Onde se diz mal do mercado de Petticoat Lane, que é uma feira de Espinho rasca em formato XXXL
O mercado de Petticoat Lane – simpática toponímia herdada do tempo dos refugiados huguenotes, que o duvidoso gosto anglo-saxónico rebaptizou Middlessex Street – não tem muito que se lhe diga. É uma feira de Espinho ou de Carcavelos em formato XXXL que apenas merece uma visita só para ficarmos habilitados a inclui-lo na lista dos mares já dantes navegados.
Petticoat Lane é o lado mais pobre e rasca da oferta do East End nas manhãs de domingo, em que os elos mais fortes são o mercado de flores de Columbia Road e o trendy (e coberto) Spitalfields Market – para já não falar na feliz combinação entre tendas de rua e lojas de tijolo da Brick Lane, celebrizada por Monica Ali (o titulo da tradução portuguesa, “Treze rios, sete mares”, apesar de algo poético revela-se profundamente desnecessário), uma experiência que tem a sua dimensão sensorial no cheiro a caril que emana dos restaurantes com comida bengali, indiana ou paquistanesa.
Como era domingo de manhã, em vez de irmos papar uma missinha na Christ Church (considerada a mais bonita das seis igrejas riscadas por Nicholas Hawksmoor, o que acredito ser verdade, tanto mais que não conheço as outras cinco), cumprimos religiosamente o percurso pela zona - com ida e volta a Liverpool Street Station - sugerido num folheto oferecido numa livraria de Brick Lane especializada no East End, o que nos permitiu concordar em absoluto com o gosto dos yuppies que estão a recuperar as casas de Fournier Street, outrora habitadas pelas sucessivas vagas de refugiados franceses, judeus e bengalis que por aqui se foram acoitando.
Na volta, o AC fez bem ao comprar para a Margarida um magnífico chapéu de coco (igualzinho ao Hercule Poirot e ao dos gémeos Dupont e Dupond) no Spitalfields Market e tentamos sem sucesso beber um pint no célebre pub Ten Bells, onde, mesmo depois de cortarmos as unhas rentes, nem com calçadeira conseguíamos entrar.