De como a Queensway demonstra a tese de que Londres é a cidade mais cosmopolita do mundo
Visto e revisto o mercado de Portobello, apanhámos o autocarro e fomos até Queensway, que, com toda a certeza, está ainda mais diferente do que o dia da noite do tempo em que ganhou direito ao nome por ser um dos locais preferidos de passeio da rainha.
Se por daqueles acasos funestos em que a vida é fértil, a Vitória, esse velho estafermo, ressuscitasse, dava-lhe logo uma travadinha e ia outra vez desta para melhor ao ver no que se transformou Queensway, uma rua que serve de demonstração da tese de que Londres é, provavelmente a cidade mais cosmopolita do Mundo – e desde já advirto que o uso do advérbio de modo é tão só um exercício de prudência (normal num gajo que já dobrou o cabo dos 50) aliado a uma tentativa de piscadela de olhos de cumplicidade e citação da frase do mais célebre e bem conseguido anúncio da Carlsberg.
Queensway, com as suas lojas e restaurantes de árabes, marroquinos, gregos, chineses, indianos, paquistaneses and so on é o melting pot propriamente dito.
Não é impossível que neste preciso momento tenham a seguinte interrogação a agitar as vossas gentis e preciosas cabecinhas.: “Este tipo está aqui a dizer que Londres é, provavelmente, a cidade mais cosmopolita do Mundo. E Nova Iorque? Será que ele se esqueceu de Nova Iorque?”.
Ao que eu respondo: Não, não me esqueci de Nova Iorque. Só que em Nova Iorque vigora um cosmopolitismo em regime de apartheid.
Os chineses estão em Chinatown e em toda a parte, como Deus Nosso Senhor; os italianos sabe-se lá por onde andam (se não os descobrir pode sempre ver, de enfiada, no DVD a saga Godfather, que fica a ganhar) porque Little Italy foi vítima de uma espécie de Anchluss cometido pelos cidadãos oriundos da People Republic of China; o essencial dos judeus já há muito trocaram as enxovias do Lower East Side pelas salas climatizadas das administrações dos bancos de negócio de Wall Street; os pretos prosseguem o êxodo para Norte do paralelo formado pela rua 120; os hispânicos estão acantonados no Bronx, os coreanos em Little Korea e com enclaves/embaixadas do tipo Gibraltar espalhadas por todos os boroughs que assumem a forma de lojas de conveniência que vendem tudo 24 horas por dia e sete dias por semana; as churrascarias brasileiras de rodízio moram na 46 St, enganadoramente baptizada Little Portugal; os tugas e brazucas atravessaram o rio e partilham a Ferry St em Newark (pronunciar nuâque) - e assim sucessivamente.
Em contraste com esta compartimentada organização norte americana, em Londres é tudo ao monte e fé em Deus. Queensway é a demonstração desta minha tese.
Queensway, fim da manhã de 5 Dezembro 2009