O estuporado sentido do dever que se entranhou em mim
Mer Noire passa-se em Lucerna, um das mais bonitas cidades suíças
O sentimento judaico-cristão de culpa é o único e exclusivo responsável por eu estar neste momento sentado ao computador a escrever este post em vez de estar instalado no sofá da sala a ler o capítulo 17 das aventuras de Largo Winch (1) e a ouvir aos berros, nos auscultadores, o CD 2 (2) da caixa 111 More Classic Tracks editada pela Deutsche Grammophon para comemorar o seu 111º aniversário – com a Ciência e evoluir como está não tarda nada em que seja corrente haver seres humanos a festejaram idêntico aniversário.
Eu bem queria manter esta Lavandaria com um mínimo de quatro a cinco centrifugadelas novas todas as semanas, mas as espinhas da minha vida de biscateiro impediram-me de cumprir isso nestas duas últimas semanas (os feriados de Natal e Ano Novo são liquidados, a pronto pagamento, em trabalho de avanço) que foram infernais, ao ponto de ter negligenciado tarefas tão básicas e íntimas como aparar os pelos que teimam em estar sempre a sair das narinas e cortar as unhas dos pés.
Sinto-me culpado por não ter conseguido postar durante duas semanas e para tentar estar logo à noite em paz de espírito eis-me aqui a teclar, furiosamente, antes de ir por os mails em ordem e responder a todos os votos personalizados de bom Natal que caiam na minha caixa de correio – ou no telemóvel (um A1, com sistema operativo Android, com o qual, diga-se, estou bastante satisfeito).
O meu programa para esta tarde não era este. Passei o início da semana dilacerado entre o dilema de na tarde da véspera de Natal ir ao cinema (já não vejo um filme há nove meses!) ou levar a minha mãe ao cabeleireiro. A Isabel dissuadiu-me desta última hipótese (garante que hoje é o segundo pior dia do ano para ir ao cabeleireiro) e este estuporado sentido do dever que tenho entranhado em mim impediu-me de ir ao Arrábida.
Aliviado por ter redigido esta satisfação, desejo a todos (e quando digo todos, quero mesmo dizer todos, mesmo benfiquistas) quantos por alguma tropeçaram nesta Lavandaria que, logo à noite, o bacalhau vos saiba pela vida – e que não poupem no tinto porque um dia não são dias.
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(1) Mer Noire, Philippe Francq e Jean Van Hamme, Ed. Dupuis, que comprei ontem na Fnac do Vasco da Gama à boleia da compra de uma prenda de Natal de última hora
(2) Chamo a vossa atenção para versão da Annie’s Song, de John Denver, interpretada pela London Symphony Orchestra, com James Galway na flauta