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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Sex | 07.11.08

Algumas reflexões a propósito do Eros Bendato

Jorge Fiel

A escultura Eros Bendato, do polaco Igor Mitoraj, acrescentou, em 2005, um formidável toque de requinte contemporâneo à Rynek Glówny de Cracóvia.

Contrastando com o fedor a mijo e merda de cavalo que mora no lado oposto da praça, neste canto, junto à Torre sobrevivente da Câmara Municipal, esta escultura de grandes dimensões (3m70 por 2m25) exala um perfume de modernidade.

Já estou arrependido de não ter tirado uma fotografia ao lado desta cabeça (de lado) de Eros, que efectivamente não está vendada .

A venda descaiu o que está bem, até porque se é verdade é que há momentos em que o sentido vista é dispensável (o tacto e o odor podem ser poderosos, se bem usados), a verdade é que não é por acaso é que nestas coisas do erotismo há uma disciplina chamada “voyeurismo” – e, aqui cá para nós, acho que quase toda a gente tem no curriculum algumas oftálmicas.

Ou seja, para saber que ver também é bom, não é preciso ter lido ou visto o Ensaio sobre a Cegueira, do camarada Saramago (que está a comemorar o 10º aniversário do desgosto de Lobo Antunes), uma parábola que a associação dos cegos norte-americanos teimou em não perceber – mas, como é claro, nestas coisas o pior cego é sempre aquele que não quer ver.

Gostei de ver o Eros Bendato da mesma maneira que gostei de subir ao alto da Torre da Câmara, de onde se usufruir de uma vista apreciável da praça, apenas limitada pelo facto de estarem disponíveis apenas quatro janelas de de reduzida dimensão – ou seja, nada panorâmicas.

De reduzida dimensão, mas muito pitoresca, é também a minúscula igreja de Santo Adalberto, com que dei de caras quando abordei a Rynek vindo da Grodzka.

De grande dimensão (a vida é feira de contrastes….) é o Mercado dos Tecidos, o belíssimo edifício renascentista que divide a praça em dois espaços.

O Mercado dos Tecidos é do um edifício rectangular, do tipo risca ao meio, com dois pisos, sendo que o primeiro está ocupado por uma secção do Museu Nacional, actualmente em obras e por isso fechada ao público.

No interior do rés-do-chão há uma galeria de lojas que lembra o Grande Bazar de Istambul, mas em ponto pequeno e com muito menos barafunda.

No exterior, as arcadas albergam algumas lojas e cafés. Fiquei arrependido de não me ter instalado a escrever um postal ilustrado à minha filha Mariana à mesa do café outrora foi frequentado por Lenine.  

Mas fiquem sossegados que os dois arrependimentos aqui manifestados são de pequena monta e facilmente reparáveis num posterior (e eventual) visita a Cracóvia.

(continua)

 

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