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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qui | 01.03.07

Uma prova em Nova Iorque da extraordinária utilidade dos jornais

Jorge Fiel

 

Ao fim de semana não há nada melhor do que começar o dia com uma grande caminhada. Por isso, na manhã de sábado, atravessei o Central Park lateralmente, de Este (onde está o Days Inn) para oeste (onde fica a Museum Mile).

 

O branco da neve substituiu o verde. Muito bonito. Tão bonito que até deu para eu fazer uma fotografia artística (ora digam lá que não apreciam a natureza morta?! que captei em Central Park). O busílis reside no gelo fino que dissimula ardilosas poças de água.

 

Apesar de estar a escrever num suporte informático sinto-me na obrigação de sublinhar a enorme utilidade dos jornais em papel.

 

Por duas vezes, a atravessar a rua, meti a pata na poça. Ou, escrito talvez de uma forma mais elegante (se bem que um tudo nada barroca a mais para meu gosto!), mergulhei ambos os pés em poças de água, camufladas por traiçoeiras camadas de gelo. À primeira vista aparentam uma solidez de betão. Mas ocorre um naufrágio das extremidades na água gelada mal colocamos o pé em cima delas.

 

Tenho por hábito viajar sem calçado de «back up».  Compreendem então porque fiquei aflito quando senti que a água tinha ultrapassado sem cerimónia a pele das sapatilhas Nike e o algodão das meias pretas Calvin Klein (compradas o ano passado no 21 Century, em frente ao «Ground Zero, a  9.99 dólares a embalagem de três pares).

 

O que me valeu neste momento difícil da minah vida foi o USA Today. Sentei-me num banco. Descalcei-me. Guardei as meias encharcadas numa saca de plástico (são inimigos do ambiente mas utilíssimos numa viagem). Embrulhei os pés húmidos em folhas do segundo caderno Sports (todo dedicado ao arranque da época da Nascar). E voltei a calçar-me. Um conforto. O jornal evitou-me o mais que certo resfriado.

 

Não foi a primeira vez que fui salvo pelos jornais. Num belo dia de Abril, em 2004, saí do Porto, de manhãzinha, em mangas de camisa, em direcção à Corunha. O Porto estava primaveril. Na Corunha, 300 quilómetros a Norte, chovia e fazia frio. Encharcado e enregelado nas bancadas do Riazor (onde o FC Porto venceu o Depor e apurou-se para a final da Champions) usei um velho truque dos sem abrigo e forrei o corpo com os jornais que tinha levado para por a leitura em dia e matar o tempo até à hora do jogo. Foi remédio santo.

 

Sepulto hoje os diários americanos. Como tive de encaixotar três dias num só «post» optei por um redacção mais seca, ao estilo de relatório. Não tenho a  certeza de que gostem, mas o que tem de ser tem muita força (e ficam a sabre o que fiz e quanto gastei nestes dias, o que pdoe ser interessanet se forem bisbilhoteiros).

 

Estou de partida para Londres. De férias. Volto no próximo fim-de-semana. E garanto que depois vou ficar pelo menos dois meses seguidos em território nacional.

 

Hasta la vista!

 

 

SÁBADO, 17 FEVEREIRO

O meu deslumbramento pelo Café Sabarsky, da Neue Galerie

Pequeno almoço no café Sabarsky, na Neue Galerie (rua 86 com a 5ªAve). Excepcional.  Um «breakfast basket» (para aí umas dez fatias de diferentes tipos de pão e bolos), com frasquinho de compota, frasquinho de mel e bocado de manteiga, acompanhado por um chocolate quente e cremoso (há pelo menos 20 anos que não pedia um chocolate quente!), tudo por 13 dólares (deixei ficar dois dólares de gorjeta). O ambiente é fantástico. Recria o charme clássico e elegante de um café vienense (é o que eles dizem e eu acredito, apesar de nunca ter estado em Viena).  O truque para arranjar mesa é chegar antes das onze da manhã, a hora de abertura do museu. O café abre às nove. Absolutamente imperdiveis. Quer o café quer o museu. Estou apaixonado pelos pequenos museus, muito melhores para saborear que os mega, tipo Met ou Louvre. O cartão Press permitiu-me visitar sem pagar uma exposição de belos trabalhos decorativos do arquitecto austríaco Josef Hoffman. Da colecção da Neue Galeria fazem parte alguns Klimts estupendos, entre os quais o célebre Retrato de Adele Bloch-Bauer.

