequências.

 

Nos três dias que faltavam para as férias se concluírem estava terminante e absolutamente proibido de voltar tomar banho (no oceano, não no chuveiro).

 

Foi uma grande porra ser obrigado a queimar os últimos dias de férias de praia atormentado por dores e encalhado em doca seca, numa esplanada, a olhar para o mar proibido, nos intervalos da leitura e do mecânico enxotar de moscas.

 

 

A praga da chuva

 

O que é que uma pessoa faz no Verão no Algarve rodeada por crianças impacientes, enregelados por um frio húmido e com o céu plúmbeo a desfazer-se em água?

 

Sei perfeitamente qual é a resposta certa a esta arguta pergunta: Desespera.

 

Uma pessoa desespera porque quando a miudagem já está farta de jogar cartas e da anémica oferta dos canais generalistas, não nos resta outra alternativa senão enfreantarmos o suicídio lento de nos enfiarmos num engarrafamento na 125, que nestes dias não é azul como na canção dos Trovante.

 

A chuva é o ponto mais fraco do Algarve. Se estamos no Sul de Espanha e chove, há tantas alternativas que a dificuldade está na escolha.

 

Assim de cabeça disparo já quatro belos programas alternativos:

 

Visitar o Museu Picasso, em Málaga;

 

Passear nas ruas estreitas do Bairro de Santa Cruz, em Sevilha;

 

Ir ver os macacos a Gibraltar;

 

Fazer uma excursão pela montanha até à fabulosa cidade de Ronda.

 

O problema do Algarve é que a praia é boa. O clima costuma mas ser. Mas, quanto ao resto, estamos conversados.

 

 

A praga do escaldão

 

Eu sou moreno - e vaidoso por isso. Quando era miúdo e fazia um mês seguido de praia na Foz, chegava ao final de Agosto com a pele de uma cor que de tão escura e suja (não era o bronzeado dourado) que à época me privaria de uma data de direitos cívicos se eu vivesse na África do Sul.

 

Por isso, até há bem poucos anos, fiz questão de dispensar o uso de cremes protectores, que olhava como uma mariquice (apesar de me abster de verbalizar essa opinião).

 

Até que apanhei um escaldão. Um terrível escaldão que me impediu de dormir, de tão doloroso era o contacto dos lençóis com a minha pele vermelha.

 

Atribui logo ao avançar da idade a responsabilidade por esta minha transformação de mouro em índio norte-americano.

 

Aceitei pacificamente esta manifestação de envelhecimento e assisadamente resolvi começar a usar um protector solar, que às vezes é mesmo complementado por um «after sun».

 

 

A praga dos melgas

 

Não. Não estou a falar das primas das moscas e dos mosquitos. Estou a falar dos melgas, em sentido figurado, não das melgas, no sentido literal.

 

E se nos dispomos calmamente a passar 15 dias de férias e logo à chegada, na primeira ida à praia, deparamos com uma das pessoas que ocupa o nosso top particular das dez mais chatas existentes à face da Terra?

 

Pois é. É um pesadelo! Um triste e duro pesadelo. Principalmente se esse exemplar das mais chatas pessoas vivas não estiver moreno, o que indicia  que pode estar a começar as férias.

 

Se houver o risco de o melga se colar, recorrendo a imediata adopção de medidas extremas:

 

Se for convidado a jantar em casa dos melgas, embebede-se e vomite. De preferência comece em cima da mesa e confunda o quarto de banho com o quarto dos miúdos;

 

Se eles persistirem em fazer programas comuns e se sentir coagido a retribuir, convidando-os para jantar em sua casa, passe a refeição a apalpar as pernas da mulher melga (1);

 

Sempre que descortinar um pretexto, aplique umas lambadas nos filhos dos melgas;

 

Se eles não desistirem, peça aos melgas para ficarem tomarem conta dos  seus filhos enquanto vocês vão jantar com uns amigos que estão a fazer férias do outro lado do Algarve. E só regressem para os recolher de manhã, pegando neles só depois de se certificarem que lhes foi servido um pequeno almoço adequado;

 

Se eles continuarem a colar, jogue a última cartada, que consiste num ataque frontal e desesperado à carteira dos melgas. Convide-os para jantar no mais caro restaurante das redondezas, esqueça-se de levar dinheiro e cartão de crédito, e apanhe uma bebedeira do caixão à cova com os melhores vinhos da lista.

