S-P=X, sendo que X > Y
Aquela velha história dos chineses usarem o mesmo ideograma para representarcrise e oportunidade aplica-se como uma luva às consequências do thatcherismo nas vidas de raparigas portuguesas – como a Eunice (nome fictício), que foi minha senhoria durante uma semana algures em meados dos anos 90 - que foram para Londres trabalhar au pair e que por aqui ancoraram depois de se terem casado com gregos, madeirenses ou espanhóis.
A fúria privatizadora do thatcherismo obrigou as nossas compatriotas a adquirirem a preço de saldo as casas (basements floors em Porchester Gardens, nas imediações de Queensway, ou andares em projects para os lados de Regent’s Park), ainda para mais com um seguro jeitoso a acautelar a hipótese de serem lançadas para o desemprego.
A Eunice e restantes moças fizeram aquilo que o Guterres tinha dificuldade em fazer e concluíram que era um disparate acabado continuarem empregadas, pois teriam mais dinheiro no bolso e tempo para gozarem a vidinha se fossem despedidas, uma vez que o seguro pagava a prestação do mortgage.
Dito por outras palavras, fizeram as contas e espreitaram uma enorme janela de oportunidade. S (salário) – P (prestação do crédito a habitação) = X, sendo que X era menor que Y (subsidio de desemprego). Como agravante podiam engordar o Y alugando as casas ao dias ou à semana a turistas, recolhendo-se durante esse período em casa de outras amigas ex-au pair.
Além de merecer a minha admiração pela sua simplicidade desarmante este esquema permitia aos turistas beneficiar de alojamento barato em Londres, com o conforto de poder fazer refeições em casa - o que além de cómodo induz poupanças suplementares. Tenho muita pena de ter perdido o contacto deste rede. Se, por acaso, alguma preclara ou preclaro souber do paradeiro destas moças, terá provado que o mundo é efectivamente pequeno – e pode fazer-me o favor de me enviar as respectivas coordenadas delas.
Queensway, início da tarde de 5 Dezembro 2009