 

Fim da manhã no Guggenheim que está em obras. Já extraíram todas as camadas de tinta da fachada deixando o granito à mostra. A pedra, que apresenta fissuras, vai ser tratada.  Entrada gratuita (bendito cartão Press) na exposição de pintura espanhola de El Greco a Picasso.  É desconcertantemente bom ver quadros um retrato de Goya ao lado de um do Picasso. Também muito Zurbaran, Velásquez, Murillo, Gris e Dali. Na loja do museu, comprei para o meu filho João um pião que desenha com o bico (e que vem com bicos de várias cores). Custou dez dólares. Não foi barato.

 

Passeio à tarde na Union Square onde comprei,  no mercado de rua, três sumarentas maçãs starking por 1.40 dólares. Com uma mega loja da Virgin, outra da Staples e a um passo da Strand (a mais espectacular e barata livraria do Mundo),  a Union Square é, muito provavelmente, a minha praça favorita em Nova Iorque.

 

Na Strand demorei-me à vontade uma hora, mas não me tentei por nenhum livro. Comprei uma esferográfica e duas T Shirts (uma verde farmácia e outra bordeaux), tudo com o logo da livraria, por 9.20 dólares.

 

Conrinuei para Sul. A próxima paragem foi Canal Street, a pátria das contrafacções. Dez dólares (não regateei) por um relógio Frank Muller com pulseira cor de rosa e os números das horas coloridos. Vinte e três dólares (a licitação começou nos 35) por uma mala Dolce & Gabana preta com furinhos coloridos (muito fashion).

 

No caminho para a habitual romagem ao Dean & Deluca da Broadway com a Prince Street comprei para mim um pacote de três boxers Fruit & Loom, lisas e coloridas por 9.99 USD.

 

Café no piso de baixo da Grand Central Station (é impossível deixar de a visitar se se está em Nova Iorque) por dois dólares.

 

Jantar no Subway vizinho do meu hotel por 8.20 dólares. Como já não havia sandes de pastrami, variei de menu e encomendei a «turkey breast (b.r.e.a.s.t. ) with swiss cheese», na versão «toasty» (ou seja levou uma entaladela no grelhador. Mais uma diet Coke de meio litro.

 

Antes do xixi-cama dei um passeio nocturno pelas redondezas do hotel, até à rua 104. Dez blocos, portanto. A vizinhança é bem mais atractiva do que eu pensava. Para além dos McDonald's e Starbucks, há muito restaurantes étnicos cheios de bom aspecto - franceses, turcos, mexicanos, japoneses e até um raçado de japonês e peruano (escola Fujimori). Fiquei um «diner» de esquina debaixo de olho. Talvez amanhã.

 

 

DOMINGO 18 FEVEREIRO     

A boa sopa de tomate, arroz e basílico do Au Bon Pain da rua 56

 

 

Breakfast no Starbucks da rua 98. Paguei 3.97 dólares por um «raspberry muffin», café do dia («venti size») e pelo uso da mesa durante mais de uma hora, a ler o Usa Today (oferecido pelo hotel, nem tudo é mau no Days Inn do Upper West Side) e a preparar o dia.

 

Passeio pelo centro comercial de Columbus Circle. Tem duas estátuas, grandes e bonitas (um monstro homem e uma monstro mulher), e uma boa livraria Borders. Comprei três maçãs Gala Royal (três dólares) no supermercado da cave.

 

Como já vou embora a manhã aproveitei a visita ao Rockfeller Center para compras duas pequenas prendas: uma coluna de mangneto (bem gira; separa-se em duas partes e tanto pode ser usada no frigorífico como para segurar uma fotografia) para os meus tios, por 8.26 dólares (estava em saldo), na loja do Met, e um gorro bordeaux (cinco dólares), em lã, para a minha mãe, no NBC Store.

 

Sopa de tomate, arroz, cebola e basílico por 4.87 dólares no Au Bon Pain  da rua 56. Estva muito quente e era muito boa. Aqueceu-me por dentro e por fora. Com este frio não se pode andar muito tempo na rua. De vez em quando é indispensável fazer escala em ambientes aquecidos.