 

……………

 

(1) Nota importante. Há aqui um pormenor prévio fundamental. Para prevenir uma grave crise conjugal, não se esqueça ponha a sua mulher previamente ao par do plano)

Qua | 08.08.07

Para se ser alguém na vida, é preciso ter uma política adequada de copo de fim de tarde

Jorge Fiel

 

«Para mim, é um vodka tónico. Com Stoli ou Absolut. E muito gelo», encomendou Francisco Balsemão. Estávamos os dois no Porto Sheraton para um encontro de trabalho, entre o fim da tarde e o início da noite.

 

Eu era o responsável pela delegação do Porto do Expresso.

 

O Sheraton ainda não tinha atravessado para o outro lado da avenida da Boavista e era o actual Porto Palácio.

 

Balsemão ainda retirava prazer da bebida. No entretanto, tudo quanto é álcool passou a saber-lhe mal, um dano colateral e involuntário de uma intervenção cirúrgica a um ouvido (ou terá sido ao nariz?). Involuntário porque o médico que o operou adoraria saber o que fez que teve o condão de lhe provocar a repulsa pelas bebidas alcoólicas…

 

Em dez anos as coisas mudam muito. A única coisa que não mudou mesmo foi o facto de que Francisco Pinto Balsemão era e continua a ser o accionista maioritário do grupo Impresa.

 

Não tinham nem Stoli, nem Absolut. Só Smirnoff ou Eristoff, uma oferta demasiadamente estreita e baixa, pouco compatível com as cinco estrelas do hotel. Deve ter sido por essas e por outras que não demoraria muito o divórcio entre a cadeia Sheraton e grupo Sonae.

 

Balsemão fez um gesto de resignação, enquanto abanava a cabeça em sinal de reprovação. O empregado virou-se para mim e perguntou-me o que eu iria tomar.

 

Fiquei paralisado. De repente, dei por mim completamente impreparado para encomendar no formato «copo de fim da tarde». A saída mais fácil (imitar o pedido de Balsemão, com um «traga dois») parecia-me desadequada em face do episódio da inexistência de vodka Stoli ou Absolut.

 

Pareceram-me uma eternidade aqueles segundos que demorei até me recompor e encomendar uma água de Castelo fresca. Um pedido que, devo confessar-vos, não me deixou satisfeito quando mais tarde passei mentalmente em revista a situação.

 

Estamos sempre a aprender grandes lições. No dia em que empenhou o anel de rubi para levar a namorada ao concerto dos Vinegar Joe no Rivoli, o Nicolau da Viola (não confundir com o do laço!) aprendeu que não se ama alguém que não gosta da mesma canção.

 

No dia em que tive uma reunião com o Patrão no bar do Porto Sheraton, aprendi que para se ser alguém na vida é indispensável ter uma política adequada de pedido para o copo de fim de tarde.

 

O encontro correu muito bem. Um dos encantos de Balsemão é ele ser jornalista. Ao fim de dez minutos, damos por nós a conversar com um colega de profissão – não com o patrão. E muito provavelmente ele nem reparou na minha atrapalhação no momento o pedido. Terei beneficiado de nesse momento estarem a passar pelo átrio uma revoada de deusas altas. Devia ser dia de Portugal Fashion (1).

 

Mas aprendi que tinha de estar preparado para os novos formatos de encontro profissionais, que já não se limitavam à exiguidade da alternativa entre o almoço no restaurante ou encontro na empresa.

