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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qua | 29.11.06

Uma mulher assustadoramente elegante e estranhamente bonita chamada Lena

Jorge Fiel

 

O melhor livro de Banda Desenhada que li este ano foi «Le Long Voyage de Lena», pré-publicado em três capítulos na revista BoDoi (edições de Junho, Julho e Agosto/Setembro). 

 

É muito feliz o resultado deste casamento entre um hábil e surpreendente argumento, arquitectado por Christin (o autor de Valerian), e o desenho claro e luminoso de Juillard - que usa nesta história uma paleta de cores mais ao estilo do imperdível Le Cahier Bleu (nas aventuras de Blake & Mortimore, as opções ao seu alcance estão limitadas pelas baias da herança da Jacobs).

 

A viagem de Lena é mesmo longa, e transporta-nos dos arredores da antiga Berlim Leste até ao Dubai, com escalas em Budapeste, numa cidade universitária romena, em Buenos Aires e....

 

A misteriosa Lena, uma mulher tão assustadoramente elegante e estranhamente bonita, como o são todas as mulheres de Juillard (que a dotou de um nariz cumprido que só lhe acrescenta charme e carácter), tem uma memória prodigiosa e um passado envolto em nevoeiro e anda pelo mundo a distribuir embrulhos e mensagens, aparentemente ao serviço de um projecto terrorista.

 

O desfecho é surpreendente, pelo que não cometo a crueldade de o revelar. Fico à espera que Christin e Juillard se arrependam de ter dito que esta era uma «one shot story» e se disponham a fazer desta fabulosa aventura de Lena história a primeira de uma longa série.

 

 

Ter | 28.11.06

Sobre o flato e a dupla necessidade da sua educação e evacuação

Jorge Fiel

 

 Flagrante de Cândida Pinto a ler este texto

Há um verdadeiro catálogo de nomes para designar o fenómeno de libertação de gases pelo ânus.

 

Alguns cultos e educados - flatulência, meteorismo, aerofagia… - e outros mais rudes que penso ser desnecessário elencar, dado serem do conhecimento geral.

 

Estudos médicos recentes garantem que cada um de nós liberta, em média, litro e meio de gases por dia.

 

Confirma-se por isso tratar-se de um assunto que toca a todos, uma insofismável verdade que Né Ladeiras imortalizou na faixa «Não há cu que não dê traque» num disco da Banda do Casaco.

 

Nunca na minha vida, nem na adolescência, nem na tropa, participei naquelas brincadeiras de rapazolas, nos concursos em que o vencedor era o que mais vezes conseguia expelir ruidosamente gases pela retaguarda.

 

Sempre soube lidar de forma educada e contida com a minha própria flatulência, abstendo-me de emitir os flatos em público.

 

Mas não escondo que, no recato da casa de banho, tenho o hábito de preceder a satisfação das minhas necessidades fisiológicas de carácter sólido de uma generosa salva de traques.

 

Esta libertação de gases deixa-me sempre com uma agradável sensação de alívio. O ar que evacuamos por cima (arrotos) ou por baixo tem essencialmente duas origens. Ou é engolido (neste particular, o hábito de mascar pastilha elástica é fatal) ou é produzido internamente pelo nosso organismo, através da fermentação de bactérias que habitam o intestino grosso.

 

Se tem dificuldades em educar a sua flatulência, abstenha-se em absoluto de ingerir toda e qualquer variedade de feijão, seja ele frade, manteiga, preto ou vermelho.

 

E não tenha vergonha de em privado libertar-se dos gases. A flatulência não é uma doença, mas a acumulação dos gases provoca dores perfeitamente evitáveis.

 

Sab | 25.11.06

Como a teoria do Economista Maneta, de Truman, ajuda a explicar por que é eu uso um cartão de créd

Jorge Fiel

 

Uso um cartão Visa Universo por várias razões, a principal das quais é que sou excessivo.

 

É por detestar meias tintas que uma das minhas histórias preferidas é a do Economista Maneta.

 

Um dia, o presidente Henry Truman pediu ao seu «chief of staff» que lhe agendasse encontros com um pequeno grupo de economistas que o ajudassem a tomar uma decisão importante na área económica.

 

Quando acabou de os ouvir, Truman pediu ao «chief of staff» que lhe arranjasse um economista maneta, pois estava já farto de ouvir economistas que lhe diziam «on this hand this..., but on the other hand that...» (por um lado isto.., mas por outro lado aquilo...).

