É com muito gosto que vos anuncio a inauguração do Consultório Sexual do blogue Roupa para Lavar. Saiba por que é que os homens se socorrem do truque do busto de Napoleão quando o que querem realmente é entrar no ânus da parceira!
A minha ideia inicial era integrar no Sunday Post o consultório sexual que hoje se estreia.Depois mudei de ideias. O que é bom porque, como em devido tempo notou o nosso preclaro amigo Mário Soares, só os burros não mudam de ideias.
Presumi que a imensa transcendência dos assuntos que serão escalpelizados neste consultório, obriga a ter um espaço e um dia dedicados. Estou a pensar em fixar a sua publicação algures entre a quintaà noite e a sexta de manhã. Será, pois, um aperitivo para o fim-de-semana, espaço privilegiado de lazer e tempo livre em que poderão amanhecer nas cabecinhas adoráveis das preclaras e preclaros as questões a serem aqui abordadas.
Numa vã tentativa de emprestar a este blogue uma patine de dignidade e classe, vou dotar este consultório sexual do seguinte Estatuto Editorial:
Prometemos dizer o que nos aprouver e sobretudo, quando nos aprouver. Sempre com a dignidade que os assuntos de sexo merecem.
(desde já aviso os mais distraídos que o presente estatuto editorial foi copiado, apenas com uma ligeira adaptação, do estatuto editorial do recém nascido Jornalismo de Sarjeta, um blogue com imenso potencial, da superior autoria da minha colega e Editora da Política Cristina Figueiredo).
A distinta Freudiana pergunta:
Por que é que os homens portugueses são obcecados pelo sexo anal?
As mulheres vêm equipadas de origem com três aberturas ao exterior, de primeira classe. A saber: boca, pipi e ânus. Por não serem chamados ao caso (recusarei sempre deter-me em práticas que considero aberrantes) não incluo nesta abordagem os orifícios menores, como ouvidos, narinas e o umbigo, que, como todos sabem, é um beco sem saída e habitualmente desprovido da mínima massa crítica do ponto de vista da profundidade (apenas serve para acumular cotão e/ou para enfeitar com piercings).
O pipi é a única abertura especificamente feminina. Daí a sua extraordinária relevância.
É pelo pipi que entra o porta aviões que lança os espermatozóides em direcção ao útero feminino.
É pelo pipi que saem (excepção feita à cesariana) os frutos do suave milagre da fecundação do ovário pelo campeão olímpico da multidão de espermatozóides.
É ainda no âmbito geográfico do pipi (compreendido pelas suas bordas e interior) que se desenrola o essencial da relação sexual canónica.
Sintetizando, o pipi acumula as duas valências nucleares. É a fábrica de bebés por excelência. E é a fábrica líder na produção de prazer para toda a Humanidade.
Chegados a esta importante conclusão, não resisto a pôr-me de pé, em homenagem a todos os pipis do Mundo, presentes, passados e vindouros. E incito todos as preclaras e preclaros a fazerem o mesmo, e a acompanharem-me na entoação sentida de duas singelas palavras de ordem:
Viva o pipi!
Longa vida ao pipi!
Todavia, o que a Freudiana pergunta não tem directamente a ver com o pipi, mas antes com uma das outras duas aberturas de primeira classe que o homem e a mulher têm em comum: boca e ânus.
A boca o ânus estão correlacionados, apesar de se localizarem em duas extremidades opostas. A propósito, acho por bem partilhar com as preclaras e preclaros um dos mais criativos insultos que ouvi na vida: «Estás a falar, ou tão só a fazer corrente de ar com o olho do cu?».
Para lém da fala, a boca é usada primariamente para a ingestão de alimentos e bebidas. Mas, como é do domínio geral, tem um uso marginal no domínio das relações sexuais. Estou a falar do sexo oral - do «fellatio» (também conhecido em português como uma peça de ourivesaria) , e não da conversa sobre sexo (que também é uma boa prática, mas não vem agora para o caso).
O ânus tem como função primordial a evacuação de gases e restos mortais de alimentos (empacotados sob um formato próximo das alheiras) rejeitados pelo exigente aparelho digestivo. Ora além de servir de esgoto interno, o ânus pode também ser usado como um local de prazer sexual.
Temos, portanto, que boca e ânus têm um papel a desempenhar nas relações sexuais. Exclusivo, quando de trata de relações homossexuais masculinas. Subsidiário, no caso da relação heterossexual.
A prática de sexo oral é mais consensual do que a do sexo anal. Em primeiro lugar, porque há sempre uma diferença abissal entre o diâmetro das duas aberturas. Em segundo lugar, porque as pessoas estão habituadas a meter coisa pela boca dentro, não tendo, por norma, o mesmo hábito relativamente ao ânus.
A prática do sexo anal não é uma modernice. Jean Luc Henning, na essencial «Breve História das Nádegas» (ed. Terramar, 184 págs) cita um curto mas elucidativo verso de um satírico setecentista:
«Deus fez a cona
ogiva enorme
para os cristãos
E o cu
abóboda cheia e disforme
para os pagãos»
Uma tese complementar é defendida pelo Marquês de Sade que na sua obra seminal «Filosofia na Alcova».
Defende o marquês, um sodomita encartado, que a garagem mais apropriada para o instrumento sexual masculino é a o ânus, justificando esta tese no facto de ambos (pila e olho do cu) possuírem o mesmo tipo de secção cilíndrica e por isso se encaixarem na perfeição.
Sade parte daqui para a a ousada afirmação de que a relação contra-natura não é a anal mas antes a vaginal.
Como é bom de ver, a tese inovadora e criativa de Sade não obteve acolhimento junto dos fazedores de doutrina da Santa Madre Igreja.
A apetência masculina pelo sexo anal não é por isso exclusiva dos homens portugueses nem é fruto do desvario de costumes da sociedade contemporânea. A pulsão pela sodomia é ancestral, mergulhando as suas raízes nos tempos.