 

Estavam a ser estabelecidos novos cenários, como o pequeno almoço, o copo de fim de tarde e o almoço em sala da sede da empresa preparada para o efeito. Tenho feito alguma reflexão sobre este explodir de formatos e, mais tarde ou mais cedo, partilharei as minhas conclusões com os distintos frequentadores desta lavandaria.

 

Concentremo-nos no copo de fim de tarde e nas alternativas que no entretanto fui formatando para estar à altura dos acontecimentos.

 

Vodka tónico

O pedido de Balsemão que está na origem deste pequeno ensaio continua a ser irrepreensível. Tem tudo lá. Não é por acaso que ele teve uma educação esmerada, cresceu com o rei de Espanha, soube sempre combinar riqueza e frugalidade, fundou o PSD, foi primeiro ministro anda no grupo de Bildberg e é o mais prestigiado patrão de Media em Portugal (2).

 

A escolha das marcas é sem dúvida acertada. É um pedido com detalhe (muito gelo e indicação das marcas) mas não exagera ao ponto de caprichar na marca de água tónica ou no tipo de copo em que a bebida deve ser servida.

 

No entretanto, a oferta foi alargada com uma enorme quantidade de vodka com sabores, pelo que será correcto e elegante pedir um vodka tónico com Stoli de frutos silvestres. 

 

Gin tónico

Eu detesto gin tónico. Nunca percebi bem porquê, mas abomino o travo do gin. Não tenho nada contra a bebida, que era a de eleição do meu bom amigo Miguel Esteves Cardoso. Mas eu não gosto, e por isso descarto liminarmente esta hipótese, apesar de reconhecer que constituiu uma solução honesta e honrada para o problema do copo de fim da tarde. Parece que o gin Gordon continua a estar bem cotado.

 

Portotonic

É um pedido minoritário, que se deve fazer apenas em ambientes bem seleccionados – o Solar do Vinho do Porto, o beberete da regata dos barcos rabelos ou a cerimónia de entronização dos novos membros da Confraria do Vinho do Porto – ou quando se quer vincar e publicitar a nossa costela de militantismo nortenho.

 

Em ambientes estranhos, não se espante se o empregado franzir o nariz e perguntar Porto quê?. Nesse caso, assuma um ar pedagógico e explique calmamente, com voz pausada e até mesmo alguma altivez, que quer que lhe sirvam num copo alto, uma dose de Porto Branco seco misturada com duas doses e meia de água tónica, três pedras de gelo e uma casca de limão.

 

Água tónica

É a melhor opção não alcoólica para se acompanhar alguém que encomendou umas das três bebidas anteriores.

 

Se for essa a sua encomenda, tem de sofisticar referindo a marca preferida e frisando que quer com muito ou pouco limão – e se prefere rodelas ou casca.

 

Cerveja

É um pedido um pouco plebeu que tem ganho alguma nobilidade. Está a sair do gueto ao mesmo tempo que o hábito de ir ao futebol e ler a Bola.

 

Mas, por amor de Deus, está absolutamente fora de questão resumir o pedido a: «Traga-me uma cerveja». Tem de saber se há ou não cerveja de pressão. Se houver, deve inteirar-se sobre as marcas disponíveis, e fazer um pedido esquisito, como a que lhe sirvam a cerveja numa flûte de champanhe. 

 

Este pequeno lote de idiosincrasias compensará amplamente a banalidade da cerveja.

 

Vinho branco

Havendo vinho a copo, um branco seco fresco é o meu pedido preferido. Neste caso, podemos refugiar-nos nas castas.

 

Chardonnay está bem, é um clássico, a palavra soa tão bem que se eu agora tivesse uma filha encararia seriamente a hipótese de lhe chamar Chardonnay.

 

Sauvignon tem a fama de ser um vinho de senhora, pelo que terá de fazer alguma conversa a propósito se se decidir por esta casta.

 

Pinot grigio é claramente o pedido mais «in». Dispensa malabarismos.