 

O presidente americano queria defendesse uma só posição. Não queria aturar mais economistas indecisos e medrosos.

 

Ao contrário de uma imensa maioria, não me parece que a virtude esteja no meio e aplico esta teoria a quase tudo na minha vida.

 

No que toca a cartões de crédito, a minha carteira só aceita duas hipóteses extremas. O American Express platina, sem tecto de crédito (dizem que se chegarmos com um cartão destes a um stand não hesitariam em vender-nos um Rolls Royce, mas provavelmente é publicidade exagerada), ou o Visa Universo, o mais popular e democrático dos cartões.

 

Aqueles cartões Gold a armar ao pingarelho têm a entrada barrada na minha velha carteira de couro preto, oferecida pelo saudoso Banco Comercial de Macau.

 

Graficamente, acho mesmo o Universo um cartão bonito (o azul é a minha cor preferida). Tenho apenas uma reticência. Ao dinheiro que lhes dou a ganhar, bem podiam (e deviam) oferecer a anuidade.

 

Mas há a atenuante da devolução de 1% do que pago com o cartão (percentagem que se eleva para 2,5% no caso da Galp, Pizza Hut e ofícíos correlativos) me ser devolvido sob a forma de cheques válidos nos hipermercados Continente.

 

Sex | 24.11.06

O BPI é tão meu amigo que até me escreveu uma carta a dizer que me dá um iPod nano 2 GB de prenda de

Jorge Fiel

Fiquei muito satisfeito por saber que o BPI está interessado em ter-me por cliente. Acho que todos nós gostamos de nos sentirmos desejados. A boa notícia chegou ontem à minha caixa do correio.

 

A Carla Chousal, directora central da Direcção de Marketing (com esta função ganha de certeza mais do que eu) começa por me dizer que eu não lhe sou desconhecido. Claro. O BPI conhece-me de ginjeira através dos generosos e abundantes movimentos que faço há vários anos com o meu cartão de crédito Visa Universo.

 

Neste caso, a satisfação é uma rua com dois sentidos. O pessoal do BPI esteve a analisar o histórico do meu cartão de crédito e gostou do que viu. Só falhei uma vez a data do pagamento - por poucos dias e por distracção.

 

Uso a opção de pagamento a 100%, o que é pior para o banco, que preferiria que eu contribuisse um pouco mais para a sua conta de resultados, recorrendo a taxas de juro com dois digitos, mas, enfim, não se pode ter tudo. O BPI concluiu que eu tenho potencial para ser um bom cliente.

 

Vai daí a Carla (cuja assinatura revela uma caligrafia tão arrastada que acho merece uma vista de olhos de um perito em grafologia) escreveu a tentar seduzir-me.

 

Se eu abrir até ao final de Janeiro uma conta no BPI para pagar a conta do meu Visa Universo, ela dá-me um de quatro presentes à escolha.

 

A lista é aliciante:

 

+ GPS Tom Tom One

 

+ iPod nano 2 GB

 

+ Máquina de café Nespresso Krups XN 2001

 

+ Pack DVD 5 séries do 24 Horas

 

Já tenho a máquina Nespresso (que recomendo vivamente, o sistema da cápsulas é fabuloso, sem bem que não seja barato, pois cada uma custa pelo menos 30 cêntimos).

O GPS seria muito útil para me orientar mas não me ajudava encontrar-me, que é realmente o que importa.

 

O 24 é a série das séries e eu estou morto por deitar a luva à 5ª série para a ver de empreitada, num fim de semana, mas já tenho as quatro sagas anteriores do nosso amigo Jack Bauer.

 

O iPod, bem o iPod acho que me dava jeito, pois acho que sou a única pessoa que faz jogging na Foz desprovida de fios brancos e auscultadores nos ouvidos.

 

No final da carta, a Carla desafia-me - «Aproveite já esta oportunidade única» - e aconselha-me a ligar para a Linha Universo para obter mais informações.

 

Acho que vou seguir o conselho dela. Quero ver as letras pequeninas desta «oportunidade única». Será que exigem que eu domicilie o meu salário no BPI? (Nesse caso nada feito). Qual será o saldo mínimo que a conta tem de ter? Por quanto tempo vou ter de manter a conta? 

 

Já tenho idade suficiente para não confundir o Fernando Ulrich com o Pai Natal. Não foi a descer pelas chaminés com um saco de presentes no ombro que os cinco maiores bancos portugueses lucraram 1,3 mil milhões de euros no primeiro semestre deste ano.