Não obstante, o problema levantado pela Freudiana é real. Os portugueses ambicionam praticar sexo anal com as suas parceiras e numa boa maioria dos casos essa pretensão é-lhes negada.
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Esta negação feminina está na origem daquela que eu considero uma das secas histórias do vasto e rico anedotário nacional: a do busto do Napoleão (há quem a conte referindo Beethoven). Como penso que ela é do conhecimento geral, dispenso-me de a contar, limitando-me a chamar a atenção para a necessidade desesperada do macho de arranjar um pretexto para introduzir (salvo seja, isso queria ele) na conversa um temática que ele sabe de antemão é pouco popular para a sua parceira.
Sabemos que o prazer sexual se obtém a partir de bases diferentes, consoante se trata do homem ou da mulher.
A mulher acolhe no seu interior o órgão sexual masculino. O homem entra (penetra) no corpo da mulher. Ele tem prazer em dar. Ela em receber.
Neste sentido, acho natural que nós, homens, tenhamos vontade de tomar por atacado todas as aberturas disponíveis. Em experimentá-las a todas. A pulsão de navegar todos os mares disponíveis. De os conquistar a todos!
A relutância feminina relativamente ao sexo anal é no meu entender da única e exclusiva responsabilidade masculina.
Nós, os homens, somos, por norma, um pouco desleixados nos preparativos. Temos a terrível e inata tendência para negligenciar a suprema importância dos preliminares, e tentar ir logo direito ao assunto. Somos apressados. Queremos entrar o mais depressa possível. Está mal.
Em quase todas as esferas da vida (a corrida de 100 metros no atletismo está obviamente excluída deste rol), a pressa é inimiga do óptimo.
A entrada na boca, larga e cheia de saliva, e no pipi (lubrificado) não é por norma dolorosa. Já o mesmo não se poderá dizer do ânus, principalmente se não estiver a ser usado também como porta de entrada. As dimensões reduzidas deste orifício são habitualmente abordadas por nós, homens, à bruta, sem o prévio uso de lubrificação, o que causa dor e e origina a rejeição desta prática pelas nossas parceiras.
Esta rejeição gera o efeito de fruto proibido, aumentando a obsessão dos homens português pelo sexo anal.
Qual é a solução, perguntará a Freudiana. Paciência. Muita paciência do homem. E disponibilidade ad mulher para aceitar repetir uma experiência que no passado foi dolorosa e traumatizante.
O sexo anal não deverá ser o primeiro mas sim o último acto da relação sexual, quando a parceira já estiver bastante descontraída por um ou mais orgasmos. E a entrada deve ser precedida de carinhos e cuidados diversos que proporcionem uma espécie de anestesia local.Os preparativos podem incluir o uso de lubrificantes (a boa e velha vaselina é uma amiga a ter à mão) que acentue a elasticidade evidenciada pelo ânus na sua função evacuadora.
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PS. Com este «post» já vai longo e penso que há aqui pano para mangas para uma animada discussão, deixo para uma nova oportunidade a pergunta sobre o toque retal levantada pela chérie Magri. Peço-lhe desculpa por não responder já, mas garanto-lhe que não ficará sem resposta.
As ilustrações foram tomadas de empréstimo à «História de O», de Guido Crepax, Marginália Editora 172 páginas, 16 euros
Meio milhão de portugueses podem ser atirados para os braços do alcoolismo se o Benfica ganhar o campeonato nacional de futebol. A dimensão desta epidemia, afectando 5% da população portuguesa, é tal que seria um caso de calamidade em termos de saúde pública. A nossa sorte é que o FC Porto quem vai ser campeão.
A previsão sobre a epidemia de alcoolismo que grassaria no país sublinhando uma eventual vitória encarnada, baseia-se na extrapolação de um trabalho sério e honesto sobre o alcoolismo em Portugal, editado pelo diário Público na última segunda feira.
O diário superiormente dirigido por José Manuel Fernandes revela, na sua edição de 2ªfeira, estatísticas preocupantes - 50 mil portugueses são alcoólicos e 750 mil abusam do álcool - e conta-nos um caso humano pungente, o do benfiquista e alcoólico Pedro (nome fictício).
Pedro, 31 anos, vive em Lisboa e está nos últimos dias do programa de internamento no Centro Regional de Alcoologia do Sul. Há dois anos estava há oito meses sem beber quando se deu o momento fatídico que o atirou de volta aos copos.
«Recaí quando o Benfica ganhou o campeonato. Estava a jantar com um grupo e a ver o jogo. Estava toda a gente aos berros e eu disse assim: o Benfica ganhou o campeonato e eu vou começar a beber. Nunca mais parei», recorda Pedro (nome fictício).
A previsão de meio milhão de novos alcoólicos em caso de vitória benfiquista baseiam-se nas estatísticas oficiais reveladas pelo Público.
Como se sabe, há seis milhões de benfiquistas, ou seja 60% da população portuguesa. Estimando que 10% dos nossos compatriotas são agnósticos, ateus, membros da IURD ou adeptos puros da Selecção nacional desde que o Madail contratou o Scolari, ficam, por exclusão de partes, três milhões de adeptos para dividir entre o FC Porto e Sporting, o que não aborrecer ninguém serão distribuídos em partes iguais. Ou seja, 1,5 milhão e meio de dragões e outro tanto de leões.
Depois é só seguir o conselho de Guterres e fazer contas. Distribuindo os alcoólicos e o pessoal que bebe demais em idênticas proporções (o que me parece honesto e enxuto de qualquer resquício de clubite), temos que há 348 mil benfiquistas alcoólicos e 450 mil que abusam dos copos.
Parece-me óbvio que há uma enorme probabilidade dos 450 mil benfiquistas que já apanham regularmente grandes tosgas (fardas, se quiserem) se tornarem alcoólicos se o seu clube for campeão.
