Nunca se deve desperdiçar uma oportunidade de aparecer na televisão
Nunca se deve desperdiçar uma oportunidade de aparecer na televisão e de saltar para a espinha de uma gaja. Este é o primeiro mandamento que orienta e vida de um meu colega e amigo R.
Compreendo perfeitamente o que ele quer dizer e já agora aproveito para esclarecer que os dois momentos da recomendação devem ser observados separadamente. Ou seja, o R. não preconiza que o acto de saltar para a espinha seja transmitido televisivamente.
A máxima do R. é justa, correcta, oportuna e até mobilizadora, mas não é necessariamente de aplicação universal.
Eu, por exemplo, compreendo a suma importância da prática intensiva destes dois actos (aparecer na televisão e amar a próxima), absolutamente essenciais para a humanidade neste dealbar do século XXI, mas não me sinto pessoalmente obrigado a adoptar o alfa e ómega da vida do R.
No particular da televisão, reduzo ao mínimo as minhas aparições por duas razões poderosas:
a) Ter uma boa imagem televisiva é fundamental e eu sei perfeitamente que não a tenho. A única diferença que me separa da imagem do Shrek é que ele é verde e eu não (já agora, tentando ser indulgente comigo, saliento uma outra diferença: as minhas orelhas são ligeiramente mais pequenas e com um fromato mais próximo do usual);
b) Não sei o que se passa com os meus colegas, mas sempre que me convidam para ir à televisão é para aparecer de borla e fora de horas. As 22h00 horas de uma quinta feira são um belo horário para estar deitado no sofá em casa a ver o Boston Legal, na Fox, e a beberricar chá Roiboos frio - não para estar num estúdio manhoso e fora de mão a responder a perguntas idiotas sobre porque é que as curvas das taxas de desemprego do INE e do IEFP teimam em seguir em direcções opostas.
No que concerne à surpreendente atitude de não aproveitar todas as oportunidades para ter sexo, abreviando de razões (ao fim e ao cabo isto é uma lavandaria, não é um divã nem um confessionário) devo dizer que cheguei àquela idade em que me parece que devo fazer jus ao meu apelido.
Vem todo este arrazoado a propósito da notícia mais importante da semana, que, ao contrário do que as preclaras e preclaros podem pensar, não foi protagonizada nem pelo Berardo, nem pelo Mário Lino, nem pela Maria José Morgado mas sim pelo senador italiano Gustavo Selva.
Incomodado com o trânsito infernal (a maior parte das ruas do centro de Roma estavam entupidas e cortadas ao trânsito por causa de uma manifestação contra a visita de Bush a Itália) que o ia impedir de chegar a horas a um programa de televisão, em directo, para que tinha sido convidado a participar, o senador Selva teve uma ideia brilhante.
Qual foi a ideia brilhante? Simulou um ataque cardíaco e chamou uma ambulância que após alguns percalços (ele insistia em não ir para o hospital mas antes para uma morada que ele alegava ser ao do seu cardiologista e que na realidade era a do estúdio de televisão) e logrou chegar a tenpo ao programa.
Este episódio é um pedacinho de ouro que ilustra data de coisas, a saber:
1. Ser por natureza trampolineiro é essencial para alguém ter sucesso na carreira política. Não foi por acaso que o Gustavo Selva chegou a senador;
2. O R. está cobertinho de razão quando diz que não se deve desperdiçar uma oportunidade para aparecer na televisão;
3. A verdade não é um empecilho suficientemente importante e forte para atrapalhar um político de concretizar um objectivo;
4. A lata dos políticos é incomensurável. É, pelo menos, maior que a Via Láctea. Outra explicação não encontro para o facto do senador Selva se ter gabado no programa de televisão da vigarice que usou para chegar a horas ao programa.
TELEVISÃO
RTP1 quer ter circo de borla
Não posso deixar de elogiar o apurado sentido de negócio demonstrado pelos responsáveis da RTP . Não é por acaso que as contas da empresa pública de televisão se estão a endireitar. Almerindo contaminou a empresa com um cultura de rigor e poupança a que não se deve regatear elogios.
