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Lavandaria

por Jorge Fiel

Lavandaria

por Jorge Fiel

Dom | 05.10.08

Uma pequena deriva a propósito de uma reflexão de travesseiro chapadamente estúpida e idiota

Jorge Fiel

Quando à noite apaguei a luz da mesinha cabeceira do quarto 216 do Ibis Centrum de Varsóvia, dei por mim a pensar que aquele 6 de Setembro de 2008 tinha sido daqueles dias em que mais valia eu não ter saído de casa.

Pouco antes da oito da manhã, com as malas feitas e a família pronta a zarpar para o aeroporto Sá Carneiro, reparei que por causa de um estúpido erro meu tínhamos acabado de perder o avião que nos levaria até Frankfurt, a primeira etapa de uma viagem que tinha Varsóvia como primeiro destino final.

Nesse momento, fiquei tal e qual o camarada Guterres após o camarada Sampaio ter sucumbido á segunda maioria absoluta de Cavaco, ou seja (e passo a citar) “em estado de choque”. (1)

Pela manhã, eu perdi um avião. A cair da tarde, o meu filho João, oito anos, perdeu a Nintendo (que custara uns 200 euros há coisa de dois meses, no Media Markt do Porto Gran Plaza), que viajava dentro de uma pequena mochila Nike que ele deixou esquecida no banco de trás do táxi, que por 60 zlotys nos trouxe do aeroporto Fryderika Chopinha até ao 162 da Al. Solidarnosci.

É nestas duas perdas sucessivas – uma que podia ter comprometido as férias (a do avião) e a outra que irremediavelmente reduziu a qualidade da nossa estadia em terras polacas (a da Nintendo), na justa medida em elevou os níveis e períodos de impaciência do João -  que se filia o pensamento de que naquele aziago primeiro sábado de Setembro mais valia não ter saído de casa.

Infelizmente, esta reflexão de travesseiro peca pela mais absoluta falta de originalidade a que se deve somar -  “É fazer as contas”, como diria o camarada Guterres  (1) -  o fcato de encerrar em si níveis de idiotice tão tóxicos como os desgraçados activos que originaram a actual crise financeira internacional.

Como é bom de ver, se não tivesse saído de casa nesse dia não estaria na noite de 6 de Setembro a produzir pensamentos estúpidos num quarto relativamente barato (289 zlotys por noite, o quarto duplo, m mas sem pequeno almoço) de hotel em Varsóvia . Estaria antes esparramado no sofá preto de estética anos 50 ( comprado na Tribo)  da sala do apartamento onde habito na Pasteleira, em frente ao LCD Samsung (um pouco menos de 500 euros no Media Markt de Gaia) a ver séries nos Fox – o que seria infinitamente menos cosmopolita e não serviria de inspiração para a corrente e infindável série de “posts” polacos  aqui na Lavandaria. (2)

Como diria o camarada Guterres,”é a vida!”

(continua)

 

……………………………………………………..

(1)  A expressão “estado de choque” é uma das três essenciais que constituem o legado guterrista ao pais. As outras são o “é fazer as contas” e o “é a vida!” , que traduz magistralmente em palavras o gesto de baixar os braços.

 

(2)  Será que ouvi agora alguma preclara ou preclaro a dizer que na verdade eu teria feito melhor em não sair de casa, pois assim o povo da lavandaria seria poupado a este autêntico massacre de “posts” polacos (e, atenção, a procissão ainda vai no adro, se calhar o melhor é voltarem apenas em Novembro e a medo, a ver se já passou…)

 

 

 

 

2 comentários

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    Jorge Fiel

    07.10.08

    Preclara Tibetana

    Ora aqui está um comentário sintonizado com o texto. A minha preclara amiga é a delícia com que sonha qualquer bloguista amador. Já encarou a hipótese de abraçar (acho este verbo o máximo!) a carreira de comentadora profissional? :-)

    Free Tibet!

    A bem da Nação!

    PS Estou a ver se consigo circunscrever esta série polaca a um máximo de 15 a 20 posts para não ficar aqui a falar sozinho. Não quero abusar tanto da paciência da minha preclara amiga.
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