 

O FAO Schwarz em frente ao Plaza (que está a ser adaptado de hotel em apartamentos), junto ao Central Park, não tem «Sponge Bob stuff». Só na Toys 'r' Us.

 

A mega store desta cadeia em Time Square estava cheia de gente. Vi adultos a andarem na montanha russa. Fiquei tentado. mas acho que não levariam a bem que me apresentasse na fila para entrar sem levar uma criança a tiracolo.

 

O «merchansiding» do Sponge Bob era pindérico. Porta-chaves, esferográficas e blocos de notas personalizados. Mas nada com o nome John. Que é feito dos Johns norte-americanos? Mesmo assim comprei um «key ring» (2.99 USD) e um «notepad» (1.99) do Sponge Bob para o João.

 

Como contrapeso adquiri também uma bola do Cars (com a imagem do Faísca McQueen) com um «candy» lá dentro. 0.99 cêntimos, pois trata-se de uma promoção com os restos do Natal.

 

Jantar num McDonald’s perto do hotel. Um «wrap snack» de frango, «crispy», com «honey mustard», batatas fritas e «diet coke». Tudo por 4.50 USD..

 

Recolher cedo para ver na televisão o All Stars da NBA e rever a Strip em boas imagens do entardecer em Las Vegas, filmadas pelo TNT. O West arrasou o East (eu estava a torcer pelo Este, tanto mais que, por estar lesionado, não pode alinhar pelo Oeste o canadiano Steve Nash, que é meu jogador preferido). Um espectáculo grandioso. No intervalo, actuaram a Toni Braxton, Cristina Aguilera (ouvi dizer que estava grávida..) e o Le Cirque du Soleil - o melhor dos três.

 

 

SEGUNDA 19 FEVEREIRO

O cheiro nauseabundo de um «homeless» a apodrecer numa carruagem do metro

 

Antes de acabar de fazer a mala, fiquei na cama a dar cabo de mais cem das 400 páginas do The Broker, de Grisham. Já só ficam umas cem para ler no avião.

 

Na viagem de metro para a estação do World Trade Center (onde ia comprar o bilhete de comboio, que custa nove dólares, para o aeroporto de Newark) fui vitimado por um cheiro nauseabundo. Completamente podre. A carruagem onde entrei estava praticamente vazia. Pudera! Estava lá a um sem abrigo a desfazer-se em sangue e necessidades fisiológicos. Saí logo, mas fiquei com o cheiro no nariz durante algum tempo e com pena das três ou quatro pessoas que não tiveram o meu bom senso e rapidez e foram obrigadas a viajar até à paragem seguinte na carruagem empestada.  Fiquei com a palavra de ordem «Homeless go home!» gravada na minha cabeça. 

 

A estação do WTC foi desenhada por Calatrava e sente-se logo isso. Lá dentro rapa-se um frio de morrer. Entra frio e vento por todos os lados. As estações «cabriolet» podem estar bem no Verão meridional de Valência mas são incompatíveis com os gélidos invernos de Nova Iorque. E mesmo em Lisboa, na Gare do Oriente...

 

Pequeno almoço tardio no Starbucks em frente ao 21 Century. Como está semi-tapado por um tapume, há mesas disponiveis. Regular Coffe mais um raspberry scone. 5.07 dólares.

 

Dei uma volta pelo 21 Century (o melhor «outlet» do Mundo, na minha opinião) mas consegui sair sem comprar nada.

 

Passei a manhã no National Museum of the American Indian, que vale uma visita. Não só pela colecção mas também pelo edifício em que está instalado, a Costum House. Recomendo vivamente investir uma meia hora na belíssima rotunda do 2º piso decorada com impressionantes frescos.

 

Depois fui comprar chocolates e hot curry ao Dean & Deluca, um magneto para o frigorífico à loja da NY Transit Authority na Grand Central, dois CDs (Tapestry, de Carole King, e a banda sonora do Happy Ending, a dez USD cada) na Virgin de Times Square, e cinco «paperbacks» (de Daniel Silva. Harlan Coben e Ludlum, a 7.99 USD cada) na Borders de Columbus Circle.

 

Peguei na mala no hotel (mais um dólar de gorjeta) e fui para Newark (ler nuâque) apanhar o avião de regresso a casa.