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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Ter | 27.02.07

Como fazer um figurão no regresso de Las Vegas gastando apenas 3.98 dólares (mais taxas)

Jorge Fiel

 

A minha vida é um livro aberto. Por isso, na hora da despedida de Las Vegas, deixo aqui aos meus amigos três boas sugestões para prendas baratas, mas de grande efeito, para trazerem para familiares, amigos e conhecidos, se um dia se sentirem tentados a visitar a capital do pecado.

 

Este gesto, de factura larga, pode acarretar-me sérios problemas pessoais. Apesar do carácter praticamente anónimo e clandestino deste blogue, não estou livre deste «post» ser lido por pessoas a quem eu trouxe algumas das prendas aqui descritas - e que elas fiquem muito aborrecidas ao tomarem conhecimento das rídiculas somas que eu gastei com elas.

 

Não importa. Acho que com esta atitude provo de forma inequivoca que a Roupa para Lavar presta um serviço público superior ao praticado pela Sic com a exibição da Floribella.

 

Ora vamos lá á sugestões:

 

a) Baralho de cartas: 99 cêntimos

 

As cartas usadas nos casinos são posteriormente vendidas um pouco por todo o lado a um preço bastante competitivo;

 

b) Fichas: um dólar

 

Há imitações das fichas usadas nos casinos. Mas não há nada que chegue à «real thing». Na minha opinião as fichas mais bonitas são as do Bellagio. Por um dólar obtem, legalmente, uma ficha de um dólar. Tão simples quanto isto;

 

c) Dados viciados: 1.99 USD

 

Em qualquer loja de recordações pode adquirir dois dados rigorosamente iguais aos dos casinos que se atiram e dão sempre 11 ou 7, que me parecem ser os números mágicos do jogo (ainda não consegui perceber as regras, se alguém sabe faça o favor de mas explicar, que eu agradeço..).  Isso é conseguido pelo facto de um dos dados ostentar o 5 em todas as faces, enquanto o outro tem duas hipóteses: 6 ou 2.

 

 

5ª FEIRA 15 FEVEREIRO

All my bags are packed I'm ready to go

 

Não é exactamente um momento perfeito, mas anda lá perto. São dez da manhã. O tempo está bestial. O Fevereiro de Las Vegas equivale aos nossos melhores dias de Primavera. Estou sentado na esplanada do Starbucks do Golden Nugget a beber um copo enorme («venti size», maior que o «tall» e o «grande») de «coffee of the day», que garantem ser da Etiópia.

 

O Starbucks é assim. Levam-nos 3.07 USD por um copo de café (2.85 a mercadoria mais 0.22 de taxas para o Estado de Nevada) mas deixam-nos de bem com a nossa consciência, pois vendem café de Timor e da Etiópia, o New York Times e CDs da Joni Mitchell e da Maggie Gyllenhaal. O Starbucks é um filho bastardo do fabuloso poema America, de Gingsberg («America, quando serás digna do teu milhão de trotskistas?»). O Festival de Sundance é um filho legítimo pois não tem fins lucrativos - não é um «rip off» (uma roubalheira) como o Starbucks.

 

Apesar de tudo, eu não acho o Starbucks caro. Depende. Se se compra o café para levar e beber na rua é mesmo uma roubalheira. Mas se se encara o preço do café como algo que inclui, para além so preço da bebida, o aluguer da mesa, que vamos ocupar pelo menos durante três horas, a ler American Express de Las Vegas, a pôr o email em dia (apagando todos os mails que nos prometem emagrecer enquanto dormimos, «enlarge your penis» ou que oferecem Viagra e Cialis a preços de saldo), pastar a paisagem, dar explicações de francês, ou galar a mãe ainda um pouco gorda mas mesmo assim apetitosa e sequiosa de atenção que empurra cadenciadamente o «side car» com um bebé de peito metido lá dentro (é claramente a mão que embala o berço...), bem, se se trata disto, então o preço pode não ser assim tão caro...

 

Passei o meu último dia em las Vegas na «Downtown», que exala um ar deliciosamente decadente e tem na Fremont Street, uma rua coberta, o seu centro de gravidade.

 

A Baixa, que também responde pelo nome de Glitter Gulch, atrai criaturas ainda mais bizarras do que a sua irmã (muito) mais nova, a Strip, reluzente e sem rugas nem cheiro a mofo.

 

Bebi um café na esplanada do Starbucks do Golden Nugget, a admirar a bela fachada do Binion's, o casino-hotel fundado em 1951 por Benny Binion, jogador de Dlaas e contrabandista, que recebe ainda hoje em dia alguns dos mais excicitantes torneios mundiais de poker.

 

A Fremont Street estava cheia pelo som de «Clocks», dos Coldplay, «Born in the USA», de Bruce Springsteen, e «With you or without you» dos U2, enquanto eu, sentado na esplanada do Starbucks do Golden Nugget, tentava decidir se estava ou não a viver um momento perfeito.

 

Almocei  por sete dólares uma sandes de pastrami e uma Bud Lite no Golden Gate, o herdeiro do Sal Sagev (Las Vegas escrita ao contrário) o primeiro casino de Las Vegas, que faz questão de ainda vender a 99 centims o seu «shrimp coctail» (se bem que disponibilize a versão «big» a uns mais actuais 2.99 USD).

 

Espiolhei as casa de penhores (Pawn) sem arranjar coragem para compra o ouro consumido pela voragem do jogo.

 

Adorei passear-me pelo interior da fantástica Main Station, a estação de caminho de ferro do século XIX que foi reconvertida no mais charmoso dos hotéis-casino da cidade.

 

Depois voltei ao Luxor. «All my bags are packed, I'm ready to go», como cantaram os Peter, Paul & Mary. Dei um dólar de gorjeta para resgatar a Samsonite cinzenta que comprei por cem dólares, em Seul, há quatro anos. Apanhei o Shuttle que me levou por 5.50 USD ao aeroporto (à chegada «tipei» o motorista com um dólar). E apanhei o voo da Continental para Nova Iorque.

A chave do meu quarto no Luxor