Por que me sinto um tanso quando peço um café
Simpatizo muito com aquela frase “todos diferentes, todos iguais”, que foi cunhada como mantra da tolerância - um valor que me é caro.
Aliás, acho que dizer simpatizar é pouco. Eu amo essa frase. Mal a ouvi pela primeira vez, foi um coup de foudre. E todos os dias recebo confirmações da sua pertinência.
Um tipo pode ter um ar de cão abandonado, uma vida social esquálida e uma vida sentimental deprimente, mas quando está no café e chega a hora de encomendar transforma-se logo num senhor e afirma a sua diversidade contra o pagamento, em média, de uns 60 ou 70 cêntimos (fica barato, portanto).
As pessoas encomendam italianas, cafés cheios, em chávena escaldada (ou fria), pingados, de saco, cimbalinos, expressos curto, meia de leite directas, galões, café com leite ou galões, macchiatos e por aí adiante, num nunca acabar de cambiantes que a Starbucks e suas concorrentes imaginativamente não páram de enriquecer (em seu próprio beneficio, mas vá lá, estão no papel deles). Até tenho uma amiga que antes de pedir, se dá ao trabalho de inteirar da marca do café – e só bebe se for Delta.
Eu sinto-me um grande tanso quando me sento numa esplanada, peço um café e o empregado fica a olhar para mim, à espera de mais, mas eu não tenho mais nada para dizer, e ele interroga-me: “Um café quê? Normal?!?”, e eu sou obrigado a explicar-lhe que o pedido normal de um café, seco, sem floreados, tem de ser respeitado na estrita obediência ao princípio de “todos diferentes, todos iguais”.