O pneu que falhou a Ressurreição ao Terceiro Dia
Durante os três dias em que rodei com o magro pneu sobresselente (que ostenta um enorme autocolante cor de laranja que nos avisa ser perigoso andar com ele a mais de 80 km/hora) tive tempo para pensar a que oficina me deveria dirigir para tentar encontrar uma solução para o problema.
Hesitei entre a Norauto (tenho a ideia de que oferece um serviço barato e eficiente) e a Pneus Ramalhão. Optei por esta última hipótese, pelas seguintes quatro ordens de razões:
a) Patrióticas: a Pneus Ramalhão é portuguesa e a Norauto é francesa;
b) Políticas; após uma campanha eleitoral em que todos os partidos, sem excepção, defenderam apoios às micro. pequenas e médias empresas julguei mais adequado recorrer a uma empresa desta categoria do que a uma gigantesca multinacional;
c) Toponímicas; a infausta ocorrência que vitimou o meu pneu dianteiro, do lado direito, da minha carrinha Fiat Marea, teve lugar na rua do Passeio Alegre, e a Pneus Ramalhão está instalada na rua do Campo Alegre. Achei que esta alegre coincidência poderia ser um sinal divino;
d) Proximidade; a Pneus Ranalhão não só fica muito mais perto de minha casa do que a Norauto, como ainda por cima situa-se a escassas centenas de metros na Botânica, uma das minhas esplanadas preferidas, onde calculei que poderia montar escritório enquanto me tratavam do pneu.
Posto isto, dirigi-me à Pneus Ramalhão onde fui bem recebido, mas logo desenganado. Emitiram a certidão de óbito mal olharam para o pneu acidentado. O milagre ocorrido com Jesus Cristo, que segundo as Escrituras ressuscitou ao Terceiro Dia, não se ia repetir com o meu pneu.
Senti logo ali, naquele preciso momento, que o meu calvário estava longe de estar terminado.
(continua)