A história da minha vida condensada num episódio
Aspecto nocturno do meu LG que pesa tanto como o antigo HP e tem ainda menos autonomia
A culpa é minha. Eu tinha a obrigação de ter percebido logo que não era assim, com aquela facilidade toda que, pagando 44 euros por dois pneus usados, que eu iria resolver o drama induzido pelo homicídio cometido na pessoa do pneu dianteiro do lado direito por um malévolo buraco, implantado no pavimento da rua do Passeio Alegre – e que tem sido aqui referido como o Buraco do Fiel, após eu ter acolhido a amável sugestão feita nesse sentido pela preclara Miou Miou.
Eu teimo em continuar a ser optimista e a não olhar para os dois lados antes de atravessar uma rua de sentido único, mas não me posso esquecer que a história da minha vida se pode condensar no episódio da compra do LG cujas teclas estou a martelar neste momento.
Antes do LG, tinha um HP que se portou à altura durante três anos, após o que começou a evidenciar preocupantes sinais de senilidade. De vez em quando, sem razão aparente, apagava-se por vontade própria, mandando para o galheiro o trabalho que eu estava a redigir e ainda não tinha sido gravado.
Como o HP se revelava cada vez mais temperamental (recusava-se arrancar logo de seguida aos trecos, solicitando um período de descanso após cada colapso) e eu estava farto de andar a fazer save sempre que concluía uma frase, resolvi investir num novo portátil, antes que de eu próprio ter uma síncope, por contágio com o computador.
Neste doloroso transe, pedi ajuda a um amigo que tem uma empresa de material informático e que já me tinha vendido o HP, no entretanto precocemente acometido pelo Alzheimer dos computadores.
O M simpaticamente disponibilizou um dos seus funcionários para me aconselhar e ajudar neste melindroso momento, a quem eu expliquei que queria o seguinte:
1. Como o HP estava doente, queria que vissem se era possível pô-lo bom de maneira a oferecê-lo ao meu filho Pedro;
2. Que transferissem para o meu novo portátil os três anos de vida, em textos e fotografias, que estavam armazenados no disco do HP;
3. O HP pesava quase três quilos e tinha três horas de autonomia. Eu gostava que o meu novo portátil tivesse mais autonomia e fosse mais leve.
Parti para o meu reequipamento informático com este caderno de encargos, que não me parece fosse ultra-ambicioso. O resultado final foi o seguinte:
1. Não conseguiram recuperar nada do disco rígido do HP, que faleceu nas mãos dos funcionários da empresa do meu amigo, levando o que fiz durante três anos (sim, eu sou um incauto e não fazia backups);
2. A HP carregou no preço para recondicionar o computador e equipá-lo com um disco novo;
3. Comprei este LG que, apesar de muito simpático e de só desligar quando eu o mando, pesa os mesmos três quilos que o HP e tem menos autonomia (duas horas apenas).
Ora, um tipo a quem é capaz de acontecer isto, não se pode convencer que resolve o problema do falecimento de um pneu gastando apenas 44 euros (desempenagem da jante incluida) e numa só ida à oficina. Pensar isso era obviamente um doce engano que não tardaria a amargar.
(continua)