Vejam só que agora a maneira engenhosa como se resolveram aproveitar a oportunidade aberta pelas eleições intercalares para a Câmara de Lisboa. Convidaram todos os candidatos para um debate a 12 no programa Prós e Contras, da Fátima Campos Ferreira.
Espertos. Não gastam um tostão em «cachets» e conseguem oferecer circo (tourada, se preferirem) aos telespectadores. Uma excelente ideia para consolidar as audiências agora que se vão ver privados durante três meses dos momentos de humor que eram assegurados pels Gatos.
Parabéns RTP pela ideia magistral. Só tenho raiva de não ter sido eu a tê-la.
Blogosfera, rumor, boato, jornalistas
A propósito do curioso e clássico movimento de confundir a mensagem com o mensageiro de que está a ser vitima o bloguista de Portugal Profundo, não posso deixa de citar um pedacinho de ouro dito por Sócrates na célebre entrevista de 11 de Abril à RTP1, em que tentou (em vão) pôr uma pedra em cima do lamentável dossiê da sua alegada licenciatura:
«Tudo isto nasce como todas as blasfémias; blogosfera, rumor, boato, jornalistas».
Formidável a simplicidade desarmante usada pelo primeiro ministro para desmontar o funcionamento do eixo do mal: blogosfera, rumor, boato, jornalistas.
Extraordinário como Sócrates e a sua apaniguada DREN Margarida Moreira estão a conseguir manter em cima da mesa da opinião pública, em lume brando, a questão da maneira como o primeiro ministro obteve o seu diploma de licenciatura. Parabéns (merecidos) a todos!
O MUNDO ESTÁ PERIGOSO
Does anybody really know what time is it?
O Mundo está perigoso, mas como é óbvio há sempre alguns locais mais perigosos do que outros.
Caracas é sem sombra de dúvida o lugar mais perigoso para portugueses equipados com sofisticados aparelhos electrónicos. Foi na capital da Venezuela que Marcelo Rebelo de Sousa perdeu (ou terá alguém feito perdê-lo?) o seu telemóvel e que Francisco José Viegas se viu aliviado do seu computador portátil.
Já Tirana está sob observação. Os Media norte-americanos teimam em dizer que Bush fiou sem o relógio quando cumprimentava a multidão que o saudava durante a recente visita à Albânia. E em defesa da tese do roubo do relógio presidencial, as televisões difundiram imagens do antes (com relógio) e depois (sem relógio).
Fonte oficiais da Casa Branca negam o roubo. Dizem que a meio da bacalhauzada, Bush tirou o relógio e guardou-o no bolso.
As autoridades de Tirana albanesas têm uma versão ligeiramente diferente. Dizem que o relógio foi encontardo por um agente ed segurança albanês que o entregou a Laura Bush.
Afinal o que aconteceu ao relógio presidencial? Como judiciosamente perguntaram os Chicago Transit Authority numa das suas mais geniais canções: «Does anybody really know what time is it?»
A mais valiosa revelação da semana foi produzida por Alan Greenspan durante uma entrevista concedida à sua mulher (a jornalista Andrea Mitchell) durante a feira do livro norte-americana.
O ex-czar da Reserva Federal estava na Book Expo América a apresentar o seu livro The Age of Turbulence.
Interrogado pela mulher porque é que sempre que ia ao Congresso testemunhar dava sempre respostas opacas e difíceis de compreender, Greenspan explicou que isso era propositado e se tratava da aplicação da teoria da «Sintaxe Caduca» por ele inventada.
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«Há certas respostas, na importa de que maneira é que as articulamos, que têm efeitos no mercado. Por isso arranjei uma discurso complicadíssimo, a que chamava a «sintaxe caduca» de maneira a que o senador ou congressita que tivesse colocado a pergunta ficasse convencido que eu estava a dizer alguma coisa muito profunda e pensasse que eu lhe tinha respondido à pergunta».