E a estes 450 ml eventuais novos alcoólicos há que juntar 52 mil alcoólicos em tratamento que teriam uma recaída tal como aconteceu há dois anos com o Pedro (nome fictício). Estes 52 mil são calculados a partir da estimativa que 15% dos benfiquistas alcoólicos se anda a tratar, tal como o nosos amigo Pedro (nome fictício).
Temos, por isso, que o número de alcóolicos portugueses duplicará, dos 500 mil actuais para alarmante cifra de um milhão (ou seja, 10% da população portuguesa) no caso do Benfica conseguir ser campeão. Para o bem de todos, Deus queira que esta catástrofe não aconteça.
REFLEXÃO
O que é preciso fazer para garantir um obituário decente?
Ando com este assunto na cabeça há um mês, mais precisamente desde que soube da morte do Alface.
O homem, que no BI respondia por João Carlos Alfacinha da Silva, morreu em directo (ou quase), sofrendo um AVC durante uma sessão pública sobre a sua obra, na Culturgest, e nem assim garantiu um obituário decente. A notícia do seu passamento foi sorrateiramente despachada em 22 linhas, a uma coluna, da página 20 (portanto, par) do Actual, encavalitada em cima de 14 linhas da evocação de morte de um outro escritor (Ruben A.) ocorrida há 30 anos.
Antes do mais vou fazer o manifesto dos meus interesses sobre esta matéria.
1. Adoro o Actual (provavelmente o melhor suplemento do Expresso) e tenho a melhor das ideias (profissional e pessoal) do seu editor (o meu preclaro amigo Miguel Calado Lopes) e da sua equipa;
2. Adoro a obra do Alface. Sou o feliz proprietário de três dos seus livros, publicados pela Fenda - «Um Pai Porreiro Ganha Muito Dinheiro», «Uma Mãe Porreira é Prá a Vida Inteira» e «Vovó Não Pises o Cocó» -cuja leitura muito em divertiu e instruiu. Ri-me a bom rir com a gaffe de Santana Lopes que ele involuntariamente originou. Certa vez, em entrevista televisiva, Santana, que à época presidia ao Sporting, referiu ter recebido ameaças, que insinuou virem do Porto. E como exemplo dessa ameaças, exibiu perante as câmaras um cartão anónimo que recebera em casa, com uma mensagem enigmática: Cuidado com os Rapazes. Ora esse cartão era o «teaser» do lançamento da obra homónima do bom do Alface (Deus o tenha em bom lugar, como é uso dizer-se nestas circunstâncias);
3. Adoro o meu conterrâneo Ruben A. Estou a ler a sua autobiografia, magistralmente intitulada «O Mundo à Minha Procura» onde nos conta a sua vida desde a infância passada na casa da rua do Campo Alegre agora ocupada pelo Jardim Botânico, onde passo todos os dias. E invejo a elegância da sua escrita, de que não resisto a deixar aqui um naco:
«Dos 40 aos 50 limpa-se a casa, põem-se as telhas onde faltam, instala-se um novo sistema sentimental e no jardim das delícias, no passeio depois do jantar, nas madrugadas sem Deus, ouvimos uma voz que nos buzina, que dali para a frente a contagem é outra».
4. Mais dia menos dia, mais ano menos ano, eu próprio, que já estou na outra contagem, vou morrer e já agora quero saber como posso garantir um obituário decente, aqui no Expresso.
Voltando à vaca fria. As 22 linhas, a uma coluna, numa página par, do obituário do Alface sabem-me a pouco, tanto mais que foram publicadas oito dias após a morte em público do escritor.
E também tanto mais adiante, a mesma edição do Actual dedica uma nobre página impar inteira ao passamento de dois estrangeiros: 123 linhas, a quatro colunas, para o Jean Baudrillard (sociólogo francês apresentado como polémico, sedutor e hiperbólico) e 48 linhas, a quatro colunas, para Henri Troyat, o escritor francês que nos deixa «mais de cem obras, entre romances e biografias» - pode parecer muito mas não é, ao fim e ao cabo ele andou por cá 96 anos e vivia da escrita.
Deste estudo comparado concluo que a Cultura é uma excepção à regra do jornalismo que diz que um morto na Póvoa do Varzim é mais importante que um milhão de mortos em Cantão. E que no meu caso particular tenho muito a ganhar se conseguir a nacionalidade francesa - coisa que está cada vez mais dificil, principalmente se o Sarkozy ganhar as presidenciais.
Mais recentemente, na sua edição de 31 de Março, o Actual dedica uma página ao obituário de António Manso Pinheiro, o editor da Editorial Estampa, falecido 16 dias antes. O obituário é assinado por José Mattoso, o historiador vedeta do momento (é a capa da última Única) , que dirigiu a História de Portugal do Circulo dos Leitores que nove em cada dez leitores do Expresso têm nas suas estantes (as lombadas são muito bonitas) mas que provavelmente nunca abriram- e fizeram bem pois não é fácil consultá-la, fica muito mais simples ir ao Google se quisermos desfazer uma dúvida sobre uma data ou um episódio da nossa história.
Do obituário de Manso Pinheiro, assinado por Mattoso, concluo que se quiser ter um obituário decente, quando for desta para melhor, o que eu tenho a fazer é ser proactivo e arranjar já, em vida, alguém conhecido, uma celebridade da área cultural, que se comprometa a redigi-lo. E rezar para que ele não vá antes de mim. A vida é assim. Quem vai para o mar, avia-se em terra.
NOVAS TENDÊNCIAS
Fenómeno «low cost» chega aos funerais
A propósito de passamentos, não posso deixar de partilhar com os meus amigos esta página de publicidade publicada pelo 24 Horas no passado sábado 31 de Março, e que tem o condão de lustrara chegada aos funerais do fenómeno «low cost».
