O arroz de pato que está na origem da Quimonda
A Siemens estava decidida a fazer um grande investimento tecnológico em Portugal e diversas regiões lutavam para o acolher. Luís Braga da Cruz, à época presidente da CCRN, pediu a Daniel Bessa que fizesse de cicerone aos alemães que andavam a visitar as diferentes localizações disponíveis e a estudar os prós e os contras de cada uma delas.
Bessa levou-os a Vila do Conde e foi muito convincente porque foi esse o local escolhido para a fábrica, que no entretanto mudaria de mãos e de nome, passando a chamar-se Quimonda.
No que toca ao programa social, o futuro ministro da Economia do primeiro Governo Guterres tentou impressionar os quatro alemães que constituíam a embaixada da Siemens levando-os a jantar à belíssima sala de refeições do Circulo Universitário do Porto, ao Campo Alegre, e aconselhando-os a encomendar o Arroz do Pato, um dos pratos mais afamados da cozinha deste restrito clube.
Pouco depois da comida desembarcar na mesa, Bessa arrependeu-se do conselho ao ver os seus convidados a olharem para o prato com um ar desconfiado, após o que usaram faço e garfo para separar as águas, arrumando os bocadinhos de pato a um canto.
Ao olhar para o resultado final desta operação, constatando que o arroz ocupava a quase todalidade do prato, o bom do Daniel ficou envergonhado por os ter aconselhado uma refeição tão pobre e resolveu logo tentar emendar a mão levando-os, no dia seguinte, a almoçar à Cooperativa dos Pedreiros, um clássico que há largas décadas é considerado um dos melhores restaurantes do Porto.
O almoço correu muito bem. Os tornedós e linguados satisfizeram os olhos e a barriga do alemães. O único pequeno problema foi a conta. Desenferrujado na aritmética, Bessa reparou logo que tinha ficado a cinco contos por cabeça, soma que Braga da Cruz, iria com toda a certeza achar exorbitante.
Para não ofender o espírito económico do presidente da CCRN, pediu ao empregado que indicasse na factura que os 25 contos se referiam a oito e não cinco refeições – pensando que este pequeno truque de baixar artificialmente o preço médio de refeição por cabeça chegaria para a conta passar despercebida ao escrutínio de Braga da Cruz.
Vários anos depois, já com as despesas recebidas e a história esquecida, estavam os dois à conversa, quando, assim como quem não quer a coisa, Braga da Cruz comentou : “Ó Daniel, não acha que se está a comer cada vez mais caro na Cooperativa dos Pedreiros?”.
(continua)