 

Se for de marca, não vale a pena ir para o mais caro. O Evel é barato e excelente.

 

Faça sempre questão de saber a colheita. Nesta altura do ano é totalmente inadmissível servirem-nos um branco de 2005. Temos todo o direito de exigir 2006.    

 

Champanhe

Adoro champanhe. Não ao ponto de beber seis garrafas por dia, como faz o Maradona. Mas apesar dessa ser a minha bebida preferida, acho um pouco pretensioso o pedido de uma flûte de champanhe num encontro profissional de fim de tarde.

 

O champanhe é melhor companhia para um jantar romântico, para uma festa em casa de amigos – ou para encomendar ao «room service» às três da manhã, com uma dúzia de ostras, para retemperar as forças para a segunda parte da noite.

 

Rosé

Num fim de tarde de Verão, pedir um copo de rose é uma belíssima opção. Os meus preferidos são os da Defesa e da Peceguina, mas o Mateus também é muito bom.

 

Mas se encomendar Mateus tem de estar preparado para contar uma série de histórias abonatórias da justeza do seu pedido. Uma delas pode ser o facto de ter ficado nos cinco primeiros lugares num painel de provas cegas promovido pela Revista dos Vinhos em que participaram 30 marcas diferentes.

 

Coca Cola

Um pedido destes tem de ser acrescentado de alguns detalhes («Encha por o copo com gelo estilhaçado, não em cubos», «Ponha, por favor uma rodela de lima misturada no gelo», etc).

 

Coke Light com sabor a limão é, na minha opinião, o pedido mais acertado. A Pepsi, sem mais, está nos antípodas (ou seja é o mais desadequado).

 

Conte a propósito histórias suas passadas nos Estados Unidos da América, se vir que o seu interlocutor ficou surpreendido com este pedido.

  

Água lisa

Às vezes, a melhor opção é a simplicidade. Água lisa, fresca, é um belo pedido. Mas deve esforçar-se um pouco no capítulo das marcas e explicar que gosta de água com sabor e lamenta o facto do paladar português ter sido educado pela Luso no gosto pelas águas desprovidas de sabor. A Evian, por exemplo, tem um sabor intenso.

 

Água com gás

Durante alguns anos, a Castelo fresca com uma rodela de limão funcionou para os meus «copos de fim da tarde» da mesma maneira que o ouro para os mercados financeiros.

 

A Água do Castelo foi e continua a ser um esplêndido valor refúgio. Aceito a Frize (mas sem sabores) e cada vez mais peço a Água das Pedras.

 

Também gosto muito da Castelo com sabor a lima e a limão.  

 

Nota final

Foi de propósito, não por esquecimento, que exclui desta lista o Martini,  uísque e cognac, que acho completamente desadequados à hora do dia, bem como todos aqueles cocktails com chapeuzinhos, que só se devem encomendar quando estamos de férias na República Dominicana com as despesas todas pagas.

 

…………………………………

(1)   Este pormenor das «top model» terem desembarcado milagrosamente no átrio do Sheraton, proporcionando uma camuflagem à minha atrapalhação, foi completamente inventado. O resto é verdade.

 

(2)   Não fiquem a pensar que estes elogios me vão garantir um aumento. Já ficarei satisfeito se não me derem um pontapé nas costas J

 

 

Seg | 06.08.07

Prefiro o mar salgado a uma piscina cheia de cloro e bifes

Jorge Fiel

 

A Romy Schneider e o Alain Delon que me perdoem, mas sinto-me muito melhor no mar salgado, com o corpo mais leve a ser embalado pelas ondas, do que numa piscina cheia de cloro e bifes.

 

A minha rotina de férias de praia, habitualmente preenchida com 15 dias no Zavial (perto de Sagres, lado selvagem do Algarve), foi este ano acrescentada de uma prótese.

