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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Qua | 26.10.11

Apaixonei-me pela Bona, a meio da ul. Kanonicza

Jorge Fiel

 

Estava guardado para o fim o melhor bocado. Nas minhas deambulações matinais, a meio da Kanonicza (provavelmente a mais bela rua de Cracóvia), tropecei numa livraria assinalada por um bonito letreiro e com uma fachada atraente, decorada por um estante em baixo relevo e de apreciáveis dimensões (ver foto).

Entrei e deu-se o célebre coup de foudre. Foi um caso série de amor à primeira vista porque aquela pequena livraria (com uma apreciável oferta em línguas  inglesa, alemã e espanhola) chamada Bona, com um também pequeno mas encantador café lá atrás, ao fundo.

Resisti à tentação de me sentar, encomendar um café (e, quem sabe?, uma fatia de uma tarte que estava com um aspecto delicioso e eu com a idade estou a ficar um bocado guloso, deve ser para ver se consigo ficar diabético) e deixar-me ficar a ronronar naquele ambiente morno e acolhedor.

Não. Não me podia distrair. Tinha de cumprir o trajecto do passeio laboriosamente desenhado cerca de uma hora atrás, à mesa do TriBeCa Coffee. Da maneira esquinada e perigosa como o mundo está, uma pessoa nem nas férias ou momentos livres pode fraquejar. Primeiro, a devoção. Só depois de podermos arvorar um sorriso de satisfação pelo dever cumprido é que nos podemos deixar embalar no colo lúbrico da diversão.

Apressei o passeio delineado, de modo poder por um ponto final de categoria à viagem,  gozando uns bons 45 minutos no café Bona.  A coisa ia dando para o torto.

Fiquei bastante desapontado ao ver todas as mesas ocupadas, quando voltei ao café/livraria Bona (mais ou menos a meio da Kanonicza, do lado esquerdo quem sobe, não tomei nota do número exacto e eles tinham os cartões esgotados), passavam poucos minutos das 15h30.

Não desisti. Deixei-me ficar à espera que uma mesa vagasse, o que não tardou acontecer, recompensando a minha paciência e perseverança, duas qualidades que nunca será demais elogiar (auto-elogiar, no caso).

Que mais hei-de dizer? Foi muito bom. Tudo. O café (seis zlotys), a música, a empregada (ainda hoje me arrependo de não ter tido lata de lhe pedir a referência do CD que estava a tocar), o ambiente.

Eu sei que temos a tendência a sobrevalorizar o mais recente. É por isso que um caso ocorrido no final do ano tem muito mais probabilidades de ser eleito pelos jornalistas como Acontecimento do Ano do que um outro, de importância idêntica ou superior, que teve lugar no início do ano. Mas, mesmo correndo o risco de estar a sofrer dessa desfocagem, dou 18,5 valor, numa escala de zero a 20, ao Bona. Se pudesse, importava aquele ambiente todo para o Porto.

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