Por apenas 700 euros, aFunerária Popular dá-nos a escolher sepultura ou cremação. Eu até mais ver opto pela cremação, mas ainda me estou a documentar sobre a nova moda dos enterros verdes, que têm a grande vantagem de evitar a possibilidade de que algum dos meus filhos me inale, num momento de desvario.
Bem, 700 euros é um pouco mais do que os 550 euros que me custou uma semana em Londres (estadia de sete noites no Tavistock,com pequeno almoço continental incluido, viagem de ida e volta na Tap e transfers do Heathrow de e para o hotel) e só incluem a viagem de ida. mas que diabo, não é uma viagem qualquer. trata-se da última viagem.
E 700 euros garantem uma data de serviços: florista, organização técnica (o que é que será, alguém quer dar uma sugestão?!), viaturas confortáveis, pessoal profissional e uniformizado (ou seja fardado e sem piercings nem tatuagens à vista), urna estofada (bom para as costas), lençol elenço, livro de condolências e coroa de flores natural. E ainda oferecem crédito se, juros e encargos até 18 meses.
Uma pessoa agora já pode morrer mais descansada. Estou convencido, vou reservar já o meu.
ACTUALIDADE
Diz que é uma espécie de engenheiro
«Diz que é uma espécie de engenheiro», o título que a revista Focus deu esta semana à peça que dedicou a questão das habilitações académicas de Sócrates, conquistou o Prémio Roupa para Lavar destinado a galardoar semanalmente o melhor título de imprensa sobre esta matéria.
O benfiquista Ricardo Araújo Pereira, com o seu genial artigo sobre a licenciatura (ahahahahahahah) de Sócrates, publicado na última edição da Visão, é o vencedor destacado de Prémio Roupa para Lavar destinado a galardoar semanalmente o melhor artigo publicado na imprensa sobre a matéria.
O debate entre os editores da Wikipédia sobre como descrever as habilitações académicas de Sócrates é o vencedor destacado do Prémio Roupa para Lavar Especial, destinado a galardoar contributos para esclarecer a matéria. Há editores da Wikipédia que preconizamque Sócrates seja apresentado como «licenciado» (ahahahahaahahah), enquanto outros, mais prudentes, defendem o uso da formulação «detentor de um diploma de licenciatura»
CONFISSÃO
Sim, eu adormeci no Crazy Horse em Paris
O facto de andarem à solta aí por Lisboa uma dúzia de bailarinas do Crazy Horse, impulsionou-me a fazer uma vergonhosa revelação. Aqui há uns bons 15 anos, fui a Paris numa viagem organizada pelo meu bom e fantástico amigo Michel Noblet (à época director do Meridien Porto). O Noblet levou-nos ao Crazy Horse e eu adormeci.
Um momento negro no meu curriculum que revelo desde já, como fazem os candidatos presidenciais norte-americanos (não percam a própósito o blogue Americano Expresso, que mora aqui ao lado, onde o meu colega Ricardo Jorre Pinto nos dá a conhecer os mais saborosos episódios desta corrida) que à partida arejam logo os esqueletos do seu armário, para assimdesarmadilharem o futuro e impedirem que esses esqueletos lhes sejam atirados à cara lá mais para diante numa altura muito mais inoportuna.
Feita a revelação (acreditem que no melhor pano cai nódoa) aproveito para fazer um anúncio e experimentar uma secção de curiosidades. O anúncio é a abertura experimental de uma nova secção aqui no Sunday Post: um consultório sexual. Durante a semana, as preclaras e as os preclaros fazem perguntas no âmbito da sexualidade que responderei no domingo seguinte. Até lá aí vão algumas curiosiadades neste dominio.
CURIOSIDADES
Você sabia que?
Para se candidatar a bailarina do Crazy Horse tem de ter menos de 28 anos, medir entre um mínimo de 1m66 e um máximo de 1m73, e o seu peso é contratualmente fixad. Se o exceder, fica suspensa até nova pesagem.
Jenna Jameson, famosa actriz de filmes porno, fez uma vaginoplastia, ou seja uma operação plástica ao mais precioso dos seus activos. Presume-se que a vagina estava a ficar lassa após a rodagem de mais de cem filmes.
Com o objectivo de melhorar a sua qualidade de vida, o Governo inglês vai distribuiur gratuitamente a todas as cidadãs que sofram de menopausa precoce um adesivo que liberta testosterona e assimaumenta o desejo sexual.
Nas últimas cinco décadas, a qualidade do esperma europeu não tem cessado de baixar e ao número de espermatozóides por mililitro ejaculado diminuiu de 113 milhões para apenas 66 milhões.
O meu interesse por Scarlett nasceu no galáctico «Lost in Translation» (sério candidato a melhor filme da primeira década do século XXI) e consolidou-se no «Match Point», que me reconciliou com o Woody Alen, com quem me tinha zangado a propósito do descabido (digo eu) «Stardust Memories».
Curiosamente, no inicio de Junho do ano passado (na tarde em que a Alemanha eliminou a Argentina no Mundial de futebol) estava a passear pela deserta Old Church Street, em Chelsea e vi um velhinho a sair de um belo carro preto (seria um Bentley). Cruzei-me com ele quando ele abria-a a porta de casa. Era o Woody Allen.
Alinho na primeira fila do coro de elogios ao «Match Point» mas acho injusta a desvalorização a que a generalidade dos criticos votou o posterior «The Tarot Card Killer», onde Scarlett surge esplendorosa na pele da estudante norte-americana de jornalismo Sandra Pransky e veste um fato de banho vermelho para forçar o conhecimento com Peter Lyman (Hugh Jackman), o assassino do tarot.