 

Por um daqueles acasos em que a vida é fértil, estou a passar uma semana supranumerária de férias de Verão num aldeamento junto à praia de Santa Eulália, no coração do Algarve bife.

 

«Sabes, estamos no Algarve! E temos piscina. Várias piscinas». Este primeiro parágrafo do «report» telefónico que o meu filho João, sete anos ainda frescos, fez, ontem à noite, à sua irmã Mariana, revela a dimensão do alvoroço que a novidade piscina desperta na pequenada.

 

Eu não me queixo. Na idade deles também era assim. A primeira piscina que me fascinou foi a de uma elegante moradia em Saint Tropez, muito bem frequentada.

 

Foi um dia à noite, junto a esta piscina, que me foi dado a ver um dos mais belos movimentos eróticos que presenciei em toda a minha vida. Alain Delon abraça por detrás Romy Schneider, enfiando ternamente as mãos por dentro do vestido para lhe acariciar as mamas. (La Piscine, um filme de Jacques Deray, 1969, a Jane Birkin também andou metida neste barulho)

 

As piscinas também me atraíram muito, não só nos filmes, como também na vida real.

 

Fartei-me de fazer piscinas (cada treino diário importava em média uns bons três a quatro quilómetros) nas Antas.

 

Durante os três primeiros anos de adolescente fui um mais do que medíocre (só por um excesso de auto-indulgência me abstenho de me classificar como mau) atleta da natação do FCPorto, uma secção á época dirigida por um engenheiro chamado Belmiro e que trabalhava no grupo do presidente do clube, o banqueiro Afonso Pinto de Magalhães.

 

Já adulto, um dos meus ideais de felicidade contemplava ter uma casa com piscina. O momento perfeito com que sonhava era completar dentro de água o acordar estremunhado iniciado na cama.

 

Adoro nadar. Deixar-me afundar na água e depois voltar à superfície usando apenas alguns movimentos de corpo continua a ser um enorme prazer para mim.

 

(Um discípulo do Freud muito provavelmente identificará neste prazer as saudades dos nove meses passados dentro da barriga da minha mãe, um tempo feliz, despojado de responsabilidades.)

 

E o acordar é um dos melhores momentos do dia. Além de ser sempre um bom sinal. Temos de convir que não acordar é muito pior.

 

Há outros acordares felizes para além do despertar na água. Pessoalmente dá-me bastante prazer começar a fazer amor ainda a dormir e acordar a meio do acto.

 

Mas deixando a queca e voltando à piscina (duas coisas que continuo a achar incompatíveis, apesar de saber que esta minha posição é minoritária), prefiro mil vezes o salgado do mar ao cloro da piscina.

 

No mar, sentimos o corpo mais leve e embalado pelas ondas - e a densidade populacional é por norma bastante inferior à registada nas piscinas.

 

Não sou fundamentalista neste debate mar versus piscina. Reconheço que pode ser muito bom complementar uma tarde de praia com umas duas horas de estágio, numa daquelas cadeiras espreguiçadeiras, nas bordas de uma piscina, pontuadas por um mergulho, sempre que acabamos mais um capítulo do thriller que estamos a ler (o que tenho em uso é o The Mark of the Assassin, do Daniel Silva).

 

Mas reformulei um dos meus antigos ideais de felicidade. Dantes sonhava em ter uma casa com piscina igual aquela em que o Alain Delon acariciou as mamas da Romy Schneider.

 

Agora, se fosse rico, o que eu gostaria mesmo de ter era uma daquelas belas e espaçosas casas de madeira, como se vêem nos filmes, a dar para o areal, que me permitisse acordar e mergulhar no mar, após uma breve corrida na areia.

 

 

PS. Para a contabilidade final desta matéria, declaro considerar que a ausência de areia nas piscinas é, ao mesmo tempo, um ponto a favor e um ponto contra da piscina.

 

E reconheço que a piscina desfruta da vantagem de ter a água aquecida a uma temperatura mais agradável do que a do mar.

