Ninguém me dá dez mil euros em notas ao almoço
Aspecto exterior dos Pneus Ramalhão, na rua do Campo Alegre
Tremi todo cá por dentro no momento em que a Maria José (1) me informou que tinha sido descontinuada a produção do modelo de pneu Michelin cobardemente assassinado pelo Buraco do Fiel, que se situa algures na rua do Passeio Alegre, um pouco depois do Chalet Suisso e do Augusto, para quem segue em direcção à ponte da Arrábida.
Pela minha cara, a Maria João (que além de despachada e simpática, também deve ser uma fina observadora) logo percebeu que eu, lamentavelmente, não fazia parte da lista dos tipos a quem o sucateiro de Ovar dava dez mil euros em notas sempre que almoçavam com ele.
Por isso, e como eu precisava não de um mas de dois pneus, logo percebeu que o melhor que havia a fazer era procurar uma situação mais económica do que a oferecida pela Michelin, e pediu a um dos seus colaboradores que indagasse sobre se haveria ou não disponíveis um par de pneus da marca Eurotyphoon, compatíveis com a minha carrinha Fiat Marea, de cor cinzento rato, que gasta dez litros aos 100 e completará dez Primaveras em Março de 2011.
Havia os pneus baratos, mas mesmo assim a conta situava-se claramente nos três dígitos, creio que 166 euros, o que me pareceu muito dinheiro - reparem que não disse caro, mas apenas muito dinheiro.
Custa-me imenso gastar mais dinheiro a calçar a minha Marea do que os meus próprios pés. Por 120 euros compro uns Citywalker da Ecco que me proporcionam um andar confortável e seguro durante cinco anos, no mínimo. Ora para calçar a carrinha, não com uns pneus topo de gama (como são os sapatos Ecco) mas de uma marca para tesos, teria de gastar quase o triplo – pois enquanto eu assento em apenas dois pés, a Marea tem quatro rodas.
Enquanto, o meu cérebro processava este raciocínio, a minha cara devia evidenciar um tal estado de infelicidade, que a Maria João, prontamente seguiu para o Plano C, o adequado a pelintras. Eu disse logo que sim quando ela me perguntou se eu estaria eventualmente interessado em que ela visse se tinha um par de pneus usados que me resolvesse o assunto.
A coisa começou a compor-se. Nem tudo pode correr sempre mal. Sempre havia o tal par de pneus usados e a festa ficava-me por 44 euros (incluida a desempanagem da jante). ‘Bora aí, disse eu, mas logo fiquei a pensar que para exteriorizar a minha satisfação por manter a solução abaixo dos 50 euros teria sido mais adequado soltar uma frase de mais efeito, do estilo: “Fogo à peça!”.
(continua)
(1) Afinal, de acordo com a prestimosa informação providenciada pelo preclaro Barba Azul, a Maria José (pseudónimo atribuído aleatoriamente por mim) chama-se Maria João, nome porque doravante será aqui tratada, na prossecução da política de rigor e de dar o seu a seu dono que caracteriza esta Lavandaria