Adorei tanto as piadas de Syd Waterman (Woody), o falso pai de Sandra, que reproduzo três delas em vosso beneficio:
«I love you, realy, with all due respect, you are a beautiful person, you're a credit to you race»
«16 blue ponies, 21 airplanes, 12 spinning midgets»
(mnemónica para decorar a chave do quarto secreto do asssassino do tarot)
«I was born of the hebrew persusion, but I converted to narcisism»
Os meus amigos que fazem o favor de darem, de vez em quando, uma espreitadela aqui ao blogue são unânimes numa condenação. Dizem que eu sou um exagerado. Que aquilo que eu edito aqui não são posts. Em vez de postais, meto aqui pedaços mastodônticos de prosa, ensaios académicos, lições enfadonhas, áridas teses de doutoramento, encomendas postais de tamanho tão grande que têm de ser entregues em mão pelo carteiro já que não cabem em nenhuma caixa de correio.
Eu sei que eles têm razão.
Numa tentativa de corrigir esse defeito e aliviar o calvário das preclaras e preclaros que ainda não desistiram de visitar a Roupa para Lavar, apresento agora um «post» de dimensões mais reduzidas (se bem que não tão reduzidas como o vestido preto da mulher que vi em Moscovo e que tinha soquetes brancos pelo joelho e uns sapatos de salto alto cor rosa) com uma lista de oito actrizes de cinema que por um motivo ou outro me foram entusiasmando ao longo da vida.
É uma espécie de «strip tease» perigoso, uma confissão intima que só me atrevo a fazer porque apenas umas escassas dezenas de pessoas a vão ler, pois edito-a numa 6ª feira Santa (em que todos devemos estar afastados dos pecados da carne) e ela só estará no ar até domingo, data em que será substituída pelo Sunday Post.
Trata-se por isso de um «post» quase clandestino. Direi mesmo: Vintage. Os comentários vão-se contar pelos dedos das mãos. As visitas pelos dedos das mãos e dos pés juntos.
Dana tal qual aparecia na «Praia da China». Um mulher com uma farda fica sempre muito sexo é sempre sexy, não acham?
Dana Delany
A enfermeira Colleen Mc Murphy da fabulosa série «China Beach» é sem dúvida a minha mais durável e forte paixão à distância. Acho que ainda é a número um desta categoria (a platónica e unívoca). Dana Delany (o nome dela na vida real) é uma rapariga da minha idade (fornada de 1956) e nunca teve uma carreira por aí além no cinema.
Praia da China, que passou há alguns anos na televisão portuguesa (se não disponiblizam rapidamente a série em DVD eu começo a roer as unhas), foi o zénite da sua carreira. Ela é um doce. Olho para ela e fico logo cheio de vontade de lhe dar uma centena de abraços Nestumcom Mel. É uma queridinha com um sorriso que me faz derrete. Transpira bondade, mas no peito nota-se que não há só um coração bondoso a palpitar - há outro tipo de vida a mexer-se que não podedeixar-nos indiferentes. E aquele olhar compreensivo com um bocadinho de marotice no fundo... Demolidor;
Debra Winger
Chorei no cinema em Laços de Ternura. Da segunda vez que ela morreu de cancro num filme (ela especializou-se nesse papel) já fui capaz de me portar como um homem e conter as lágrimas. Mas continuou com um espaço reservado no meu espaçoso (embora doente) coração;
Annabela Sciorra
Foi quase exclusivamente por causa dela que vi sete vezes o «Funeral» de Ferrara. E não estou arrependido;
Meg Ryan
Aquela cena do orgasmo fingido, na Deli Katz (esquina da Houston, comaLudlow, em Nova Iorque; a sande de pastrami é imperdível) é uma das Sete Maravilhas do Mundo. Além de fabulosa, está muito bem sobremesada pela deixa da mãe do relaizador que está na mesa ao lado e pede ao empregado a mesma coisa que serviu à Meg;
Sharon Stone
O incontornável descruzar de pernas! Qualquer homem que se preze dava algum tempo de vida para ser o Michael Douglas no «Instinto Fatal». Eu sou o feliz proprietário de uma fotografia dela autografada (não ficou muito bem reproduzida porque não me dei ao trabalho de tirar o vidro antes de a digitalizar- é só para ficarem com uma ideia deste meu pequeno tesouro). Não percebo porque é que há gente que recorre ainda filmes porno para potenciar os motores de arranque. Acho o «Instinto Fatal» é muito mais eficiente. Tenho dito.
Julie Andrews
A primeira vez que fui ao cinema foi para ver o «Música no Coração», no Coliseu do Porto. De então para cá. calculo que vi pelo menos 27 vezes o filme que relata as aventuras e desventuras da família Von Trapp. Da primeira vez, eu teria apenas dez anos, mas senti logo um calorzinho cá dentro sempre que aparecia a boa da Julie. Hoje reconheço que ela era um bocadinho um pão sem sal. Mas que querem?!Fiquei a gostar de mulheres com cabelos curtos e com vontade visitar os jardins de Salzburgo (o que ainda não aconteceu);
Gong Li
Eu até nem acho as chinesas particularmente bonitas. Mas o ano passado quando vi o «Miami Vice» foi um «coup de foudre». Ainda para mais com aquele diálogo, em que o Colin Farrell: «Onde queres ir?» ela responde: «O que queres beber?»-a seguir dão gás ao barco e vão para la Bodeguita del Medio, a original, em Havana;
Scarlett Johansson
O seu olhar canibal durante a cena de pinguepongue, em «Match Point», era capaz de ressuscitar um morto. Qual Viagra, qual Ciallis!
Aí está o relatório russo mais esperado desde o não menos famoso, mas um pouco mais secreto, relatório apresentado pelo camarada Nikita Krushchev (Deus o tenha em bom lugar a ele que foi um dos responsáveis pela construção do belo e monumental Metro de Moscovo) ao XX Congresso do PCUS que como é do conhecimento geralfoi o pontapé de saida à desestalinização da URSS (CCCP se preferirem usar o alfabeto cirilico).
