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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Dom | 30.12.07

O método infalível de evitar a fila mais demorada

Jorge Fiel

 

 

Fixem bem esta cara. É a minha. Se por acaso me virem numa fila (preferi esta designação à de bicha, no intuito de evitar equívocos e graçolas de gosto duvidoso) não hesitem um segundo antes de procurar uma outra. Aquela em que eu estou será a mais demorada. É infalível!

 

Ao fim da manhã de ontem, levei o meu filho João ao Oceanário de Lisboa. Havia uma fila única de razoáveis proporções que um pouco antes de chegar às caixas se dividia em duas.

 

Eu optei pela fila da esquerda. Demorei mais 25 minutos até conseguir comprar os bilhetes que as três jovens espanholas que estavam atrás de mim e escolheram a fila da direita.

 

Para começar, foi o longo diálogo de uma senhora de idade com óculos de escuros graduados que esteve quase dez minutos na conversa com a menina da caixa. 

 

Fartei-me de espremer as meninges e não consigo descortinar a enorme quantidade de perguntas que alimentaram aquela irritante converseta. Mais de uma vez tive acalmar o impulso de abandonar o meu lugar na bicha (digo, fila) para ir para o pé da senhora de óculos escuros graduados ouvir as perguntas.

 

Depois, a minha fila já de si, sem chatas a empatar a rapariga da caixa, andava muitíssimo mais devagar que a da direita. Percebi o porquê quando chegou a minha vez. Do lado direito havia duas caixas abertas. Do lado esquerdo, só havia uma.

 

Ao fim da tarde, após uma vista de olhos na Byblos (a recém inaugurada maior livraria do paÍs com uma área de vendas de 3.300 metros quadrados), fui ao Pão de Açúcar das Amoreiras comprar pão (prokorn fatiado), limões (para temperar os calamares) e uma garrafa de espumante (Aliança Danúbio Bruto).  

 

Na hora de pagar, elegia a que parecia ser a mais promissora das filas, reservada para compradores de menos de 15 unidades. Tudo correu bem demais até que a senhora que estava antes de mim contestou o facto da caixa ter processado as três embalagens de lombos de pescada congelados, alegando que o produto em causa estava ao abrigo de uma promoção «leve três pague dois».

 

Exasperado com a demora (ninguém atendia o telefonema da menina da caixa que procurava passar para uma superior hierárquica a decisão final do caso dos lombos de pescada congelados), transferi-me para a fila do lado, na ignorância do desfecho desta apaixonante querela.

 

Na fila do lado, o primeiro cliente despachou-se sem peripécias. O problema foi com o casal de idosos que estava a seguir. O pomo da discórdia foi o preço de dois pacotes de Ceralac (é bom para o avô e é bom para o bebé) que apresentavam o atractivo de conterem, gratuitamente, mais 15% de farinha do habitual.

 

Os idosos alegavam que a leitura do código de barras fornecia um preço superior ao que estava marcado na prateleira.

 

Presumo que a mesma superior dos caixas que não atendia o telefonema da caixeira do lado também não atendia o telefonema do caixa da minha segunda fila.

 

Pela segunda vez, mudei de fila, uma decisão que se revelou sábia, porque depois de pagar dei uma olhadela e reparei que os meus dois caixas anteriores continuavam a desesperar ao telefone.

 

Estes dois episódios não são uma excepção á regra. Uma andorinha que não faz a Primavera. Lamentavelmente, são reveladores de uma tendência.

 

No início deste ano, quando desembarquei no aeroporto de Newark em trânsito para Las Vegas, escolhi uma fila surpreendentemente pequena (só tinha cinco pessoas à frente) para a sempre morosa tarefa de atravessar os serviços de emigração norte-americanos.

 

Poupo-vos aos pormenores e salto directamente para o final. Só duas horas depois consegui atravessar a fronteira. È a vida, como diria o Guterres.

 

 

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