Cabinas telefónicas que, na realidade, são urinóis?
Tripledeckers em Londres? Taxistas cegos que exigem aos passageiros que sejam os seus olhos e ouvidos, avisando-os quando devem travar, parar ou virar à direita? O malévolo malfeitor Olrik instalado no nº 10 de Downing Street e noivo da jovem rainha Isabel? Urinóis que, na verdade, são cabinas telefónicas (e vice-versa)? Winston Churchill na pele de um oposicionista cujas acções espectaculares são reivindicadas por um auto-intitulado Justiceiro Britânico?
Este é o sinistro e aterrador cenário da capital inglesa, no início dos anos 50, com que Philip e Francis se deparam em “Le Piège Machiavelique”, o impagável 2º tomo do pastiche da dupla Veys/Barral às memoráveis aventuras de Blake e Mortimer, saídas da imaginação e da mão de EP Jacobs.
Esta aventura, que acabo de ler em pré-publicação no L’Immanquable (uma nova revista de BD franco-belga que recomendo vivamente), é uma piscadela de olhos à “Armadilha Diabólica” onde Blake e Mortimer viajam verticalmente no tempo.
Neste bem humorado pastiche, Philip e Francis viajam horizontalmente. Não andam para trás e para a frente no tempo. Visitam antes um mundo paralelo, uma espécie de bifurcação do nosso, habitado pelas mesmas pessoas, mas com papéis e hábitos diferentes.
Uma leitura que me pôs a sonhar com a hipótese de viver num mundo, paralelo ou futuro, em que o poder da imaginação desse lugar à imaginação no poder!