Após sete dias e sete noites em Moscovo, o genial autor da Roupa para Lavar (ou seja eu próprio, adoro referir-me a mim na terceira pessoa, como fazem os futebolistas), utiliza o formato salada russa para narrar aos incautos mas já numerosos frequentadores deste blogue aquilo que de mais emocionante viveu, viu ou experimentou na sua semana russa.
Um rapsódia em 14 andamentos que abre com a história de mulher do vestido preto curto, soquetes brancas e sapatos cor de rosa. Neste relato das aventuras de um repórter no antigo pais dos sovietes, fala-se de muita coisa, como, por exemplo, do facto do autor ter tropeçado em Moscovo no aquecimento global e da paixão à primeira vista que lhe inspiraram as peras russas. Também aqui se conta porque é que ficou intrigado com a obsessão moscovita pelo poeta Pushkin - lamentando amargamente ter ficado sem saber se o grande poeta era ou não o Grão Mestre da Ordem dos Cornudos (e já agora porque é que nos restaurantes vendem a vodka ao quilo).
1.MODA
A mulher dos sapatos cor de rosa de salto alto, meias brancas (pelo joelho) e vestido preto, extremamente curto
Estava de costas, debruçada sobre a mala aberta do carro, que se veio a revelar ser um Audi dos grandes (talvez um Audi 6).
Alta, com um vestido preto, curto e elegante. A reduzida dimensão do vestido conspirava com a posição (de bruços) no sentido de fornecer uma ampla e geneorosa panorâmica das suas pernas longas, cobertas até aos joelhos por meias de tipo soquete, que concluiam a sua missão na linha do joelho. Os sapatos, de salto alto, talvez Prada, eram cor de rosa.
Tive esta visão na 6ª feira a meio da tarde, quando descia a Novaya Ploschad em direcção à ulitsa Varvarka Ulitsa. Não cheguei a ver-lhe a cara. Tenho pena de não ter na altura comigo a máquina fotográfica, pois neste caso, uma imagem valeria mais do que esta centena de palavras.
A mulher do vestido preto, meias brancas pelo joelho e sapatos de salto alto cor de rosa representa o paradigma do moderno gosto russo - é uma fiel amostra do cânone de elegância moscovita.
2. VISTAS
Onde se constata que nem só de mulheres se alimenta o homem
Um exemplar dos chocolates produzido pela gloriosa Fábrica de Chocolates Outubro Vermelho
A mulher do vestido preto, com soquetes brancas pelo joelho e sapatos de salto alto cor de rosa não foi a mais gloriosa das visões que tive durante a minha estadia em Moscovo.
A mais esplêndida vista panorâmica de Moscovo desfruta-se, no meu entender, do meio da ponte pedonal sobre o rio Mockba, acessível pelas traseiras da catedral nova. É, com a devida vénia ao BES, uma visão de 360º graus.
À frente dos nossos olhos fica majestosa catedral de Cristo O Redentor (destruida por Stalin e recentemente reconstruida), com as suas cúpulas douradas a brilhar ao sol.
À direita segue o rio e o grandioso Kremlin, em todo o seu magnifico esplendor, com a fachada do palácio que foi dos cazares e agora é do Putin, a olhar para nós.
À esquerda vemos a fábrica de chocolates Outubro Vermelha, ao lado da gigantesca e impressionante estátua de Pedro o Grande.
Devo confessar que esta panorâmica sofre uma forte concorrência da Praça Vermelha. A catedral de S. Basilio, com as suas cúpulas em forma de cebola coloridas com cores garridas, equivale a uma bela paulada se saboreada à noite e já com um grão de vodka na asa. Believe me.
3. CONSELHO
Aprenda o alfabeto cirilico para não se perder e evitar armadilhas
Um bom exercicio é converter para o nosso alfabeto os titutos em cirilico da edição russa da Hello!
Nos anos 60, Scott Mckenzie aconselhou toda a gente que fosse a S. Francisco a levar uma flor no cabelo.
Nesta segunda metade da primeira década do séc. XXI, eu aconselho todos as preclaras e preclaros que vão a Moscovo a se iniciarem previamente nos mistérios do alfabeto cirilico. De outra maneira estão feitos ao bife.
Toda a sinalização pública (as placas com os nomes das ruas e estações de metro) estão escritos em cirilico. Não lhe vale de nada saber que está junto ao Bolshoy (está em obras) e que para visitar a sumptuosa estação de metro Mayakovskaya tem de apanhar o metro em Teatralnaya, embarcar na linha 2 (verde), e sair na terceira paragem, depois da Tversakaya.
Todos estes simpáticos nomes, relativamente fáceis de decorar e de dizer (o que já não é bem o caso da estação anterior da linha verde, que responde pelo inenarrável nome de Novokuztzkaya, mas que apesar disso é de visita obrigatória). Mas o que está escrito nas placas é uma coisa muito diferente que usa as 33 letras do alfabeto cirilico, das quais apenas cinco corrrespondem às nosssas (A.K.M.O e T).
Há armadilhas evidentes (o P deles lê-se R enquanto o H lê-se N) que só se podem evitar com algum estudo prévio. Pectopah é restaurante. Mais. Os russos são como o pessoal aqui do Porto. Trocam os B pelos V. A rua Varvark escreve-se Bapbapka. O aya com que finalizam muitas palavras escreve-se com um A e um R ao contrário. Se vir escrito 3AKPbITO à porta de uma loja,faça o favor de não insistir pois quer dizer que está fechada.
4. AVISO
De como as aparências podem iludir os cavalheiros de maus hábitos
À primeira vista, Moscovo pode desorientar os forasteiros que têm o péssimo hábito de se envolverem em trasanções comerciais tendo o sexo como objecto e em que eles se colocam na posição de compradores. Ou, dito de uma forma brutal, os homens habituados a ir às putas.
Moscovo pode desorientá-los porque eles olham para todos o lados e pensam estar na presença de uma gigantesca «overdose» de oferta. O que não é verdade. Uma boa parte das russas veste-se de uma forma que pode ser entendida como similar à usada pelas profissionais do sexo no mundo ocidental. Mas as aparências iludem.