 

Sex | 03.08.07

A minha opinião sobre o estranho caso das melancias cúbicas

Jorge Fiel

 

Quando o calor aperta e a sede desperta, comer uns pedaços de melancia fresquinha pode saber tão bem como aquele primeiro gole numa cerveja estupidamente gelada.

 

Desde já um ponto prévio. Em minha casa, as fruteiras acomodam carregadores de telemóvel, lápis, elásticos,correspondência por abrir (ou até mesmo já aberta), borrachas, «post it» amarelos de formatos variados, tesouras, etc. Agora fruta é que não. A fruta guardo-a sempre no frigorífico. Gosto de a comer arrefecida. É uma das minhas idiosincrasias.

 

A melancia é provavelmente o mais bonito fruto do Mundo. Acho uma pedrada patriótica aquela combinação entre o verde manchado (ou mesmo o verde profundo, não manchado) da casca com o esplendoroso vermelho do interior.

 

Se eu estivesse ligado à moda, não hesitaria. Desenhava uma colecção de roupa Primavera/Verão usando e abusando dos verdes e do vermelho melancia.

 

Além de ser quase tão bonita à vista como um Cezanne (e ainda mais bonita que os auto-retratos dele), a melancia é óptima na boca. Sou doido pela sua textura. Chego a achar erótica a maneira como os bocados desta fruta se desfazem em água na nossa boca.

 

Podem argumentar os detractores da melancia (de certeza que os há) que ela não sabe a nada. Concedo que o sabor não é um dos pontos fortes da melancia. Mas, caramba, não se pode ter tudo.

 

Para mim já basta a melancia ser extraordinariamente bonita, barata, matar a sede e ter uma boca fabulosa (neste particular está nos antípodas do diospiro).

 

Há quem corte a melancia em fatias. Eu consumo-a em cubos. Desosso-a toda, acomodo os cubos numa taça enorme e meto-a logo no frigorífico. Para o vermelho não escurecer e manter o paladar (pode não ser muito intenso mas tem paladar, sim senhor) deve ser consumida nas 24 horas seguintes. O que em minha casa não constitui problema. Os meus filhos são ainda mais fanáticos pela melancia.

 

Uma questão polémica. As pevides pretas. A mim, elas não me incomodam rigorosamente nada. Não sou daquelas pessoas que com o auxílio de o bico da faca se dedicam a extrair metodicamente as pevides pretas.

 

A experiência de toda uma vida de comedor de melancia permite-me garantir-vos que as terríveis pevides pretas entram por um lado (a boca) e saem pelo outro (mais a sul), não havendo o mínimo perigo de estabelecerem raízes no interior do nosso organismo.

 

Acho encantador o formato gordo e desajeitado da melancia, que me faz logo lembrar os personagens de Botero. Sei que os maníacos dos japoneses conseguiram produzir melancias cúbicas. A ideia deles é aproveitar melhor o espaço no interior do frigorífico.

 

Reconheço que não é uma empresa fácil acomodar uma melancia no frigorífico. Mas, caramba, não era preciso inventar uma melancia cúbica. Basta pegar numa faca e transformar uma melancia em cubos!

 

Quando da conquista do espaço, americanos e soviéticos arranjaram soluções diferentes para o problema das esferográficas e canetas normais não funcionarem num ambiente sem gravidade.

 

Os americanos inventaram uma caneta que funciona no espaço (quando estive no supermercado da NASA em Houston comprei uma, pela graçola).

 

Os soviéticos passaram e equipar os seus cosmonautas com lápis.

 

No estranho caso das melancias cúbicas eu opto pela simplicidade soviética, enquanto os japoneses seguem o caminho mais complicado, tal como os americanos na questão das esferográficas espaciais.

 

Claro que os americanos têm a desculpa cultural e histórica do seu continente ter sido descoberto por acaso pelo desgraçado do Cristóvão Colombo, que pretendia chegar à Índia pelo caminho obviamente mais longo.