As técnicas de pedir lume e perguntar as horas ainda podem e devem ser usadas na abordagem
Se eu encontrasse a Melanie Laurent no café, era muito capaz de me sentir tentado a ir perguntar-lhe as horas – ou pedir-lhe lume
Penso que apenas o truque de pedir lume seja ainda mais popular do que o de perguntar as horas.
Agora que ninguém fuma e toda a gente anda com as horas guardadas no bolso, no mostrador do telemóvel, as velhas formas de abordagem tornaram-se arcaicas, a não ser que as passemos a usar de forma menos discreta e mais imaginativa.
Creio que as minhas preclaras amigas concordarão que, no passado, quando um desconhecido se aproximava a perguntar as horas (ou pedir lume) elas ficavam na dúvida sobre se o passarão queria mesmo só saber a quantas andava (ou espetar mais um prego no caixão, acendendo um cigarro) – ou se o queria realmente era figos.
Em tempos idos, que não voltam (como, em boa hora, nos avisou o António Mourão no inesquecível “Ó tempo volta para trás”), o meu amigo Luciano tinha um truque infalível no seu arsenal de abordagens.
Quando se dirigia a um alvo, praticando a abordagem do “Por favor, dá-me lume?”, o sábio do Luciano levava o cigarro na boca já aceso, para que não restasse a mínima das dúvidas ao que ia. Era como faziam os piratas quando arvoram no mastro principal o pavilhão negro, decorado com a caveira cruzada por duas tíbias, antes de atacarem a presa.
E quando a desconhecida lhe fazia ver que ele não precisava de lume, porque o cigarro já estava acesa, o tratante do Luciano compunha um ar de espanto, um misto de atrapalhação e despiste (as mulheres adoram esta ar!), olhava para o cigarro e respondia:
“Estás ver o efeito que fazes em mim? Desde que te vi, só faço disparates…”
Era fulminante. Tiro e queda.