As jovens russas têm muito orgulho nos seus meios de locomoção e por isso expõem-nos ao olhar alheio com uma enorme generosidade, usando saias curtas (ou até mesmo muito curtas), sapatos ou botas de saltos vertigionosos. Ou seja, disponibilizam a visão de bastantes centímetros quadrados de nylons cor de carne, pretos, de fantasia ou rede.
Esta generosidade na exposição do seus atributos, aliada a um porte usualmente atlético, maneira de andar e olhar desinibidos, gosto pelas maquilhagens pesadas e uso e abuso de combinações de cores pouco comuns do nossos lado da Europa, é claramente susceptível de induzir em erro o pobre do pessoal habituado a comprar sexo.
5.PERGUNTA
Traga-me meio quilo de Evel branco, de 2006, gelado e bem pesado, por favor!
Por que é que a vodka é vendido ao quilo (x gramas) e não ao litro?
Não tenho resposta para esta interessante e candente questão, mas acreditem que me esforcei por a encontrar. Mas acho um bocado ridiculo. Já se imaginou a entrar no restaurante Casa México e encomendar meio quilo de Evel branco, bem pesado?
6. MARAVILHAS
O inventário seco de nove entre muitas maravilhas que me foram dadas a ver
Foram muitas as maravilhas que vi em Moscovo. Sem pensar muito, inventario (a ordem é absolutamente arbitrária) nove:
1. A sala de jantar Arte Nova do Metropol, o hotel onde estive hospedado;
2. A estação de metro de Ploshchad Revolyucii, com os seus arcos de mármoree as 76 estátuas de bronze, em tamanho natural retratando outras tanats profissões: o gaurda vermelho, o piloto de aviões, a camponesa, o futebolista, o marinheiro, o operário (isto claro não desfazendo em muitas outras como a luxuosíssima Komsomolskaya ou a Mayakovskaya);
3. O centro comercial Gum (antigos armazéns do povo) na Praça Vermelha, o mais belo e elegante que vi até agora em toda a minha vida;
4. A Catedral de S. Basilio. Toda ela. Por dentro e por fora;
5. Os Jardins de Alexandre, ao fim da tarde;
6. As ruas (ulitsas) Ilinka e Varvarka (na zona da Praça Vermelha e Kitay Gorod), e a Prechistenka (na zona de Arbatskaya)
7. O Kremlin. Se um dia for a Moscovo não se esqueça de reservar um dia inteiro paar se deliciar com o Kremlin;
8. A mercearia fina Yeliseev, na Tversakaya Ulista, que dá um novo significado e dimensão à palavra fausto;:
9. O cemitério dos monumentos tombados, no outro lado do rio, ao lado do Parque Gorki eem frente ao monumento a Pedro o Grande, onde estão reunidas ao ar livre as estátuas retiradas dos seus pedestais no ocaso da URSS, como, por exemplo a gigantesca do Feliks Dzerhinsky (o odioso fundador da Cheka) que estava em frente à Lubyanka, a sede do tenebroso KGB.
7. EROTISMO
Peras melhores que esculturas de Arkhipenko
Uma das coisa que mais me impressionou nesta viagem foi o formato das peras russas, que como podem apreciar pelo exemplar da fotografia podem ser tão ou mais eróticas que as esculturas do Aleksander Arkhipenko que vi no Museu de Arte Moderna, da rua Petrovka.
8. AQUECIMENTO GLOBAL
O Inverno russo que derrotou Hitler e Napoleão já não é o que era
Durante os sete dias que estive em Moscovo, o céu esteve sempre pintado de azul cueca, a chuva não compareceu e o termómetro nunca de aproximou dos zero graus, mantendo-se o mercúrio encostado ao 15 graus. Uma agradável temperatura primaveril que atirava para as ruas e os bancos de jardim hordas de moscovitas, envergando roupas de Verão e que conversavam animadamente com a sua garrafinha de cerveja na mão.
O Inverno russo que derrotou a Grande Armée de Napoleão e a Whermacht de Hitler já não é o que era. Amaciou. Está de unhas aparadas. Não é que o último Inverno foi o mais quente e curto dos últimos 126 anos? Este ano só nevaram em Moscovo 28 centímetros de neve. Um ridicularia!
Este agradável tempo, ao que parece muito mais simpático do que se fazia sentir pela mesma altura no nosso pais, desmentia o meu guia DK/American Express que garante que a temperatura média (sublinho média) em Moscovo, nem Março, é de dez graus negativos. Afinal o Gore tem razão. O aquecimento global existe. Eu vi-o em Moscovo.
9. OBSESSÃO
Seria Pushkin o Grão Mestre da Ordem dos Cornudos?
Ainda há estátuas de Karl Marx no meio das praças (caso da Praça do Teatro Bolshoy). As foices e martelos são omnipresentes, designadamente nos baixos relevos nas estações de metro. O mausoléu do Lenine cotinua aberto (apesar de em horário reduzido, 10h00-13h00) na Praça Vermelha. No alto das torres do Kremlin ainda lá estão as estrelas vermelhas de cinco pontas que os bolcheviques puseram em substituição das águias bicéfalas dos tempos do czar. Pequenos bustos em bronze de Stalin são a coqueluche (eu próprio comprei um por mil rublos) nas bancas que vendem nas ruas recordações e réplicas dos tempos dos sovietes, apesar de não ser garantido que este busto tenha as mesmas propriedades que o do Napoleão para o efeito de desconversar e tentar apanhar a companheira de surpresa, aliciando-a para práticas de sexo menos canónicas.
Apesar desta pujante sobrevivência dos icones soviéticos, a maior das obsessões é pelo poeta nacional Alexander Pushkin. O nosso Camões (o Luís Vaz, não o meu particular amigo Afonso) deve roer-se de inveja. Pushkin teve um vida curta. Morreu cedo, vitima de um ataque de ciúmes.
Pushkin começou a receber cartas anónimas em que era tratado como o Grão Mestre da Ordem dos Cornudos. Não levou a bem. Desafiou para um duelo o oficial francês que ele suspeitava andasse enrolado com a sua bela mulher Natalya. E morreu na sequência dos ferimentos recebidos na sua vã tentativa de lavar a honra com sangue. Um desfecho trágico, mas bastante adequado à sua condição de poeta.
Apesar da trágico e precoce passamento, Pushkin está em todo o lado. Tem uma casa museu instalada na rua Arbat, onde foi terá sido feliz com a sua Natalya Goncharova. Tem uma estátua - que não foi nunca removida . Deu o nome a uma praça, a uma estação de metro, a um museu e a um restaurante (bem giro mas a evitar se quer escpaar a um verdadeiro assalto à mão armada por altura da chegada da conta!) .
10. POLITICA
Um humorista chamado Zyugonov, lider dos comunistas russos
Na noite das eleições presidenciais, um assessor chega junto de Ielstin e diz ser portador de duas noticias. Uma boa e uma má. Qual é a que o presidente quer ouvir primeiro?
Ielstin toma um calmante, enche o copo com vodka e pede-lhe que comece pela má.
- Zyuganov teve 62%;
A mão trémula de Ieltsin dirige-se para a pistola, enquanto pergunta quel a boa noticia.
- Vocêfoi eleito com 75% dos votos.
Zyuganov é o lider do Partido Comunista Russo e perdeu para Ieltsin as presidenciais de 1996 depois de ter estado à frente nas sondagens e na contagem dos votos.
Esta anedota é uma cem contadas num livro publicado a semana passada pelo dirigente comunista russo. A vida está má para toda a gente - é o moral que retiro desta história.
11. LIVRO
A misteriosa história de Olga Chekova, a sobrinha do dramaturgo
A história, o ambiente, a emoção e a tragédia da primeira metade de século russo encontra-se condensada nas páginas do livro de Antony Beevor «The Mistery of Olga Chekova». O autor dos incomtornáveis «Stalingrad» e «Berlin» aproveita uma história real da vida atribulada da sobrinha do dramaturgo Chekov para pintar um generoso fresco da vida russa desde o virar do século XIX para o XX e até ao final vitorioso da Grande Guerra Patriótica 1941-45 - é assim que os russos chamam à II Guerra Mundial 1939-45, fazendo esponja sobre os dois anos em que viveram em conúbio com os nazis, na sequência do vergonhoso Pacto Germano-Soviético assinado pelo criminoso Stalin.
The Mistery of Olga Chekhova, Antony Beevor, Penguin History, 300 páginas, 569 rublos (ou 8.99 libras)
12. QUADRO
I.N. Kramskoy usa uma enigmática desconhecida para nos ajudar a questionar o belo
Até fico arrepiado com a minha lata de escolher um quadro, apenas um, das centenas que vi no Museu de Arte Moderna e na Galeria Tretyakov (tentei debalde ir ao Museu Pushkin mas estava uma bicha de duas a três horas para entrar porque estava lá uma exposição do Modigliani).
Acabei por fazer uma escolha que me surpreendeu a mim mesmo. O quadro que me apeteceu seleccionar é o retrato de uma mulher desconhecida, pintado em 1883 (75,cm por 99 cm)por I.N. Kramskoy (cuja reprodução abre este «post»).
Escolhi-o porque me levou a interrogar-me sobre o conceito de beleza e a achar que o Leonardo não tem o exclusivo do enigma feminino com a sua Gioconda. Há outros olhares enigmáticos que pintores menos conhecidos lograram captar e transmitir às gerações vindouras. Concordam comigo?
13. MÚSICA
Aqui declaro a minha paixão por Uma Noite no Monte Calvo, de Mussorgsi
A banda sonora que me acompanhou na redacção desta longa rapsódia russa foi a disco da Festa da Música dedicada à Rússia (decorreu no CCB, de 27 a 29 de Abril de 2001) e que foi editado pelo Público.Incluiu excertos de obras de compositores russos famosos, como Tchaikovski, Rimski-Korsakov, Mussorgski, Rachmaninof, Chostakovitch eScriabine entre outros (omiti Stravinvsky de propósito, poisnão gosto muito dele mas estou pronto a reconhecer que o defeito é meu).
Mas aqui declaro, alto e bom som, que a minha peça preferida de música russa é o fantasmagórico Uma Noite no Monte Calvo, de Mussorgski (no arranjo dele e não no arredondado feito por Rimski Korsakov) , compositor a quem fui apresentado há uns bons 30 anos pelos Emerson, Lake and Palmer que lhe pediram emprestado o nome Quadros de uma Exposição e uma inolvidável melodia. Acrescento que acho o Lucky Man uma música fantástica. E que a minha paixão pela Uma Noite no Monte Calvo é apenas ligeiramente superior à que nutro pela peça clássica Quadros de uma Exposição)
14. CARTEIRA
Moscovo é uma cidade cara? Depende...
Não há uma resposta certa para a pergunta: Moscovo é uma cidade cara? Aí vão algumas pistas para construir a resposta num regime «do it yourself».
Um euro vale 34 rublos. Um bilhete válido para dez viagens no metro custa 140 rublos. Uma refeição (sumo de cenoura mais rolo mexicano) no Prêt-a-Manger custa 350 rublos. Uma cerveja local comprada na rua custa 28 rublos. Paga-se 300 rublos para entrar no Kremlin (mais 350 se quiser ver a Armaria onde estão as jóias dos czares), 200 para entrar na Galeria Tretyakova e 100 para visitar o cemitério das estátuas removidas. Uma matrioska de tamanho média compra-se por 300 rublos, o mesmo preço que pedem por um daqueles gorros azuis do Exército Vermelho.